quarta-feira, março 28, 2007

me vendo de perto

Ok, levei as minhocas para passear no domingo. Nada tranquilo, mas vi que elas gostam do sol e de um gramado verde para descansar. Andei com elas pra procurar uma cerveja gelada. Estava quente demais e ninguém merecia aquele calorão!

Sentamos na praça, embora ainda faltasse muito tempo para o pôr do sol. Ficamos ali, observando as famílias, as crianças e os casais de namorados que se afagavam carinhosamente. Uma tarde tranquila aparentemente, exceto pelo fato de repetirmos - de novo - o mesmo assunto. Já me perguntei se elas saberiam o motivo de tantas perguntas.

3 cervejas e a coisa começava a ficar intensa. Eu, as minhocas, e a praça. Tudo ali muito simples, mas um desespero por dentro. E pior, pra quem gritar ali e pedir ajuda? 4a. cerveja. Caminhei, meio trilili. 5a. cerveja. Um telefonema para a Márcia, tentativa de socorro, mas a moça tinha acabado de se casar e ainda curtia o sonho da princesa. Dor... falei com ela e não consegui ser sincera. Liguei para a Clara, minha irmã, diversas vezes. Nada. Ocupada com o Congresso das fonos. Comecei a escrever e de súbito me deu uma vontade de fugir. Levantei acampamento quando percebi que estava quase perdendo a batalha para elas. Francamente, quanta fraqueza... mas passava e doía. Peguei o carro e me fui embora. Dei uma volta pela cidade, vendo o sol baixar, fui para lugares estranhos, em ruas desconhecidas que queria que me fossem familiares. E as lembranças e as dúvidas. Duvidar dói. Descartes esqueceu de mencionar isso. Machuca.

Fui parar num terreno conhecido. Antigo. Contei meia duzia de bobagens sobre meu passeio minhoquento, sobre a dor, a frustração e a vontade de fugir. Silêncio. Ela vai chorar. E ficou ali, horas, que nem criança... sozinha. No colo da mãe.

Read More...

segunda-feira, março 26, 2007

Praça pôr-do-sol. 3 da tarde. Domingo. 5 cervejas... um telefonema para a Márcia. um caderno. E a busca da minha própria companhia. Devaneios. Tristeza. Apertou tanto o peito. E uma vontade de sumir. De mim, dali. E não voltar nunca mais, nem pra perguntar se está tudo bem.

Queria esse retiro de dentro de mim.

Read More...

sexta-feira, março 23, 2007

Ontem eu saí do trabalho tomada por uma dose de sono que há tempos não sentia. Um cansaço. Meu. Com o coração apertado ficava me lembrando da Maria, que trabalha comigo em casa, pedindo dinheiro para trazer a irmã que passa fome no Nordeste.
E eu aqui chateadinha com vacilos dos meus irmãos. Me senti pequena. Agradecida à vida. E com vontade de resolver o problema do mundo...
Me recordei de todas as discussões sobre diferenças sociais e bla bla do capitalismo, a vidna dos nordestinos para São Paulo, etc e tal.
Dizia ao Juliano antes de dormir que o aprendizado da espera é o mais doloroso, mas o mais nosso, fica inscrustrado na alma depois. E como é difícil a gente desenvolver a tal da paciência. Nem sei onde anda a minha... se perde dentro de mim e demoro para encontrá-la.
Queria poder dizer mais, da inquietação, da injustiça. Das coisas que vi no caminho de casa. Os adolescentes fazando malabares na rua. Pedindo, vendendo. Voltei com o coração apertado. Esperando...

Read More...

quinta-feira, março 22, 2007

outonos

Sempre gostei dos outonos. Misturam uma luz que não me fere os olhos e uma expectativa do inverno. Sempre gostei do frio. Me dá mais certeza, segurança. Juliano diz que a frase que ele mais escuta depois de "eu te amo" é "eu odeio calor". Ok, adoraria sim morar na Europa, bem ao norte e não precisar enfrentar os grudes do verão. Só na praia. No Brasil.

Mas me dei conta ao terminar o texto sobre a árvore da USP que eu adorava os outonos ali. Via de fato as folhas caindo e tudo com aquela cara amarelada, charmosa. Caramelizando o dia.

Tenho algumas lembranças bonitas do outono. Quando era criança, em Porto Alegre, me lembro bem das árvores que tinham em casa. Gostava de sair para o jardim da frente e ver a grama verde disfarçada pelas folhas. Quase um caso de amor. Gostava também de ficar rolando naquelas folhas e ouvir o barulho que isso fazia. Era bem "crocante" como dizia para o meu tio.

É um convite à minha introspecção que se mistura ao uso de roupas que me escondem, camuflam a minha timidez. Fico com chazinhos, chimarrão, chocolate quente. Todos esses mimos gostosos do friozinho. Pantufas e um monte de safadices debaixo das cobertas. Com o brinde do pôr do sol mais bonito do ano. Que bom que veio, já peguei o chá.

Read More...

andando por fora

Tenho observado alguns atalhos emocionais pelos quais a gente se apega. Coisa que a psicologia chamaria de defesa... É um movimento engraçado da gente dar a volta por nós mesmos, olhando a paisagem e esquecendo o painel do carro emocional que nos dirige.

Ontem foi assim. A gente se desculpa, pensa demais. Meias-palavras. Esquivas. Foge aqi e ali e entra num campo confortável do argumentar. Me lembrei do fundo do mar e das promessas de vingança. Dói... mas é mais fácil.

Voltei para casa passeando na cidade universitária. Procurei meu caderninho mais uma vez. Fantasiei que o sujeito que lesse aquilo estaria se divertindo muito. Tão sinistra essa sensação. Vi o prenúncio do pôr-do-sol. Estacionei o carro, abri o vidro e desliguei o rádio.

A árvore da usp que eu adorava e era a companheira mais fiel, confidente, não estava lá. Só os tapumes da construção nova... deu um aperto. Voltei para o prédio da História e fiquei olhando as coisas ali do alto da escada. Foi uma sensação esquisita de querer voltar no tempo. Ver o Juliano ali, anos antes de mim. Ver os meus colegas, professores, a Thais que desaparecia gradativamente atrás da praça do relógio. Os meus namoros naquela árvore, agora, soterrados pelo tempo. Nem mais as lembranças dali eu cultivo.

Nostalgia mesmo. Louco como a gente pega esses atalhos e sai da gente, tentando se encontrar. Me deu saudades do Vinícius ontem, um aperto no peito, pontiagudo. A gente conversava tanto ali, naquele lugar. Tantas confidências e tentativas de explicação... desabafos. A vida toma caminhos mesmo muito engraçados. Hoje, não tenho mais aquela árvore, só a foto que tirei dali no meu primeiro ano de faculdade. Há 10 anos. Parece que foi ontem. Em preto e branco. Eu sabia, de algum modo, o que, naquela época eu queria congelar. Tinha até trilha sonora.

Semana passada, indo na casa do Jedi para comer um hot dog ficamos falando dessa árvore. Todo mundo ali tinha experienciado aquela raiz coberta de concreto que tinha o banco mais charmoso da USP. Cada um ali relatou suas vivências. Modestas, mas tão significativas. Rolou até aquela emoção de filme americano: universitários que se encontram anos depois e lembram com saudades as suas aventurazinhas e momentos juvenis... Quase isso. Tomando Coca-Cola. E comendo hot-dog. Com catchup. A gente riu disso depois.

Fiquei com aquela conversa ali no coração ontem e vi o desfile de momentos muito especiais na minha vida. Que se soterravam. Mas dizia antes, eu tenho trabalhado o desapego...e como ele dói. Tenho aqui só aquela foto. Distante, quase desbotada. Comprei um porta-retratos para ela e vou colocar no escritório. Ao lado dos livros de história. Portalzinho para a saudade de uma apegada.

Read More...

quarta-feira, março 21, 2007

coisa de pai

Meu pai... puxa, maluquíssimo escrever sobre ele. É uma mistura complexa - não à toa que fez engenharia química - que dá nós na cabeça de mortais. Os deuses, pobrezinhos...
O moço dá trabalho. Há uma série de coisas aqui que eu poderia - e irei - contar sobre ele... mas devagar, são como as lembranças de Sto Amaro. Lentamente vão voltando...

Esses dias ele resolveu fazer o doutorado. Acho que foi bem assim mesmo. Esses dias. É um sujeito impulsivo, que quando decide, faz mesmo. Mas vamos lá. Pagou umas aulas de inglês e se mandou a fazer a prova. Nada simples. Na USP, como ele gosta de encher a boca para falar. Enche a boca até para dizer que a prova não foi - mesmo - NADA FÁCIL... em um linguajar que lhe é bastante peculiar. Imaginem... nordestino, criado na porra-loquice dos anos 60, num bairro de periferia. Essas coisas que ou constroem heróis, ou bandidos. Ou se destroem inocentes...

Meu pai. Saía o resultado da prova ontem. Nem me lembrei. Pois o cara foi até a universidade e olhou a lista. Melhor dizendo: uma lista. Qualquer lista. "Reparou na data?" Claro que não. Isso não é um detalhe importante para ele. Poucos detalhes são importantes para ele... a não ser a minha mãe. Que de detalhe na vida do moço não tinha nada.

Voltou para casa arrasado. Mudinho. Silenciou na dor, na decepção pois seu nome não estava na lista. Quando foi encontrar seu professor de inglês - malandro esse outrto moço! - falava arrasado do seu fracasso. Já tinha delineado planos para refazer a prova, etc, etc...

O ponto é que o rapazinho viu a lista do ano passado. Clara, minha irmã já tinha avisado meio mundo e combinado também de dar o trote no calouro... Sem ovada (se bem que merecia!).

Hoje à noite ele me ligou. A gente nunca foi muito bom para falar de sentimentos e tal, embora eu tenha sido exigente com ele. Sempre fluimos bem nas conversas mais "cabeça". Somos parecidos. Em muitas coisas. Fiquei orgulhosa dele e feliz que tenha querido me contar. Agora o epílogo... "você vai contar essa história pra todo mundo?" Dei uma risadinha - coisa de filha - "pqp" ele decodificou.

