sábado, março 29, 2008

Esperar. esperar... fico aqui cutucando a minha impaciência em esperar. Acho que não aprendi esse vocábulo na escola. Curioso como a vida me trouxe de presente isso aqui...

Estou aqui rascunhando as coisas e acho que pela primeira vez consegui me ver pelos olhos do outro. Vejo ele aqui entupido de papéis e tentando resolver coisas e falando e pedindo e chamando, e solicitando e me tirando do eixo... Uma das minhas habilidades consiste em fazer diversas coisas ao mesmo tempo agora. Ler, ouvir música, falar ao telefone, conversar com as pessoas e ainda rabiscar umas letras soltas. Impacto para quem exige concentração e reclama da dificuldade de.

Fico pensando em como registraria essas coisas sublimes do cotidiano. Ficam mágicas soltas no percurso louco da vida. Fazem tanto sentido aqui dentro. E sempre me pergunto se um dia eu teria a capacidade de fazer as pessoas entenderem essas epifanias do Nosso.

Ele fala sozinho, habitualmente. Na prática não. Eu sempre escuto, fico atenta. E de vez em quando respondo. Mas aí sou alertada do quanto eu desconcentro, interrompo. Chatices à parte fico aqui agora rindo por dentro prestando atenção nessa coisa dele toda contraditória.

Vejo ele falar comigo - da mania de me ensinar, instruir, exigir, explicar. Às vezes parece que eu tenho 5 anos. E quando meu feminismo reclama me lembro dessa mania dele de amar. E de cuidar. Engraçado como as pessoas tem seus códigos particulares pra fazer isso. E se atrevem ainda a dizer ao outro "você precisa se colocar no meu lugar e me entender, me dar crédito"... talvez eu tenha feito o mesmo...

E nessas contradições mais infantis, de implicar, aplicar, silenciar, angustiar, sem esperar, cutucar as mesmas feridinhas aqui e ali, há essas epifanias na esquina. Hoje, ontem. De repente amanhã tem outra. E eu fico muitas vezes me fazendo de difícil pra ver ele se aproximar de novo, mais, mais, mais, mais. E mesmo com outras partes minhas em frangalhos, olho pra isso e me delicio com esse amor todo.

O resto, é só esperar...

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sexta-feira, março 28, 2008

Fiquei saboreando o sol agora na janela. Estou aqui, hoje com o dia brilhando, e mais, talvez de dentro pra fora...

Ontem eu saí e voltei tarde. Antes, me atropelei na escada de casa quase fugida de mim mesma... e dei de cara com ele. acordei hoje cedo com essa sensação estranha de me querer mais e longe e perto...

Engraçado como a gente se humaniza. Ontem conversando com uma amiga me perguntava se eu era a mejera (não domada) que só via o lado ruim das coisas, paranóica, crica, moralista. Falo isso porque, por alguns momentos, confesso, quase acreditei no retrato da Srta T Gray que faziam de mim. Chorei os tubos... Quase aceitar isso me provocou uma catarse de pensamentos sentidos aqui no fundo. Tentei... olhei bem pra mim ontem. Não vi essa mulher.

Mas a gente se humaniza. Voltei pra casa e depois de desaguar mais um pouco comecei a pensar nas coisas que tenho estudado. Imaginei se todos os teóricos da antropologia, os pós-modernos, viveram essas alteridades na pele, numa pesquisa de campo mais afundada e egocentrada. Se as teorias de Mauss e Dumond sobre o indivíduo permitiam esses mergulhos no sentir, no latejar. Fiquei pensando nas teorias de gênero, nas discussões feministas, nos debates políticos, legais, sobre casamento, divórcio, aborto, maternidade. Escutei as mulheres ao meu redor falando. Enfim... adormeci no sofá sem continuar prestando atenção na conversa à lá Nash que levava...

Acordei cedíssimo, com as pontinhas de sol pipocando na cortina do quarto, dançando esse ventinho gostoso da manhã. Fiquei olhando pra ela, sem sono. Olhei pro lado e vi tanta história nessa cama. Nossa. Dele. Minha. Fiquei ali acompanhando ele respirar, dormindinho ainda, me puxando pra perto, murmurando qualquer coisa em qualquer língua, num dialeto que só eu entendo. E essa dor toda no peito parecia balançar aqui dentro. Nem sabia mais onde doía - espalhou.

