quinta-feira, junho 26, 2008

Reformas e pó. Combinação para um começo de férias bem inusitado. Começamos uma reforma no apartamento. Engraçado porque faz uma semana que a Lina foi embora. E literalmente a casa virou de pernas pro ar. Entretanto eu fiquei com a sensação de que faz mais tempo. Doeu muito e ainda me pego dando umas espiadinhas na vila aqui do lado pra ver se eu "trombo" com ela.

Passei o domingo tirando as coisas do lugar e arrastando móveis e subindo escadas e banquetas. Acho que trabalhei umas 7 horas nesse vai e vem. Achei graça porque, afinal, domingo é dia de descanso. E consegui descansar a minha cabeça mais assim do que atirada na praça por do sol com o chimarrão.

Suei, reclamei. Dormi exausta. Acordei cedo dia seguinte com o prenúncio de um dia frio, agitado e cheio de correrias. Minha última semana de trabalho antes das férias foram bem emocionantes.

Fiquei imaginando aquele monte de entulhos dentro de mim. A gente costuma demolir as coisas - quando não demolem pra gente - e nem sempre joga fora o entulho caído. Olhei a minha cozinha no chão e me dei conta de um apego sutil ali. Lembrei das coisas boas que aconteceram naquele lugar. Das tristes. Das discussões com o Juliano, enfim. Das minhas horas de café da manhã sozinha. Em silêncio. Dos pensamentos, pesares, saudades, alegrias. Muita coisa ali desde os 2 anos que viemos pra cá. Pensei em fotografar mesmo e registrar o lance do processo... mas não.

Olhei a casa toda desarrumada e achei graça de gostar dessa bagunça. Hoje cedo fiquei aqui cozinhando essas coisas de memória, saudades. De repente percebi que as coisas são mesmo bem transitórias. Nada é de fato nosso. Nem o corpo.

Nas minhas tomadas de consciência (vamos dizer assim...)nesse universo ocidental de academia, trabalho e consumo me peguei ontem numa rotina engraçada. Trabalhei, saí pra correr e malhar e depois passei na Cobasi pra comprar remédios e comida para os gatos. Humanizada. Curti isso. Ter quem me espere cheio de dengos - além do Juliano evidentemente, sujeito a alterações de trabalho e humor.

Quando chegava em casa me lembrei da Lina, do tempo que ela passou comigo e tudo o mais. Abro a garagem e vejo o carro da Fran, dona dela, saindo da esquina. Apertou o peito aqui dentro. Entro em casa e vejo a Filó. Olhei aquela filhotinha carinhosa, sapeca agarrada em mim. As coisas nos são emprestadas mesmo. E essa mistura toda de reforma, destruição, construção, desapego e quero mais me deixaram hoje meio amortecida, sem saber direito onde e como ir, fazendo o que... com vontade de deixar passar... esperar e ver.

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quarta-feira, junho 18, 2008

Depois de um dia de luto... Vamos em frente. Acordei meio zonza ainda e virada do estômago. Mal saí da cama... Acordei e quase me pego chamando a Lina de volta pra cama. Respirei. Chorei miudinha mais um bocado deitada. Veio a Filó. Pequeninha e pretinha. Enroscada em mim nos cabelos. Me comovi com isso e vim pra sala depois. Abri a janela da sala e procurei a Lina na rua... me senti tolinha. Trabalhei o de sempre. Ajeitei as coisas e depois tomei coragem.

Queria muito ver a Fran hoje. E a Lina. Toquei o interfone da vila e meio tremendo por dentro para não chorar de novo... Ela abriu a porta com um super sorriso. Nos abraçamos. Disse a ela meio engasgada que eu queria agradecer pelas coisas todas que ela tinha feito. E pedir desculpas pelo meu descontrole emocional do dia anterior. Senti que ela gostou daquilo. Perguntei como estavam as meninas e a sogra. Todos bem. A gatinha. Bem. "Reacostumando com a casa e a rotina"... Vi a carinha dela pela porta de vidro. Enchi os olhos d'água e ela me perguntou se eu queria ver a Fiona. Aceitei. Abriu a porta e a Lina veio correndo. Subiu em mim e deu aquela esfregadinha gostosa no rosto.

