terça-feira, outubro 31, 2006

olhando pela janela

Eu tenho pensado sobre a onipotência. Achei que só Deus tinha isso. E de fato deve ser o único mesmo. A gente bem que queria.

Vi isso em mim esses dias, num querer aparentemente desinteressado. Na preocupação de como as pessoas me percebem, e na obscuridão do meu (auto) perceber... Enfim. Vi a onipotência no meu controle do tempo, é. Nos dias que estão muito quentes, queira frio. E nos frios, um clima mais ameno. São tantos "querer". Eu sempre quero. E me perguntei recentemente se deixo os outros quererem. Não vi nenhuma configuração astral que me indicasse isso, além da juba leonina. Só.

No interesse de ser querida e justa. Aí está a armadilha. As referências só podem ser minhas. E de mais ninguém. Aí está a prepotência que escutei da Fátima esses tempos: em achar que somente a minha percepção dá conta do todo. De que eu, e só, sabemos quais questões merecem atenção e outras não. Eu dou as coordenadas. Descordenadamente.

Chorei esses dias. De vergonha de mim mesma. E da minha lentidão em perceber o que parecia tão óbvio. Eu tremi por dentro pressentindo que eu poderia ser parecida com as minhas ex-chefes, com meu ex-orientador. Tremi. Quis fugir desse lugar e esquecer que esse lodo habita em mim. Aí deve estar a natureza do perdão, da abnegação. De todos os "ãos" que a gente só prega, mas que estão profundamente despregados do nosso ser. Não somos.

Estou aqui olhando pro espelho. Fazendo perguntas pela janela - como disse outro dia um aluno meu. Acho que ainda não tive coragem de abrir a porta da casa. Espero sair daqui, da minha mania ensimesmada, enquadrada na janela do meu eu. O problema parece estar aí mesmo: acho que a janela é grande o suficiente e me permite ver o mundo dali. Bobinha... Ela recorta. Eu corto. E os cortes deixam cicatrizes na pele.

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segunda-feira, outubro 30, 2006

astralizando

Esses dias eu fiz uma leitura do meu mapa astral. Há tempos venho com uma coisa mais que curiosidade pra descobrir o que os astros dizem da Thais, ou o que eu gostaria de ouvir deles... A segunda é mais possível.

Foi engraçado ver aquele monte de desenhinhos e numerozinhos estranhos ali num pedaço colorido de papel, dizendo quem eu sou. Vamos lá: Leão, ascendente Capricórnio, lua em Escorpião. Ok. muito misterioso ainda... pra mim, ao menos. Acho que sou daquelas pessoas que ainda espera, de um certo modo, que me digam quem eu sou. Talvez seja mais fácil...

Algumas coisas eu já sabia: vaidosa pra caramba, esquentada, apaixonada, insegura, etc, etc... que mais mesmo? melhor não detalhar...

Eu ouvi aquilo tudo muito curiosa, surpresa de como as estrelinhas lá longe me conheciam tanto, e os planetas mais ainda... haiva muito naquele mistério sendo desvelado. A Thais estava diante do sol, se deixando queimar...

Nunca pensei que eu poderia sair tão mexida daquilo. Tanto sentido! tão poético saber que o universo, que nos fez, nos sabe tanto. Sabiamente. Como os nossos caminhos são quentinhos, e que é possível regular a temperatura. Mais e menos. Eu sabia sim. E foi gostoso saber da confirmação de que eu sou essazinha aqui. Confirmei. E bem confirmado. Firmado.

Mas o mais engraçado nisso tudo foi ouvir o tal "Retorno de Saturno". De algum modo eu me sentia entrando para o elenco de "O retorno de Jedi" em que sei lá, ou eu viraria o Darth Vader, ou o Luke Skywalker... Fiquei fantasiando essas coisas ali no meu coração esquentado durante muito tempo e... me dei conta que essas coisas de transformação só doem mesmo se a gente se recusa a sentir. De fato o roteiro dos retornos é o mesmo. Retornar-se. Tornar-se. Inteirar-se. Inteira. E o que o medo fazia no desejo de ser o roteirista do filme? Pentelhação (palavra forte? isso mesmo...)

