sábado, junho 23, 2007

irmanando

O corpo fragilizado mesmo... tanto cansaço, tanta vontade de ficar quietinha... e nesse quase-sono entorpecido... eu descubro mais...

Há coisas que a gente só se permite ver na fragilidade. Nesse entorpercer do corpo, cansando de si mesmo. De ver o mundo e sentir como se a gente pudesse, de alguma forma, controlar.

Ontem recebi a notícia... Clara terminou o namoro. Engraçado como algumas notícias tem impactos profundos na gente. Passei o dia com ela em sentimento. Não nos falamos. Fiquei com o coração apertado. Queria estar perto, ajudar, sentir, abraçar, escutar. Essas conversas que as irmãs têm quando se reconhecem mulheres adultas... Passei o dia assim. Descobrindo na minha fragilidade física a vontade de estar e ser ela. Tirar essa dor do peito e trazer pra mim. Mas ao mesmo tempo me lembrei de alguns anos atrás... a libertação é melhor sensação para a alma. Não posso roubar essa dor liberta dela. Não é justo...

e fico aqui, olhando as flores pela janela, esperando a Clara me ligar. Ou ligo antes? antecipo... ventos na cortina...

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sexta-feira, junho 22, 2007

antes de nós

Antes de mí tú no eras tú,
antes de tí yo no era yo.
Antes de ser nosotros dos
no había ninguno de los dos,
no había ninguno de los dos.

Antes de ser parte de mí,
antes de darte a conocer,
tú no eras tú y yo no era yo,
parece que fuera antes de ayer.

Antes que nada
yo quiero aclarar
que no es que estuviera tampoco pasándolo mal antes.

Pero algo de mí, yo no supe ver
hasta que no me lo mostró,
algo de tí, que quiero creer
que no vio nadie antes que yo,
que nadie vio antes que yo

Después de todo
lo que quiero es decir
que no entiendo como podía vivir antes,
no entiendo como podía vivir antes
no entiendo como podía vivir.

Antes de irme
yo debo decir:
yo también pensaba que era feliz
No entiendo como podía vivir antes.

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quinta-feira, junho 21, 2007

perguntando sobre as tulipas

Ontem um amigo me perguntou o que eram as tulipas além da obviedade - flores...
Percebi que o texto cozinhado na geladeira sobre elas deve ser terminado... Mas para que mesmo? não seriam essas tulipas as minhas testemunhas mais quietinhas? soli(t)dárias?

Talvez seja essa coisa do Mario Benedetti mesmo, sobre El Nuestro, que foi pessimamente traduzido! Dias atrás eu estava na Livraria Cultura e dei de cara com a tradução. "O Nosso Assunto"... que quase me deu uma crise de pânico. Me senti tão ultrajada com aquilo. Afinal, o Nosso é sempre nosso, meu quase. Como poderia ter sido traduzido desse jeito?

Acho que é o mesmo com as tulipas... não sei se vou me dar ao trabalho de explicar alguma coisa. Não mesmo...

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terça-feira, junho 19, 2007

caminhar por aí

 

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el nuestro

 

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o crepúsculo das tulipas

 

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preâmbulos tulipenhos

 

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nascimento da tulipa parte I

 

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encontros de domingo

 
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sábado, junho 09, 2007

El Nuestro

Essa (in)definição, desde julho de 2004... dada pelo poeta, manifesta pelo Juliano...
Era uma noite fria, a gente caminhava pela R da Consolação, pelo lado dos Jardins. Tínhamos falado de Chaplin. A gente lia Pedro Nava em cada esquina, lembrava do dia que a gente se conheceu, se olhava, se escrevia. Passamos em frente ao bar que tínhamos nos conhecido há poucas semanas. Do dia que eu falava do meu passado, ele do dele. Enfim... e outros diários apareceram...

"Martes, 28 de mayo

Ella viene casi todos los días a tomar el café conmigo. El tono general de la charla es simpre el de la amistad. A lo sumo, de amistad y algo más.Pero voy haciendo progresos en ese 'algo más'. Por ejemplo, a veces hablamos de Lo Nuestro. Lo Nuestro es ese indefinido vínculo que ahora nos une. Pero cuando lo mencionamos es siempre desde afuera. Me explico: decimos, por ejemplo, que, 'en la oficina todavía nadie se dio cuenta de Lo Nuestro', o que tal o cual cosa sucedió antes de que empezara Lo Nuestro. Pero , en definitiva, que és Lo Nuestro? Por ahora, al menos, es una especie de complicidad frente a los otros, un secreto compartido, un pacto unilateral. Naturalmente, esto no es una aventura, ni un programa, ni - menos que menos - un noviazgo. Sin embargo, es algo más qye una amistad. Lo peor (o lo mejor?) es que ella se encuentra muy cómoda en esta indefinición. Me habla con toda confianza, con todo humor, creo que hasta com cariño."
(La tregua. Mario Benedetti)

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musicando....