Segurei ela só um pouquinho. Ela miou. Queria chão. Voltei pra casa depois mais aliviada e com um pesar menor no peito... Vi que ela era ali mais uma. Comia de tudo, brigava com os outros e queria desesperadamente sair... Doeu pequeninho aqui dentro. Fui embora com essa lembrança, meio tentando dizer a ela "telepaticamente" que ela sabia onde eu morava... e que podia voltar a hora que fosse. Engraçado como a gente se alimenta dessas coisas. Fiz um combinado de "a gente brinca de novo" ou qualquer coisa besta do tipo.

Dei as aulas, me recuperando devagar de tudo... Saí da sala e vi um por-do-sol cor de rosa. Lindo. Ficando lilás... Uma lua cheia aparecendo no fundo... Parei ali um bocadinho lembrando das pessoas que eu já perdi. Dessa transitoriedade toda de tudo. Doeu. Respirei. Rezei em silêncio pra mim mesma... pedi força, paciência. Coragem pra enfrentar os desapegos do porvir. Fiquei pensando no meu medo de perder as pessoas que eu amo. Agradeci pelo Juliano. Por tudo... Voltei pra casa sentindo ainda vontade de passar ali e dar um alo pra Lina... Pensei nos outros gatinhos e no que a Fran tinha me dito: "os animais vem para nos ensinar... e muitas vezes nos colocam em situações muito cruéis."Tentei trazer a Lina pro peito e ficar com a sensação que ela não foi mesmo devolvida, mas está morando aqui do lado. Minha vizinha. Só sei que aprender leva tempo, e que nem sempre quem ganha, ganha tudo...

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terça-feira, junho 17, 2008

Despedidas

Hoje a Lina foi embora... De vez. Na hora de sair para o trabalho toca o interfone. Era a dona da nossa gatinha. "Preciso falar com vocês"...

A história não estava acabada. Eu sentia isso. Juliano também. Nenhum de nós falávamos sobre o assunto. Parece que a simples idéia de perder a Lina seria demais para os dois. Ignoramos. Fingimos não saber. Ficamos mais duas semanas assim depois da coversa de sábado.

Ao que parece o meu exercício de desapego chegou ao nível de exigência de gente grande. "é só um gato"...

Ouvi a Fran falar. Escutei com o coração na boca. Ela pediu o gato de volta depois de uma trama complicada de ex-sogra e ex-marido mais filhos birrentos. De fato, não queria estar na pele. Nem no primeiro dia que nos vimos. Eu já teria tomado a gata de volta... e admirei a generosidade dessa mulher que me dava a gatinha comprando uma briga das grandes com a família. Corajosa.

Eu pedi. Implorei. Chorei. Cheguei a quase desmaiar e passar mal mesmo. Fiquei envergonhada da minha humanidade vomitando na porta do prédio depois de passar 3 dias com o estômago ruim e dores aqui e ali. Não sei se isso era um sinal...

Fiquei pensando antes de escrever aqui quem deveria contar essa história. Shakespeare, Goethe... Nelson Rodrigues. Os irmãos Andersen... Não consegui. Chorei os tubos. Como fazem as crianças. E revivi esses dois meses como numa alucinação-emocional... Lembrei do dia em que ela entrou em casa pela primeira vez. Dos carinhos, das brincadeiras e de todo o cuidado e amor que ela despertou. Lembrei da gente amarrando um barbante com pedaços de papel e da faceirice dela correndo pra lá e pra cá... da minha frustração ao comprar brinquedinhos e ela nem ligar. Lembro da primeira consulta à veterinária... da minha versão da história... do apego com a Lina que crescia e invadia o peito.

Lembrei do dia da cirurgia e do dia que saí chorando do hotelzinho ouvindo ela miar e esfregar o rostinho, toda sedada, na minha mão... Achei aquilo tudo cheio de significados no meu universo pequeninho aqui dentro.

