sexta-feira, maio 25, 2007

cervejas de inverno

Tenho vivido pequenas e profundas descobertas. Parece que, à medida que eu me busco dentro, as mensagens de fora são mais intensas. Tenho descoberto pessoas especiais nesses caminhares confusos da vida.

Ontem, mais uma vez, fui tomar uma cerveja com a Lúcia, minha colega - e amiga - do trabalho. Fazia muito frio, ventavamuito e não me restava nada a fazer além de levar as minhocas para uma cervejada. Chegamos quase juntas no bar. Olhei pra ela e a simpatia brota tão naturalmente... é um sentir-se à vontade diferente. A gente, apesar de se ver todos os dias, não tem tempo para trocar muita coisa além dos assuntos do trabalho. Mas enfim, acontece.

A Lúcia tem me feito sentir mais humanidade em mim, essa humanidade que faz a gnete descer do próprio pedestal protetor que a gente cria pra se defender. Escuto-a com tanta atenção: mulher, bonita, profissional competente, mãe, esposa, tantas semelhanças... é quase um espelho.

Falei pouco de mim, mas procurei ouvi-la, como fiz com a Clara. Lindo a gente se ouvir pela boca do outro. Saí mais calma, inteira, pronta pra viver as astronautices parte 100.... e 000.... que bom que a cerveja esquenta o coração no inverno!

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terça-feira, maio 22, 2007

Little miss sunshine

Filmes. Mais um desses que te tocam o espírito com os 10 dedos, te denunciando as coisas mais sublimes que ainda mascaramos.

Sábado à noite. Sexta à noite... e eu estava particularmente sensível com a semana toda. Cansada. Queria ver um filme cheio de poesia, que me sinalizasse que a vida seria - e é - mais do que a gente consegue ver, mesmo não olhando diretamente nos olhos dela.

Little miss sunshine é um desses que deixam dias sentindo, lembrando... e pensando. Uma história que tinha tudo para ser piegas, ridiculamente narrada e cheia de chavões. Nada disso. O filme te atravessa o tempo todo, e mesmo os que são mais turrões não deixam de se emocionar com ele. Uma família cheia de poréns, como todas as famílias, assistindo de longe mesmo os sonhos de uma menina. Distantes de si mesmos e daquilo que achavam que tinham deixado pra trás há muito tempo. É uma redenção...

A pequena miss e aquela combe amarela, com gente maluca, lamentando a própria existência e ansiando por viver uma coisa artificial... Pois bem, me lembrei da minha família, de quem às vezes eu senti vergonha, quis ir embora, me distanciar. Engraçado como a gente se identifica ali de quando em vez com um e outro personagem. A narrativa é acolchoada nesses sentimentos. Mais do que identificação, você sente com eles... a frustração. O medo. E a superação no seu sentido mais sublime. Deixar ir embora aquilo que, de fato, não nos diz respeito.

Chorei em muitos momentos. Especialmente o da conversa do tio e do sobrinho olhando para o mar. Chovia. Ventava muito e nada ali parecia particularmente poético. Nem mesmo o motivo pelo qual eles conversavam. Mas era exatamente aí que residia toda a mágica discreta, envolvente... Você encontra poesia justamente onde os nossos olhos treinados não depositam crédito.

Fiquei me recordando de coisas que eu queria ter feito, ter sido. Ter vivido. Tanto... E ali, olhndo à beira do mar, você percebe que tudo o que você tem, de fato, é o que você é. Portanto o desafio não é ter mais. É ser mais. Constantemente, você. Esquecer e se desapegar. E só. O resto, vem, com paciência. E atenção para perceber esses pequenos milagres. Esses deslizes poéticos nas fraquezas, a redenção de si mesmo. A coragem de se olhar, se expor. E ver-se diante dos palcos, exibindo o nosso lado mais criança. Mais ridiculamente autêntico.

