terça-feira, maio 27, 2008

A pior escolha é entre o bom e o ótimo...

Tenho vivido isso diariamente. Um emprego que gosto, mas não é meu projeto de vida. Tenho tentado estudar, ler, aprofundar a pesquisa e me vejo num mato sem cachorro... Tenho essas dores no peito, uma coisinha incômoda chamada angústia, cuja melhor amiga é a ansiedade. Tenho pensado muito. Feito muito, mas pouco mesmo daquilo que quero viver pra fazer.

Esses dias recebi uma notícia que me deu uma felicidade imensa, mas misturada a um aperto agudo... inveja? Não sei. Doeu. Me senti parada no tempo, presa aos meus próprios sonhos e os meus fantasmas assistindo isso lambendo os dedos. Quero ir. Sair, deixar tudo. E não tenho sabido como... E me levo, me angustio, não respiro, não durmo, não faço. Dói. E paro. No tempo, no peito, no corpo. Entorpeço pensando na prisão. Na equação sem resposta desse viver.

E me inquieto e fico. Esperando sei lá quem fazer sei lá o que... muitos medos de uma frustração sem volta na vida... pra onde eu fui mesmo? O que foi que eu deixei ali atrás de mim? Querer é tão penoso assim?

Não sei mais escolher, nem sei por onde voltar a agir... Parei. Senti. Aperto. E fiquei.

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quinta-feira, maio 22, 2008

Meus novos Indiana Jones


Há 19 anos atrás meu pai me levou para assistir no cinema Indiana Jones e a última Cruzada. Desde sei lá quando ele me mostrou o mundo dos heróis. Coisa engraçada que uma menina como eu fosse incentivada a ver os filmes de ação, guerra e toda a sorte de aventuras e tiroteios.

Me lembro da primeira vez que assisti Os caçadores da Arca Perdida. Foi na praia com o meu avô e ele. Foi um dia desses em que minha mãe e minha vó queriam dar uma volta e na época, recém lançado o video-cassete, ele alugou o filme pra mim dizendo "Esse filme você vai gostar de ver!". Ainda me lembro da minha mãe dizendo pra ele baixinho se o filme não era muito "pesado" pra mim...

Lembro bem que a gente se divertiu muito e na semana seguinte ele alugou O templo da perdição. Eu descobri. Estava completamente apaixonada pelo Indiana. Mais ainda quando relacionei que ele era também meu outro herói, Han Solo. Engraçado como essas coisas povoam as fantasias da gente. Eu fiquei anos recortando reportagens de jornal com ele e lendo tudo o que podia sobre arqueologia. Não posso dizer que não foi uma influência na minha escolha em ser historiadora... Mas mais que isso, essa influência meio mágica dos contos de fada do meu pai.

A gente nunca foi assim muito sensível um com o outro. Acho que perdemos isso quando viemos a São Paulo, deixando a família, as coisas boas, tudo quase, em Porto Alegre. Ele sempre foi um pai muito amoroso, desses que adorava fazer carinho, brincar e dar presentinhos. Éramos muito próximos. Mas isso se perdeu nessa vinda a São Paulo, e acho que ficamos até hoje reinventando esse jeito de se amar.

"A Thais é a minha companheira de televisão", ele dizia aos amigos adultos e eu me orgulhava muito de ter esse estatuto tão especial, já que a minha mãe não curtia esses monstrinhos e mundos de faz de conta. Adorava naves espaciais e cheguei a cogitar de ser astrônoma ou alguma outra coisa que me levasse ao espaço. Acho que isso ficou pro meu irmão...

Mas voltando ao Indiana... Me lembro bem do dia em que ele disse pra minha mãe "hoje vou levar a tati pra ver o Indiana Jones comigo". Vibrei! Adorei a idéia de ver isso em tela grande e ficar cantarolando a musiquinha clássica durante dias (incluindo o caminho até o cinema). O mais incrível de ver esses filmes com o meu pai é que ele entrava no espírito da brincadeira, todas as perseguições de carro, tiros, escapadas fantásticas e todas as mentiras (im)possíveis que o cinema é capaz de criar arrancavam risadas dele! Os comentários, as conversas que ele tinha com os personagens e as interferências nos efeitos especiais... tudo isso me deixava ainda mais feliz de poder ver um filme desse jeito, de poder estar próxima dele apesar de toda a dor que ele carregava por ter vindo pra São Paulo. Acho que nesses momentos de cumplicidade com o universo dos heróis a gente dizia muita coisa um pro outro sem saber... enfim.