Read More...

contágios

Entupida pelos livros. Devoro-os, de uma vez... e me contagio com a ansiedade e pavor, e medo, e loucura dos autores. Nem os acadêmicos escapam... que gostosa essa doença...

Read More...

Estou aqui de novo com vontade de escrever... perdi meu caderninho ontem na USP. Tantas coisas ali importantes... tão minhas. E a sensação de estar exposto. De verem o seu lado mais feio, mais humano. Sórdido.

E caiu ali, antes da aula de antropologia... que dor... uma sensação de que agora eu não pertenço nem mais a mim mesma. E meus segredos, medos, do mundo.

Fiquei fantasiando... será que alguém vai se dar ao trabalho de devolver? e para quem? jogar no lixo seria o melhor. O caderninho é uma resposta ao poema do Pessoa. Dói, mas humaniza.

Hoje cedo, lendo o evangelho... Dar a outra face. Estranho estar disposto a se desarmaar quando a única certeza que nos resta é a de que podemos nos defender. Um friozinho aqui.

Estou trabalhando tanto o meu desapego... deixei a moça flutuando no mar. Queria que ela levasse pro fundo o que escrevi naquele caderninho - povoado de lembranças tristes e amargura só minha. Que azedume. Não queria que provassem esse lado meu. Dá embrulhos no estômago. Mas... desapego... deixar de controlar... deixar pra lá. Deixe estar... ser... e não há nada a temer...

Read More...

Pessoa humaniza

Segue o poema do F Pessoa. Li hoje cedo... de um amigo...

Poema em linha reta

Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)



Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Read More...

terça-feira, março 20, 2007

Humores

Reparei nesses dias como a gente é suscetível a humores. Tenho rido muito. Sozinha, em casa e no carro. Quase me preocupei com isso. Mas ontem, dirigindo de novo na Raposo, lembrei que a dor, a tristeza afundaram naquele navio. E vi a moça que carregava isso flutuando. Maltrapilha. Fez promessas em agonia. E teve medo de cumpri-las quando a hora chegou. O mar não levou ainda. Está ancorada, no fundo. Com algas e aquelas coisas feias do fundo do mar. É tão pesado que ela não pode puxar. E afunda. Afunda devagar até o ponto de esbugalhar os olhos e o mar levar o seu último ar. Desiste. Insiste. E não respira mais.

Ali no fundo. Ela flutua. Sozinha. E faz muito frio. Silencia... O verde das águas mostram aqueles cabelos translúcidos. E os olhos, namorando eternamente os peixes predadores. Eu olhei pra ela ontem. Profundamente. Quis puxá-la de volta, e ela não me via. Buscava ali no fundo do mar alguma coisa que fizesse sentido. E a maré, traiçoeira, levava embora. Pra onde ela não pode mais ir. Flutuava... na sua própria amargura e solidão. Na sua dor, que era ali maior que o mar. E a solidão tomava conta do seu silêncio.

Não tinha mais nada. Ninguém. O descontrole das profundezas é tão maior... e nos faz flutuar.

Estendi a mão. Ela não me via mais. Não queria mais...Não sabia mais das sua força... usou as últimas para fazer juras.

Escutava barulho daquelas águas. E ri, dentro de mim... Que bom que a gente pode deixar algumas coisas para o mar levar.

Read More...

admirável mundo novo

Estive ontem na fábrica da Volks com a escola. Foi uma experiência. Legal a gente ver ao vivo aquilo que a gente tanto fala e ouve falar. Lê, acha que sabe. Histórias e marxismos à parte acredito que aquilo ali me mobilizou a um ponto tal que não tive sono ontem durante o dia. Consegui ficar ligada 13 hs trabalhando direto.

A viagem foi curta, rápida até. COnversava com uma aluna no caminho sobre as intempéries da vida. Essas coisas que os adolescentes gostam de perguntar ao professor porque acha que eles sabem. E que os professores adoram falar também porque acham que sabem. Enfim. Eu conversei um bocadinho com ela sobre isso. E dizia da minha serenidade em relação a algumas coisas na vida. Ela tinha me perguntado se eu - em algum momento da minha vida - era de arrumar briga. Ora, era complicado demais pra responder. Enfim. A gente dá uma resposta semi-ética. Achando que eles não sacam a gente.

Mas o ponto aqui é sacar outras coisas. Eu estive ali por quase duas horas e me perguntava ao andar por aquela fábrica assustadoramente gigante - mesmo! - o que o Sr Huxley tinha sentido ao ver a Inglaterra tomada pelas indústrias. Acho que valeria um café com ele. Um chá.

Nem podíamos respirar por causa do ar. Meus alunos se queixavam de dor de cabeça e mal estar, mas o lixo ali produzido - bem como os demais restos - eram todos "aproveitados". Uma empresa compra o lixo. Achei confortável você se colocar numa posição de passar o problema pra frente. Sem culpa. Afinal, outros enriquecem com você. Era estranho ver o pessoal - inclusive meus alunos - discursando sobre os problemas do meio-ambiente - inclusive eu - e sermos a pequena parcela de 10% de brasileiros que promovem essa meleca. Compramos a maior quantidade de carros, eletrônicos. Usamos (quase) nada de público e desfilamos com ipod, som, roupas bacanudas e uma longa série de etiquetas penduradas em nós. Ainda acho que somos nós que nos dependuramos nelas.

Escutava o louco som daquelas máquinas imensas que muito mais pareciam as sentinelas do Matrix. Braços robóticos imensos. Não havia pessoas em muitos dos locais pelos quais passamos. O medo desse futuro não era mais coisa de Blade Runner ou sci-fi. Aquela fumaça tomava conta de mim. Dos meninos. Eu me angustiava. Queria sair dali mas precisava manter a "postura científica". Francamente...

Uma das minhas alunas me perguntou onde estavam as mulheres que trabalhavam ali. 3. Ao longo de horas caminhando. Todos uniformizados e o barulho enlouquecedor daquelas máquinas. As faíscas de solda me pareciam a única beleza daquele lugar. Pensava nos sujeitos que ficam ali durante horas, dias, meses. Anos. E o que sobra pra eles? Ok, a alienação do capital... nenhum daqueles caras ali veria tão de perto o carro que fabricavam. A única chance de dirigir um desses é para levar ao pátio do estacionamento da fábrica. Ok. Meus colegas revoltados marxistas da FFLCH parecem ter razão aqui. Mas esse não é ponto. O mais maluco, esquisofrênico ali era o deslumbramento do horror. Não há como negar que o ser humano é super inteligente, criativo, etc, etc... Ora... isso não é contestável. Só sai dali com a sensação de que caminhamos deslumbrados - narcísicos - em direção ao nosso cérebro. Poder. Há tanto disso em nós. Mais que as máquinas.

Eu fiquei ali, olhando os alunos. Melancólica. Fiquei pensando nos filhos, netos, em mim. Como a gente é pequeninho diante daquele monstruoso campo de sentinelas. E parece não haver saída de fato... Kilômetros de extensão e uma faixa coroando a matriz... "A fábrica é uma extensão da sua casa. Economize água e energia elétrica". Tomo banho mais curto, sinto-me culpada quando esqueço a luz da sala acesa... e que perigo isso... tomaram conta da minha casa. Nem tinha visto.

Read More...

domingo, março 18, 2007

irritando

Estranho como a minha irritação se torna... Ela de repente é... e toma conta de mim.Comprimidos para isso existem? ou a gente só sai do transe quando a porrada de fora é maior que a de dentro?

Read More...

bola de meia, bola de gude... e um dente.

Engraçado como são as "coincidências" da vida.
Essa semana me deparei com uma das mais bizarras situações na vida escolar. Daria pra escrever um conto de terror ou ainda uma comédia trash... Tudo isso depois de filosofar horas com um amigo sobre os poréns do futebol. Feminismos e feministas à parte, claro.

Fiquei a semana sem conexão com a internet e quase maluca pra não esquecer de registrar esses "pequenos incidentes"...

Início de semana, os meninos iam jogar bola. Escondidos, claro. Já que a disposição do espaço do colégio, apesar de grande, não permite que aconteçam jogos de bola. E o mais engraçado é que quando se é adolescente, o proibido só tem conotações pessoais. Pois bem. Enfrentando as ameaças do perigo, os garotos se aventuraram a jogar bola - num esquema que faria qualquer serviço de inteligência tremer de medo.

Um grupo de adolescentes de todas as idades - pequenos e grandes - mas envolvidos nessa coisa - tipicamente masculina - de disputa de força física e habilidade. A cada dia vejo que as aulas sobre evolução humana estão sendo aproveitadas mais por mim do que pelas crianças. O jogo de futebol se transformara ali, naquele lugar recôndido , num palco de lutas e cooperação. Pena Darwin não ter tido tempo de experimentar a sua teoria nos campos... Mas, sim. Cooperação entre machos em desenvolvimento é fundamental. À primeira ameaça de uma fêmea ou macho mais velhos se aproximarem de sua aventura eles precisariam correr. E muito. Fugir não era apenas uma solução, mas escapar sem deixar vestígios e sem ser visto. Isso é bastante facilitado - e eles sabem - pelo fato de usarem uniformes e por nós, adultos, acharmos que "todos os adolescentes são iguais". Campanhas feitas na área militar demonstram que o inimigo sempre deve conhecer de perto seu adversário. Napoleão já dizia, no amor, como na guerra, para se vencer é preciso ver de perto.

No entanto a frase foi levada a sério pelos garotos. Numa disputa clássica de bola, dessas que a gente se pega, se bate, se mata, mas tudo é "na esportiva", um dos meninos deu uma cabeçada na boca do outro. Ouviu-se o estrondo e...! Correr. Era a única coisa que restava antes que a situação desse alardes demais e deletasse o grupo. Num instante não se via nada ali. E como num campo de batalha mesmo, o coitadinho da cabeça arrebentada, da 6a. série jazia ali. Os granddalhões das outras classes nem se deram ao trabalho. Soldado ferido é soldado morto. Atrasa o grupo.
Instantes depois o menino foi socorrido. Levaram-no à enfermaria para fazer um curativo. Sangrava bastante. Foi interrogado para saber quem era o causador de tudo aquilo. Não sabia. Claro que não. Um nome que em meio a milhares não tirava o moço do anonimato.