Lembrei de todas as vezes que exibi a fotinho dela no celular e contei feliz que a Fran tinha me deixado ficar com ela. Hoje doeu. Dilacerou... Nunca achei que fosse cometer essa micagem toda emocional e quem sabe imatura-fútil-apegada-mesquinha me deixassem assim...

Eu saí de casa tendo antes ligado pra minha mãe. Claro. Entendi profundamente a dor da Fran. Ela me pediu perdão por levar a Lina. Não sei quem deveria perdoar quem ali. Na versão dela eu tirei a gatinha da família dela. Ela nem tinha como fazer diferente. A ex-sogra está com câncer e se recusou a falar com ela depois de saber que a gata, viva, estava "doada" com outra pessoa. Vizinha do lado... Imagino como a sensibilidade da doença tenha deixado ela arredia. E as meninas. Nem sei. Hoje me senti como elas. Adolescente. Há duas semanas eu julguei: birra. Hoje, vivi. Senti. E doeu fundo. Compreendi tão fundo que não tive outra escolha a não ser deixar a Lina ir. Chorei mais na escada subindo pra casa. Sabia que era um subir de escadas pra fundo de mim...

Entrei no apartamento. Ela me esperava na porta. Subiu no colo. Chorei mais. Mais. Não consegui dizer nada. Aí sentei com ela no sofá e disse que a gente precisava conversar. Hoje, talvez, pela primeira vez, entendi a tirinha do Calvin quando ele perde um bichinho de estimação... e a mãe só conseguiu dizer que ele tinha ido para o céu dos bichinhos. Pensei se existia mesmo um e se um dia a Lina - egoisticamente - seria minha de novo. Num céu desses de contos de fada.

Fiz os cafunés que ela gosta. Brinquei com o papel amarrado no barbante. Disse a ela que a verdadeira mãe tinha voltado e que ela deveria voltar. Agradeci a ela pelo tempo que ficou comigo, pelas coisas que ensinou... deixou aqui fundo... pela alegria. E por ter me ensinado a entender essas coisas estranhas da vida que a gente nem explica nem entende. Só vive. E sente. Ela me olhou e de novo agarrou o meu pescoço com as patinhas. Hoje cedo a brincadeira dela era moder o meu dedão do pé. Chegou a furar a minha meia...

Desci a escada me esforçando pra ter a atitude honesta, sincera, inteira com a Fran. Quando elas se viram a Lina foi arisca... Viu a Beti, quem fez as devidas conexões com a história da Lina-Fiona... Ela mostrou os dentes pra ela... Juliano e eu nos olhamos rapidamente. A Fran disse que ela seria bem cuidada. Nessa hora a Lina colocou a patinha no meu queixo e ficou me olhando... era o nosso tchauzinho. A mãe tem sempre que ser o adulto da situação. Batalhei fundo pra isso na hora...Ela pegou a Lina.

"Eu vou indo pra você não sofrer mais"... acho que nós duas sabemos que isso não era possível... Ela pediu desculpas de novo. Agradeceu. Eu não consegui responder. Nem consegui olhar muito pra ela. Lina e eu ficamos ali nos olhando. Juliano me abraçou. Pedi pra ver a Lina atravessar o portão... Vi ela sumir no colo da dona. Vi o tamanho do meu apego... Doeu tanto. Subi a escada... Chorei mais. Olhei pra caminha dela na sala... e o barbante.

Por alguns instantes achei isso tudo piegas e irracional. Claro. Trata-se de assuntos em que somos pouco treinados.
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Pensei depois nas coisas que podia ter dito. Feito. Meio novela mexicana... Voltei pro sofá. Olhei a casa vazia... Só a Bia aqui limpando... queria poder limpar as lembranças e passar um pano nesse pó que a memória se torna. Queria ter tido forças pra dizer não. Impossível. Acho que era exatamente isso o que a Fran queria me dizer quando pediu perdão...