Depois de atravessar kilômetros angustiantes - e emocionantes - naquela combe amarela o destino final era uma beleza que não estava fora de ninguém. A criança, além de ser a única saudável ali, lúcida, percebia as idiossincrasias demoradas de cada um. E, amorosamente, os trazia de volta. O detino da viagem e o vencedor do concurso - eles mesmos...

Acho que ao final do filme, quando a família inteira dançou com a pequena, todos ali, de alguma forma, entenderam que há mais coisas que valem a pena do que o nosso esforço. Fiquei me lembrando de uma frase do Juliano sobre um ditado zen... que quanto mais a gente se esforça, menos a gente consegue. Ora, é exatamente isso que o filme atacava... perdedores e vencedores do que mesmo? para quem?

Invejei a menina. Quis dançar como ela e me lembrei das vezes que consegui esse desprendimento. Essa sensação de liberdade de mim mesma, dos meus cadáveres interiores que apodrecem, mas insisto em preservar aqui dentro. De algum modo, não sei como essa poesia voltou a habitar a minha casa. Como dizia a Dani, a gente não pode ter medo de ser ridículo... e que alívio isso! Dormi em paz. Senti que as feridas paravam de arder à medida que eu me desapegava dessas pequenas - e falsas - frustrações. Senti saudades de casa. Das vezes todas que meu pai pagava um mico e minha mãe ria dele. Nem sempre eu conseguia rir das coisas que a gnete fazia. Eu era, de vez em quando, a mais séria... e outras a mais subversiva.

Fiquei com vontade de voltar a dançar nesse concurso de miss da vida. Missing muita coisa.

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segunda-feira, maio 21, 2007

músicas de domingo de manhã

KT TUNSTALL LYRICS

"Suddenly I See"

Her face is a map of the world
Is a map of the world
You can see she's a beautiful girl
She's a beautiful girl
And everything around her is a silver pool of light
The people who surround her feel the benefit of it
It makes you calm
She holds you captivated in her palm

Suddenly I see (Suddenly I see)
This is what I wanna be
Suddenly I see (Suddenly I see)
Why the hell it means so much to me

I feel like walking the world
Like walking the world
You can hear she's a beautiful girl
She's a beautiful girl
She fills up every corner like she's born in black and white
Makes you feel warmer when you're trying to remember
What you heard
She likes to leave you hanging on her word

Suddenly I see (Suddenly I see)
This is what I wanna be
Suddenly I see (Suddenly I see)
Why the hell it means so much to me

And she's taller than most
And she's looking at me
I can see her eyes looking from a page in a magazine
Oh she makes me feel like I could be a tower
A big strong tower
She got the power to be
The power to give
The power to see

Suddenly I see (Suddenly I see)
This is what I wanna be
Suddenly I see (Suddenly I see)
Why the hell it means so much to me

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domingo, maio 20, 2007

mais ....

Manhã de 4a. feira... a Clara... deu uma saudade dela, duas noites de sonhos seguidos com a minha irmã. Arauto do meu sonho de soneca na alma... ela aparece, dona de si... e eu passei o dia com esse aperto, de saudade dela, querendo que ela viesse ao vivo, me dizer, me abraçar.

Liguei pra ela durante o dia depois de ler um email assustado, dela, sobre ela... e me senti feliz de participar. De poder ouvir, dela querer confiar, de sentir... essas coisas que os irmãos tem, mas a timidez assusta os corações mais frágeis.

Fomos para um bar na esquina da casa dela. Ficamos ali, fazia frio... e as duas irmãs, mulheres, agora, sem mais Barbies para despertar as garras uma da outra, nem as disputas pelo guarda-roupa. Tínhamos deixado tudo isso de lado, no carro, acho, para pedirmos a ajuda uma da outra. Ora, cerveja e uma conversa transparente, o que mais poderia ser?

Escutei ela falando dos seus amores e desamores, dos sonhos, das contradições dela, da vida, do mundo, do coração. Puxa... e eu ali, com o coração estilhaçado. Nem podia falar, e a única coisa que saía inteira era "traz mais um escuro pra mim"... ela ficou ali, discursando... e eu tão feliz de poder ouvir, testemunhar...sentir aquele amor todo por ela. Admirá-la aos poucos, inteiramente e ver naquele nó de emoções os fios que a dor tece pra deixar a gente virar gente grande... e que coisa mais bonita.