Estou aqui tentando me deixar no sol. Fico agradecendo silenciosamente pelos amigos. A Lúcia e a Marcia, definitivamente são as minhas irmãs mais velhas. Essas mulheres que me mostram mais de mim. Me revelam essas sutilezas das múltiplas - e parciais - alteridades. Outro abraço, um suco de maracujá pra acalmar esse aperto. E uma soneca ao lado da cortina, que me leva pra lá e pra cá.

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quinta-feira, março 27, 2008

o bolero de ravel

termino a noite escutando essa música e observando solenidades onde não há... me perguntando porque eu gosto tanto de ritualizar a vida. Pior, achando que as pessoas tem os mesmos ritos que eu.

e de resto. resta pouco aqui pra continuar a dizer. Nem trilha sonora do dia, da noite. Nem meus ritos de início e fim. Estou no meio. Mas não sei do que. Nem sei que meio é esse para se viver assim. E se ficar dividida entre o sentir e o pensar ou entre a negação desses dois for outro rito de passagem para além de mim. Para passar além da dor, fico. Não sei mais. Não consigo mais. Não quero ir além desse mais. é demais aqui... fico. bebo. espero. observo. e silencio...

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Fiquei sem tempo pra escrever pra mim... Meus emails tem sido curtos. Vagos. Vazios daquilo que eu mais gosto em mim... deixei na bagagem?

É curioso como o silêncio traz outras coisas aqui pra dentro. Recoloca. Desde que roubaram meu rádio do carro há quase um mês eu perdi aquelas pequenas epifanias do caminho. Da música tocando na hora 11 ou 22 alguma coisa. As árvores ficaram ali, no mesmo lugar. As folhas do outono apareceram ainda timidamente. Tudo é igual ali. Menos o som. E fico me perguntando se eu perdi mais alguma coisa nesse fim de musicalidade.

Tenho conversado mais comigo. Uma dessas conversas que se tem com irmão mais velho. Escuto - o peito também... - e deixo a razão semi-iluminada-enciclopedista-pré-napoleônica ditar as regras das decisões finais. No dia em que saí da escola chateada um sujeito que vende flores no farol que sempre me cumprimenta me ofereceu uma de graça. Era uma rosa amarela. Fiquei pensando como eu ia aceitar ou não essa epifania. Ganhei chocolates aos montes dos meus alunos e, apesar de todo incômodo da Páscoa com as suas formalidades religiosas e blablabla (que minha vó não me leia!) quase hipócritas (Jesus, Moisés e tal estão, certamente, em outra!) fui sensibilizada por um sentimento de renovação de mim.

Dito de outro modo. Vivo minha quaresma sentenciosa e na quietude desses barulhos de mim. Nem sei bem quando ela começou. E nem sei de que modo - e se mesmo ela pode - terminar. Há dias estou chocolatando coisas em mim. Estranhamente já sei qual parte minha foi cumprir rituais de auto-punição e redenção. Nada públicos, acreditem. O mais surpreendente foi o estranhamento da parte que ficou. Ah! sim! Por favor nada de tapinha nas costas com um gesto de quase-coitadinha-da-sensível-imatura... nem me dizer das estranhas-coincidências-dessa-vida-estranha... como por exemplo tocar toda essas músicas na hora em que escrevo sobre isso...

O mais estranho dessas feridas de mim é que quanto mais eu quero me esconder mais eu me exponho. Honestamente, não creio que há qualquer bravura nisso. Ao contrário. Sendo fraca, me enfraqueço. Daí todas as minhas promessas de whisky-blog-chocolate de não ser mais assim. De enterrar naquele sepulcro de pedra essa vergonha de si. De mim. Esse meu cansaço...

E Fernando Pessoa já dizia tudo isso... Nem sei porque insisti em provar que a sua desilusão é apenas literária. Não há nada de literário em sentir desse jeito. Muito menos de temer o tanto que se sente. Mais ainda... não dá para (d)escrever essa tentativa de se pascoalizar... O céu ainda não escureceu. As feridas ainda estão abertas e nenhum sinal de clemência de ninguém ao redor. Sequer os ladrões. devem ter sido roubados de si mesmos... ou de mim...




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Paris ... em 2 dias...

Estou aqui tarde tomando meu trago, para desgosto de alguns. Acordo cedo amanhã mas a lembrança do chopp há duas semanas com o Fabio me ajudarão mais a dormir do que as minhocas tomando whisky...

A dor insiste. Toma conta desse seu pedaço de carne em movimento chamado coração. Minhas promessas de não sentir. Não chorar. Não desistir. Nem deixar. Isso tudo passa turbilhonando a cabeça num golpe duro de dentro pra fora. Voltei dirigindo do cinema ensurdecendo essasm conversas dentro de mim. Há muitos nomes para essa dor: moralismo, paranóia, minhocas e outros nomes menos complicados espalhados nas prateleiras dos nossos desafios.