Mas o pior estava por vir. A enfermeira escavando o ferimento encontra um vestígio que denunciaria o agente. Um dente. Isso mesmo. Um dente dentro da cabeça do menino. A escola entrou em desespero e começaria a saga para encontrar o dono do dente. Isso não seria complicado já que a troca da dentição do garoto tinha acontecido anos antes. Ninguém é banguela aos 14 anos...

Nada. Não se achava naquele universo o dono do dente. Parecia um episódio do CSI. Horas mais tarde. Um telefonema. A mãe. "Boa tarde, estou ligando porque meu filho perdeu o dente". Ok. Calma. Tudo seria resolvido "Pois não, senhora, temos o dente do seu filho". "Ele precisa logo para fazer o reimplante". "Não se preocupe, estamos encaminhando.". "Obrigada... ah, mas são dois..."

Read More...

quarta-feira, março 14, 2007

voltando de lá

Trata-se de um pequeno amontoado de reflexões perdidas...

A Márcia vai se casar. Não estarei lá. Tem todo um complicador de tempo, espaço, logística e emprego novo. Noite passada não dormi. Essa noite o sono foi agitado e fiquei com o peito apertado sabendo que a gente não ia estar juntas nesse sábado. Tantas histórias e entrelinhas na nossa relação. Tanta coisa testemunhada, silenciada, dita de tantas formas entreroscasdas.

Fiquei pensando alto isso o dia todo. À noite, no meio da aula de antropologia, pirando sobre Saussurre e os poréns da linguística/língua e tal me dei conta que a gente tem um vocabulário pobre para falar do sentir. Mesmo o português... Doeu um pouco essa limitação toda e pensei que mesmo fazendo anos de exercícios emocionais a gente não atinge performances desejáveis. Nem mesmo aceitáveis.

Fiquei com vontade de ligar para ela e dizer um monte de coisas. De sumir e estar lá. Qualquer sacrifício pareceria pouco para retribuir tudo o que a Márcia é pra mim. Viajar horas, não dormir. Mas parece que a gente é escravo dessa vidinha que pediu a Deus. Pobre Deus de novo... tá sempre ocupado.

Eu saí da USP e fui dar um rolê pela cidade, rápido porque estava na rua desde as 7:30 da manhã e queria um banho... Ouvi música, acelerei o carro. Tomei muito vento na cara e nada me tirava a sensação de estar em falta com ela. Talvez, Marcia, se você ler isso uma hora, pareça um pedido de desculpas. Mas pelo que mesmo? Eu nem saberia começar essa cartinha miserável.

Vou ficar aqui, imaginando você de noiva, mandando todas as vibrações. E com o coração profundamente apertado. Não há possibilidades de negociação no trabalho. Imagem. Significa muita coisa. E todo esse senso de responsabilidade que a gente tem, que às vezes é tão pesado. E que torna o viver muitas vezes tão mais pesado. Faltei nas aulas de resistência. O roteirista me colocou em outro departamento.

Vou sentir saudade de viver esse momento com você. Presenciar a sua família te libertando, oficialmente - embora o coração esteje sempre preso... Ver os seus amigos que de alguma forma também são meus. Ver coisas todas que me foram dadas por você num exercício fantástico de imaginar.

Eu volto de lá. Imaginando tanta coisa. Fantasiando a minha lealdade e compartilhar. Com essa sensação de vazio. De um querer dividido. Sofridinho até. E com receio que essas cenas se repitam na vida. Escolher exige tantas habilidades emocionais...

Read More...

Pensando ainda na idéia de colocar um espaço de reflexão acadêmica das minhas leituras num blog. Com a informalidade que desejaria nos espaços de criação... mas segue uma coisinha que recebi ontem. De certo modo, inspirador. Mas cautela...
Essas relações históricas muito diretas sempre me preocupam...

Amor, Sexo e Tragédia
Como gregos e romanos influenciam nossas vidas até hoje

Simon Goldhill

Tradução: Cláudio Bardella


Quando você vai à academia de ginástica ou segue as últimas dietas
recomendadas pelos famosos, está fazendo algo que era moda já na Grécia
antiga. Quando compra no pay-per-view o direito de assistir a uma luta de
vale-tudo, está agindo de modo muito semelhante aos romanos que se
amontoavam no Coliseu para ver os gladiadores.

Com inteligência e bom humor, Amor, sexo & tragédia mostra como as
tradições greco-latinas estão muito mais presentes em nossa vida do que
imaginamos. Do lazer à política, da psicanálise à religião, o mundo
clássico está por trás de todo o sistema de pensamento ocidental.

Conhecer esse passado longínquo – mas surpreendentemente atual – é
necessário para entendermos a conturbada época em que vivemos.

Read More...

Acordando cedo e dormindo tarde. Hoje me dei conta que estou prestes a surtar com minha vontade de dominar o mundo. Nada tão pretencioso como o Sr Cérebro. Mas a (in)capacidade de fazer todas as coisas ao mesmo tempo. agora.

Esse é um problema dos que hoje são conhecidos (talvez famosos) por possuírem distúrbio de déficit de atenção. Ou hiperatividade. Tenho os dois. Eles não me têm. Por enquanto. Fico pensando como é confortável a gente se desculpar por ter essas coisas. Tudo fica inteligível: nossa desorganização, desatenção com as pessoas amadas, problemas emocionais, irritação, etc. Tudo vai para essa gavetinha simpática do DDA.

Nunca fui muito ligada nesse papo de distúrbios, etc. Na verdade acredito que ficamos perturbados demais com coisas que não temos conseguido entender ou resolver. Nosso vocábulo não dá conta de explicar, exprimir e mesmo expremer o milhão de coisas que nos passam. Enfim. Por essa razão mesmo a gente faz terapia, toma remédio, cerveja com os amigos, faz academia e yoga. No meu momento de preguiça matinal (que tem sido cada vez mais curto) fiquei refletindo sobre esse (des)conforto humano de ser. E como é complicado mesmo a gente se manter em qualquer coisa - minimamente - centrada em nós mesmos. O quentinho daqui de dentro, à medida que a gente se aproxima de si mesmo, vai se tornando um caldeirão de bruxaria, insuportavelmente quente. Fora todos os bichinhos e seres de sci-fi que a gente encontra ali. Velhos de guerra.

Mas eu não pretendia ser pessimista hoje cedo, somente lembrar (pra Srta T) que dominar o mundo - no seu sentido mais pueril - é compra de frustração. Não dá. Esquece. Milhões de livros pra ler, filmes para assistir, namorar, ficar quieto, tomar banho de mar, cachoeira. Ainda bem que a gente reencarna (se descobrir que isso é mentira, vou precisar voltar para a terapia)...

Mas deixando o domínio de lado. Estou aqui com uma coceira no coração. Coça porque há tantas coisinhas para dizer aqui. Nem sei. E mais que isso... Desassossego do Mestre Pessoa. To com saudades de tomar café com ele. Esse fim de semana rola? Lá no Suplicy mesmo. E te mostrar o meu caderninho tão desassossegado. Agora, recheado de Lévi-Strauss. E eu recheada de mim mesma ali. Tá derramando. Mas, de fato, há alguém para se conversar?

Read More...

segunda-feira, março 12, 2007

Acabei de voltar pra casa... são mais de 11 pm... não estou com sono e estou com uma sensação incômoda de alívio. A dor parece ter diluído. Para onde ela foi? e o que eu faço agora sem ela?

Voltei dirigindo na Raposo. Chovia e eu me preocupava em escolher uma trilha sonora que condizesse com meu estado de espírito. Não sabia muito bem como poderia tocar. O pensamento se ia. Eu acelerava na esperança de passar a outra curva e sair de mim. Enfim... procurava.

Tocou bola de meia, bola de gude ... Fiquei ouvindo e uma emoção me tomou conta quando dizia a frase quando o adulto balança o menino vem pra me dar a mão. Comecei a procurar o lado mais generoso de mim mesma e pensando se ia valer a pena tanta misericórdia. Chovia mais.

Ontem assistindo o a procura da felicidade me dei conta que é esse o único direito que de fato temos. Procurar sermos felizes. Procurar ser. Não somos. Acho que nada. Além de genuinamente contraditórios e humanos (pobre Spock!) E que os americanos, mais uma vez são felizes em expressar a obviedade da vida e a sua genialidade em textos aprentemente despretenciosos a discussões existencialistas. Hoje à tarde, lendo o comentário do João no texto do Bush fiquei me perguntando se eu tinha me expressado direito ou se eu era mesmo assim. Fragmentada e dificultosa na percepção do mundo. Mas que mundo mesmo? Acho que ele tem razão.

Voltando... Subia a Rebouças com aquela iluminação toda me cegando e a música acabava. Me tirava do torpor anestésico da dor. Cantava e me emocionava com o fato da vida sempre oferecer pra nós o direito à busca da felicidade. Isso mesmo. A segunda, terceira, quantas chances você quiser. E ela só pede pra você esperar. Só isso. Nem que sejam milênios. Você guarda a dor, como peça de museu, cuidadosamente colocada na vitrine do seu antiquário emocional, cheio de peças romanas. Bustos. Jóias. Estátuas sem olhos. E brancas. sem vida. E passa horas se enganando de que não quer mais aquilo. Nem preço você põe. Ela te pertence e não está à venda.

Foi um pouco essa a sensação de voltar para casa hoje. Acho que comecei a me despedir do antiquário colocando as peças a leilão... alviei o peito. Mesmo que demorem a comprar, ao menos anuncio. Voltei para o meu apartamento, docemente tentada a parar num bar e pedir uma dose de whisky. Ia levar aquele papo com Deus que há tempos tenho tentado. Sabe como é... me explicar, contar causos e enxer o velho de perguntas. Mas acho que ele prefere um dry martini. Vou refazer o convite.