Tenho saudades de ver esses filmes com ele. Há muitos momentos cinematográficos que marcaram. Sou capaz de lembrar até os comentários dele... as cenas que ele gosta...
Ontem foi a minha vez de tentar retribuir os favores... Convidei o grande para assistir a pré-estréia do Indiana Jones comigo. Pouco ligava em saber quem ia comigo. Éramos nós dois com certeza. Havia um ciclo importante a se fechar nisso. Fiz questão de sentar do lado dele depois, e comentar e rir e gritar e aplaudir na pré-estréia ao lado do meu pai, como os verdadeiros fãs sabem fazer. Foi um jeito de voltar há 19 anos atrás assistindo a Última Cruzada. E mais, de dizer, desse nosso jeito desajeitado que ele é o meu grande companheiro de televisão e de muitas outras coisas.

Na semana passada foi aniversário dele. E não hesitei em gastar um dinheirinho comprando um presente bacana. Fomos depois ao show do Dominguinhos, uma figura especial que toca as músicas do nordeste, com as quais eu cresci ouvindo. Houve uma identidade ali, silenciosa, que me emocionou. Por mais que esse mundo nordestino esteja distante de mim na prática, no meu dia-a-dia, ele está aqui dentro. Eu sabia as letras das músicas, as melodias.

Fiquei olhando em volta. A minha família toda ao redor. Tanta história ali. Tanta coisa atravessada juntos. Essa cumplicidade que fortaleceu a gente e fez tantas outras coisas calarem em nome desse amor... Me lembrei muito das nossas idas ao aeroporto de Porto Alegre ou à rodoviária. Houve uma ocasião que pedi à minha mãe que comprasse sapatinhos novos, como os de boneca. Mas com verniz. Um rosa e um preto. Com aquelas fivelinhas e lacinhos. Pedi para ir ao aeroporto com ela só pra mostrar ao meu pai os meus sapatos. E nesse dia quando ele chegou de mala e com aquela cara de cansado cantava pra gente uma das músicas do Dominguinhos

Estou de volta pro meu aconchego
Trazendo na mala bastante saudade
Querendo
Um sorriso sincero, um abraço,
Para aliviar meu cansaço
E toda essa minha vontade
Que bom,
Poder tá contigo de novo,
Roçando o teu corpo e beijando você,
Prá mim tu és a estrela mais linda
Seus olhos me prendem, fascinam,
A paz que eu gosto de ter.
É duro, ficar sem você
Vez em quando
Parece que falta um pedaço de mim
Me alegro na hora de regressar
Parece que eu vou mergulhar
Na felicidade sem fim



E isso se repetiu muitas vezes na minha infância até a gente vir pra cá. Na novela do Roque Santeiro, nas músicas do Luis Gonzaga. No chapéu de couro, nos filmes e na literatura de cordel que ele sempre lia. Nos repentes que ele criava pra entreter a gente e fazer a minha mãe rir... Nessas duas últimas semanas tanta coisa do meu pai voltou assim, de tudo e inteiro dentro de mim. Deu saudade. Uma admiração que se ampliou por dentro do peito, numa onda de gratidão por tudo o que eu sou hoje, pelo que tenho, pelas coisas que fascinam. Pelo estudar, pelo batalhar, pelo rir e brincar e ser espontânea nas minhas demonstrações, apesar de ele ter ficado depois tão mais fechado.

Vi esse homem desfilar as suas histórias ontem pra mim. E me emocionei de poder fazer parte desse filme. E nele, ser uma personagem importante, cheia de coisas ainda por fazer e contar. Fiquei olhando ele no show e sentindo essa alegria desajeitada de querer retribuir e dizer tantas coisas... Me dei conta que essa mistura toda que eu sou e essa idiossincrasia de personalidade se devem, e muito, a essa presença de Indiana que ele é... uma mistura de tantas coisas e cheia de sutilezas que eu ainda aprendo a perceber e a entender. Hoje, 19 anos depois e mais 29 depois... vi tantos indianas na minha vida se passarem, tantas trilhas sonoras, efeitos especiais, aventuras, acidentes de carro, brigas, incêndios, e muitas outras corridas... Não encontrei essa arqueologia dos filmes, mas achei um caminho meu, profissional, povoado de histórias, minhas e dos outros. Achei as minhas paixões, naves espaciais, ainda que sem sair desse planeta. Não participai das lutas entre o bem e o mal e não viajei à Europa ou ao Egito para encontrar algum tesouro perdido ou fazer a grande descoberta científica do século. Também não saltei de aviões e botes salva-vidas em cachoeiras e penhascos... Mas tenho muita coisa nessa maleta pequena do meu coração. É bom ter um aconchego pra voltar. Aqui dentro. Nessa mistura de sonho com memórias e os "momentos preciosos" que a minha mãe sempre sinalizou onde procurar.