Estou em casa de novo. Agora com dois gatinhos... conto depois... ainda nos olhando e namorando. Exceção da filhotinha. A Filó. Tem o Fredy... Os três nesse dia frio. Cheios de coisas... e esse mistério do viver e morrer. Não quero pensar que a Lina morreu. Quero poder dar de cara com ela na rua aqui da frente, fazer uns chamegos e respeitar esses aprendizados que os gatos nos trazem. Vou levar a Lina comigo... hoje percebi, olhando dezenas de gatos para adoção (idéia do Juliano de como conter uma leonina desesperada e inconsolável), procurei ela ali no meio. "Lina só tem uma", me disse baixinho no ouvido... E é mesmo. Sinto falta dela. Choro ainda. Mas quero que isso se torne uma das páginas bonitas da minha vida. Cheia de saudade, manha, carinho, e essa generosidade que ela veio me trazer empacotada no coraçãozinho. Fico imaginando as filhas da Fran com ela. Não senti ciúmes. Mas foi gostoso imaginar que elas podem sentir o mesmo alívio que tive há duas semanas atrás. E que a vó doente ia quem sabe, fazer o exame hoje depois da notícia e fazer as pazes com a família. Dói. Mas é uma dor com alívio... Fiquei com a lembrança dela agarrada em mim hoje cedo. E da nossa despedida cheia de silêncios e significados. Senti como um agradecimento pelo amor que ela recebeu da gente. Uma espécie de "também vou sentir saudades, a gente se tromba por aí"...

Os gatos nem sempre são livres pra escolher. Hoje eu vi isso. Mas encerro o post com um sentir grande de saudade-gratidão-amor-tristeza-apego-amor... Lina.
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segunda-feira, junho 16, 2008

Cansaço... estava lendo um poema do F. Pessoa sobre isso. Sempre falando do cansaço da alma. Ontem e hoje me bateram uma exaustão do corpo mesmo...

Há algumas semanas estou fazendo o esforço para conter o desânimo e a exaustão. Emocional e física. Engraçado como a gente sente que as coisas estão chegando ao seu limite. Sempre acho que vou dar conta das coisas e por mais que eu tenha um nível de exigência exagerado e de auto-cobrança... cansei.

Ando pouco sociável... com vontade de ficar deitada em casa esperando as fadas com a Lina e no chamegos do Juliano. Pela primeira vez depois de muito tempo sinto que estou jogando as toalhas... Tenho evitado discutir, retrucar. Descordar. Dá trabalho. Não estou a fim.

Sábado fui na festa de uma amiga querida e minha vontade era ficar ali vendo TV... achei graça porque sempre fui a baladeira, a alegre... e tenho me esvaído. A última semana me exigiu muito no trabalho. Minha mãe sempre diz que isso é pra me fortalecer o emocional... senti o contrário. Fiquei fragilzinha e cansada. É duro ter que provar o tempo todo que se tem capacidade... isso mata por dentro.

Conto os dias pra chegar as férias. Faltam poucos. E já inventei mais coisas pra fazer nela: curso disso e daquilo, tese, leituras... reformas. Ai ai... Sinto como se chegasse o Natal, mas não julho. Tenho tentado pedir colinho. Cafuné e aqueles sussurros carinhosos que te deixam feliz. Nem isso tenho conseguido. Cansei. Vontade de dormir, quase pra sempre...

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domingo, junho 15, 2008

A hora das fadas

Compre um prisma para a minha janela. Bate sol o dia todo no apartamento. É ventilado. Iluminado. Posso espalhar plantinhas pela casa e enfeitar com cortinas coloridas.

Tem sido mágico observar essas coisas. Meus últimos dias não tem sido muito fáceis. Foram simples. O de sempre na rotina do fazer. Mas muito diferente e intenso no sentir. No perceber. tenho evitado até de escrever para que algumas coisas não sejam colocadas de forma leviana. Não se trata de não desabafar. De não-dizer. Mas como preservar alguma sacralidade em alguns eventos.

Fui testada à exaustão no meu emocional nesses últimos dias. Nem o dia dos namorados escapou... Fiquei trabalhando muito em casa nessas manhãs de outono disfarçado. Gosto de olhar as janelas e imaginar com os olhos o que se passa aqui fora da minha casa. Hoje cedo, muito cedo, vi o amanhecer na janela. Tantos desenhos e cores no céu. Tão bonito. Valeu ter despertado agoniada. Voltei a dormir depois.