Escutar a Clara foi um deixar-se que me permitiu voltar ao centro da Srta T... escutar outras vozes... e começar a esperar. Tirar de dentro essa coisa colada. Amarras de antes, que se transformaram nos fios do agora... Rimos, falei pouco de mim, mas pude espelhar. E enfim, esperar...

Voltei para casa, dirigi devagar naquela noite, olhando o céu. Não tinha mais lua. Parece que ela levou, de algum modo, a tempestade para outro lugar... E nem quis ligar o rádio. Fiquei com a música da Clara... ali, quietinha no meu coração, agradecendo essa epifania da transformação... que a vida oferece e a gente insiste em pagar... um beijo na Clara...

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paciência

Essa nunca foi uma das virtudes mais cultivadas no coração. Ao contrário. Eu sempre fiz de tudo para me esquivar dela. Foi assim no ballet em que, depois de duas aulas eu queria dançar como as russas. Na escola e na faculdade... queria sair doutora no dia seguinte... e na vida... bem, aquele papo de ter 18 anos logo seguiu caminho com os 19, 20, 21 e ainda sinto a permanência dessa ansiedade. enfim...

Esses últimos meses tem me desafiado nesse item pouco estudado. Empurrado com a barriga mesmo. E pior que isso... negligenciado pela famosa máscara do "eu tenho razão". Paciência é o sacramento para se viver com paz. Essa palavra, percebi recentemente tem mais ramificações e raízes do que eu pudera, até então imaginar.

Ontem assistindo Little Miss Sunshine me dei conta que é a paciência que nos aproxima das pessoas, da gente mesmo. Invejei a menina que sabia esperar a hora e o jeito melhor de revelar aos seus o que elas tinham de melhor. Em nenhum momento ela se apressou para isso. Não se angustiou, não chorou. E olhei pra ela, com aqueles óculos enormes... ela tinha mais, era mais, muito mais inteira.

Assisti aquela reunião de dramas, de desejos, frustrações... e a paciência, passageira mais cara na combe amarela da viagem, apontava soluções que não são milagrosas, mirabolantes, mas pacientes, cuidadas. Acarinhadas.

E é com esse sentido mesmo que o amor caminha ao lado dela. Fiquei pensando essa noite como eu poderia ter tido mais paciência em relacionamentos anteriores, mas minha pressa em ver as coisas acontecerem me deixaram com os ingressos na mão. E hoje, ao lado do Juliano, me vejo com esses tickets comprados, esperando a hora de entrar no show. Mas estou deixando de curtir essa espera gostosa, realizadora, tranquilizante, da fila. Olho à frente, não vejo as coisas que tem acontecido aqui, tenho desligado outros sentidos. E a paciência não aparece. Tenho ficado com pressa até para que ela apareça, pode?

Tenho cultivado ainda a ansiedade voraz de ter as coisas aqui, do jeito que devem ser, pra mim. E não sei esperar pelas pequenas epifanias. Estou diante do mar, aberto, ventania nos olhos cheios de areia, no ouvido cheio de água do mar. E molhada, não espero o sol sair para me secar. Fico ali, entrando e saindo da água. E sem conseguir sentir a beleza daquela imagem no Rio de Janeiro. De um mergulho esperado. E de um abrir de braços, amoroso, apaixonado, inteiro... Fico ali, na beira da praia esperando, com os pés na beiradinhas da água, sem conseguir me soltar por causa do frio de fim de tarde. E vejo as pessas correndo na praia. E vejo o corpo mergulhado, salgado, com o sorriso de menino, distante, lá longe, assustado, cheio de vontade de entrar mais fundo no mar...

