segunda-feira, julho 31, 2006

livrando(-me)...



"The mass of men lead lives with quite desperation. what is called resignation is confirmed desperation"

"what every body echoes or in silence passes by a true to-day may turn out to be a falsehood to-morrow"

Tenho lido Walden do H. D. Thoreau. Saboreando ele, melhor dizendo. Fiquei me lembrando nessas pausas da minha obsessão por livros. Me lembrei do Juliano falando sobre mim um dia: "ela se esconde atrás dos livros, como eu". De fato essa fala me tocou muito. Eu fiquei me recordando dos meus passeios às livrarias, bibliotecas, sebos. Sempre me escondendo? Ou era uma tentativa de sair? De ser vista?

De fato nunca parei pra pensar nisso sistematicamente. Mas ler Walden tem me recolocado nos trilhos. Tenho lido em voz alta - treinar o inglês com aquele sotaque do Sean Connery é uma delícia! Devaneios à parte tem feito bem pras minhocas. É curioso como elas são cultas. A conversa sempre é em alto nível. Plenas de citações. Argumentam, elaboram. Minhocam e me minhocam mais. Mas não deixa de ser saudável. É um revolver de terra, um adubo carinhoso que deixa a terra da mente respirar, se reacomodar.

Mas não é sobre as minhocas que quero contar. Fiquei pensando na frase do Juliano e me dei conta que os livros mudaram ao longo dessa minha (curtíssima) trajetória de ser leitor. (depois eu quero falar mais sobre Walden) Antigamente eu os via como criaturas pequenas e metidas a besta. Gostava deles, mas eram tão prepotentes! Sabiam tudo, conheciam tudo, viram tudo, dominavam(-me) tudo. Era sufocante. Uma luta, por mais que eu os devorasse e tragasse pra dentro de mim, eles eram muito grandes, intermináveis. Uma dieta impossível de engorda. Nunca eu os teria comigo, todos.
Por muito tempo não conversávamos. A minha insegurança (me sentia sempre muitíssimo inferior) me deixava tímida, de modo que eles se tornavam aos poucos criaturas tagarelas e inaudíveis! Eu os lia ao mesmo tempo. Agora. 5 ou 6 de uma vez. Eu os queria. Era uma glutona ansiosa, insegura, cheia de vontades de sair de mim. O efeito era justamente o contrário: eles me engoliam por dentro. Ficava silenciosa. Dias em mim. Neles. Muda.

Quando eu resolvi começar a escrever (que nem gente grande, como me disse uma vez o Vinícius) eles se modificaram no meu paladar. A fome era menos veroz. Conseguia processar a digestão. Passei a conversar com eles. Dizer de mim, das minhas angústias, vontades, sonhos. Eu podia sonhar com eles, mas eles não podiam mais sonhar por mim. Eu queria mais deles porque percebi que podiam ter mais de mim. Eu queria dizer das coisas da vida que eu via, percebia. E foi maravilhoso como aí, neste exato momento, nos tornamos os maiores amigos. Confidentes. Amantes. Compartilhamos tudo, até aquilo que nem imaginava que eu tinha. Acho que é esse o efeito mesmo do amor. A gente se descobre mais por meio do outro. Ele nos mostra o caminho pr(d)a gente mesmo...

Ainda continuo lendo 5 ou 6 ao mesmo tempo. Por vezes paro uns instantes, que se tornam até meses de intervalo. É ótimo! As conversas são verdadeiras, honestas. Eu silencio quando necessário, deixando aquelas letrinhas descerem pela garganta que nem as sopas de criança. Às vezes eu fico brincando com elas na xícara. Remexendo dali e daqui, esperando o sentido daquilo tudo acontecer em mim como mágica. Desisti de entrevistar livros. É chato, massante. O repórter sempre crê que tem razão e conduz a pseudo-conversa para caminhos que ele acha que conhece. Ele se traveste de humilde. Mas nunca deixa os livros falarem de si. Deixei disso. Até na leitura mais acadêmica (pura entrevista!!!!) não faço mais.

O fato é que muitos livros me deixaram com o gosto de fim de festa. Eles dizem coisas que eu adoraria ter dito. Algumas eu disse. Mas não publicamente. Covardia, timidez, imaturidade? Um pouquinho de cada é justo. Ficaram ali nos escombros dos meus caderninhos ou dos guardanapos de bar manchados de cerveja. Cheguei tarde. Só pude ficar com aquela sensação de "ah... que bom que alguém teve coragem de falar." Thoreau e F. Pessoa tem muito disso pra mim. O Caio Abreu também. Acho que é justamente por isso que eu consigo (e adoro) conversar tanto com eles. Não é porque pensamos as mesmas coisas, ou sentimos. Creio que é justamente por ter a sensação de chegar atrasados.