Abri uma cervejinha na falta de coisa mais sofisticada. Sentei no sofá e fiquei namorando a minha fonte de água rodeada pelas plantas... havia aquela simplicidade genuína. Humana. E um alívio profundo. Deixava uma parte lamacenta de lembranças tristes se lavarem naquela fonte... e se irem... Só queria agradecer à vida por isso. Por me deixar contar outras coisas. Por reapresentar essa sensação de tranquilidade e bem-querer que eu nem sabia mais que tinha... e João. o Bush... já, já...

Read More...

continuando o bush

Segue o comentário do Jedi...

Tá me fazendo repensar os pontos de vista... as sensações de estranhamento... Mas insisto. Acho que ainda temos uma dificuldade - esquizofrênica - de olhar por fora de nós mesmos. Me pergunto. Há outra possibilidade? Ou a sociedade é só nosso laboratório de sentir e experimentar. To pensando como unir o que há aqui dentro com o que há aqui fora... Ou se essa fronteira de mundo"> é de verdade... ou pura ficção.


Acho que valeria um chopp com O Jorge Grespan e com o pessoal. Isso é hermenêutica?



Jedi,

Estenda essas palavras ao seu blog, se você assim o
desejar. Escrevi em cerca de cinco minutos,
velozmente, e não vou fazer revisões. E não revisarei
– por incrível que pareça – por respeito a quem for
ler...

Começo com suas próprias palavras: “Não havia nada ali
de mais profundo. De verdadeiro ou genuíno. Eu estava
num curso de ciências humanas e via a ausência de
humanidade ali”. Concordo com a desumanidade, num
sentido bastante elástico, mas discordo de não ser
genuíno: aquilo tudo foi verdadeiro sim! A
desumanidade que você enxergou, o despropósito, as
contradições e paradoxos são marcas profundas do viver
em sociedade atualmente, e elas estavam presentes e
evidentes naquelas circunstâncias e espaço. Vivemos
numa cidade em que uma universidade pública está
cercada por muros e portarias com vigilância. Em
primeira instância, deveria ser assustador. Mas não o
é. A cidadania, o espaço público, os direitos e
deveres e toda uma parafernália que herdamos do
liberalismo europeu estão dando chabu há muitos anos,
mas o princípio de tudo isso é sempre o mesmo: os
modernos seres humanos, em primeiro lugar – depois os
cidadãos – estão dando chabu há tempos. Pense comigo:
o que eu mais ouvi nos ônibus e nas ruas (sim, ando
bastante de ônibus e ando um monte pelas ruas) é que a
vinda do presidente de outro país atrapalhava o
acontecer da cidade. Todos se preocupavam com o
trânsito, com o possível atraso nos mini-compromissos
dos micro-egos, com a mudança temporária operada no
espaço urbano por uma visita AUTORIZADA PELO GOVERNO
BRASILEIRO, eleito inclusive pela população da cidade
que parecia protestar. Ouvi do cobrador de um ônibus –
coisa rara em São Paulo: ele olhava nos meus olhos
enquanto falava (já sabemos o que isso significa, em
muitas dimensões, certo?!) – a seguinte frase: “o cara
vem aqui, pensando que manda no mundo”. Que ele estava
aqui, já sabíamos; que ele pensa que manda no mundo,
nós também já sabemos; no entanto, a que “mundo” ele
se referia? Me peguei sem resposta. Em que medida
podemos chamar o que experimentamos de “mundo”, senão
na dimensão individual? Vivemos numa cidade em que o
trânsito complicado é um problema naturalizado: quando
um elemento externo surge para complicar uma condição
intrínseca, nós sagazmente direcionamos o problema
para fora. A descrição em psicologia para o fenômeno
por meio do qual o indivíduo não consegue conectar-se
com a consciência de si é “esquizofrenia” (apesar de,
tecnicamente, jogar o problema para fora também
envolver uma afrodisíaca dose de sublimação...).
Quando isso acontece com grupos, comunidades,
multidões, cidadãos, qual o limite? O céu?

Nossa experiência social é genuína, verdadeira, e
temos de defendê-la, pois ela expressa o que de mais
profundo temos como indivíduos. Que a vida em
sociedade não possui um sentido imediato, isso já está
dado: sociedade não existe sem ausência de sentido. Me
pergunto freqüentemente, principalmente como
professor: o quão corrompidos interiormente estamos
todos, na medida em que nos esforçamos tenazmente dia
após dia e há séculos para nos apartamos da Natureza
da qual somos apenas mais uma peça entre muitas
outras? Na faculdade de Ciências Humanas não tivemos
um belo preâmbulo do que enfrentaríamos como seres
sociais plenos?

Os deuses existem para nos ensinar a experimentar a
jornada de sermos humanos. Na Índia existe um ditado
ancestral: “o hóspede é Deus”. Não é irônico que
quando Deus venha finalmente nos visitar (já se disse,
inclusive, que Ele é brasileiro), nós lhe repudiemos
como todo filhote ingrato faz quando confronta seu
espelho?

Read More...

em busca da felicidade

Ontem à noite fui assistir o filme. Nada a dizer, mas estou pensando que vivemos buscando aqueles pequenos episódios, curtos, que a gente chama de momentos.
E referente à visita do Bush, ao pensamento em relação aos americanos, to pensando cá com os meus teclados... se nos damos o direito à busca da felicidade.

Read More...

a visita do Bush

Semana passada o assunto foi a visita do presidente norte-americano e o papo todo sobre o etanol e outros recursos combustíveis. Nada novo na imprensa, nas manifestações. A bomba veio com o dia da mulher em que os engajados manifestariam sua indignação sobre os maus tratos às mulheres e à presença (quase demoníaca, se dizia) do presidente americano.

Fiquei me lembrando de uma frase do Caetano sejamos imperialistas... Ora, nada mais fácil de dizer, mas tão difícil de realizar. Nossa mentalidade colonial ainda nos permite certas imaturidades civis. Contradições históricas das mais malucas que dão temas a teses e dores de cabeça. Acho que fiquei mais incomodada com a postura dos anfitriões...

Há dias venho rascunhando coisas sobre a visita do Bush. Observei a reação dos colegas, dos artistas, da imprensa. Dos estudantes. Dos meus alunos. Em todas as contestações via ali algo superficial. Detentor de uma hipocrisia lindamente desenhada. Convincente de seu engajamento. Mas tão supercialmente maquiada.

Recebi diversos emails de convite a usar preto. Manifestações. Reivindicações. Intervenções urbanas. Gente insatisfeita. Infeliz. Revoltada. Ok. Confesso que pela primeira vez em muitos anos não me deixei levar pela maré da protestantagem. Achei esquisito. Quase me senti conservadora e defendendo a guerra do Iraque. Mas não era isso. Era um estranhamento desse modelo de contestação. Um silêncio interior diante desse silêncio cotidiano. Dessa indiferença que, de tão indiferente, nos deixa acostumados a protestar quando todos protestam. E por que todos protestam? Conveniência da situação? Visibilidade? Engajamento? Ou é porque, de fato, alguma coisa nos tira da nossa imobilidade interior...

Ora, a situação no Dpto de História da USP sempre me deixou com pulgas (e outros bichinhos) pelo corpo todo. Até onde vai mesmo essa sensação de indignação? Me recordo de assembléias em que se pedia (furiosamente) a saída da ALCA, de FHC, do capitalismo e víamos os banheiros sem papel higiênico e entupidos. Sem comentários. Algumas vezes me perguntava ali onde estava o meu espírito de juventude de querer resolver o mundo. Um colega me chamou de pequena-burguês. Ok... fui investigar o termo e não me lembro de sentir nada aterrorizador com isso.

Via aquele pessoal todo reunido no bar da faculdade tomando tudo o que tinha direito (sem preconceitos, por favor), jogando truco, fazendo propostas de mudar o mundo. Pois bem. Até o Galvão Bueno poderia participar da reunião dos "intelectuais de suvaco" como diz meu pai. Não havia nada ali de mais profundo. De verdadeiro ou genuíno. Eu estava num curso de ciências humanas e via a ausência de humanidade ali. As pessoas não se relacionavam. Não vi sentimento nem propostas renovadoras de si mesmos. Tudo era exterior. Continuamos exportando-nos de nós mesmos...

Isso me deixava muito quieta na faculdade. Apesar de fazer o gênero cdf, ou mesmo esquisita como dizia o Max, não estava à parte dessas discussões. Mas eram discussões que chegavam à cabeça. Nada ao interior...

Acredito que a gente repete o que aprende. Brigar com o Bush é mais fácil do que olhar para o nosso jeitinho brasileiro e e brigar com a nossa falta de cidadania. - acabei de pensar que escrevo o óbvio! nada original e talvez eu mesma me repita - Sabemos mais da constituição americana do que da nossa. Sabemos da 5a emenda, mas desconhecemos os direitos do consumidor, as leis trabalhistas. De que adianta a briga para tirar os americanos do Iraque, assistir os Simpsons, South Park? tem um repique em mim... ando querendo mais.

Tom com saudades de uma coisa que não vivi. Disse o Érico. Há 8 anos atrás. Eu nem sinto saudade. Mas sinto falta. E o Bush foi embora. E sobraram algumas pixações. O trânsito voltou ao normal, o exército aos quartéis. Os estudantes, às salas de aula e suas discussões sobre o futuro. E eu voltei a escrever. Fico esperando como a gente continua esse livro...

Read More...

...

Tenho refletido sobre a criação de um espaço profissional para os meus pensamentos. Não sei se é uma tentativa de organização ou se é mesmo uma maneira de focar os meus caóticos.

Ultimamente as relações de gênero tem sido o foco das minhas atenções - diga-se de passagem até na observação (semi)científica do meu casamento - o que me faz lembrar de alguns antropólogos americanos que ficaram propondo investigações e teorias sobre sua (e dos outros) inabilidade de conviver em grupo. Falava há pouco sobre o quanto me irrita sermos previsíveis. Talvez o mais irritante seja a possibilidade de sermos catalogados, etiquetados. Meu orgulho discorda desses procedimentos científicos, mas pelo jeito ele vai ter que se virar sozinho... enfim...