"Forgiven Not Forgotten"

All alone, staring on
Watching her life go by
When her days are grey
And her nights are black
Different shades of mundane
And the one eyed furry toy
That lies upon the bed
Has often heard her cry
And heard her whisper out a name
Long forgiven, but not forgotten

You're forgiven not forgotten
You're forgiven not forgotten
You're forgiven not forgotten
You're not forgotten

A bleeding heart torn apart
Left on an icy grave
In the room where they once lay
Face to face
Nothing could get in their way
But now the memories of the man are haunting her days
And the craving never fades
She's still dreaming of a man
Long forgiven, but not forgotten

You're forgiven not forgotten
You're forgiven not forgotten
You're forgiven not forgotten
You're not forgotten

Still alone, staring on
Wishing her life goodbye
As she goes searching for the man
Long forgiven, but not forgotten

You're forgiven not forgotten
You're forgiven not forgotten
You're forgiven not forgotten
You're forgiven not forgotten
You're forgiven not forgotten
You're forgiven not forgotten
You're forgiven not forgotten
You're forgiven not forgotten
You're not forgotten
You're not forgotten
No, You're not forgotten

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quero poder contar....

O Pico. Mais uma vez. Mais todas as vezes. Eu há dois meses tenho rascunhado um texto sobre uma notícia que ele me passou...

Há dias que eu pensava nele. Essas coisas que a minha intuição faz comigo o tempo todo... enfim... Tem cada uma! Mas voltando. Eu estava em casa. Era tarde da noite. Uma sexta-feira. Tinha acabado de comer e me preparava para receber os carinhos no pé. Mas tinha um cutuco no peito. Eu precisava saber se o Pico estava bem.

Curiosamente o Pico estava on-line... Senti uma coisa engraçada por dentro, uma felicidade particular naquele momento e chamei-o para uma conversa. Nunca virtual. Nossas conversas nesses anos todos sempre foram as mais verídicas que eu pudera ter. Lá estávamos nós e eu louca para dizer do meu estranho sentimento pra ele. Que ele seria pai.

Antes mesmo que eu pudesse dizer alguma coisas ele disse que queria muito me contar uma coisa... e eu quase fiz a piadinha... que nem deu tempo. Quando li na hora que ele seria pai, foi tão forte como no dia que eu descobri que Darth Vader era pai de Luke Skywalker. Fiquei paralisada. Silêncio interrompido por um grito meu enlouquecido de felicidade. Balbuciei para o Juliano qualquer coisa e um "eu sou foda!" na sequência.

Pai. Nem me dei ao trabalho de voltar para o computador. Liguei o telefone de pé pulando e gritando a notícia como se ninguém num raio de 2 km tivesse escutado a minha modesta celebração.

Atendeu o telfone. Gritava! e comecei a chorar. Pai. Isso ainda ecoa em mim por dentro. O Pico é o meu amigo mais antigo. E vai ser pai. Isso parecia tão distante da gente há alguns anos atrás e de repente... eu casada. Ele, pai. A vida adulta te pega na esquina. De surpresa mesmo. Fiquei tão comovida com isso que nem podia dizer nada pra ele de significativo. A conversa ao telefone foi a mais rápida que tivemos em 20 anos de amizade. Não havia o que dizer. Estou devendo esse abraço para ele todos os dias desde então.

É impressionante como a gente se dá conta que envelheceu. Que não vive mais naquele mundinho construído e protegido. A gente precisa retribuir isso ao mundo. Trazendo gente boa pra cá. Foi a primeira vez que eu senti um poder absoluto num nascimento de uma criança. O filho do Pico. Eu o amo mesmo antes de o conhecer. É como se eu o tivesse comigo por perto desde sempre.

Ele mesmo está atônito ainda coma notícia. "É... eu acho que a minha ficha ainda não caiu" ele disse. E nem as minhas. Parece essas cenas de filme. Que os roteiros adaptados fazem melhor que o original. Aqui é exatamente o oposto. Eu não sou capaz de reproduzir a minha alegria e maravilhamento com a notícia.