E eu ali, na beira do mar aberto. As nuvens chegando. O sol indo, devagar, paciente, esperando eu ainda perder o medo e a vontade aumentar... e me deixar levar por aquelas ondas... pra onde elas quiserem, sem carta náutica, sem estrela polar ou cruzeiro do sul... E onde ficou mesmo a paciência? Não me lembro de tê-la trazido para a vida. Acho que ainda, de algum modo, fico esperando o mar me trazê-la, numa ondinha discreta... Mas minha ansiedade só me deixa ver as ondas grandes, aquelas que machucam, que arrastam, que vão embora de uma vez. E que levam o pior (d) e para você...

Ele está ali. E olha para mim. E sorri. E me chama, e me grita palavras de criança, gargalha, e me me jura de amor, de paixão. E eu aqui... ainda sem paciência de olhar atenta as pequeninas ondinhas amorosas que chegam, remechendo nas profundezas daquele oceano que desconheço. E me lembro ali do pôr-do-sol no arpoador, dos bilhetinhos, das promessas e das noites de abraço em silêncio... e olho para o mar. Onde ele deixou mesmo a minha paciência?

Uma pena que a gente não traz na bolsa pílulas diárias de virtude para oferecer aos outros quando nos pedem. Mais vento ainda... e eu aqui, tentando deixar a razão calar-se. E deixar-se ir, para o meu coração trazer de volta... calma, paciência, menina... o sol já se pôs e você vai ficar aqui... à beira do mar... ele está ali, Vênus apareceu do outro lado no céu. Lembrou pra você que o amor não vem com manual de instruções e que a sua ansiedade, nada generosa, poderia ficar ali, à beira do mar, apaixonada por ela mesma... e aí, aí sim, você pode entrar na água, de corpo inteiro, mergulhando a alma no sal... purificando... cicatrizando... mas até pra isso é preciso ter paciência... a conquista... nunca é dada de presente...

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segunda-feira, maio 14, 2007

dia das mães

Esse dia certamente faz parte dos nossos dias. Ontem foi engraçado... um sentimento de vontade de voltar pra casa, sem querer voltar. Fui cedo ver minha mãe. Embora já tivesse perdido o tempo da bagunça dos irmãos na cama dela. Café da manhã igual ao que a gente fazia naqueles tempos de presentinhos, cartinhas de amor e coisas que as crianças fazem... - ainda me lembro bem dos desenhos desajeitados que fazia dela. Acreditando que ela era a mulher mais bonita do mundo, embora o desenho não demonstrasse isso exatamente...

Ficamos lá, tomando café da manhã em família. Rimos juntos e repetimos o enredo de anos... eu com meus discursos contra a Igreja - vendo a missa do papa... - meu irmão fazendo piadas de como é o filho (único) mais lindo e gostoso do mundo e minha irmã falando do excesso de trabalho. Meu pai sempre derrubando coisas na mesa e dando o habitual exemplo de glutão. Em algum momento ali eu deixei de lado e passei a assistir minha família. Foi uma delícia repetir o roteiro.

Fui para o quarto da minha mãe com ela. Ia se arrumar e sair com o Gustavo para comprar - o atrasado - presente. Ia dar uma carona aos 3. Olhei pra ela. De óculos, perto da janelinha do quarto onde entrava luz e aquele cabelo dourado já se prateava todo. Vi as rugas no rosto, as manchas nas mãos. E ainda era a mulher mais bonita do mundo. E só os meus olhos ali viam isso. Invejei ela. Com essa maturidade, bom-humor. E me achei tão mais complicada, encanada com a minha mesmice de sempre - intelectualidades frouxas e o coração apertado. Segurava o espelho para ela arrumar as sombrancelhas. Branquinhas como as de nenê. Tenho as mesmas sombrancelhas dela. Mais finas. Ficamos rindo ali da idade dela e da minha. De como as coisas caem, e outras se consolidam. Ouvi ela reclamar da falta de dinheiro, de que se achava feia e em meio a tudo isso ríamos das bobagens que nos dizíamos, das caretas, dos segregos ainda não ditos. Expressos.