Olho pra mim mesma naquele espelho turvo. E pela primeira vez vi outra imagem. Em Paris. Uma outra personagem. Dias atrás eu conversava com a Estelinha sobre personagens ... me dei conta de que o meu parece ser mais detestável do que o dela. Fico aqui rodeando o copo. Olhando as coisas em volta da minha almofada. Meu espaço contruído de dentro pra fora quase invadindo territórios proibidos. Há portas de armários nesse quarto que me trazem mais dor. Outras que me tiram daqui e me levam embora de mim. E as gavetas...Meu personagem foi construído nesse quarto. Durante alguns dias de leituras subversivas. Que me custam até hoje...

E ainda há quem diga que há construção aqui... e me perco nesses escombros de mim. deixados de lado por esse sentir que sufoca. E depois me joga. Que quebra um confiar no outro, na vida. Em si. E me sinto só... como se quisesse andar pelas ruas daquela cidade e ver a imagem de mim e dessa personagem neurótica, que não relaxa, que se exige, que se machuca, dançando no dia da música, acompanhada de seu personagem favorito. O amor.

Olho de novo para as portas dos armários. Me lembro de pequena quando, para dormir, fechava todas as portas dos guarda-roupas para o Monstro do Armário não me pegar. Engraçado como algumas fantasias ainda me assombram. E pior. Me pegaram. Desavisada. Ensimesmada. Só que hoje eu prometo não chorar mais.

Fiquei com saudade da Márcia, da Lúcia da escola, apesar da gente se ver todo dia. Senti falta do Vinícius. Max. Do Jedi - e de todas as risadas que ele traz. Do Pico, do meu afilhado... do Rogério. Do chopp com o Fábio que me mostrou essa personagem ali de Paris, do outro lado, bem diferente. Pensei muito nos meus irmãos. Em alguns alunos - e evidentemente no meu pai - que me subtraíam dessas personas de dentro.

De mim? Nem sei do que sentir falta aqui. Nem sei se há do que ter saudade. Me vejo caminhando ali longe. De costas... Fico pensando qual outro filme vai me trazer de volta. E me deixar de lembrança essa suavidade no peito. Enquanto isso eu fico aqui. Esperando a luz acender para eu poder ir...

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terça-feira, março 04, 2008

fronteiras

Há um mistério na fronteira do sonho com o real... quando ele transpõe essa fronteira e atinge você naquilo que tem de mais caro. Mais seu.

Quero silenciar esses sonhos de lá. Que me mostram quem já foi e o que fez. E que ainda me fere na alma. Me trespassa com aquela indiferença que sabe fazer tão bem. E que usa tão bem aquelas que passaram pela sua vida.

Quero deixar isso sair de mim. Esquecer e dormir um sono sem medo. Sem dor. Sem imagens , sem atos que doem. Que matam a gente por dentro. Quero silenciar esse grito e essa revolta aqui dentro. Quero matar isso antes que me corroa e me deixe só.

Há um lodo escuro que enoja, que distancia... que me cega e me afasta. E me faz mergulhar num sentir tão apertado. Vontade de sair por aí... libertando esse ar contaminante que me deixa respirando esse aperto. Essa dor. Esse amargo de não aceitar e não perdoar. Não entender. E me sentir tão mais só. Em mim. No meu pedestal - dizem - que abandona o coração.

Vontade de sair de barco e apagar cadernos e cadernos de mágoa... fazendo barquinhos pro mar. E deixar. Sem levar. E calar.

Ir pra dentro das fronteiras de mim sem deixar que a fúria dessa incerteza de sonhos e medos e pavor me tome. Quero ficar aqui, quietinha sem essa dor na alma. Apagar a memória de ver, de saber, sentir, ouvir... de duvidar.

Me esquecer nessas fronteiras de mim. Sem dono. Sem espaço e limite. Sem dor e lembrança. Na fantasia de poder continuar querendo. E viver isso sem temer o que não se sabe e fugir do que já se soube. E como dizer disso tudo sem revirar-me em dor? Em incompreensão e revolta?

Deixando de sonhar. E talvez nunca mais dormir. Perdendo a inocência colhida nos filmes de Hollywood, com beijo e trilha sonora. E ver que a luz do cinema não se acenda mais. E que esse filme seja longo, sem intervalos. Só a espera... E o silêncio da sala daqui de dentro se esvaziando... sem mais eu mesma pra me deixar doer... Cansaço...

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