Nessas manhãs de trabalho-prece-agonia fico esperando a hora das fadas. Engraçado como eu consigo recolocar alguns pedaços da minha infância no dia-a-dia. Queria até que isso fosse mais constante. Quando o sol bate na janela da sala eu empurro o prisma (quando o vento está ocupado demais pra fazer isso por mim...) e vejo aquele monte de cores dançando na minha parede. É mágico. Lina e eu temos basicamente a mesma reação. Ao contrário dela - que fica pulando de um lado pro outro "caçando" as luzinhas coloridas eu fico aqui olhando elas se multiplicarem. E é a minha melhor parte do dia. Observo essas coisas e me voltam memórias, sentimentos, pessoas. É como se a casa se enchesse mesmo de fadas... nas cores, nas coisas que trazem consigo e nas risadas que me despertam vendo a Lina saltitar.

Agora mesmo estava aqui escrevendo sobre a escravidão e o café. Estava imaginando por que os trabalhos avulsos que me surgem estão sempre relacionados à História do Brasil... fico reclamenta, apesar de encontrar um prazer secreto - e bem timidamente birrento - nele. Liguei uma musiquinha e vi a Lina cochilar. É bom tê-la aqui do lado. Em paz. Sendo minha (egoistinha eu... sei disso). Trocamos uns cafunés e miados e quando volto pra sala pra continuar escrevendo preguicenta no sofá dou de cara com as fadas saracuteando nas minhas paredes. Tinha fechado as janelas por causa do vento forte. O dia esquentou de repente. Fui lá há pouco e abri a janela. Dei um soprãozinho no prisma... as fadas vieram.

Fico aqui me lembrando das conversas com o meu avô, das brigas com a Clara, minha irmã. Senti saudades dos passeios com o Vinícius na faculdade e da sessão besteirol com o Jedi. Olhei em volta e vi os meus cantinhos de novo. Juliano saiu e deve voltar em breve. É bom sentir essa presença dele em casa. Mesmo com as suas astronautices, vazios e silêncios. Suas distâncias medrosas e assustadas de mim. Doeu o coração lembrando de algumas das nossas discussões. Depois, como se um sussurro de fada viesse ao ouvido, fiquei olhando em volta e percebendo todas as coisas que ele me dá - generosamente - sem que eu peça. E talvez, a maior fonte do atrito seja justamente a falta de sincronicidade no pedir e no dar. Não acontece quando se quer. Mas quando se disponibiliza a dar e a receber.

Lembrei da primeira vez que eu peguei as chaves do apartamento e vi as paredes sujas sem pintura. Sentei no chão agradecendo por ele ser nosso. Foi um dos vazios mais plenos que eu tive. Lembrei de quando a Clara deu um fiasco porque eu ia sair de casa. Das minhas brigas com o meu ex-orientador, meu ex-namorado. Lembrei das ex-chefes. Tantas coisas importantes se tornam ex pra nós. E fico pensando aqui no significado de tudo isso. De como as coisas, pessoas, sentimentos, simplesmente passam (através de) por nós... e ganham outros contornos embaçados e diluídos... Tudo vira vulto...

Olhei uma foto minha com o Juliano... há tanta coisa do Nosso que passou, que passa. Se presentifica. Fortalece. E esse passar todo das pessoas, das coisas. Essa passagem etéra é tão desconcertante para alguém apegada como eu. Olhei pra Lina aqui de novo. Vi outras coisinhas ao redor que guardam consigo tanta coisa importante pra mim. Será que a gente carrega nosso museusinho particular pela vida?

As luzinhas ainda dançam aqui. O sol está passando para outra janela. Quero colocar prismas nas outras janelas daqui. Quero povoar minha vida mais com essas fadinhas. Coloquei duas fadinhas em casa. Uma no alto da parede da sala. De sainha de girassol. A outra, verdinha fica no meio dos livros de literatura. As duas tem olhinhos fechados e os cabelos enrolados. Acho gostosa a sensação de poder olhar pra elas e de algum modo, materializar esse universo infantil-fantástico-sonhador. Poucas pessoas entendem e muitas, quando entram em casa, acham tudo isso meros objetos de docoração pra deixar uma casa "bonitinha".