Já fico imaginando eu indo na maternidade, vendo essa criança crescer. Contar para ela que eu e o pai dela nos conhecemos na primeira série. analfabetos do mundo. E que nos alfabetizamos de mãos dadas nesse mundo de fantasia. Nos apresentamos mundos de sonhos que sonhamos - e realizamos - até hoje... ET, literatura de sci-fi, Duna, Monthy Pyton, Star Wars, RPG e todos os seres maravilhosos que agregamos nesse caminhar de tanto tempo, os amigos, reais, próximos, que abraçam, riem, choram, participam. Testemunham.

Eu tenho pensado nesse testemunhar da vida. Como algumas pessoas em especial testemunham a nossa vida em plenitude. O Pico é um desses. E me senti privilegiada por estar aqui assistindo o nascer dele. Eu fico sentindo um calor bem quente mesmo no coração pensando como vai ser daqui há algum tempo... ir nas festas de aniversário. Me lembro de todos os aniversários do Pico que eu fui, No McDonald's, na casa dele, nos restaurantes. Mesmo. Me lembro de um dia a Mariana, irmã mais velha dele, dizer para a minha mãe que a gente estava "brincando" no quarto, quando na verdade, já quase adolescentes, a gente tinha uma dessas conversas fantásticas sobre o mundo e sobre a vida, de onde para onde ir, sem ir a lugar algum conhecido.

Eu quero poder contar ao filho dele que o Pico fez muito da minha infância valer a pena. Que ele tinha uma pistola Zillion que brilhava e fazia um zum bem bacana, que me ensinou a fazer os primeiros comunicadores de caixa de fósforo e que podiam ter luzinhas e apitar. Quero poder contar a ele que fiz a minha primeira traquinagem numa festa de aniversário, atirando batatas fritas nos colegas por causa dele. Que a gente passava horas pensando em como imitar os trabalhos de George Lucas e Spielberg. Que a gente queria criar universos fantásticos e jogar muito RPG. Que eu pensava em ir para a Disney e ver os EUA por causa das coisas que ele me contava de lá. Quero poder dize a ele das nossas caminhadas intermináveis no Playcenter quando eu adorava caminhar no Labirinto e dar cabeçadas no vidro só para ver o Pico rir.

Quero dizer a ele também que o Pico foi o amigo que eu mais briguei, mais ri, mais chorei, mais amei. E que no meio de tudo isso ainda tivemos tempo para fazer peças de teatro, ensaiar e dançar no teatro da escola. Escrever trabalhos mirabolantes, fazer maquetes do Prof. Pardal e deixar os professores de cabelo em pé. Quero agradecer por ele ter esse pai. Que foi meu pai, irmão, amigo, inimigo, príncipe encantado, vilão, fabricador de sonhos, mestre dos mares, herói, mendigo, médico do coração e a alma mais generosa que eu encontrei no meu caminho.

Quero poder mostrar a ele aquela foto que eu não tenho comigo sei lá porque até hoje, da gente fantasiado de caipira numa festa junina de muitos anos atrás. Vou dizer a ele também de todas as besteiras que a gente se disse nessa vida. E de como os pedidos de desculpa - nem sempre ditos - eram os mais sinceros e regeneradores. De como eu aprendi a perdoar com ele. De como ele me ensinou - e ensina sempre - a ser humilde, a ter bondade e compaixão. De como ele mostrou que a frase do Cristo "dar a outra face" pode ser vivida no dia-a-dia. Como ele me ensinou a transformar as sucatas em sonhos. Como o verbo sublimar foi ensinado tão fortemente por esse pai. E ainda consigo me surpreender com outros significados que ele traz a essa palavra.

E quero poder dizer a ele que o seu pai é uma dessas raridades que Deus manda pra Terra, só para que a gente testemunhe a sua grandeza. E que por isso, e por outro motivos mais que eu só vou poder contar ao longo de uma vida, eu sou grata por ter acompanhado esse menino-homem-mago-pirata caminhar por esse mundo, às vezes fantástico, e poder trazer um pouco de fantasia pra gente. De como esse serzinho que está chegando é um privilegiado de ter um pai desses. Que transforma. Que acontece. Que sonha-vivendo...

Pico, eu quero poder contar tudo isso... e que você esteja junto para me lembrar das coisas e me dar um lenço quando eu não puder continuar. Parabéns... e sempre obrigada.