Olhava pra ela e ria - os óculos, o espelho e apinça para tirar as sombrancelhas. Foi divertido. Ficamos ali nos equilibrando nas emoções das passagens rápidas da vida. Ouvi mais uma vez histórias de quando eu era pequena. Do meu pai e dos meus irmãos. Lembrei de outros dias das mães em que acordava mais cedo que os outros e preparava bilhetinhos e corações. Senti falta de não ter mais essa cama pra pular cedo de manhã...

Fiquei escutando ela falar do meu pai, do casamento de 30 anos dela... dos dias de praia na Bahia... do sol e do mar. Dos sonhos de amor, de viajar, de conhecer o mundo. Ouvi o falar de tudo isso como se fosse uma música circular gostosa de dançar - que não tinha fim nunca. E deixei ali... o meu ouvido pra me encantar... "Nós construimos coisas tão bonitas... eu e seu pai. Eu amo tanto ele" E olhei fundo naquele azul de céu dos olhos dela. Havia tanto amor ali. Queira um pouquinho pra mim... E só retribuí dizendo um sorriso condecendente. Antes que eu pudesse terminar ela disse "nossa! me emocionei com isso!" E rimos. De novo. Eu repetia o roteiro. Assistia e me emocionava. Uma coisa de criança mesmo. Gostosa de sentir. Na hora, nem pensei nesse papo todo de maternidade, de dar à luz, de ver crescer. Só deu um calor no coração, de pensar que naquela mulher ali tão e mais bonita eu podia ainda contemplar coisas que só as crianças podem ver... todos os dias...

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amortecendo

Tenho sentido esse adormecimento, depois de tanto querer
Olho pra fora, pra dentro, e só o que vejo é a possibilidade de amortecimento completo.
Eu não quero mais. Deixar isso tomar conta é tão assustador, sim... parece que se vai, de mim, pra fora.

É como se, de alguma forma, eu não pudesse mais respirar. Nadando dentro do peito já é tão difícil... pudera nadar em mares que a gente, pretenciosamente, deseja conhecer... é mais que arriscoso. É quase suicídio.

Passei a noite em claro, ouvindo a janela bater, olhando os vultos do quarto. Sentindo as brisas de chuva... lembrava da tarde agradável de domingo, esperando a noite chegar. O céu, com aquele multicolorido azulado, lilás... meia-dúzia de estrelas escondidas pelas milhares que caíram no chão. Fiquei ali, enroscada nos pensamentos sem sentido de dor, ouvindo a minha própria solidão chamar o mundo dele que não me pertence. Sentia as mãos, os beijos, os afagos... e me protegia de tanta coisa... olhava, deitada a imensidão do céu e queria ir embora... navegar naquele azul pra fora de mim... poder respirar aliviada. Como se eu não pudesse sentir mais.

À noite, depois de sonhar com a Clara, curiosamente clareando os meus monstrengos de pensar... fiquei acordada, como disse. Esperando o dia chegar com alguma resposta. Acho que é mais fácil a gente pensar que está aliviada se parar de sentir. Como eu invejo essa possibilidade. Tenho me sentido em frangalhos. Aos pedaços, de novo. Aquela sensação que vivi há 3 anos atrás parece ter voltado. Eu não quero desistir. Mas tem sido tão solitário...

Queria poder pedir, agir, sentir menos, querer menos. Rezar para esquecer, deixar. E nada disso. Só aquele entorpecimento depois de um choro longo, doído nas almofadas. Como se, de algum modo, as lágrimas pudessem arrastar para fora de mim essas lembranças tortuosas, doloridas. E purificar. Senti um vazio depois do choro, como se não houvesse mais nada dentro de mim, nem a dor. Só esse sono, essa exaustão de querer, de tentar. E de não conseguir mais esperar. Tanto por viver... por sonhar. E tantos desejos a realizar nesses beijos, carinhos. E tudo o que eu senti ontem foi esse amortecer de dentro. De querer descansar. De quase poder parar. E deixar isso ir. A gente não perde aquilo que nunca teve... Isso dói mais - a sensação de nunca ter tido... e de imaginar, por minutos de amortecer... que talvez, mesmo, eu nunca venha a ter... e seja só um sonho bom, um sonhar de menina apaixonada. Infantil... desses que a gente carrega no peito pela eternidade...