Gosto desse meu segredo decorativo. Bem ritual. Cheio de coisas só minhas. Nunca me pensei tão territorial e caseira. Juliano é assim. Não sei se isso é obra da convivência ou de uma nova revelação de uma fragilidade...

As fadas diminuem aqui na sala. Fico com essa sensação de epifania no coração... guardando pelo dia, até o sol do dia seguinte. Vendo as cores do sentir e do lembrar. Do guardar. Dançando em volta de mim. E eu, de algum modo - pouco treinado ainda... - tentando imitar a caça da Lina, agarrando com os olhos esse universo multi-cores de mim.

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quarta-feira, junho 11, 2008

Ainda vivendo apegos... a experiência de reencontrar a dona da Lina me deixou com alguns dilemas. Morais. Dói e é incrível como a dor sinaliza na gente um cannyon de sentir. Umas coisas profundas cheias de sombras e mistérios.

Passo ali do lado da casa dela com gratidão. Há muita generosidade nesse gesto de deixar a Lina com a gente. E ao mesmo tempo, sabendo de tudo o que as meninas sentiram com o sumiço da gatinha... me vi sendo a bruxa má da história. E é impressionante como a gente pode ser a mesma coisa. Ao mesmo tempo.

Na 2a. feira o Juliano, voltando do veterinário, encontra na rua dona da gatinha... Disse que os filhos todos ficaram muito mal com ela. Quando ouvi a notícia me deu um aperto no peito. Tanto apego! Me senti tão pouco generosa, egoísta mesmo. E fiquei nesse ir e vir...

Tenho pensado muito sobre a generosidade. Juliano sempre me disse que eu era muito generosa com as pessoas. Sempre acreditei que essa era uma virtude minha. Mas ontem, e refletindo sobre as coisas que tenho feito, do modo como tenho feito, me descobri - humanamente - egoísta. Percebi como toda a teoria sobre identidade, alteridade e essas "dades" todas da antropologia e da História me deixaram sem resposta para as coisas que tenho vivido. Aqui fez sentido a frase do Ulpiano, meu ex-orientador "você tem de idade menos da metade do meu tempo de carreira". A presunção intelectual dele era um alerta para a minha presunção ainda não classificada.

Tenho vito as pessoas ao meu redor com atitudes que tem me ensinado muito. Esses dias no trabalho uma das professoras de alemão que eu gosto muito foi muitíssimo carinhosa. Tenho percebido isso nos meus pais, sobretudo o meu pai com aquele jeito meio durango-palhaço. O Juliano, deixando o Nosso se abrir mais... Tenho percebido a minha fragilidade nesse período e adoraria crer que se trata do clássico "inferno astral", afinal, falta quase 1 mês para eu dar outra cabeçada em Saturno.

Olhei a Lina aqui em casa pedindo carinho por causa dos cortes da cirurgia... manhosa. Dei uma olhada hoje cedo na minha casa, andei e percebi os cantinhos que fazem sentido pra mim aqui dentro. Quase secretos. Livros, incensos, quadros e outros badulaquesinhos. Tem um quadro de um Pã tocando flauta no alto de NY. Gosto da solidão tranquila dele. E do jeito que ele parece ignorar aquela coisa toda surreal ali embaixo no universo dos humanos. Ou será que ele sabe (in)exatamente como a gente é (inexato)? Deixei a música vir para o dia de hoje... e suavizar o coração...

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domingo, junho 08, 2008

Apegos

Sempre fui apegada. Não sei se por configuração astral (que meu irmão não me leia) ou por personalidades ancestrais. Sábado me dei conta que a ascendência capricorniana e a lua em escorpião podem ser combinações intensas demais. Encontramos a dona da Lina...