Nesse sentido a leitura é mais solidária. Não leio pra me preencher. Nem pra me esvaziar. Leio porque adoro uma boa conversa. De bar, de café, de chá ou mesmo de um chimarrão quentinho de manhã, como fazia o meu avô conversando com os jornalistas da Zero Hora, pontualmente às 6 da matina, com vento minuano e tal. É um jeito gostoso de me livrar do lixo daqui de dentro, de fora. É uma forma carinhosa de conviver com as minhocas. Um jeito bonito de (me) livrar mim - recorrer aos amigos.

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purificando

Por que o amor tem esse poder?
Por que ele traz a humildade para os teus joelhos mentais?
Por que ele coloca nos seus olhos a lente que amplia a luz sobre a tua própria escuridão?
Por que ele adoça a tua boca para não proferires as palavras que machucam o outro? E te traz ao lábios "me perdoa"...
Por que ele tira dos teus ouvidos o ruído do orgulho e do egoísmo e silencia o teu eu reclamante? te deixando escutar o silêncio do coração, já tão silenciado....
Por que ele esquenta as tuas mãos e te faz ter essa vontade quentinha de tocar? de estender-se ao outro?
O que ele deposita nos braços que nos fazem querer ser preenhidos por outro corpo, como se fôssemos uma forma vazia...?
O que ele faz com os teus pés que te tiram da inércia das tuas pernas dormentes e cambaleantes, mais pesadas que teu corpo todo?
O que ele fez com o meu ar? Deu todo pra ti para eu te querer assim tão perto?
Por que o amor me tira de mim e me lança pra ti, assim, tão veloz, tão rápido e tão serenamente que quero plainar...?
Não me responda com nenhuma palavra, não deixe ele explicar. A minha cabeça já cansoude achar que entende. Deixa o meu coração conversar com o teu... até a gente dormir em paz., sem sujeira pra me despertar...

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cantando os anos

meu canto de parabéns...


(r. stewart/j.cregan/k.savigar)

May the good lord be with you
Down every road you roam
And may sunshine and happiness
Surround you when youre far from home
And may you grow to be proud
Dignified and true
And do unto others
As youd have done to you
Be courageous and be brave
And in my heart youll always stay
Forever young, forever young
Forever young, forever young

May good fortune be with you
May your guiding light be strong
Build a stairway to heaven
With a prince or a vagabond

And may you never love in vain
And in my heart you will remain
Forever young, forever young
Forever young, forever young
Forever young
Forever young

And when you finally fly away
Ill be hoping that I served you well
For all the wisdom of a lifetime
No one can ever tell

But whatever road you choose
Im right behind you, win or lose
Forever young, forever young
Forever young ,forever young
Forever young, forever young
For, forever young, forever young

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domingo, julho 30, 2006

desinfeccionando

A dor está onde estão as feridas...

Essa frase é de um email do Juliano em meados de 2004. Nunca me esqueci dela por revelar uma obviedade que a dor não me permitia ver. Nem mesmo tratar dessa dilaceração interior. E doía tanto que era difícil demais ter coragem de olhar pra ela, reconhecer a dor, o tamanho da ferida.

Há meses eu convivo com uma dor aqui no peito. Profunda, intensa, mas só minha. Dessas que incomodam o tempo todo porque nunca deixam você em paz, que se parece com as coceiras da moriçocas em dias de calor na mata. Fica zunindo dentro de você, coçando. Ardendo. Porque você não quer parar (nem consegue!) de coçar, nem que seja só nas bordinhas das mordidas só pra aliviar. É tentador porque quanto mais a gente se aproxima das bordinhas, mais o dedo se estica, a unha chega... e quando você por fim é avisado pelo corpo pelo aumento da dor, é tarde. Já está sangrando. Aí te dá aquele desespero de ficar limpando o sangue. Secando. Mas a vontade de cutucar ainda não desapareceu - depois vem a casquinha. E o ciclo recomeça.

O coração da gente também é picado por moriçocas bem traquinas. Algumas maiores, outras pequeninhas, mas que incomodam igual. Quando você para e olha, procurando devagarzinho, se dá conta que a pele já está toda embolotadinha. Em relevo. E em vermelho. Mas se coração é mesmo vermelho o perigo de se olhar sem atenção está aí. A gente pode não perceber que ele foi mordido. E se alguém esbarra ali nas beiradas... você sente aquela vontade irresistível de coçar. E aí já era.

