domingo, outubro 26, 2008

Fiquei a semana me perguntando desse sentir solitário dentro de mim. Achei que tivesse entendido. Utopias.
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Mas a sensação ficou forte quando me deparei com o real. O possível. Fiquei tentanto crer que o possível é sempre o que a gente pode querer realizar. Dentro de um campo - possível de negociações. Me enganei. Estou só. E muito.

Achei - iludida? - que pertencia a projetos. A sonhos. E me dou conta que os meus não cabem naquele mundinho - acostumado - de solidão. Fez tudo só. Sempre. Achei meio mágico que isso pudesse de alguma forma ter se transformado. Engano.

Me lembro de ouvir na terapia há alguns anos atrás - as pessoas não mudam. E do Vinícius insistindo em me repetir: as pessoas dão o que elas querem dar. E me percebi sempre disposta a oferecer. Mais de mim. E o mais irônico nesse papo é que quando eu peço, me transformo na devoradora insaciável. Dos sonhos alheios. E me esqueço que ali, bem ali, de fato eu não caibo. Não pertenço. Não sei se dói mais ter acreditado que isso era sim, possível. Ou por ainda esperar.

Sinto um cansar tão profundo... doído. De silêncios. Não sei mais comunicar. Acho que desisti de pedir. Já vi isso acontecer anos atrás... por que será que pedir está errado? Fiquei sem chão... sem mais referências do que acreditar, nem esperar. Nem sei mais dizer que dói, que machuca, que sinto. Que queria que fosse diferente. E espero, e preciso - mais e mais - ser compreensiva. Entender. Esperar. Aceitar. Onde eu me pus nisso mesmo? Não posso mais.

Vontade de ficar. De sumir, de nadar. Sem voltar. E deixar - mesmo - de sonhar.

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quarta-feira, outubro 22, 2008


Hoje deu saudade dessa turma...

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Só é irônico quando a gente - ainda - cria expectativas de coisas que jamais vão se modificar. E a nossa estupidez - ainda - insiste em crer. Fiquei rindo de mim hoje depois dos choros. Um riso sarcástico da minha própria dor - e ingenuidade...

e ainda sentia aqui dentro que poderia ser surpreendida. Pelas ações, gestos, palavras. Pela significância de coisas - que a muitos são - tão insignificantes. E me senti tal qual. Engraçado como a gente se engana. E se sente, e se dói. E se espera.

Voltei para a tela, livros do grego e a minha cervejinha vermelha. Para voltar ao que a gente chama - ironicamente - de realidade. Fiquei me lembrando da aula do Charles na semana passada sobre o Romantismo. Ri. De mim. Do meu olhar romântico para o mundo. Exatamente. Igualzinho ao que ele fez no exemplo aos alunos. Olhos fechados.

E ainda teimo em querer olhar. Esqueci. Cultivei essa esperança - como gostam de dizer - infantil. Aliás... eu tenho sido mesmo criança. Sonhando demais... há semanas atrás comprei danoninho. E depois aquelas papinhas de crianças. Pedro e eu compartilhamos esse universo - infantil - nostálgico da infância.

Hoje quis (me) sair daqui. E definitivamente acordar. Deixar de esperar e querer e crer e desejar. Só parar. E seguir depois. Só. Sem mim. Sem nada.

Ligo o computador e fico acompanhando as notícias - aparentemente - tão mais interessantes - e provocadoras - do que os meus anseios, sim. Infantis. Birrentos. E mais uma vez me senti só. Nesse querer, esperar. Abandonar. Compartilhar. deixar... Compreender... tanta solidariedade...! me cansa. me larga, me esquece...

Filó e eu. Nessa carência felina. Indo, voltando, saindo, deixando(-me)... em lençóis... umedecidos e apertados, sós.

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terça-feira, outubro 21, 2008

envenenamento

Onde guardei os venenos que insistem colocar em mim? Fico procurando junto às lagartixas verdes, coloridas. Não encontro.

Fico pensando porque, por onde. E tudo o que me sobra são essas lembranças azedas, depositadas em mim. Mistura ocre de inveja e rancor. Continuo me lavando. E não sei tirar de mim. Ontem subindo as escadas afundava os pés naquele lodo viscoso. Nada além de mim sobrevivia... Vontade de me esquecer de tudo. De nem saber mais quem sou.