Semana passada eu estava falando nas minhas 5as séries sobre elementos importantes para a evolução humana. A convivência em grupo. No caminho de volta desliguei o som e fiquei observando como, em milhões de anos a gente é ainda frágil nesse quisito. Isso mesmo: frágil. Precisamos um do outro. Mas até que ponto só para os nossos próprios interesses... Ora, isso parece tão óbvio pensando em como procuramos emprego, amor, amizades. Fiquei frustrada...
Na sequência me lembrei de um ensinamento do Osho em que ele dizia que a gente cai de amor. Na gente mesmo. A gente cai porque não consegue viver sozinho. Por que fantasiamos pessoas e situações para sairmos da nossa dor. Queremos satisfação. Somos todos um bando de carentes grandes (ou o contrário...)

Eu tenho revisto alguns espisódios da minha vida. Prefiro pensar nela como um seriado em que o to be continued seja mais do que um recurso estilístico. Fico pensando porque decidi fazer História. Onde quero buscar respostas. O que faço com meu apego, com a dificuldade de conviver. De ser e de estar. Não serei eu a astronauta?

Me dá vontade de sumir nos meus foguetes espaciais... e não me reconhecer mais. Tem doído. E eu tenho tido vontade de fugir, pra longe, para qualquer lugar fora de mim. Talvez escrever sobre o trabalho me ajude. Ou talvez eu escorregue na própria armadilha...

Read More...

domingo, março 11, 2007

incongruências

Viajando bastante, fiquei pensando, aqui, ouvindo meu pai e Juliano conversando o básico papo "masculino" ... a gente é tão bicho assim mesmo? A vida, incongruente, desafia a nossa própria hipocrisia. Fiquei pensando sobre esse papo sobre as relações de gênero... me irrita o fato de sermos tão previsíveis. Queria mais surpresas da vida...
To esperando para ver quem ganha....

Read More...

sexta-feira, março 09, 2007

esse papo de dia da mulher

Juliano me diz que sou feminista. Mas não. Gosto de discursar. É diferente. Apesar de fazer pesquisa na área de gênero, nunca me considerei feminista. Clara e Gustavo me dizem que sou revoltada. Minha mãe me chama de indignada. Os amigos se dividem entre a personalidade forte (belo termo para te chamar de barraqueira) e a barraqueira mesmo.

Nunca me considerei feminista. Em sua acepção original. Na verdade, sou mais simpatizante das feministas inglesas e americanas do início do século XX do que das mais libertárias dos anos 60. Não sei em que medida a liberdade sexual atende interesses classicamente masculinos. Muito mais do que femininos. Ainda que esses termos estejam em discussão. Muita discussão.

Ontem foi o dia da mulher. Engraçado esse lance de datas comemorativas. Na prática elas devem nos lembrar de eventos importantes para a sociedade, fatos que marcaram as nossas raízes para sempre. Enfim. Nunca fui muito fã dessas coisas. Formação de historiadora à parte, acredito que a gente seleciona, significa demais algumas datas. O dia 22 por exemplo, pra mim. Ganhou dimensões epopéicas. Um dia conto.

Mas voltando. Eu estava na escola e vi um vaso de flores colocado no banheiro feminino. Perguntei à faxineira o que era aquilo e ela me respondeu sorridente que era em homenagem a nós mulheres. As mulheres ultimamente tem se homenageado do mesmo jeito que os homens nos homenajeiam: flores, folga, bilhetes, cartões e mensagens que reforçam a nossa relevância social, beleza, coragem, etc, etc, bla, bla, bla.

Bobagem. Qualquer um que tenha sensibilidade zero reconhece a importância das fêmeas na sociedade, em qualquer nível. Lembro de um texto do Arnaldo Jabor sobre as mulheres que de fato me comoveu. Andei lendo Os homens são de Marte e as Mulheres são de Vênus (acreditem! sensacional) e percebi que, apesar das acepções ocidentais, capitalistas, contemporâneas, pós-modernas, etc, etc, bla, bla, bla.... faz sentido. É louco como meu orgulho pseudo-feminista se doeu ao imaginar que eu, justamente eu, possa ser assim, tão classificável. Ok, papo para outro email.

Mas fico me perguntando o óbvio. Como ser uma mulher (na acepção plena do termo) no século XXI e atendendo todas, TODAS, as demandas (im)possíveis do comportamento social ocidental, pós-moderno, etc e tal. Ok. Não dá. Me peguei outro dia pirando com a idéia que as mulheres, ao se tornarem modernetes, descoladas, liberais, etc, tem atendido pouco às suas reais necessidades e refletido em suas ações, reflexões, muitas das intenções masculinas. Ok, telavez isso não se aplique a 100% da população feminina. Ainda bem. Mas o fato é que eu mesma não conheço essa quantidade de mulheres. Ainda bem. Ia ser muita discussão de relação, papos filosóficos, besteirol da píor qualidade e vários problemas de TPM ao longo da conversa. Não me refiro a todas nós (existe nós?). Refiro-me a quem se identificar com isso. De algum modo.

Mas voltando. Agradeci a todas as homenagens dos alunos, colegas de trabalho, atendentes do posto de gasolina, o Salomão na rádio cultura... sempre me emociona! Mas me senti vazia ouvindo tudo isso. Falta tanto mais do humano nessa relação homem-mulher. Falta a gente se despir desses papéis superficiais. Etiquetas de segunda mão para atender medos, inseguranças e inquietudes.

Foi um dia de luto. No peito. Esse pseudo-engajamento com a vinda do Bush e o dia internacional da mulher... A gente foi tão internacional, mas tão obviamente intencional. Esvaziado. Vi uma superfície de desejos. Nada profundo. Genuíno. Original. Vi a gente deslumbrado pela única e exclusiva idéia de reclamar, reivindicar. Não vi transformação interior, nem em homens, nem em mulheres, nem em estudantes manifestantes universitários... no trânsito. Não vi nada de novo. Nem nas homenagens, nem nas brigas.

Um vazio. Para onde mesmo a gente foi? E de que jeito? fico com medo dessas coisas muito avant-garde. Não nos preparamos daqui de dentro das torres ainda... e isso me fez lembrar de uma frase que eu vi ontem na reunião de pais da 8a série, de William James, de que hoje se sabe que é primeiro agir, e que aí ocorre o sentir, e não o contrário como se dizia... sentir, para agir...
Ainda espero o sentir... mulheres, homens, quem se prontificar.

Read More...

recebendo-se

Eu comecei a rabiscar umas lembranças de Santo Amaro. São muitas. Especialmente dos tempos de escola. O Colégio Paralelo.

Não há uma cronologia na minha escrita, muito embora eu reconheça uma ordem na minha memória. O ponto aqui é que as lembranças começaram a aparecer, nada organizadas, depois que colocaram uma foto minha como propaganda da escola. Uma coisa é você aparecer num folder, outra, no outdoor, publicamente.

De repente as pessoas passaram a me achar, quase que sobrenaturalmente, da noite para o dia... e me encontraram. Voltaram dos túneis, das esquinas, das quadras de handball, dos dias de provão. Tanta gente... reencontrei vizinhos, amigos, namoricos, pseudo-inimigos... Não sei até que ponto a gente pode dizer que tem inimigos na adolescência. Honra parece ser mais forte do que qualquer outra coisa. Talvez tenha passado.

Mas o fato aqui é que há quase um mês atrás eu recebi um email. Vindo de um enterro... Maurício. Eu reli algumas vezes o título/remetente... era ele mesmo. Como assim? O Maurício depois de 15 anos ainda lembra de mim? Não fazia sentido.

O Maurício... era um menino repetente da 6a série. Usava óculos e fazia o tipo gordinho. Mas nem de perto era um tipo cdf. Nem de perto mesmo. A gente se conheceu em 1991. Faz muito tempo. Eu tinha ainda 11 anos, e ele 13. Eu era uma menina grandalhona, com 1,60 de altura e o corpitio desenvolvido o suficiente para me sentir deslocada com as meninas da minha classe. Era grande demais. Ótimo para os jogos de handball, basquete e vôlei. Não para o ballet, nem para os bailinhos da sala. Ninguém costumava dançar comigo, eu sobrava algumas vezes com a vassoura e fazia piadas engraçadas pra esconder o meu desconforto.

O Maurício morava perto da minha casa. E tinha um irmão, o Fábio, acho, que era um dos sucessos da escola. Nunca fez o meu tipo. Mesmo. Eu adorava meninos (e ainda adoro...) que fazem o gênero inteligente-sensível. Nunca fui fã dos jogadores de bola, o típico macho-alfa. Combinação super perigosa. Armadilha total. Mas vamos adiante. Maurício morava num conjunto de prédios próximo à minha casa da Monsenhor Magaldi. Vanessa ia almoçar em casa e às vezes voltávamos no ônibus juntos. Eu era tagarela (ok, ainda sou) pra caramba e sempre puxava papo com as pessoas. Ainda que escondesse aí a minha maior timidez. Mas me recordo que fui quem começou a puxar papo com ele. Ficava sempre mal com a possibilidade de ter colegas deslocados e curtia fazer um social.

Eu não sei como aconteceu exatamente... Mas de repente o Maurício começou a passar de bicicleta na frente da minha casa. A Vanessa é quem tinha descoberto as frequências dos passeios dele, eu era muito elétrica e desligada. Não entendi direito na hora. Na minha cabeça (de certo modo até hoje...) era difícil imaginar que alguém poderia se interessar por mim. Nem de perto eu fazia o tipo das mocinhas bacanudas da escola. Não era exatamente bonita, com cabelo crespo, nariz grande e olhos grandes. Nada bonequinha. Sofria um bocado porque os meus colegas, e alguns dos meninos que eu gostei adoravam as meninas de franja. No meu caso, nem pensar. Ia parecer um poodle com esses cachinhos...