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corpo humano

Fomos assistir ontem à exposição do Corpo Humano. Foram com a gente, Clara e o namorado, Groselha. Ambos da Escola Paulista de Medicina. Aula intensiva. Fiquei abestalhada com esse movimento pra dentro. Como disse o Juliano, do "macaco se olhar no espelho".

Tanta gente. Tanta fila, tanta curiosidade. Traduzida de forma vulgar do "de onde vim, pra onde vou?" Coisas assim. Fiquei passada com a nossa maravilhosa monstruosidade interior. Com a nossa perfeição funcional, mágica, misteriosa e inquietante. Me assustou que a gente soubesse tanto - e nada - sobre nós mesmos. Como o deslumbre pela descoberta do mecanismo, a fascinação pela engenhosidade do que habitamos, ou ainda, do que somos. Fiquei assim... quase como se tivessem me visto de roupa pela primeira vez. Olhei em volta. A casa cheia. Todos éramos iguais ali. Brancos, negros, índios, gays, virgens, divorciados, profissionais, vagabundos, ateus, crentes. Todos feitos do mesmo engenho. Funcionando igual. Me senti mergulhada num sentimento de identificação. Tudo tão óbvio, traduzido: o porquê da dor, da gripe, do sangue, do cheiro, do medo, do suor, calor, frio, insitinto, fome. Tudo igualmente terminado na morte... Definido ali. Concluído. Início, meio, fim. Transformação é para ser ao longo da existência.

Ouvi os dois falando apaixonadamente pelo mistério desvelado do corpo. Exibido ali. Quase como caça ganha. "Conquistamos". Mas ficava me perguntando onde estava o resto? Estaria tudo ali? Eu sou mesmo assim tão ingênua com essas coisas? Será que fico buscando poesia em tudo? Me assombrava a proximidade dessa arrogância sobre nós mesmos. Essa sensação de poder. Afasta. Amedronta. Mas fascina. Entorpece. Fiquei com inveja dos médicos...

Saímos de lá e ficamos falando dessa experiência da morte. Perder pessoas deve ser mais inexplicável quando você acredita que, de fato, tem o poder sobre a vida e a morte. Senti essa angústia de habitar a fronteira entre saber-acharquesabemos.Voltei pra casa achando tudo efêmero demais. Mesmo essa sabedoria toda da gente. E que talvez até mesmo a fronteira seja um artifício pra nos manter crentes. Em nós mesmos.

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ecos de sexta

A ironia é mesmo a hipocrisia com estilo?

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shakespeare sexta

Ontem assisti novamente o documentário Ricardo III, feito felizmente por Al Pacino. Deslumbrante. Pude, de algum modo traduzir ao Juliano minha paixão por esse autor. Fiquei tentando me lembrar porque, ou melhor, quando eu me apaixonei por esse inglês... E porque, ou melhor, como venho cultivando essa paixão há tantos anos.

O documentário é feito de modo a tentar explicar porque Shakespeare é mal interpretado. A diferença entre Shakespeare e shakespereano. As peças, os textos, sonetos, tudo parece complicado demais. Al Pacino sai pelas ruas dos EUA e Inglaterra perguntando às pessoas se elas conhecem Sahkespeare. A maioria ouviu falar. A maioria não leu, ou leu pouco, ou leu pouco e obrigada na escola. FAto: a maioria acha "boring" demais para encarar um fim de semana ou mesmo uma tarde. Pior seria passar a noite com ele.

Um homem muito simples, entrevistado, sem dentes, negro e pobre nos EUA, dizia que não entendemos Shakespeare porque não sabemos mais sentir. Desaprendemos isso com o tempo. E mais, ainda fizemos o crime maior de prendê-lo nas academias e bibliotecas. Quase fizemos como os antigos egípcios que, para matar alguém na eternidade, apagavam o seu nome escrito. Era o fim. Ninguém mais se lembraria...

Não vou me dar ao trablho de comentar o trabalho do elenco maravilhoso e inquestionável. Mas queria pontuar que o percurso oferecido por Al Pacino desvela Shakespeare. Desvela a academia, o teatro. O medo e o tabu que esse ator encerra em suas páginas. Me deu um calor no peito revendo o filme e o quanto Sahkespeare é pungente nas suas construções. Ele poderia dizer de outro jeito. Mas não quis. Para complicar? Não, para mostrar que sentir, viver, ver, estar no mundo não é tão óbvio como se parece, e mais ainda, é mais desafiador e revelador. Ora, sua matéria prima é o sentimento. Sua forma de nos apresentar isso... suas palavras. E que magia.