Todo esse fantástico, papai, obrigada. E sinto saudades da gente... No sonho e na realidade. E ansiando pelas nossas aventuras nessa vida...

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sexta-feira, maio 16, 2008

só...


Tenho acompanhado um blog recentemente que tem me fascinado muito. Não só pelo texto, mas pela transparência dele. É uma leitura cristalina de um sentir muito profundo. Tímido. E acho que ele tem traduzido bem as coisas que vez em quando eu me pego sentindo... Mais que isso. As imagens reluzem muito do que se passa aqui...


Tenho andado nessa escuridão achando que enxergo alguma coisa? Será que todo o caminho que eu percorri está completamente vazio? Será que eu não vejo nada? E fui assolada por essa dor, esse pulsar amargo, que adormece, me esvazia, me encolhe... Olhei em volta e só via a mim mesma. Só. Sem esperança de esperar. Sem nada. Nem um instante de respirar, só esse aperto.

Pensei em sair correndo. Pra qualquer lugar fora daqui. Longe desse sonho. Desse querer viver. Não sabia mais nada. Não (ha)via mais nada. Em canto nenhum. Um apartamento vazio. Um coração em abandono. Uma jogada de toalha aqui e ali que deixam esse gosto amargo nas palavras.

Eu olhei as ruas. As pessoas. Os bares. Gente aqui e ali. Muita fumaça. Muitos olhos perdidos tentando encontrar sei lá o que. E essa angústia no peito. Disse pra Lúcia que eu poderia escrever pra Marie Claire na sessão "eu, leitora". Nunca achei que fosse viver essas dores de alma assim tão fundas. Deu pra se ter uma idéia do que é um desesperar. Um deixar-se...

Fico aqui nesse ir e vir pra aqui e ali. Tem fim? Ou viver é agonizar? Fiquei perguntando qual é a cor do amor...

Espero. Espero. Espero. Espero. Espero. Espero. Espero. Espero mais. E temo mais. E sinto mais. Espero. E deixo. Onde? Com quem? Onde foi que eu me larguei? Por que não posso compartilhar? Só pedir? Querer? Espero. Só.

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quinta-feira, maio 08, 2008


Essa é a Lina em mais um dos seus momentos de manha e charme em casa... Dengo puro!

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terça-feira, maio 06, 2008

Caminhando com a discrição habitual de sempre eu costumo - com os queridos - a fazer piadas nas situações mais tensas. Tem sido tenso no trabalho ultimamente. Não pelo trabalho em si, mas pelas emoções que ele envolve. Lidar com pessoas é um desafio maior do que a minha capacidade de aprender. Não é homeopático.

Nesse ir e vir de piadas e numa tentativa quase consciente de transformar os vulcões internos por vezes eu esbarro num limite. Há coisas que por mais que a gente queira mostrar e demonstrar e modificar... se esbarra num limite de compreensão do outro. E no limite da nossa própria prepotência em se querer que as coisas sejam assim. Do nosso jeito.

Esse problema da "alteridade" não reside somente nos planos acadêmicos. Fico com a impressão que, num certo sentido, a gente é outro até pra gente mesmo. E como é difícil administrar essa falta de entendimento. Ou ainda, esse desejo de que não exista limites.

Ainda me frustro. Comigo. Com os outros. Há um querer aqui que extrapola a coisa toda poética do livre arbítrio. Como é arrogante essa vontade de controlar. E mais, como é ansiosa essa vontade de se fazer entender.

Outro dia eu perguntava a um amigo se ele tinha achado esses últimos textos tristes. Ele riu. "Triste não, quase desesperado. Ansioso." Há uma coisa adolescente? Ou será que essa ansiedade ancestral, essa pressa de querer ver as coisas acontecerem são reflexos de um medo de perder... tudo.

Tenho buscado respirar aqui dentro. Olhar em volta. Ser mais discreta nessas trajetórias de trabalho-casa-pesquisa. Menos intensa... ou menos apressada? Me lembro do mar... e das frases soltas do Fernando Pessoa no Livro do Desassossego. Sempre fico me lembrando do motivo de ter dado isso ao Vinícius.

Que cor é mesmo o sentir?