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quarta-feira, maio 09, 2007

soprinhos...

Algumas vezes eu tenho a sensação de que, na minha ausência completa de qualquer possibilidade de controle... tudo está fora, perdido...
Esfriou... passou um tempo de calor excessivo, sol quente no rosto deixando a vista cega e o corpo cansado...

Vi ali, na rua molhada, indo longe... pra mim e de volta... a calmaria dos tempos de inverno, a tranquilização que esse silêncio de dentro traz... soprinhos no pé do ouvido pra deixar a alma se aquietar...

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segunda-feira, maio 07, 2007

passeios de fim de lua

Esse fim de semana... que coisa. Tempestades de sábado terminaram na virada cultural que viraram cervejas no Emapanadas, que viraram chá de erva-cidreira no Frans... 2 da manhã aterrisando em casa, na pontinha dos pés... luzes apagadas. E mais nada. Só a sensação de que não se pode fugir de si mesma. Das coisas que a gente mesma traz para a própria vida. Ainda sinto no coração a Fabi falando... doeu ver a minha amiga assim de novo.

Domingos de feira, gente mal-educada e bagunçada... coisas que não se espera, mas se vê. Leituras de samurais... sol na sala. Entupida de almofadas e pantufas preguiçosas. Tempestades iam e vinham... eu olhei. Nada de lua ainda. Ela tinha ficado na balada de sábado, me olhando pelo meio dos prédios confirmando a reflexão anterior... eu não vou ter respostas nessa hora mesmo!

Ontem resolvi dar o fora de casa. Liguei para Márcia. A gente ia jogar conversa fora... ficar à toa e se espreguiçar no sol. Fomos para a minha praça favorita. Eu queria muito mostrar essa praça para ela. Ficamos ali, deitadas na grama, falando dos casamentos, das crises, dos sonhos e das angústias. Ficamos ali... Umas cervejas pra animar o papo. Era engraçado estar ali com ela. A Márcia é testemunha - sem sempre silenciosa - das minhas peripécias mais contraditórias e intempestivas. É um tipo de cumplicidade maior que pode existir. Complicado de explicar. Fácil de sentir quando estou junto dela.

Tomamos duas "eskóis" cada uma, rimos e falamos todo o tipo de besteira que duas mulheres, recém casadas, maluquetes e exigentes, podem falar. Nada ficou de fora. E pra minha surpresa, a gente não parava de rir um minuto. Fiquei me lembrando há quanto tempo eu não tinha uma tarde dessas com risadas. E foram muitas. Fazia tempo que a gente não se matava assim. Esses risos infantis que deixam os adultos constrangidos nos espaços públicos. Ora... Nisso, posso garantir, a escola que trabalhamos foi muito generosa. Estivemos por muito tempo sobrecarregadas com as humilhações, pressões e etc e tal que nossa alternativa de subversão era - e ainda é, creio - o riso. Interessante como alguns hábitos são cultivados. A Márcia tem essa capacidade de trazer uma poesia diferente na minha vida. Uma espécie de coisa de criança que faz a minha (pseudo)adultisse se derreter e me centrar. Escuto as broncas dela, as queixas, as desilusões... e me vejo ali. Espelhada.

Fim de lua ou não. Deixei a Marciota no metrô... o sol tinha ido. A Lua aparecia, já pelas metades dela. Em meio às nuvens. Linda. OLhei pra ela e para o Juliano no carro. Havia tanto para silenciar ali naquele olhar. Fiquei e insisti. Esperei. A ternura aparece dos jeitos tímidos do outro. Sem jeito. Sem condições de dar mais. E eu ali, na minha exigente lua que ia e voltaria daqui há algum tempo... sem avisar.