Fizemos vários intervalos no meio do filme. Suco, comidinhas aqui e ali, beijos, reflexões sobre a vida, sobre o autor, o filme. Nada mais bonito que ver o Juliano se shakespereanizando. Poroso deixando aquela força do texto invadir a sua vida. Eu ria. Achei graça como ele descobria a poesia daquilo.

Maravilhada, encantada com a profundidade do humano ali. Pensei nas minhas fantasias de sair e tomar um café com esses meus autores favoritos. Antes de dormir, Juliano me perguntava se eu preferia sair com Deus ou Shakespeare. DIsse a ele que Shakespeare teria mais a me dizer de Deus e dos homens do que o próprio Criador. Ele anda ocupado ultimamente: aquecimento global, aids, gente pra todos os lados vivendo o desespero de estar aqui ou lá. Levaria Shakespeare para tomar um chimarrão. Na praça Pôr-do-Sol. Ficaria ali ouvindo ele falar. Dizer das coisas que viu. Adoro o jeito que ele traduz a história da humanidade propriamente: Mercador de Veneza, os reis todos, Henriques, James, João, Ricardo. São tantos os reis, mulheres, Hamlets que habitam a gente. Tantos Romeus, Julietas, tantas noites de verão, de reis, de sonhos, de megeras domadas, Antônios, Cleópatras, Pucks, Porcia, Ladies Macbeths e todas as famílias complicadas de York, Capuletos, Lancaster. Só são personagens, personificações distantes, mas vindas de dentro de você, de mim, do cara aqui do lado, do sujeito que abastece o meu carro no posto, do caixa do supermercado, da faxineira. São tantos. E tão poucos se colocarmos ali, espelhados nesse reflexo bonito do texto.

Shakespeare tem esse bisturi da vida. Ele é propriamente essa intervenção cirúrgica na vida. Corta a sua alma. Exatamente onde ela dói. Onde você acha que vê e não entende nada. Acha que sabe, e desconhece.Fiquei me lembrando da reação do Juliano ontem falando coisas como "nooooooooooosssaaaaaaaaaaaaa" e outros adjetivos mais contundentes... Bonito quando tudo faz sentido. Senti esse quentinho na alma de poder dividir esse inglês tão especial na minha vida. Que me diz tanto, me sente tanto. Bonito a gente poder se apresentar entre os queridos.

Acordei com esse dia cheio de sol, me preparando para o nosso 2 sarau romântico. Livros, poesias, escritos, e toda essa coisa que deixa a alma respirar no mundo. De dentro e de fora... shakespearizando o dia, a vida... sem academia, sem tabu. Sem entender. Só o sentir...

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quinta-feira, junho 07, 2007

Para que evitar a dor se ela pode ser o que mais aproxima? Humaniza. A dificuldade dos relacionamentos não é evitar a dor, mas bancar a dor.

Não se evita sofrer. É como querer parar de respirar. Inútil. Mortalmente suicida. E vão. Nunca parei para pensar que o desafio é se preparar - não para sentir! - mas para aproveitar o melhor da dor. É... isso existe. E é lição de casa dada nas últimas aulas, sem aviso de que cairia na prova. E caiu, valendo sempre muitos pontos.

Tenho olhado pelos olhos dele e pela primeira vez, creio, percebi o tamanho da angústia ... e do medo de amar. Que bom que a gente se sinalizou. E que bom que a gente banca a dor um do outro. Companheirismo não. Cumplicidade. E descobri que isso não está à venda, nem se baixa pela internet. Está aqui... invisível aos olhos, mas debaixo deles. Poesia alquímica. Ou vulgarmente chamada de amor.

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delírios de poesia

Aqui, jogada no meio das almofadas da nossa biblioteca. Conversas dali, daqui, olhando textos, brinquedos, nada muito (des)organizado aqui em casa. E fiquei jogada aqui, ouvindo o Walt Whitman e o Borjes... boas companhias para pensar naquele café colonial em que eu adoraria reunir caras como Hegel, Aristóteles, Shakespeare, Deus, Schopenhauer... nada mal.

Mas me dei conta que ia ser excessivamente cerebral. E tudo o que eu preciso agora é sair das minhas roupagens de agente do FBI. Desse jeito esquisito de pressentir as coisas que vão ocorrer, adivinhar quem é quem, etc... Preferiria tomar uma sopinha ouvindo poetas conversarem. Fiquei com inveja do Juliano falando que seu trabalho seria ouvir todas as poesias gravadas que temos aqui... Os filósofos, cientistas... é, precisariam de mais paixão... sem panfletagem! Uma dose boa de gin, uma luz de abajour... uma música de fundo... e eu ali, de platéia quase disfarçada.