Saturno seria um cara bacana ajeitando os espantalhos do caminho. Olhando lá de cima e me envolvendo com anéis brilhantes para que eu pudesse subir sem me agarrar neles. Preparando o casulo da menina. Silenciando-a. Recolocando-a. E me deixei ali. Envolvida pelos anéis da vida. Pelas coisas que eu quero que aconteçam e pelo silêncio da minha espera. Só minha. Escolhi as testemunhas para a noite de estréia de ambos os filmes (sou protagonista nos dois, bem leonina, não?). E sei que elas já tem os bilhetes mesmo antes do anúncio...

Vou deixar o capricórnio dobrar os joelhos. Afinal, só se pode subir a escada pra entrega do prêmio com eles flexíveis... Os olhos? Continuo mantendo pra frente... com o coração bem no meio do peito, deixando o caminho aberto, rodando...

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terça-feira, outubro 03, 2006

elegendo...

Eu fiquei impressionada com a apatia eleitoral desses últimos dias. Tinha jurado que não ia escrever sobre isso porque achava o assunto desgastado, as opiniões e olhares sobre isso rotas. Enfim, me arrependi, de algum modo e cá estou eu.

Não posso dizer que fui uma menina politizada, mas gostava de assistir propagandas eleitorais, debates, discussões, mesmo sem entender nada. Acompanhei a campanha das Diretas ainda um rascunho de menina, muito pequena, mas me lembro bem das imagens. Me lembro quando o Tancredo morreu e assisti minha mãe e minha vó chorando. Lembro do Sarney falando "brasileiros e brasileiras" (ou o contrário?) - até rendeu o Jô Soares (o velho programa bom!) fazendo piadas sobre isso.

Recordo bem das eleições de 89, tinha 10 anos e me achava adulta o bastante pra falar de política, embora só repetisse o que os demais falavam - as opiniões mais divergentes - pra gerar polêmica. Vi direitinho o impeachment do Collor, mesmo sem ir às ruas. Eu era muito criança pra ir à Paulista gritar"fora"...

E tenho no coração a lembrança forte das últimas eleições. Lembro do Lula dizer que a esperança tinha vencido o medo. Puxa, isso era forte no coração, sabe? Me atingia nas entranhas. Eu nunca tinha participado de nenhum movimento estudantil - achava-os sempre muito inconsistentes, enquanto discursavam sobre a Alca, os banheiros da FFLCH/USP não tinham papel higiênico, etc.

Enfim... eu confesso que fiquei muito mobilizada nesta eleição. Um sentimento de pertencimento a um país como nunca tinha sentido antes. Um pertencimento maduro, sem aquelas empolgações funestas e fugazes de uma copa do mundo... eu percebi que isso me diz respeito sim. Mas como diz? Acho que tentei dizer...

Assisti aos debates, ouvi todo mundo, li os emails de prós e contras (mais contras...) Houve um misto de apatia profunda e conformismo com uma dor. Pesquisei o lugar dela nas pesquisas, na TV, no rádio... nada de respostas... O mais triste foi o fato das pessoas acreditarem, verdadeiramente sem verdades, que isso não lhes dizia respeito.

Por outro lado percebi nas idas revoltas de emails e de campanhas duvidentas que o debate e a busca estavam justamente nessa aparente silenciosidade... aparente. Mas as pessoas gritaram um bocado. Não sei se gritaram para serem ouvidas.

E a eleição acabou. E eu estou aqui, terminando o texto exausta. Levei uma eleição inteira fazendo campanha pra ele ser finalizado. E fico esperando o que poderei escrever daqui pra frente. Talvez eu não tenha o país que eu queira, mas o que eu precise. Gostaria de dizer o mesmo dos homens que vão liderar o país... mas não consigo, ainda.

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