Mas eu falava sobre a dor... Há meses ela vem aqui comigo. Uma companheirinha insistente, mais que as minhocas. As minhocas vão e voltam, mas a dor fica. Outro dia pensei se não rolava uma coisa meio sádica das minhocas: quando a dor quer atenção e eu não dou elas vêm fazer companhia. O encontro é barulhento demais e eu acabo dando atenção sempre às minhocas (a maioria vence sempre nesse caso!). Por isso a dor fica. Aqui, em silêncio, esperando que eu sacie a sua carência.

Eu não tinha me dado conta disso até hoje cedo. Duas noites atrás eu levei as minhocas pra passear numa noite de chuva. Tomamos banho, ouvimos muito rock and roll. Saímos de fininho para ninguém ouvir. Devia ser umas duas da madrugada. Já disse antes que elas adoram a noite. Não era uma noite bonita, chovia muito, dissipando o calorão dos últimos dias. Andamos pela cidade. Mostrei para elas os lugares que eu gostava. Estava meio embaçado o vidro do carro, mas deu certo. Dançamos loucamente o Yes e cantamos tudo o que tínhamos direito. Por mais estranho que pareça senti carinho por elas naquele instante. Havia uma poesia naquela companhia que tentava desacompanhar. Um exorcismo doído de fazer - eu quase quis que elas ficassem.

Depois de ouvir o Owner of a lonely heart parei o carro. Tinha tido uma idéia - mas não podia compartilhar com elas. "Que tal a gente tomar um chá?" Era o Franz Café. Cheio na madrugada da sexta para o sábado. Muita gente com maquiagem borrada, cara de quase-ressaca. Foi engraçado entrar com elas naquele ambiente: eu tentei dar uma ajeitada no cabelo, uns beliscões nas bochechas para disfarçar o vermelhão nos olhos. Entramos. A luz me incomodava. Aquele barulho de gente querendo falar mais alto que si mesmo...

Sentei no balcão. Elas foram ver o espaço e disseram que voltariam em seguida. Aproveitei para fazer o pedido. "Um chá de camomila, por favor. Quente e forte." Quando elas voltaram já estava tomando o meu. Elas quiseram provar. Ficamos ali conversando e disse a elas que adorava passear de noite, mas que sentia falta de sono gostoso. Sem diálogos. Elas se olharam. Começaram a reclamar que a luz incomodava (a gente tinha algumas afinidades...) Ignorei. Continuei tomando chá. Elas provaram mais um golinho. A gente começou a ficar em silêncio depois de uns quatro. Não era sono não - era um silêncio cúmplice.

Ainda não entendi o silêncio daquela noite. Voltei pra casa cantando com elas. A gente já estava rindo, como se estivéssemos de pilequinho. Coloquei elas na cama. Cobri direitinho. Fui dormir e percebi então que a dor não tinha nem tomado chá, nem passeado, mas ficara ali no canto, se sentindo deslocada. Era tarde, eu tentei dormir. Apesar da dor.

O mais engraçado é que a dor consegue despertar outras dorezinhas menores... fiquei com culpa de não ter dado atenção a ela. Aí me dei conta que nunca tinha feito - nem pensado - nisso. Mais remorço... doía!

Na manhã seguinte ela tinha beliscado todo o meu coração. Pura vingança infantil. Birra. Eu mal podia respirar. Andava pela casa curvada. Um mau-humor que só ela pode causar. Comecei a me irritar. Esbravejei. Vomitei nela. Xinguei de todos os nomes feios que lembrava (alguns eu criei na hora!). Bati. E ela foi mais forte... me derrubou onde eu era mais frágil, permitiu que eu magoasse quem mais amo. Foi então que eu fiquei enfurecida. Mas vencida. Derrotada pela culpa e pelo remorso - uma dor maior ainda.

Lembrei depois de passear pelas lágrimas de uma conversa amorosa outro dia sobre o Othello de Shakespeare. Ele mata a amada por não acolher a sua dor. Nem era ciúmes. Era ignorância do que fazer quando a dor vem. Por deixá-la no canto, gritando, numa atitude prepotente de (pseudo)vencedor. Fiquei com medo de ficar matando as pessoas aos pouquinhos e deixar tudo em agonia, principalmente a mim. Abracei Othello, abracei a dor. Senti compaixão dos dois, de mim. Desisti de lutar. Reconheci as mordidas no coração, cocei um poquinho e percebi o tamanho da infecção - eram mordidas em cima de mordidas, com pus, com sangue. Aquilo fedia, vazava. O remédio não estava aqui fora (ou aqui em cima - na cabeça) mas lá dentro mesmo. Era só ouvir. Era só ver as feridas, tratar delas. Deixar a dor falar, se queixar, te enfraquecer, e finalmente depois, te deixar.