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passeios de fim de tarde

Novamente eu me atiro ao sol. Fui à praça hoje ver o sol ir embora, daquele jeito mágico, vermelhão inesquecível pra lembrar que ele sempre volta. Toda vez que vejo aquele disco vermelho no meio do céu, inteiro, quente, fico recompondo a mágica relação que os egípcios tinham com ele.

Fiquei ali, vendo o Juliano pedindo os cafunés, as coceiras. Eu estava ali, imersa nesse oceano de carinhos e declarações... Sentia aquela brisa bem suave, namorando o luz do outono, toda impressionista. Admirei as cores das árvores, dos cabelos das crianças que iam e vinham com os pais, os cachorros, os brinquedos. FIquei ali, silenciando o movimento incessante. Tentando escutar outras sintonias, mais distantes da percepção desse "comboio de cordas" como dizia o F. Pessoa.

Fiquei ali, no meio daquelas cores todas pensando no livro do Desassossego... de que cor é o sentir? Maravilhei-me com a idéia de que a natureza espelha bem esse desassossego caótico existente na gente. Fiquei ali, olhando, perdida de mim. Ótimo para quem se desafia a lutar diariamente com a explosão cerebral >< sentimentalismos excessivos.

Rodei mais um pouco nos cabelos do Juliano. Olhava as cores dele também. Prestava atenção nas pessoas ao redor conversando sobre coisas quase nada interessantes. E gostava de observar as que, como eu, nem olhavam a vista, nem o sol, nem ninguém. Olhavam para esse lugar que a gente acha que não existe. Algum lugar no meio do comboio de cordas.

Prestei atenção em um rapaz que estava ali, sem cigarro, sem bebida, sem bicicleta. Nem boné, nem aquele óculos de gente metida a charmosa... Ele estava ali. Nele. Olhava em 360 graus. Senti uma afinidade silenciosa com aquela percepção. Juliano dormia quase. E eu me divertia fazendo ele rir das carícias. Das minhas leituras de Shakespare, de comentários aleatórios e dos suspiros que a gente dá. Ele transcendia o mundo "através das suas unhas..." Ri.

O rapaz de repente puxou um caderninho de notas, semelhantes aos que eu e Juliano temos. Notei que ele rabiscava e continuava olhando ao redor. Achei até que poderia estar ali a trabalho - ok, era feriado hoje! - mas não... Ele tinha uma maneira muito doce de escrever, quase como as meninas quando inauguram a primeira página do diário. Era terno com as páginas. Escrevia devagar, quase como se estivesse a ponto de paralizar o todo a nossa volta. E pintar isso em palavras. Eu fiquei me lembrando de coisas da minha adolescência quase demasiado contemplativa. Sempre gostei de saborear as coisas lentamente, as pessoas, as paisagens, as comidas, as conversas. Apesar da minha ansiedade, o meu excesso de apego às vezes me faz parecer muito, demasiado calma. Ilusão. Fiquei imaginando o que aquele moço tentava pintar ali, o que ele sentia. De que cor sentia. E porque, estranhamente, as pessoas se apegam a esses registros do dia...

Eu via o céu se alaranjando. A brisa se despedindo e trazendo o geladinho do vento. As pessoas se agasalhavam. A luz acendeu. O céu era lilás. O rapaz continuava escrevendo. Juliano tinha se levantado do sono profundo dos carinhos e me retribuído... Fui flagraga por aquele moço. Ele também tinha me observado daquele jeito, quase. Sorrimos um para o outro. E eu deixei de ficar sem graça. TInha um violãozinho ali perto, convidando as pessoas a ficarem menos vigilantes. Ele se levantou. Passou do meu lado, sorriu. E acenou com o caderninho dele. Gostei do adeus.

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Ontem tive uma conversa com um amigo no Filial. Levei a Lúcia. Era uma noite muito especial porque iria encontrar pessoas queridas que não via há tempos. E de fato saiu tudo uma delícia. Ri bastante. Depois de algumas cervejas e muitas risadas e beijinhos e discussões semi-complexas sobre a vida... esse papo de bar de véspera de feriado.