Vontade de caminhar na praia de novo e silenciar. Fiquei hoje cedo brincando com a Lina de esconde-esconde... Não sei quem esconde o que de quem. Mas é divertido pensar que nesse quase-desespero eu tenho tanta gente querida em volta. E que todo esse carinho me deixa menos medrosa. Mais inteira. Mais minha.

Liguei há pouco para minha vó em Porto Alegre. Deu saudade desse jeito ansioso e feliz dela. Tem 90 anos. Fico imaginando que se eu chegar aos 60 com essa disposição já me dou por satisfeita. Ela lida bem com essa ansiedade e essa tentativa de ser discreta na vida. Ri-se mas com maestria de quem convive em trégua com a dor e a alegria. Sempre que me vejo assim eu me lembro dela. O sentir dela é colorido, furta-cor. Prisma no peito.

E peço trégua pra algumas cores...

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domingo, maio 04, 2008

Fim de feriado... Alternâncias de sol e chuva. Dentro e fora de mim. Saí de um nublado anunciando tempestades para depois sentir o sol quente nos dias de frio. Dentro e fora.
Vivi intensamente esses dias sem a família e com ela. Tive vontade de ficar só. Comigo. E ontem, caminhando na beira do mar pude reencontrar nessa solidão voluntária esse silêncio que eu precisava.

Espremi os pés na areia. Fazia um dia lindo, com essa luz difusa de quase-inverno. Eu sempre gostei do pôr-do-sol. Sempre fiz de tudo pra poder assistir esses pequenos espetáculos - gratuitos - que a natureza dá. Eu sinto que é o único instante em que consigo silenciar.

Faz tempo que eu venho buscando o mar... Gostei de pegar a estrada, ver a paisagem naquelas olhadelas de canto pra não bater o carro. Foi bom. Fiquei com os meus sogros e os meus cunhados. Foram momentos bem risonhos, tranquilos.

Fui passear no fim do dia e buscar esse silêncio. Fiquei me lembrando nesse passeio do meu tio que sempre caminhava comigo na praia. Tenho tido saudades dele. Fiquei com o Juliano ali na beira do mar. Sentamos nos chinelos e observamos todas as cores que o céul alternava. Uma por uma. Do azul e do laranja um mundo de rosados, dourados. Contei pra ele de uma das passagens da Ilíada em que a deusa Aurora, de dedos róseos, passava no céu antes e depois do sol desfilar com a sua carruagem. Falei de outras coisas que os povos antigos falavam sobre o céu, o sol e essas coisas da natureza. Acho que um dos motivos de ter estudado História foi poder estender dentro de mim esse universo mágico da mitologia. Simples. Inteiro.

Saímos da praia quando tudo se tornava um azul escuro, quase negro, cheio de manchas brancas das ondas. Hoje, na praça, vimos as mesmas nuanças. Sem o mar. Sinto falta do barulhinho da água. Mas tenho me contentado em observar as cores com mais antenção que o costume. No asfalto da estrada um caminho cheio de brilhos do sol. Fiquei tão impressionada que comprei um prisma para pôr na janela da sala. Todo o apartamento bate tanto sol que eu preciso explorar mais essas poesias coloridas do dia.

E mesmo tendo saído esse tantinho eu tenho gostado de ficar em casa. Curtir a minha gata, o meu cantinho. O Nosso. Tem sido bom. Eu tenho aproveitado esses momentos mais meus. Hoje, acompanhando o blog My corner, me identifiquei com essa vontade de ficar mais em mim. Isso vem acontecendo há tempos. E não é tristeza. É uma outra vontade. De fazer carinho no coração e nesse cinzento que dá um trabalho...

Amanhã a maratona recomeça... Uma semana agitada entre notas, reuniões e toda sorte de solicitações aqui e ali. E pra isso eu levo marcado nos olhos esses dois fins de tarde. Cheio de cores e de um tranquilizar... só... silencioso...

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sexta-feira, maio 02, 2008

encantando-me

Acho que não há mistério no encantar-se. Ontem nesse feriado chuvoso e frio aqui me deixei encantar por uma série de coisas que me rodeiam. Foi aniversário de casamento dos meus pais. 32 anos. Bem vividos.

Horas antes eu tinha assistido Encantada, um filme novo cheio de citações bem-humoradas a Walt Disney e todos aqueles bichinhos que cantam, dançam e as pessoas lindas que vivem felizes para sempre.