Hoje cedo quando comecei o trabalho as minhocas resolveram participar Senti mais conceiras e me lembrei da visão da noite anterior. Não podia. E mordiscaram mais. E lembrei de novo do Othello. Saí correndo. Pedi socorro, pedi um abraço. Antes que as feridas se abrissem com as coceiras. E encontrei o amor ali, choroso, silencioso. Que abraço forte, quente. E a janela do quarto daqui de dentro foi se abrindo devagar... as lágrimas começaram a lavar a infecção, a inflamação vermelha amarela deixaram uma corzinha rosada bonita, serena. E as feridas doram encontrando a porta de saída, as minhocas se dissiparam pela luz do dia... e a dor... ah, foi amada. E que bom poder se deixar ser amada...

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sexta-feira, julho 28, 2006

florindo no Nosso


Amanheci hoje cedo, umas 4 da manhã sem mais conseguir dormir - as minhocas costumam acordar mais cedo que a gente. Tentei colocá-las pra dormir de novo, disse que o sol ainda não tinha aparecido (mas descobri que elas não gostam do sol - se escondem quando ele aparece e voltam à noite pra fazer visitinhas inesperadas!) dei até um suquinho de maracujá bem docinho... coloquei umas cobertas macias. Estava quente e elas não adormeceram.

Cochilei algumas vezes apesar da falação toda. Quando estava quase dormindo elas falavam mai alto e aquela dorzinha no peito parece que me tirava do lugar. Eu ficava nessa luta sem graça e sem vencedor e olhava para o Juliano ali, dormindo, falando enquanto dormia. Via os contornos dele na penumbra do quarto. Respirava fundo e sentia o cheiro dele. Me virava. Ouvia a respiração de uma soneca profunda e gostosa - que inveja. Perguntei às minhocas então o que elas achavam de me dar isso de aniversário. Sapecas e traquinas me responderam que era justamente nessas datas que elas gostavam de marcar presença, em resposta à fidelidade da convivência. Compreendi, mas não aceitei. ok.

Depois de uns dois ou três cohilos o Juliano finalmente se levantou - eu ia receber um presente de aniversário hoje cedo. Mas não era mais cedo (umas 8, calculei) e ele ia atualizar o vivasp. Me apertou forte nos braços, me deu uma fungada matinal de bom dia, uns vários "eu te amo" que eu manhosamente respondo "hmmmm" ou um "hein?", só pra ouvir de novo. Na porta do quarto se vestiu, me olhou, abriu aquele sorriso apaixonado, suave, e disse "dorme mais um pouquinho, eu já venho te chamar".

Sorri de volta, dizendo pras minhocas "tá vendo?!". Elas ignoraram, pra variar. Fiquei virando pra lá e pra cá. Pensei, especulei, perguntei pra elas qual era a surpresa que havia motivado a frase semana passada "sexta-feira de manhã você é minha". Ri por dentro, eu sou dele todos os dias. Sem agendar.

Não aguentei - a Curiosidade, prima das minhocas, é minha grande amiga, meio traiçoeira, mas tem seus momentos. Levantei. Nem me vesti. Saí correndo para o escritório e me enroscando nele perguntei "o que é que vai acontecer hoje? daqui há pouco?". Ele riu - ele sempre ri das minhas manhas. Disse pra eu me arrumar e tomar café. Eu já estava agoniada com ele. Me aprontei rapidinho e fiquei a postos. Esperei. E ele ria. Acho que ele deve me achar "bonitinha" , meio menina com esse comportamento infantil simpático, manhoso.

Quando ele voltou do quarto me perguntou onde estavam os meus óculos escuros grandes (eu tenho alguns...) e escondia entre os dedos das mãos um par de meias pretas. Já comecei a rir ali, achando demais a minha previsão, mas cuidando de deixar o charme à frente "você vai me vendar?". Hã hã. (isso era um sim)

Descemos para o carro, me sentei e ele disse que tinha esquecido uma coisa importante - nao sabia o que era. Quando voltou já tratou de colocar as vendas (ou melhor, as meias) em mim. Eu ri muito.

Depois de sairmos de casa começou a fazer perguntas de onde eu estava. Ora, ele sabe que eu não tenho o menor senso de direção e portanto, vendada isso era elevado à enésima potência. Fim de papo - estava perdida. Meu mau-humor deu o ar da graça junto com o calor excesivo, vidros fechados, e as mil voltas do carro. Comecei a enjoar. E reclamar.

Mas parece que tudo isso era parte do presente do Juca. Começou a cantar - "fala comigo txu" - e eu p. Mil declarações de amor, beijinhos, eu alternava os risos com a crises de manha e chatice. Mas ele sabia. Conhecia muitíssimo bem o caminho desses mistérios que achava eram só meus.
Perguntei diversas vezes se eu iria sair na rua com aqueles óculos entuxados de meias. "não" ele garantiu. Mas é claro que não.