Ouvi sobre esse meu espaço de escrever. Não imaginava que as pessoas se interessassem por ler isso aqui. Afinal, é o email que mando pra mim. Foi gostoso me sentir identificada nas crises pessoais. Saber que mais gente tem minhocas... aliás as minhas há bastante tempo tem ficado de férias e de vez em quando mandam telegramas, emails, telefonam para dizerem que não me esquecem... ok. E que as minhocas de todo mundo são amigas, companheiras, se visitam, se escrevem, saem na balada. Que gostoso ter essa percepção de que - certamente - até as minhocas tem as suas crises também.

Mas o fato é que a conversa de quase ir embora de ontem me fez pensar sobre o que eu tenho chamado de "crise". Lembro agora da história da palavra. Grega, significa dividir, analisar. Acho que é um jeito - bem humano - de desmontar a ordem - nada natural - do interior/exterior da gente. E com isso, rearrumar. Ora, o problema é justamente saber, ou intuir, onde colocar o que.

Tenho conversado muito com a Lúcia sobre isso. É gostoso saber que as pessoas conscientes fazem isso o tempo todo, sem necessariamente sofrer por isso. Aliás, sofrer é bom nesse sentido. Lembra a gente que estamos vivos. E não tem nada de sado-maso aqui não... é pura experimentação do sentir. A gente acha que conhece esse verbo. Nada.

Acabei de me dar conta que os passeios de fim de tarde na praça pra ver o por do sol não são apenas meus, nem os emails. Me senti quase uma egoísta por ter pensado assim. Ouvir as pessoas e as suas buscas, as suas (re)organizações de interior de casa me deixam mais suave, porosa. Admirada com a capacidade que cada um tem de se regenerar. Gerar-se a si mesmo. De olhos fechados, abertos, surdos, mudos... mancos.

Olho para o Dexter em cima do meu computador. Ele olha com esses óculos enormes jurando que sabe de alguma coisa. Dou risada dele. E de mim, por achar que meu laboratório é também, só meu.

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andar de olhos fechados

Exsite uma coisa na experiência do tempo que é a gente se surpreender com a gente mesmo. Eu tenho vivido isso. Essas pequenas - e profundas descobertas - (a)temporais...
Depois dos sopros frios do inverno na cicatriz... olhei pra ela, que parecia ainda tão doída e feia. Puxa, que alívio apertar o corte e olhar nos olhos dele. Olhar a sua pequenes, a sua fragilidade e o seu sentimento de estar deslocado no meu corpo.

Estava mesmo. Só havi lugar ali para algo que habita a minha vida há 3 anos... Olho sempre para o Juliano surpreendida com a possibilidade de que as coisas nunca são as mesmas - ainda bem - e que as transformações acontecem na alquimia mágica da convivência. Sempre me cobrei achando que ele dá muito mais para essa relação do que eu. O curioso é que recentemente peguei ele dizendo o mesmo pra mim. Ficamos ali, quietos, olhando nos olhos transfigurantes da alma apaixonada. Nada... Rimos. É sempre incrível quando você tem a chance de não julgar. De compreender e perceber, como uma brisa na fresta da janela, que as janelas nunca são iguais. As paisagens que elas abrem para o que a gente julga "estar lá fora" são sempre distintas, surpreendentes. E que sol mais bonito que invade a minha vida aqui dentro.

Sinto o coração esquentar. Percebo que esse amor que eu recebo, dado de graça, de alma, de corpo e de todas as ações que as pessoas julgariam piegas ou romanticazinhas ou qualquer coisa à lá etc e tal invade a vida. Olho para quem ele foi. Escuto todos os dias "você me faz a cada dia ter vontade de ser uma pessoa melhor" Entre palavras cortadas por suspiros, romances, beijos, carinhos, "eu te amo" infinitos... essa concretude da transformação que o amor opera. Testemunho isso. Sinto. Vejo. (des)Cubro.

Eu fui reler os útimos textos daqui. E achei interessante que o caminhar da dilatação perceptiva da gente se acelera, ofusca. Me dei conta que na vida, a gente sempre anda de olhos fechados, morrendo de medo de ver o que está além daquilo que podemos tocar, sentir. O desconhecido fica desconhecido porque o medo de aproximação é sempre maior que a curiosidade corajosa. Olhei pra ele agora há pouco cantando pra mim... que delícia saber que quando ele abriu os olhos, era eu que estava ali na frente... e que maravilha saber que eu posso abrir e fechar os meus. Tem sempre aquela mão carinhosa no meu rosto... e um sussurro baixinho... mas isso não posso contar...