Essa tem sido uma reflexão pra mim nos últimos anos. Haja terapia para se descobrir que apesar, ainda é possível ser feliz. Acho que não para sempre, mas quem sabe a maior parte do tempo. Quase para sempre.

Obviamente eu fiquei emocionada com o filme. Eu gosto de contos de fada e desse universo quase-real-sonhado-de-criança que alguém que sonha e escreve e fala muito bem nos deixa de presente. Ora, que mal há nesse sonho acordado? Uma vez ouvi de um amigo que eu era sonhadora demais, que corria o risco de viver alienada. Fico pensando hoje que a gente tem a chance de escolher de qual mundo se alienar. Eu aind prefiro me alienar da dor, quando ela é funda demais. E faço isso de um jeito suave, bem meu. Nesse insistir de acreditar, de querer, de achar que vai dar certo.

Há três culpados por essa minha crença de contos de fada. O cinema e a literatura, por certo. A outra é minha mãe. Ela sempre gostou de brincar de bonecas e de todas essas coisas mimosas que as princesas desse mundo encantado gostam. Nisso eu sempre fui muito menos "feminina" que ela. Me lembro de criança que eu adorava todas as molecagens dos meninos. As brincadeiras eram mais divertidas, serelepes e tinham uma dose de emoção e adrenalina. Aventura pura. A gente nunca se "topou" muito nessa diferença. Mas posso dizer que minha mãe soube cultivar em mim esse universo de mimos que vi desabrochar mais tarde.

Muitas vezes me senti sozinha demais por acreditar no amor, no romantismo (inclusive o alemão!) e nessas coisas de cantar de deixar bilhetes e dizer eu te amo de cantar e dançar na rua. Eu fiz - e faço tudo isso. Me lembro até hoje da noite que o Juliano me convidou para valsar na frente do supermercado. Eram quase dez da noite. Foi bem contos de fada. Poderíamos repetir de novo... De fato eu sempre cultivei isso nas minhas relações, lembrando do aviso do Fernando Pessoa em que todas as cartas de amor são ridículas. E de como gosto de ser chamada de ridícula nessa pseudo-pieguice-amorosa que me deixa feliz por dentro.

Ontem vendo o filme pude ter quase (repito: quase) a dimensão do que é ser vista assim pelas pessoas hoje em que tudo é tão fraturado e picotado (por dentro e por fora)... e a criatividade do amar deixou espaço para o repetir do frustrar(-se). Há descrença. Medo. Um pavor do outro e de se deixar entregar... Um medo do desapego. Acumular hoje não cabe mais aqui dentro do peito. Só na superfície. Da pele mesmo quando a gente fala de "química", de corpos, de transas, de coisas. E o sentir fica circunscrito nessa superficialidade-de-corpo-a-corpo-e-saliva.

Bem longe de ser esse príncipe dos livros, o personagem do quase-príncipe-encantado tinha vontade de viver um romance (no sentido belo do termo) e ao mesmo tempo não sabia se encantar mais com nada. Acho que é esse o serviço do outro na vida da gente. Permitir que haja encantar-se. A princesa por outro lado nunca tinha vivido a dor. Há amor sem dor? Não... e não sei se seria bom... a dor de verdade é o melhor árbitro no nosso livre arbítrio. Ela sinaliza. Não julga. Mas mostra. Informa. Esclarece. Há aqueles que tem a coragem de olhar nos olhos fundos dela e desafiá-la. Há outros que se entorpecem de explicações e alienações que corroem, matam aos poucos.

Ontem fiquei olhando para os meus pais aqui em casa. Tomamos vinho, rimos, falamos de tudo e de nada. Meus irmãos estavam aqui também. Foi bom ver que o apesar, a dor nos deixou escolher o melhor de nós. Essa insistência-perseverança nos "momentos preciosos" que a minha mãe tanto falava. Dei de presente o Castelo de Vidro pra eles. Um confirmar de tudo isso que ela nos deixou. Do seu conto de fadas e das batalhas contra os monstros do mal que ela fazia tão bem...

Dormi com essa história no coração...lembrando do filme, dos muitos outros filmes e livros que (re)criei dentro e fora de mim. Dos meus personagens que cantam, dançam, escrevem e vivem poesia. Dos meus príncipes encantados e das bruxas do mal adormecidas. Das fadas, das madrinhas e dos padrinhos. Dos espelhos, dos lobos, dos bichinhos que falam e dos vestidos de cortina. Dos meus sonhos. Do meu viver. Do meu sentir. E olhei pro jeito que o Juliano vinha vivendo esse encantar-se(me)... Ainda bem. Apesar.

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