Saí do carro agarrada nele. Um calor mole, chato. Muitos barulhos, caminhões, gente gritando - as minhas especulações de onde eu poderia estar indo se foram de vez ali - eu não poderia receber de presente uma visita à 25 de março, ao Mercadão... Nem poderia estar na feira. Não era a rua Augusta e a da Consolação - nada do que ele tinha me dito fazia sentido. Nada. Não entendia mais nada e sentia que ele se divertia demais com a minha (angustiada) curiosidade.

Abri os olhos. Mal podia enxergar por conta da claridade. Vi uns borrões amarelos e uma porta de caminhão - era a feira das flores no Ceagesp. O meu coração implodiu em amor, poesia. Que presente mais terno, mais mimoso e romântico- desses que eu gosto - que chamem a poesia daquilo que pode ser na aparência despoético. Nos olhamos, sorrrimos. O Nosso sempre fala mais no silêncio. Naquilo que os outros não escutam ou vêem. E eu me emocionava em fases conforme eu podia enxergar o lugar, o vai e vém de carrrinhos, de vendedores. O barulho todo e as flores ali, paradas como nós dois, só observando o movimento e esperando ser levadas pelos sentimentos que nos fazem querê-las por perto.

Ele me disse quase como seu eu fosse criança (me lembrando agora eu acho que deveria estar sorrindo como uma) "pode escolher a que tu quiseres. é o teu presente de aniversário número 1". Eu brilhava. Compramos as plantinhas pra enfeitar a nossa casa. Coloridas tais quais os vasinhos. Eu quis uma árvore da felicidade. Para coroar o meu florescer desde que ele entrou na minha vida, de mansinho, mineiro. E me trouxe de volta. Me fez o coração desabrochar em vasos mais coloridos. Mais fortes. Visíveis.

E naquele burburim todo eu pensava na gente, nos dois anos juntos. No casamento, no namoro, nas viagens, nos sonhos e nas realizações diárias, floridas, só nossas, secretinhas dos corações, que ninguém sabe, escuta ou vê. Mas que só o silêncio do Nosso é capaz de testemunhar. E toda a vez que eu fecho os olhos, que recebo um beijo, floresço, pra gente. E para o mundo. Aniversario com ele no meu coração. Todos os dias de conquistas mais nossas. Florescentes.

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e que seja doce, sendo

Ontem recebi dois alunos queridos demais no MASP pra me visitar. Uma dessas visitas sem propósito direto, sem combinações muito agendadas. Mas um impulso de uma saudade que se lapida com esses pequenos momentos.

Sempre que encontro os meus alunos e ex-alunos fora do ambiente de sala de aula vejo as profecias do Julio Aquino se materializarem diante dos olhos.

Há alguns anos atrás, 2001 eu acho, quando terminei o curso dele, depois de um sarau emocional literário no peito e no resto do corpo (sensível) o Caio Abreu selou uma nova trajetória de buscas pra mim. O texto eu não me lembro do título, mas lembro dos dragões, da doçura. E que seja doce. Essa frase estremece(me) em mim ainda hoje. Esse foi o sinal de despedida do Julio da sua condição do professor formal para a entrada no meu coração da sua condição de Mestre. E isso não é piegas não. É fato.

Não me lembro bem das suas palavras de sentença. Nem mesmo das avaliações (formais até) do seu curso, dos alunos, enfim. Mas lembro do sinal, dele e do Caio para a vida "e que seja doce". Que seja doce a caminhada, a quebração de cabeça. Que seja doce amadurecer, apesar de doloroso. Que seja doce ser humilde. Corajoso. Que seja doce (um pouco azedo às vezes) perder. E que seja doce se encontrar. E ensinar. E foi exatamente aqui que tudo ficou congelado pra mim. A cena de despedida dele, passada no meu cineminha cafona em câmera lenta terminado de ler o texto; fechando o livro. Aí, foi aí que ele olhou nos olhos de todo mundo na classe e disse, pausadamente - e q u e s e j a d o c e.... ficou. Parou ali.

Eu ainda sinto essa pausa acontecendo em mim. Rever os alunos e testemunhar o caminhos se entrecruzando sentencia essa doçura. Alguns mais, outros menos. Seria difícil descrever a visita do Zé Paulo, do Fernando e da Marina em casa, a homenagem da 5 série no fim do ano passado. O sorvete com o Guilherme. Outras mil epifanias ocorridas desde o começo da minha trajetória juliana. Nem sei mesmo se é o caso de ficar aqui listando e contando (não quero ficar do tipo pseudo Mr Keating com alunos subindo nas cadeiras por mim) - basta que tenham coragem de subir em si mesmos. E se eu puder estar ali pra ver, já basta. e agradeço pelos doces no caminho do país das fadas.