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terça-feira, junho 05, 2007

soprando devagar no frio

Ontem voltei dirigindo mais uma vez pela Raposo. Era tarde e eu escutava músicas aleatórias. Nada particularmente especial, mas vinha sentindo, não pensando... milagres de fato acontecem...

sentia no coração essa brisa do inverno que corta o peito...

Sentia que o tempo tem esse efeito maturativo na gente, não curativo ou cicatrizante. A cicatriz fica. Sempre. Mas a gente olha pra ela de um jeito diferente. Mas sempre sente. Lembrei de muitas coisas no caminho, de conversas, de silêncios, de olhares e pensava que depois de muitos anos as coisas talvez só agora começassem a fazer sentido... A cicatriz dói com o frio do inverno. Lembra onde, quando e como começou tudo isso... Reler as anotações dá um olhar diferente do primeiro dia. O tal "olhar datado do historiador" muda de óculos... Um prenúncio de compreender, sem ter que aceitar.

Já é dolorido compreender, quanto mais aceitar. Tem doído, mas aquela dor de expulsão de pus... Ainda dói o peito, mas sinto, não penso, as coisas transformadas, intensas, honestas e mais próximas disso que a gente chama de coração.

Olho fora do carro. Vejo a luz do quarto apagada. Uma espera abraçada na cama. Quentinha, cheia de carinho, silêncio e todo amor do mundo pra mim. O que mais eu posso querer?

Deixar o frio soprar no peito, devagar, sentindo esse gelinho quente na alma.

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segunda-feira, junho 04, 2007

ver pelos olhos teus

Pela primeira vez... nesse tempo todo eu pude ver, aquel frestinha libertadora que anuncia o alívio. Pude te escutar... sem julgar. Ver a tua dor e sentir a minha... em silêncio para sentir a tua enfim.

Escutei, olhei, respirei. Vi ali esse menino quietinho sempre em busca de si mesmo, cheio de medos, incertezas. Precisando mostrar para si, para os outros. Escondendo a sua dor nesses braços e corpos estranhos sem amor. Sem vida. Puro desejo - de fuga - de vontade de se descobrir e perceber, depois de beijar e gozar nos cadáveres vampirescos de sexo e amor, que só você poderia fazer isso mesmo por si. Pena eu não ter imaginado esse desespero, a angústia e a ojeriza... Pena mesmo eu só ter visto essa sua ilusão quase tão convincente. Pena não ter sentido essa dor, o vazio.

Pena a gente não ter se desarmado antes. E pena você tê-la buscado. Pena eu ser tão insegura, quase como você. Pena eu não ter me perdido na vida e amado loucamente esses corpos solitários nas camas. Pena você não ter sinalizado antes, nem eu. Pena a gente ter tido tanto medo. Pena você ter mentido. Ter deixado a sua intuição de lado e se deixar envenenar por essa mulher... Pena eu ter sucumbido a uma carência e falsa esperança e querer ter voltado pra ele. Pena a gente ter se machucado tanto... Ter se defendido. Ter se escondido...


Pena eu ter lido tudo aquilo. Pena mesmo que quase tudo ali é meia-verdade. Pena eu não ter escutado o meu coração. Pena você escutar pouco o teu. Pena a gente ser tão cerebral. Pena eu ser tão exigente comigo, contigo. Pena não ter tido tempo para respirar e vomitar tantas vezes em ti. Pena a gente se omitir. Pena que eu tenha sido rancorosa. Pena você saber se comunicar tão mal quando fala do coração. Pena eu quase ter deixado te acreditar e querer a gente. Pena você ter quase deixado de dizer.

Pena que a gente caminhou sozinho tanto tempo. Pena que a gente se perdeu. Pena que a gente não controla a própria história. Pena eu ter que conviver com seus ex-amorecos esvaziados. Pena você me enxergar assim tão fraca. Pequena. Pena você ter saído sem mim. Pena você ter tomado tantas iniciativas vazias e doídas. Pena eu ter abandonado essa vontade de acreditar. Pena eu ter demorado a perceber quem você é realmente. Pena eu ter demorado a te entender. Pena mesmo eu ter agredido tanto.

Pena eu não ter conseguido perdoar. Pena você se esconder ainda mais. Pena que tudo isso não tenha começado antes. Pena a transformação demorar a chegar para que isso se transfigurasse nesse amor. Pena eu e você sermos oscilantes. Pena eu ter medo de te perder. Mas bom mesmo, é que eu não tenho o menor interesse em viver sem você. E melhor, é que você não tenha deixado de ser quem é.

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