Comecei a reparar no Maurício. Atrás daqueles óculos e daquele jeito meio desengonçado-tímido eu comecei a notar que ele reparava em mim. Carências à parte a gente teve um namorinho. Ele passava em frente à minha casa várias vezes durante as tardes (quase desconfio hoje por que ele repetiu no ano anterior). Eu fazia lições olhando a janela da sala. Era um bairro bem tranquilo ainda para se andar de bicicleta. A Vanessa e eu nos escondíamos atrás da cortina para contar quanta vezes ele passava. Da janela do prédio dele era possível ver a janela do meu quarto, que dava de frente para um pequeno terraço, e a gente brincava de se ver por detrás das roupas.

Era tudo muito diferente. A gente se escondia mais. Mas nem por isso se protegia, ao contrário eu penso. O comportamento infantil da gente era mais denunciador do que qualquer coisa. Mas ficava uma coisa de mistério ali. Como assim eu gostava dele? O que era exatamete gostar naquela idade? Tanta curiosidade, tanto medo. Eu já tinha 12 anos quando a gente teve o nosso namorinho. Acho que foi a primeira vez que saía do platonismo. Apesar que eu adorava as minhas paixões platônicas. Ficava triste, sentia saudade. Medo. Engraçado como as primeiras experiências do amor deixam a gente desbaratinado. As coisas ganham sentidos complicados, inexatos. A gente fantasia vivendo. E vive fantasiando.

No email que ele me escreveu me fez lembrar de coisas que eu não me recordava... Disse que escrevia cartinhas em inglês para ele estudar (meus namorados sempre tiveram problemas com língua estrangeira, a exceção de dois... o Juliano, ao contrário...) Olha só que coisa mais meiga. A ternura que a gente desenvolve nessa época pode marcar o nosso comportamento pra vida toda. Eu não lembrava de muita coisa. Mas lembro bem dos meus pais me enchendo a paciência porque ele passava as tardes andando de bicicleta lá e de todo o receio de que fizéssemos alguma coisa. Pãtz... tenho medo de quando for mãe.

Fizemos um trabalho sobre a hípica de Santo Amaro. Uma maquete. Um grupo de lunáticos. Eu e o César. Tinha sido meu namoradinho no ano anterior. Ganhei um ursinho amarelo dele! César era tão - ou mais - neurótico e perfeccionista do que eu... A gente era de tudo passional, pirava. Brigava e disputava poder... fêmea e macho alfa... pãtz. Mas sempre ficamos bons amigos. Soube que ele casou ano passado.

Mas as reuniões da maquete eram mais motivos para eu ver o Maurício e comer os docinhos que a mãe do César fazia do que qualquer outra coisa. Foi um tempo muito bom. Agradeço ao Maurício por me devolver essas lembranças. Estavam desbotando por falta de conservação adequada. O proibido, o frio na barriga, a falta de ar. Tantas coisas... tudo nesse universo inocente que tende a desaparecer nessa idade. E uma hora some. Não nos pertence mais.

Um dia - eu já conhecia o Ricardinho, éramos 3 bons amigos, os 3 - ele parou de falar comigo. Liguei para ele do orelhão em frente à casa do Ricardinho (a gente não tinha telefone em casa), com o Ricardinho do lado, para quem eu perguntei desesperadamente porque o Maurício estava esquisito. Ele não sabia. Eu não sabia. 15 anos depois descubro que o Maurício também não sabia... Tomei o meu primeiro fora. Doeu muito. Puxa, que agulhada no peito. Orgulhosa, eu decidi que não ia chorar. Ora, como assim eu ia chorar? Não chorei. E por causa dele? Sem chance... Mas derramei umas lágrimas tímidas, perto do Ricardo que me ofereceu Coca-Cola e chocolate na casa dele para me acalmar. Acho que fo ali que eu descobri os efeitos mágicos da cafeína misturada ao chocolate. É o maior unguento que a modernidade inventou.

Nunca mais nos falamos. Anos depois, ele mudou do bairro e eu fui jogar o coração em outras trincheiras. Arriscosas. Um dia, em 94, quando ia de carona para o Mackenzie com o meu pai, quase atropelamos o Maurício no Largo de Pinheiros. Fiquei com aquela imagem durante muito tempo, sem entender aquele desfecho maluco.

É louco como a gente se magoa. Se deixa perfurar e vive com o sentimento de defesa depois. Constrói a torre, em silêncio, dentro da gente. Ele foi mais uma das peças importantes para compor o complexo sistema da baixa auto-estima adolescente. Que duraram até a faculdade. Ou depois. O fato é que esse "retorno de saturno", "de jedi" ou o nome que se quiser dar me trouxeram de volta uma moça que achei que tinha deixado no armário do quarto dos fundos da Monsenhor Magaldi. Desempacotei a moça.

Coloquei ela de volta nas quadras, na sala de aula. Nas reuniões de trabalho. Me divirto com a minha menina que não desapareceu. E rio com ela dessa nova Srta T que surgiu, que nasce.

Que delícia a gente se receber de volta, em papel de presente. E sem medo de olhar naquele espelho embaçado, perturbado pelos olhares atentos da gente mesmo. Que gostosa a sensação de ser lembrada... apesar...

E vou desempacotando as lembranças, colocando-as no meu novo arquivo... e dando uma espiadinha lá de vem em quando...

Read More...

caindo de mim

Depois de assistir o eclipse, do alto da torre...

Posted by Picasa

Read More...

tropicando

Engraçado como a gente tropeça na gente. Faz alguns anos que isso acontece... armadilhas infantis da nossa pseudo-super(des)confiança própria.

Passei os dias contando as minhas próprias armadilhas. Me vi colocada na torre de marfim esperando o príncipe vir me buscar. Mas esqueci que tinha prometido a ele fazer o mesmo...

Demorei pra me dar conta que a gente tinha se conhecido pela janela... as torres são tão bonitas. Deixam a gente com um gostinho de quero mais na boca. Tão seguro. Quentinho...

Vi que a construção da ponte... demorada! se tornou de um lado só. O dele. A minha ponte ficou parada. Estava cansada de por tijolinhos ali depois de quase 7 anos de contrução frustrada. Quanto mais eu chegava perto da torre, mais alta ela ficava. Gritei, pedi para ele voltar. Nada. Quanta dor. E uma dor pontiaguda, que me tirou da minha torre; E eu caía no infinito poço do meu nada... Mas tinha uma rede de proteção lá embaixo, que me segurou e me jogou de volta dentro da minha torre. Eu só podia me esconder, mas sempre adorei a sacada alta da vida. O balcão da Julieta. A gente vê tudo lá de cima e ainda toma aquele ventinho. Não faz esforço e só se dá ao trabalho de esperar. Uma delícia. Ficamos nos olhando muito ali da janela. Demoradamente, nos escondíamos atrás das cortinas para ver quem saía para olhava primeiro. Coisa de criança grande.

A torre permanece. Às vezes vazia... às vezes cheia de gente na minha festinha particular. Ao menos abri as janelas e as cortinas. Deixei ventilar os ares da liberdade, do amor. De uma vontade de entregar. E puxa, quanto mais alto, mais forte o vento. Sair de lá é arriscoso mesmo... E ficar... hmmmm...

Esses dias eu fui inspecionar os arredores e foi engraçado como eu ri de mim olhando aqui e ali para ver se estava tudo inteiro na minha fortificação de vidro. Ouvi um som de harpa (isso é verdade mesmo, eu adoro esse instrumento) e me lembrei de um fã que me disse, anos atrás, que eu parecia uma harpa. Grande, imponente, mas tão frágil. Me dei conta que o meu príncipe, esperado em encarnações, nunca chegou, se foi. E fiquei ali, parada, ouvindo o silêncio da espera, com a harpa quebrada.

Fui dilubriada pelo coração, puxa vida esse desgraçado! Me atirou da janela. E estou caindo, aos poucos, estendo os braços pra me agarrar e não consigo, estou sem controle da queda... que bom que a gente não tem jurisdição sobre isso. que alívio! e que medo! o friozinho na barriga não sumiu ainda.

Espero o cair de mim... de olhos fechados, tentando recuperar a respiração e não ver para onde essa queda me leva. De quando em vez olho para o alto da torre. Se distancia. Vai ficando pequenininha... longe... lá longe... mas ainda preciso me despedir daquele lugar.

Read More...

quarta-feira, março 07, 2007

passeando no passado



Dias atrás eu tenho vivido uns sopros no peito... os ventos vem de longe, alguns eu quase tinha esquecido dos sussurros... eles aparecem em formas humanas, sonhos, faz-de-conta, sombras de casa, de bicicletas...

Uma brisa soprou há algumas semanas. Pensei comigo qual era a sensação que ela trazia das suas terras tão distantes. Era mais que uma sombra, mas tinha formas nada palpáveis. É difícil a gente (se) reconhecer 15 anos depois. Senti aromas, fechei os olhos, esperei. Nada. Só aquela sensação esquisita de estar fora de mim nesse - e desse - lugar. Há 15 anos.

É engraçado como a vida percorre uns atalhos, como o vento. E você é surpreendido na curva. As memórias se cristalizam e se transformam em roteiros. Puxa, Gavin, se você tivesse me falado do roteirista antes... teria combinado uns ajustes com ele. Mas vejam só... Eu levei as minhocas para darem uma volta. Arejar a cabeça e tomar um ar - poluído - em Santo Amaro.

Morei lá por muitos anos. Num dos pedaços de Santo Amaro deixei a infância e parte da adolescência. As outras partes de mim ficaram espalhadas - ou perdidas - pela cidade, e outras... em Porto Alegre. Só trouxe da Bahia o amor pelo mar... e o resto, pretendo buscar lá. Foram muitos anos, descobertas. Dores. Amores, alegrias e toda essa coisa que o pessoal fala que a gente faz (e desfaz) na adolescência. Divertido. Me achava muito envolvida com grandes causas. Adorava viver o mundo da escola. Tinha sempre coisas a resolver. E puxa, de alguma forma, eu me sentia importante.

Amizades ali não sobraram... é como se o vento as levasse de mim quando resolvi sair dali. Nem mesmo as lembranças eu consigo agarrar a mim. Parece até que com o passar do tempo elas desbotam, envelhecem e ouvem mal, manquejam no meu cérebro...