Voltei pra casa e não dormi. Pensei, pensei... onde eu caibo nisso tudo? Há vagas? Ou a vida já é lotada demais de coisas. De gente, de dor, de saudade e de angústia. Ainda ne vejo, aqui, em casa, esperando o visto permanente na vida. Só ganhei ainda o de turismo. Tomo café. Escrevo. Lembro dos passeios de fim de lua no fim de semana e vejo as nuvens se afastando da tempestade que se deixa em paz... e eu fico aqui. Sem conseguir mais esperar...

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sábado, maio 05, 2007

E a lua mesmo?

Ontem me peguei olhando para o céu... isso acontece há algum tempo especialmente em dias de lua cheia...

Fiquei olhando pra ela, como se, de alguma forma, as perguntas que eu sempre faço tivessem naquele brilho a resposta... quanta bobagem me passou ali...

Tenho olhado para uma ferida, cada vez mais profunda, que cava buracos enormes... e que tem, ultimamente, deixado a superfície esburacada... dói muito, e cada vez mais. E mais ainda pela percepção, cada vez mais nítida, de que nada do que eu queira, ou faça, terá uma repercussão efetiva. Talvez seja mesmo essa a "mágica" da frustração... nada se faz... nem se pode, e agora, nem se deva. Estou cansada. De tanta coisa.

Acendi um incenso dentro de casa. Inalo esse perfume do mesmo modo que pergunto à Lua se ela tem algo a me dizer. Se ela, ou qualquer outro astro lá em cima tem algum controle sobre o que eu sinto. E sobre o que o outro sente. Ora, seria até irônico pensar que alguém o controla. Ele, que teme tanto o descontrole de si mesmo, de sua inútil e infantil maneira de se portar e de se descomportar. Senti nojo. Me lembro da Lua... e mais nojo ainda. Como se pode permitir tantas máscaras, iludidas em si mesmas para afastar, e justificar e completar e caminhar, cada vez mais pra longe. Olho pra fumaça do incenso aqui... ele invade o quarto, a sala e a cozinha. Entranha-se na vida alheia. E os outros nada fazem pra isso... não o impedem, não disputam com ele esse poderzinho territorial. O ponto principal é acendê-lo. E nada mais. De novo, olhei pra Lua na 5a. feira... ela crescia, majestosa à minha frente... e escondia charmosa as suas esburacadas cicatrizes - feridas... doídas do impacto de astros metidos a besta. Cometas que invadem, tomam, estragam tudo com essa luz tão bonita... e somem... Me perguntei se eu era capaz disso... mais... se eu de fato queria isso. Para que? Para preservá-lo da certeza de que ele não sabe - e me parece cada vez mais que não quer - ser alguma coisa a mais que um cometinha bestalhudo... se relacionar em profundidade... é ser tão responsável assim? Ora... claro... e nada mais parece se clarear dentro de mim, a não ser a certeza que estou, a cada dia, mais, mais e mais iludida. Desejando manter essa ilusão daqui, de dentro de mim mesma. E não sei mais tirar isso de fora.

O incenso acaba... ninguém parece perturbado aqui dentro. Só eu. Olho para o redor dos objetos. Há um Dexter no meu computador. Ele aponta para a janela. É isso, talvez. As coisas estejam demais aqui dentro. E eu esteja, profundamente exausta, cansada de tudo. Deixando de acreditar. Fé não pode ter esforço. E eu vejo que tenho feito força demais...

Ah, claro. A Lua? sim... continua ali, deixando todo mundo com a ilusão de que ela controla alguma coisa... Bela maquiagem para os fracos de si mesmos... que temem tanto o seu próprio deixar-se... bela maneira de ir embora sem precisar se despedir. E sem se comprometer... deixo lá. No canto, vejo a Lua indo... o incenso apagando, eu, cansando, quase deixando de ir... de uma vez...

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quarta-feira, maio 02, 2007

será que eu consigo?

Será que posso? Esperar, ver o milagre acontecer? o u o milagre é apenas a ilusão de que posso esperar? Construída... sentida... deixada ali. Em espera na fila de desejos que só cresce...

Medo... e a expectativa de não chegar... eu ficar a vida, esperando. Sem ver...

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