Deveria ser por volta das 11:40 quando depois de provar umas roupas e me serelepar toca o telefone e escuto um "oi meu amor" bem tristonho. Perguntei o que aconteceu. "Achamos a Dona da Lina". A Lina é a minha gata. Já falei dela aqui. Estamos com ela há quase 2 meses. Encontrada na porta do prédio miando bem docinha e assustada. Desde então eu tenho me apegado e apegado. Levamos no veterinário, banhinho, comidinha, cuidados dali e daqui e sempre com muitas brincadeiras e risadas. Isso sem falar de todo o dengo e carinho que a gatinha tem dado.

Juliano me falava, desde o primeiro dia que eu não deveria me afeiçoar muito à Lina. Pena. Tarde demais. Estávamos os dois encantadinhos - e particularmente eu - com o fato de que todos os meus gatinhos de casa (de madeira, de porcelana, de desenho, de pelúcia, etc. ) estavam materializados na Lina.

Eu sempre fui bem chata com a idéia de que as pessoas tratam melhor os animais que os humanos. Nunca concordei com essa tendência (mesquinha-egoísta) da gente... Engolida pela língua. Estou pasma comigo. Como esse amor pode brotar da gente, uma vontade de cuidar, de deixar bem. Outro dia lendo o blog My Corner, soube que o autor vai ser papai pela segunda vez. Sempre gostei da idéia de ter filhos, mas nunca pude imaginar desse sentir todo e inteiro e intenso que sai da gente. "Imagina quando tivermos filhos", disse ao meu marido depois que saí da veterinária 4f passada. A Lina fez uma cirurgia. Castramos. E isso foi uma decisão difícil. Passei dias pensando e meditando sobre a minha pretensa humanidade. É interessante quando a gente verbaliza discursos adquiridos e comprados em bibliotecas. Questionei todos eles ao passar algumas noites sem dormir com o cio da Lina. Depois mais uns dias matutando sobre as minhas crenças (diria o Juliano) feministas sobre a liberdade e o controle (ops) sobre o próprio corpo, etc e tal.

Dei 14 aulas no dia que a Lina fez a cirurgia e fiquei ligando a cada instante para saber se ela estava bem. De repente me senti quase como a socialite brasileira que deu uma festa sensacional de aniversário ao seu poodle. Socorro! Muitos antagonismos num dia só! Cheguei em casa o mais rápido possível e fomos levar as coisinhas da Lina no veterinário. Ela estava dopada e com as pupilas super dilatadas. Isso sem falar na dor. Assim que ela me percebeu saiu aquele miado miúdo, apertado. Sentido. E um roçar na minha mão que me arrancaram umas lágrimas tímidas. Fiquei meio sem jeito de me emocionar daquele jeito. O Juliano me abraçou, me pediu calma. Continuei chorando... Saí de lá com o coração estraçalhado.

Passei a 5f esperando a hora de ver a gatinha depois de ir e vir com alunos para o mangue e o mar - depois vou ter que falar disso...! - e somente na 6a. a Lina ia voltar pra casa. Eu me sentia tão responsável por cuidar... e isso provocou uma série de questões sobre o meu estudar-experienciar o gênero...

Tudo isso me passou - e mais - na hora que eu soube que a dona da Lina tinha sido encontrada. E mais, que ela era assim tão importante nesse meu universo pseudo-maternal. Eu fiquei tão desnorteada que só conseguia pensar em como isso era quase - bem pouco - impossível. Chorei, tremi, temi. Fui passional em tudo o que eu tinha direito. Inclusive - parece patético - de ligar para minha mãe. E o comentário dela depois... "não se apega, vai dar tudo certo".

Quando eu cheguei em casa mal pude subir os três lances de escadas. Pedi ao Juliano para descer e encararmos por fim a realidade - a dona da Lina. Mil imagens se passaram na minha cabeça sobre a suposta imagem da figura. E, ao dar de cara com ela, segurar toda a vontade de chorar. Nem quero pensar no meu estado ao bater à porta da mulher. Ela saiu, sorridente. Mais aliviada na verdade, do que sorridente. Contou a história da Lina. Ela tem só 5 meses e saiu do interior de São Paulo daqueles lugares que se matam animais. Ela ia morrer e a mãe da Fran - a dona da Lina tem nome! - depois de ameaçar a gata com todos os modelos de vassouras disponíveis no mercado, apesar de ter salvo a vida dela, deu a Lina (Ex-Fiona) para as netas.