E nem se comunicam mais. Transformam-se lentamente no seu museu. Eu vi os rostos dali, meio sem expressão porque eu temia perdê-los para o vento e congelei todas as suas coisas numa feição única, contida. Inerte.

Estava saindo de uma reunião. Pertinho dali. Dei uma escapulida pela marginal e voltei ao Jardim Promissão. Passei pela estação de trem, que susto! Como as coisas ali ficaram concretas demais no meu mundo etéreo e fantasioso. Me senti tampada pela concretagem dos viadutos. nem via mais os prédios amarelinhos na esquina que me deram tantas lembranças... passei. Continuei andando ali, larguei o carro e decidi ir a pé, como se fosse de fato (re) encontrar (-me). Tarde demais. A pressa não podia trazer de volta os 12 anos que se passaram na minha ausência. Os meus amigos, inimigos, testemunhas e ignorantes da minha presenção não estavam ali para esperar a minha chegada. Doeu... me senti vazia. Esperei... Fazia muito calor e fiquei olhando para um antigo bar que tinha ali. As bebidas não teriam o mesmo gosto... sem gás, sem gelo... sem nada...

Andei mais um pouco e fiquei olhando o orelhão da esquina. Na rua 2. Em frente a uma velha sorveteria que não existe mais. Parei. Pensei em telefonar. Mas ninguém ali atenderia. Não havia mais os meus amigos motoristas de ônibus (da linha 6503) que me deixavam andar de graça, me salvavam de tarados à noite quando voltava do Mackenzie... A Vanessa não ia mais almoçar em casa. Eu não tinha mais ensaios de ballet na Conde de Itu... e nem passaria as tardes na casa do Ricardinho.

O Ricardinho era um menino loiro, de olhinhos azuis lindos. A gente se conheceu na 6 série. Eu gostava dele - era um dos poucos amigos sinceros que eu tinha. A gente voltava pra casa juntos e ele me acompanhava até à esquina da minha rua, a Monsenhor Magaldi, 340, cep 04753... não tinham os outros 3 números. A casa dele era muito bonita e ainda conserva o portão prateado, mas não tem mais o Romeu, o gato siamês, na espreita de visitantes...

Me deu um repique no peito... toquei a campanhia da casa dele e queria ver se ele ia sair de meia, shorts e camiseta hering cinza pra abrir o portão. O Romeu vinha junto. Toquei. Respirei fundo e desejei gritar ali pra ele "Riiiiiiiiiii, abre que é a Tatá!", jáme sacudia toda comemorando o reencontro com ele... e quando abri a boca, saiu um menino frazino, mal encarado. "Fala moça".
Pelo menos foi "moça" e não "tia" ia me sentir pior... enfim. Eu perguntei se a Asta ainda morava ali, a mãe do Ricardinho que era manicure e me fazia as unhas em troca de aulas de inglês e matemática ao filhote. A gente era da mesma classe.

O menino só conseguiu entender que a tal Asta tinha se mudado dali há uns 5 anos... 5 anos de atraso. Agradeci. Fiquei toda tímida ali esperando alguém sair da casa e dizer "brincadeira!". Me deu vontade de pedir pra entrar. Olhar o espaço, ver se eu achava alguém ali. O uniforme do Paralelo esperando... Nada.

Saí dali e não tive coragem de ir a pé. Parecia que tinha ficado esses anos todos caminhando. Peguei o carro, tentando me despedir dele, da mãe. Da casa e de todas as coisas lindas que eu vivi ali. Entrei na minha rua. Devagarinho eu ia me lembrando da vizinhança... tinha uma figura com cara de sapa que tinha reformado a cozinha e se achava socialite... a outra era uma velha rabujenta que tinha cachorros de madame. Passei em frente à casa do Martin, um dos meninos que eu gostei. Ele tinha uma bicicleta branca e ficava passando em frente à minha casa com ela. Mal sabia eu que anos depois a história ia se repetir... mas depois eu conto.

Estacionei o carro sem jeito no posto de gasolina que tinha ao lado, na esquina com a marginal... Não tive coragem de descer. Eu nem tinha força mais pra buscar a Thais ali. Ali eu soube o que era a morte, quando meu tio morreu. Tinha 12 anos. Recebi os meus primos, amigos, fiz uma festa de 15 anos super família. Vivi amores, senti medo. Briguei com meus pais. Irmãos. Planejei meu futuro. Decepcionei. Machuquei. Estudei. Vi o primeiro eclipse da minha vida. Ensaios de ballet... Fiz um monte de coisas escondida - que assim vão permanecer....

Aquela casa ali viu tanto de mim... das brincadeira de Barbie como agentes da Cia até às primeiras baladas, bebedeiras. As primeiras safadices inocentes das mocinhas. As famosas festas de garagem que o pessoal de Santo Amaro adorava fazer. Saudade.

Desfilei nos meus olhos, gastos, o passeio por esse passado. Foi uma delícia. Quis congelar, mas deixei as lembranças passarem, irem, livres, para o lugar que quisessem do meu coração. Fechei os olhos de novo. Liguei o carro, fechei o vidro. E voltei cantando I just call to say I love you que a minha mãe adorava cantar bem alto na Marginal levando a gente para o colégio... Eu liguei, mas como disse, ninguém atendeu. O telefone mudou...

Read More...

Posted by Picasa

Read More...

terça-feira, março 06, 2007

pensando alto

tava pensando aqui com os meus botões (do teclado...) sobre como poderia focar um tipo de texto. mais preciso, específico...
ou assumo que não há nada a precisar em mim? nos meus emails?

Read More...

eclipsando



Esses dias ocorreu mais um eclipse. E não foi só na lua... Fiquei pensando porque tenho um carinho especial por desenterrar os mortos. Quando estão bem mortos. Quando escrevi sobre as minhocas, sobre as dores, o ciúmes, o medo, o amor não me dava conta que essas coisas se dilatam. E de fato, Srta T, o que você mais teme é o poder que exerce nas pessoas. Esse em que elas se transformam. Com você. Por você e por elas mesmas.

Ontem num efusivo desembaraçar de pensamentos, Juliano me dizia isso. É tão difícil receber o amor do jeito que ele vem. É tão mágico se entregar e só receber esse sentimento no coração. Pelo corpo.

Outro dia uma amiga leu uns textos daqui e achou forte. Tentava explicar a ela que as coisas ditas aqui não são reais em si. Mas uma mistura daquilo que eu penso - e sinto - ser real com aquilo que deve ser - em boa parte - criação das minhocas. E elas tem sido muito participativas. Mas tem expulsado a inflamação de mim. Elas - as minhocas - tem nomes sim... uns reais (a maioria não...) curvas, são pessoas, coisas, medos, elas personificam o que há de pior em mim - e nos outros... mas como eu dizia, ajudam a expulsar a inflamação.

Ando olhando a lua nesses últimos dias e me lembrando da Fabiana alertando para a minha ultra sensibilidade em dias de lua cheia. Parece coisa de superstição. Mas enfim, alertar é sempre bom. E isso tudo, as minhocas, meus passeios de madrugda, amigos, copos de cerveja, me fizeram lembrar de uma história que eu vi acontecer há não muito tempo atrás...

A lua estava lá, se enchendo de si mesma durante um mês todo. Permitindo-se ser olhada, seduzindo os mortais pequenininhos aqui em baixo com seu jogo de esconde nas nuvens. Ela por alguns momentos sim, podia controlar o céu. A sua luz, a sua beleza e a sua atenção. Mas não os ventos... ah, isso eu discuto mesmo com os metereologistas (ou qualquer um que se diga entendido no assunto!). Na verdade aí é que se dá uma das grandes batalhas do céu.
Pois bem, os ventos. No fim de semana eles se lançaram contra si mesmos. Eu observei tudo, de pertinho. Da minha janela. E a cortina balançava, tentando me esconder da lua, mas sem conseguir me proteger dos ventos. Foi bonito à noite. Vi tudo. Saí para tomar um chop com o Juliano. E assisti o epílogo na cedeirinha do bar... acho que ele nem prestou atenção nisso. Mas eu sou muito ligada em batalhas. Ainda mais essas celestiais, epopéicas.
Acho que o primeiro encontro do vento e da lua deve ter sido bem mágico, apesar de tímido. Nua noite dessas de céu aberto, talvez com uma chuvinha ao final... muito frio...A lua se achando na sua intensidade, a serviço do Sol. E os ventos, escorregadios, furtivos, muito mais discretos, mas nem por isso menos afiados em suas sopradas. De fato, eles devem ter tomado um ou dois drinks, se olhado bastante. Poucas conversas, mas cada um querendo mostrar o melhor de si. Seduzindo-se mutuamente, se escondiam (pobres nuvens...) e se mostravam. Pavoneavam as suas aventuras, mas se escondiam da sua própria fraqueza - o desejo de amar e ser amado... o medo de se entregar e perder a sua majestade...

Tão belos os dois trocaram os telefones, e ficaram a se esperar. Quem viria primeiro? A luz ou o frio? Mal sabiam ambos que nesse jogo de espera o céu tinha outras demandas. Outros desejos, medos, carências e buscas. Coisas a resolver nas quais os dois eram também protagonistas dos episódios. Mas não sabiam da presença simultânea de um e de outro.
Passaram tempos, e alternavam suas intensidades buscando a si mesmos, a outros, no escuro da noite, quando podiam agir mais à vontade. A lua sempre mudou muito intensamente e o vento, ora... coitado. Sassaricava por aí, buscando a luz cheia, plena. Mas ela não queria ficar assim o tempo todo. Embora ele estivesse confundidamente apaixonado (duvido que isso ocorrera com ele antes... sempre foi instável e volúvel) e um tanto quanto perdido, sem rumo certo, soprando e esfregando curvas de montanhas diferentes, ela permanecia lá... esperando ele se decidir. Ser mais direto. Mais certeiro.

E ele? Ah... claro. Ele esperava por ela. Cheia, iluminada. Mas ela não podia. Havia outros lados escuros a cuidar. Aqueles que a gente demora a enxergar na lua... os pequenos buraquinhos escuros que ela se esforça em ofuscar com o seu brilho radiante. Mas ele sabia, de algum modo, disso tudo...