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quarta-feira, julho 26, 2006

niversariando

Não sei se é por causa do inferno astral (terminal) ou é pura minhocação mesmo, mas porque a gente comemora aniversários? aniversários de todos os tipos, de nascimento, de morte, de namoro, de casamento... enfim.

É medo de seguir adiante? de caminhar? nostalgia? ou é apenas uma tentativa de agarrar e segurar os momentos bem forte entre os dedos? de aprisioná-los na vida com receio que passeiem na eternidade e não voltem mais? ou agarrá-los na tentativa (inútil) de apreender toda a sua intensidade, de compreender. (andei pensando esses dias porque eu fico tentando entender as coisas... cansa...)

Depois andei escarafunchando a minha memória e pensando nas coisas que eu gostei de celebrar. O aniversário é uma delas. Vivi pouco ainda as demais. Nem sei se é bom, mas é. Sempre gostei de festas de aniversários (ao menos das minhas) - era sempre a rara oportunidade de ver todos os meus amigos e pessoas queridas reunidas. Um momento bem raro mesmo em dias que as pessoas só se encontram nas "celebrações" tradicionais: velórios, casamentos, formaturas.

Meu aniversário costuma ser sempre cheio, em todos os sentidos. Muito barulho, gente chegando, saindo, rindo, se conhecendo, se beijando, se deixando... Costumo ficar perdida no meio das conversas, querendo estar com todos ao mesmo tempo. Nunca dá certo. É um problema de limitação... humana. Não se pode ter tudo. Me lembro ainda que no meio dessas conversas perdidas, truncadas como linha de telefone congestionada, eu tentava voltar para o chão - sair da pairação e segurar as minhas próprias mãos. Era quase como se eu pudesse congelar os momentos de conversa com todos, em pequenos (mas eternos) fotogramas. A minha ansiedade deixa sempre a desejar essa conquista. Ao mesmo tempo que a euforia, a frustração - quero tirar o atraso de todas as conversas não conversadas, as risadas deixadas, os abraços só pelo telefone...

É um desejo leonino de receber todos os carinhos, atenções, homenagens. Contudo, isso não é só leonino (embora nesse caso, explícito o desejo) mas humano. Ninguém que uma vez recebeu amor, carinho deixa de querer um bis. Várias vezes.

Curiosamente nessas datas de envelhecimento acontece um tremor no peito em relação à família, aos irmãos sobretudo. Não sei se é por ser mais velha, ou por pura nostalgia que cultivo aqui com aguazinhas pessoais. Mas me recordo de sempre ficar olhando pra eles, cada um, e nesse olhar toda uma eternidade se condensa num sorriso de cumplicidade, numa piadinha, num gesto com as mãos ou com a cabeça... como se para cada um deles houvesse um código silencioso (mesmo e sobretudo no caso da Clara, a mais barulhenta) de intimidade e cumplicidade. De perceber a construção da relação, das brigas, do fazer as pazes, do amadurecer. Sinto que o amadurecer nesse momento é justamente o deixar-se ver. Sem máscaras. E só os mais íntimos da casa do teu coração tem esses olhos de ver.

Recordo desses momentos de redenção em que eu e a Clara costumávamos fazer as pazes, dizer "eu te amo", em que eu e meu pai saíamos das armaduras das brincadeiras, apelidos e cócegas. Eram as mesmas pessoas, que num ambiente de celebração, deixavam-se ver. E eu queria olhar. Era mágico. Depois sempre rolava aquela história engraçada do primeiro pedaço de bolo. A Clara e meu pai se alternavam nos anos para receber - curiosamente eram os que eu mais tinha momentos de estremecimentos. Mas o tremores são para resolver as novas acomodações.

Fiz 27 aniversários até hoje, não me recordo de todos eles, mesmo olhando as fotografias. Nem me lembro de todos os convidados. Mas me lembro de alguns rostos. Alguns passaram, nem os vejo mais. Outros ficam, envelhecem comigo. Outros ainda se achegam, testemunhando o nascimento de uma nova Thais. Outros já olham de outras dimensões, as quais não posso ver, mas sinto aqui no fundo do peito a dorzinha da saudade. Sei que meus aniversários consagraram sempre transições transforadoras iniciadas aqui dentro. Poucos rostos viram. Poucos testemunharam essas conclusões. O meu ainda observa a transitoriedade de mim mesma. Mas pelo jeito ainda aniversariarei um pouco mais para transitar.