Escutei isso com o coração na garganta. Fiquei mal ao saber que aqui na vizinhança existem tipos de "serial killers" de gatinhos. E de todas as ameaças reais que a Lina sofreu. Depois de narrar esse conto de terror ouvi um "Não precisa chorar que o gato vai ficar com você" meio atropelado pelo alívio de "ela estava mais perto do que eu imaginava" com "ela está super bem cuidada". Perdi a fala. Não sabia bem se eu continuava escutando a história triste da Lina ou se eu pulava na mulher e enchia ela de beijos e de gratidão eterna. Pura pieguice, eu diria há 6 meses! Tomei!

O mais desafiador ao meu desapego - profundamente esgoísta - foi escutar a reação das meninas - adolescentes - sobre a perda da Lina. Uma delas faltou na escola não sei quantos dias e teve um febrão. A outra, algo parecido. Quase comecei a chorar de novo e nesse redemoinho todo de sentir, uma mistura de felicidade com a minha imagem de bruxa-má-sequestradora de gatos. Pobre espelho meu. Foi incrível como eu me vi naquelas meninas. Como me vi menina. Nesse apego inconsequente e esgoísta de ter só o meu. Sofri mesmo por elas. Fiquei sem graça de entrar na casa e ver os outros gatos ali e a carinha delas sem jeito de me olharem. Foi a primeira vez que duelei com o sentir-me culpada e salvadora ao mesmo tempo.

Apertou o peito. Só consegui agradecer às duas. Tímida. Quase miando, como a Lina no dia da cirurgia. Houve um silêncio das duas partes. Espero que com a legenda de "eu imagino como você deve se sentir". A gente nunca sabe de fato como o outro sente. Mal arrisco dizer o que eu mesma sinto.

Conheci os outros gatos. A casinha original da Lina e seu ex-nome. Ouvi mais histórias e só consegui me despedir, sem falar. Agradeci àquela mulher com um abraço nada comedido. Mas silencioso. Emotivo. Olhei bem nos olhos dela e só consegui murmurar uma parte do que eu admirava e invejava nela. O desapego. "Nem sei como te agradever por ela. Ela chegou num momento muito importante pra mim." E não saía mais que isso. Calei. Abracei. Não olhei pra trás. Entrei no prédio e abracei forte o Juliano. Chorei de novo. Criança. Alívio. Apego-desapegando do que eu achei que sabia. Sentia.

Subi as escadas e quando abri a porta lá estava a minha - de fato, minha - gatinha. Olhando ainda com dor, curativos, miudinha. Ficou no meu colo. Dia, noite, pedindo carinho. E eu me via ali. Apertada, querendo colinho. Talvez a nossa pretensa visão de supra-sumo-evolutivo-planetária... sei lá, deixe de perceber essas sutilezas do amor, do carinho e do cuidado. Desses presentes que a vida dá pra gente. em silêncio... Retribuindo esse querer. Escrevo isso e ainda me emociono vendo a Lina aqui do lado, carente, frágil com esses pontinhos e cheia de curativos. Mas tão companheirinha. Carinhosa. Charmosinha do jeito dela. E de como eu percebo essas epifanias de sentir... Agradecida...

Talvez a minha mãe tenha razão mesmo. Eu sou apegada demais aos que amo, aos que eu admiro. E não aprendo a viver sem eles depois. Acumulo sentir. Acúmulo de querer mais. E mais...

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domingo, junho 01, 2008

Tenho lido muito pouco, muitíssimo menos do que eu gostaria... e na semana passada, depois de um banho de mar à noite, chego em casa e sou convidada a esse poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, uma poetisa portuguesa que, como esperado, fala do mar, e alimenta em mim esse desejo-admirado pelo oceano...



Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar



Como disse um comentário recente, essa cobrança vem sempre da gente...




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