Passaram dois meses. E nesse jogo de semi-sinceridades-medos-amor-paixão-carinho-fuga, ambos se boicotaram. Pobrezinhos. Era inverno... Ventava muito e ela sentia o gelo da sua distância. Ele esperava a luz se firmar... e nada. Alguns encontros, telefonemas. Beijos escondidos. Muitas cartas de amor... ah, as cartas eram um dos pouquíssimos meios efetivos de comunicação... claro que o vento era muito mais rápido.

Eles se esperaram. Até que um dia a lua não suportou mais observar os passeios do vento à noite. Ainda que ele a buscasse, sempre esbarrava nas montanhas curvilíneas, gostosas e macias e ali, se protegia, escondendo seu medo de subir, se entregar... Ela sabia. Mas não podia esperar outra coisa, afinal. Ela, oscilante e indecisa, deixava o coitadinho mais aflito e carente. Sofrendo a saudade e a frustração de se contentar com sombras projetadas por ela, denunciando sua fraqueza maior... o ventar pra lá e pra cá.

A lua se escondeu uma semana. Foi a outras terras e sentiu que o vento buscou outras coisas. Sentiu, mas não falou. Temia que a dor fosse maior que sua vontade. Ela se escondeu e decidiu... Brilharia pra ele. Para ele não poderia ser nada pela metade. Ela tinha que ser inteira, plena, luminosa.

Na sua volta discreta se encontraram na madrugada numa linda praça onde o Sol se punha. Ali a Lua e o Sol tinham vivido muitos momentos de confidências. Eram ótimos amigos e não disputavam sua majestade. Era uma das poucas criaturas que a Lua tolerava que brilhasse tão intensamente. Ela não era, na verdade, muito fã de calor... gostava sempre da noite, com o vento... animando romances... Naquela noite os dois finalmente se olharam nos olhos. E sei que as estrelas testemunharam esse encontro pra lá de complicado e cheio de medos. (como o amor traz esse friozinho!!) Ela tinha decidido afinal. Bastava o vento fazer a sua parte. Se beijaram e ela explicou que precisaria do seu embalo na noite seguinte, da suavidade dele para lhe tranquilizar o coração. Ele prometeu que viria...

E veio. E as promessas e juras de amor se completaram. O vento finalmente aceitou voar mais, e a lua, ser intensa. Ora... como conjugar isso então? Ao ficarem juntos em sua paixão e amor insaciáveis perceberam que não podiam ser intensos assim. Precisavam se alternar. Mas qual deles cederia primeiro? Afinal, já tinham cedido tanto para ficarem juntos...
E o céu tomou seu partido afinal. O Sol se interpôs no meio e pediu, com autoridade majestosa, que eles parassem de disputar. E obviamente, de temerem a si mesmos. Nenhum dos dois, no seu amor intenso, se abandonariam. Não queriam isso. Mas como abrir mão de si mesmos sem sofrer? sem temer? ninguém os havia ensinado a amar...
e nem o sol sabia disso...

Brigaram muito. Essas brigas de amor. Que sempre terminam com beijos, abraços, mordidas, choro e gozo. Foram as maiores batalhas que o céu abrigou... nem as ondas do mar tinham feito tanto estrago na Lua e no Vento...

Mas houve o eclipse... o Sol de novo... intercedendo... Vênus abençoou. Silenciou os dois... E os deixou no escuro, para se amarem, e se verem na sua grande profundidade. Com uivos, buracos. Mas nem por isso menos apaixonados. E desejosos um do outro... que bom que os amantes podem se eclipsar!

Ah, o amor... é isso mesmo. E fiquei ali, observando o meu caneco de chop. O Juliano, os nossos beijos. A nossa lua, ventando... O nosso eclipse. O Nosso... e o sorriso tímido de todos os amantes, temendo repetir essa história, que nunca acaba. Mas se renova, profunda... intensa... silenciosa na noite.

Read More...

sábado, março 03, 2007

sobre os alunos

Esses dias eu tenho refletido com mais seriedade do que o normal sobre o fato de ser professora. Todos os meus mestres (do bem e do mal) desfilam na minha cabeça nessas horas de puro diálogo com meus sonhos e fantasmas.
Novamente a vida me presenteou com os adolescentes. Não propriamente adolescentes, mas crianças em fase terminal... (não seríamos nós também? ok, isso é motivo para outros emails) Há quase 5 anos eu tenho dado aulas para esse pessoal. E me reencontrado com a minha própria adolescência. Já disse isso aqui... O ponto, por outro lado é que esse reencontro tem sido bastante desafiador na medida que ajustar o tom dos fantasmas e dos sonhos exige alquimia espiritual.
Essa semana na terapia tenho me dado conta da participação do meu pai. Ele sempre me viu como uma filha intelectual seja lá o que isso queira dizer, na real. Com o tempo me dei conta que durante a escola eu assumi esse papel. E mesmo durante a universidade. Seja lá o que isso signifique. Acho que verdadeiros intelectuais tem mais o que fazer com esse nome. Hoje me dou conta que faltam séculos para atingir esferas assim. E não me sinto mal com isso.
Acho que esse epíteto me deu boas coisas, mas me dificultou a vida com o meu lado humano. Humano mesmo. O Juliano me disse várias vezes que eu me escondia atrás dos livros. Essa semana, na reforma do escritório me dei conta que tinha mesmo muitos lugares para me esconder. Enfim... não tem sido ruim de todo. Mas modelos se repetem... O Ulpiano, mesmo o Fernando, meu ex-namorado e outros ex-namorados... me viam como a moça intelectualzinha que estudava na FFLCH-USP e por isso mesmo sabia falar e escrever bem, discursar sobre os problemas do mundo... Meu melhor amigo, o Vinícius, me disse uma vez que eu tinha nascido para pensar. Socorro!
Acho que eu preciso nascer para sentir e viver junto com o pensar. Tenho me esforçado para coordenar os nascimentos simultâneos, mas já me dei conta que isso não é responsabilidade minha. Ok...
Voltando aos alunos... Eu percebi que ajustar o tom - firmeza+carinho+exigência é trabalho pra vida toda. Me lembro da minha adolescência querendo a atenção dos professores, o reconhecimento também de qualquer coisa que não fosse a minha cabeça pensante. É tão complicado você ser reconhecido por qualquer outra coisa na escola... só há espaço para os uqe estudam. Nada contra os que estudam, mas fiquei pensando se a gente não poderia, ou deveria, criar espaços para mais reconhecimentos. Ou se isso fica para o brilho (o nada disso) pessoal dos professores. Tive um professor de inglês que me dizia outras coisas além de "você é ótima aluna". Dimas. O Charles... acho que ele nunca me disse na época qualquer outra coisa desse tipo. Fiquei esperando... e o Sidnei. puxa, ele sim atingiu outras esferas. Acho que na universidade isso passou batido. Nem vou mencionar as coisas que o Ulpiano fala aos seus alunos. Mas comigo ele foi até bastante suave, na medida exata da compreensão dele sobre isso.

O Julio Aquino foi uma outra experiência. Não me disse nada. Me convidou a sentir esse poder da descoberta. Obrigada pelo seu silêncio.

Mas voltando aos alunos... eu dizia da dificuldade de lidar com esse mistério da educação. Como amor e ódio se alternam em sala de aula. Como o humor e a desconstrução são armas poderosas que nem sempre a gente sabe usar. Como o fato de se sentir inseguro e instável refletem na sua dança coletiva... O ajuste de expectativas...

Fiquei me lembrando da primeira escola que dei aula. Aquilo era um assassinato a qualquer proposta pedagógica. Não era permitido qualquer vínculo com as pessoas, sobretudo os alunos. Você deveria ser um mestre (no mais tradicional e reducionista do termo) e "construir" o conhecimento dos alunos - com eles, mas sem eles. Os projetos eram absolutamente utópicos, e nada se entendia sobre adolescência. Foi bom, apesar de profundamente doloroso. Me ensinou como não ser daquele jeito, como não desejar aquelas "competências" ou "habilidades" pedagógicas. Que alívio, que promessa de redenção.

Uma pena que essas cicatrizes ficam na alma. E como toda vez que fico insegura em sala eu apelo para esse fantasma do ensinar... Ainda bem que os alunos mesmos tem mostrado que pode-se educar a si mesmo.

Read More...

(re)encontrando

Eu tenho vivido umas experiências interessantes com amizades. Não acho que vou escrever aquelas coisas que comumente passam na internet sobre amigos, sobre como são importantes, como devemos cultivá-los, etc, etc. aquelas típicas coisas que mandam no Natal.
Tenho descoberto amigos novos. Silenciosos. E na minha timidez adolescente eu fico imaginando se eu mesma consegui comunicar isso a eles. Amizades novas que transformam o meu jeito de sentir o mundo. Aquelas pessoas que eu tinha algumas "diferenças" (belo jeito de dizer que não gostava delas) e que, graças aos empurrõezinhos da vida, eu tenho passado a admirá-las.
Adoraria fazer uma lista desses nomes, mas já os tenho no coração. E meu dia-a-dia tem se encarregado de colocá-las presentes aqui. Não tem sido fácil para essa leonina-capricorniana-escorpiniana orgulhosa e metida a besta admitir esse reencontro com minha nova humanidade. Acho de verdade que a gente escolhe os amigos, mas não por que eles nos oferecem coisas, mas pelas coisas que somos capazes de descobrir por meio deles.
Tenho agradecido às transformações. Pela sua generosidade em me mostrar gestos que, talvez no lugar delas, não teria a coragem ou mesmo o desprendimento para fazer. Tenho vivido uma cumplicidade com meu lado negro que deixaria Darth Vader de queixo (ou máscara) caído.
Semana passada fui na festa de aniversário do João, o jedi. E reencontrei o Igor. Essa semana recebi recados de amigos do Masp maravilhosos. E tenho encontrado nos bares da vida gente que me faz refletir sobre os porquês das minhas idiossincrazias (é com z ou s?) ...
Queria poder dizer mais, mas acho que o Juliano deve ter razão... esses textos são muito longos...

Read More...