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amedrontando


Há dias eu tenho pensado sobre o medo. Talvez porque esse tem sido um companheiro bem constante nas minhas saídas pra mim mesma. Eu tenho pensado porque o sinto. É o velho distúrbio na força. Os jedis sempre percebem. Os desavisados pressentem. Ele é tímido, do tipo "come quieto", mas eficiente. Sempre chega e fica. Fica mais do que eu gostaria.

Eu me lembrei de (quase) todas as conversas filosóficas - o bate-papo de bar típico sobre o assunto: medo de viver, de crescer, de dirigir, de coordenar, de errar, de amar, de perder. Medo de ter medo. Daria uma lista enorme. Mas esse sim é danado.

Há dias eu tenho sentido esse medinho aqui dentro. Quieto, mas faz um estrago. É como se a gnte tentasse jogar inseticida na gente mesmo tentando afastar os insetos interiores, não dá certo. Sufoca mais. Arde os olhos a ponto da gente não enxergar mais nada. Eu tenho tentado falar dele. Mas ainda dá medo.

Tentei escarafunchar em mim e arrumar novas estratégias para que ele não me percebesse e eu pudesse falar dele sem escuta. Projeto falido. Quando desisti percebi que ele é parceirão do Medo de Sofrer, que por sua vez carrega todos os outros medinhos com ele. Uma turma da pesada.

É tarde agora e me dei conta que estou com medo de dormir, são tantos os pesadelos, as angústias. Uruquentas, sem dúvida, mas insistentes. Como esse calorão de inverno. Estava ali assistindo o filme dos Intocáveis e o título me pareceu bem sugestivo - a gente tem medo de ser tocado, no físico, mas quem dera na alma. Pavor. Acho que é isso que o amor faz. Toca a gente tão lá no fundo que desmorona o castelo que os medinhos ajeitaram ao longo dos anos, tão pacientemente e cautelosos, como os velhos samurais - disciplinados e disciplinantes. Pois bem, quando esse se desmorona o Medo de ter medo resurge tal qual a Fênix Negra do X Men - sem exageros poéticos - agressiva, pungente. Dilacerante. E passa a te controlar. Depois do território amansado coloca de vigia o Medo de Sofrer.

Me lembrei de um velho amigo que me disse que eu não era mulher de ter medo. Pobre homem. Mal sabia ele. Talvez a minha cara de super responsável seja a maquiagem do Medo de sofrer. Bem eficiente: esconde as olheiras, as marcas de rugas, as sardinhas e o vermelhão do rosto quando sou descoberta. Ele me disse no meio de uma conversa (dessas de bar) que o meu medo não me paralizava, mas fazia eu tomar atitudes precipitadas.

Há dias investigo essa informação nos meus arquivos e percebo que a matriz foi muito bem guardada. Temo que ele esteja certo. Temo que eu (me)abandone por isso. Cheguei em casa triste, doída. Tomei um sorvete gelado na esperança que ele gelasse o coração e me devolvesse a razão. Temo tê-la deixado na farmácia...

Ainda não consegui apresentar esse casal: razão e coração. Às vezes penso que a Srta T foi enfeitiçada como no filme O feitiço de Áquila, onde esse encontro só se dá na transição veloz do dia e da noite. No silêncio e na distância. Um amor ainda platônico. Por puro medo, talvez. Eu sempre tive medo de feitiços, de bruxas. Mas meu medo maior é de não saber amar, de ser como covardes apaixonados e egoístas que fugiram amedrontados por perder-se em si, por reconhecer-se.

Eu tenho limpado os espelhos de casa, observado o amanhecer e o anoitecer aqui, bem dentro de mim. Sem medo dos (des)encontros da Srta

T

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segunda-feira, julho 24, 2006

segredando


O beijo é um segredo contado na boca em vez de no ouvido
(Edmund Rostand)

E aí eu fico me perguntando quantos segredos o meu amor já sabe de mim, destes que eu mesma desconheço, sequer imaginava que fossem segredinhos.
Quantos ele me surpreende, quantos descobertos no silêncio, no sorriso, na timidez... e quantos ainda a minha curiosidade e amor vão me fazer desvendar...

Mas esse é um prêmio que só o amor pode dar.

T

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sábado, julho 22, 2006

pacifica-te

Essa frase do João ontem à noite foi, de modo bem irônico, uma resposta ao desassossego do primeiro escrito.
Foi particularmente interessante ver como a vida te responde à altura, não na hora, nem menos no modo como você encomenda a resposta dela. Danadinha. Mas a noite de ontem foi bem super na medida em que as surpresas de antigos retornos e velhas conversas sentaram-se à mesa do Opção. Foi mais que escolha.

Lá pelas tantas da noite o Jedi chegou. E pra variar os nossos abraços são sempre felizes (na acepção mais linear dessa expressão mesmo!) - depois de rirmos um bocado, sacarmos as espadas invisíveis e nos sentarmos para falar bobagens (sempre acontece) o velho assunto da escadaria do Teatro Municipal voltou.

Há pelo menos 3 anos nos sentamos ali e as nossas confidências se estenderam para mais de um espetáculo de encontros, desencontros e tantas sinfonias. Nunca mais conseguimos conversar daquele jeito. Me dá saudades, ao mesmo tempo que brota uma paz silenciosa e tímida aqui dentro de saber que isso está acima de temporalidades limitadas da nossa compreensão.
Ontem recuperamos esse temporal todo. Falei da solidão. Não desse estar só, sem ninguém. Mas do andar solitário por mim mesma. Crescer é solitário. Viver... nem sempre, acho.

Depois de colocar as minhocas pra tomar cerveja com a gente, deixá-las falar, se abrir, etc (se conhecerem também... me dei conta que as minhas minhocas não se conheciam, apesar da vizinhança tão próxima.) percebo o clássico distúrbio na força. Padrão. Sempre acontece quando a gente mergulha demais - de repente tudo silenciou...

No meio do mergulho, por entre os olhares, os gestos, os silêncios, o abismo cresceu mais. Foi magnífico olhar pra ele, bem lá no centro. Tão escuro... profundo que nem os contornos eu podia enxergar. Acho que nem sabia mais olhar para trás.

Depois de ser resgatada por um susto, pelo meu choro também - reconhecendo o tamanho dos meus limites! - fiquei com a sensação de que são essas as contribuições que as amizades nos dão. A capacidade de mergulhar. Em mim, no outro. Em nós. E é exatamente o mesmo caminho do amor. Esse mesmo que o Mário Quintana e outros poetas falam. E como diz o Arthur da Távola, não há classificações e categorias de amor. Meu diria: "se ama e pronto". Prático assim. Só a gente na tentativa de sair da nossa ignorância... categórica.

Talvez esse texto seja bem piegas, ridículo, mas o Pessoa diz que as cartas de amor são sempre ridículas. Eu tenho gostado desse estado de pleno ridículo já há algum tempo. Vivendo o Nosso. mergulhando, mergulhando e me deixando abismar...

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sexta-feira, julho 21, 2006

inaugurando

Fiquei pensando aqui sobre como inaugurar esse espaço de quase-minhocações, ou de pensamentos, ou de qualquer coisa (des)pretenciosa para compartilhar as minhas idéias. Não apareceu nada de especial, exceto a compulsão em escrever, diariamente.
Hoje acordei me lembrando do Diário da Manhã do Salomão, na Rádio Cultura. Diariamente necessário. Não só pra ele, mas pra mim.

Esse espaço é assim. Talvez menos inteligente, menos bem-humorado, mas necessário.
De algum modo é uma forma bem minha de diminuir a lotação de emails mandados aos amigos, ao Juliano também. E também um modo menos tímido de aplacar a mania de enviar emails pra mim. Explico: eu nunca os releio, ninguém os lê. No mínimo egoísta. Ou pior, covarde. Daí me lembrei do livro do Desassossego do Fernando Pessoa, meu livro de cabeceira (dado com muito amor ao Vinícius também, a quem, de algum modo, eu homenageio com o Srta T que ele carinhosamente me apelidou... coisas da intimidade, cumplicidade dos desassessegos). Há um trecho especial ali em que ele fala do seu medo das perdas. De todas, de qualquer perda. E lá pelas tantas ele se dá conta que o medo é vão, pois sempre se perde algo. As perdas sempre existem e estão além do nosso pseudo-controle. Ele temia perder a chance de "ser inédito". Adianto: esse não é o meu caso, mas ter o Pessoa como referência é sempre desassossegante.
Portanto aqui fica instaurado nas tecnologias novas, modernosas da internet a minha perda.

Curioso: eu nunca fui muito fã dessas tecnologias, achava complicado demais pensar nos computadores - a minha infância de sci-fi me ensinou que eram os computadores que deveriam pensar na gente, e sobre a gente, nunca o contrário. Me enganei. Passei ontem quase duas horas para (começar) a entender como isso pensa (ou apenas funciona). Mais engraçado ainda foi usar o outro recurso internáutico (o msn... tão pouco dialogante, acho) para solicitar (desesperados) pedidos de ajuda.
Mas saiu. Está saindo. Do escuro, da timidez, da compulsão e de um desejo de parar de mandar emails pra mim, de ter mais (ao menos mais de 3) interlocutores para quem eu escrevo (mais ou menos) sistematicamente.
Aos que tiverem paciência de comentar (ou mesmo de ler), já fico menos desassossegada.

T

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