Voltei ao lugar de sempre. Cheio de minhocas e bichos. O escuro. Vontade de chorar. Sumir. Fugir. E me peguei de novo indo embora de mim. Não voltei ainda. Fico aqui procurando novas portas de saída. Sem barras, sem pânico. Me afundei de novo em poesias distantes. Como se quisesse acender a luz debaixo da terra. Ninguém me veria mais. E me escondo. Me procuro. Me sigo para esse caminho torto de mim. Angustiado de novo. Sem resposta. E a cicatriz rasga nesse passado interminável de dor.

Paro. Não respiro. Por onde mesmo? E leio Pessoa. E desisto. Cansaço profundo de novo. Vontade de apagar. Dormir. Esquecer e resfriar essa ardência toda.

Não guardei os antídotos.

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sábado, outubro 18, 2008

Arrumando armários

Uma das coisas que me distrai nessa solidão de dentro é organizar o guarda-roupa. Parece engraçado. Eu sempre fui organizada, sistemática com as coisas que me dão prazer. Sempre gostei de arrumar a casa. Sobretudo a minha.

Sinal de desatenção é curado arrumando papéis e tralhas e roupas. Percebi que essa patologia de organização acontece de tempos em tempos. Fico horas separando as coisas que quero e não quero. Ritualizo essas arrumações com as músicas que me devolvem a Thais. Sexta-feira saí cedo e quando voltei comecei a organizar os papéis da pesquisa. Isso se transformou num caminho sem volta. Abri caixas que estavam fechadas há tempos. De dentro de mim também. Achei cartas antigas, bilhetes, fotos, cartões de aniversário. De gente que se foi há muito tempo. Recolhi umas joinhas que meu avô deixou pra mim com umas mensagens à "bailarina". Outros do tio Fredy. Desenhos. Cartas de mim pra mim. Recados da minha mãe. Poesias do meu pai em dias de aniversário. Meu discurso de formatura da 8a. série. Tantas coisas... achei até uns bilhetinhos do Pico, de quando a gente tinha uns 11 anos. Achei graça de ter preservado essas coisinhas mimosas. Muitas delas ainda são vivas em mim.

Depois fiz uma arqueologia subaquática nas minhas lágrimas. Tirei as dores que ficaram incrustradas na alma. E que me ancoravam nesse mar morto... salgado demais. Me lembrei do Caio Abreu... que seja doce... e comecei a tirar papéis e lembranças. Dessas dores, muitas deixaram uma névoa sutil. Quase escondida. Outras eram mais espessas e doía demais mexer. Encostei. Mas tirei das caixas.

Abri compartimentos novos nos armários. Depositei ali as lembranças boas. De adolescente, de quando brincava na rua e dos meus caminhos no ônibus do Paralelo até em casa. Eu adorava ficar olhando o jeito das pessoas andarem e falarem. Até imitava quietinha na minha cabeça. Comprei uma caixa rosa pink. Isso mesmo. Fiquei com vontade de ser menina e gostar de rosa. Menos vermelho talvez suavize o coração. Achei um recado de um antigo fã que ria da minha configuração astrológica: leonina, ascendente capricórnio. Lua em escorpião. Depois me lembrei do Pico dizendo que eu era a melhor nerd que ele tinha conhecido... É curioso como as pessoas pintam a gente com cores tão próprias. Me lembrei do Fernando Pessoa no livro do Desassossego mais uma vez... que cor é sentir?

Revivi um arco-iris bonito. Intercalado pelas tempestades discretas desses anos. Umas mais turbulentas. Coloquei as coisas bonitas nessa caixa rosa. Foi importante ritualizar essa transição. É importante sentir que se cresce. Como dizia o Sidnei... é bom saber que a gente dilata. Fiz uma prece quietinha. Olhei ao redor. A Filó ficou o tempo todo comigo, com esses olhinhos grandes, amarelos. Solares.

Agradeci. Me arrependi. Me desfiz e desfilei pra mim mesma. Tomei um banho comprido... gelado. Senti a alma baixar a febre. Demorei mais ainda. Deitei e olhei pra cima. Como se lá no alto alguma confirmação dessas mudanças fosse sinalizada... o lustre balançava com o vento. e as cortinas... vi os gatos brincarem com isso. Fechei os olhos e escolhi as melhores coisas que me aconteceram... as mais singelas. Muitas mais discretas do que eu poderia perceber na época. Fiz uma listinha na cabeça. Organizei. Coloquei no coração. Respirei fundo nisso. São raros esses momentos de completude e felicidade dentro da gente.

Me lembrei mais uma vez do meu tio. Dessa alegria dispersa-angústia. E abri uns livrinhos soltos de alemão. Histórias de criança para adquirir vocabulário. Fiquei olhando as figuras. Desenhos bonitinhos e cheios de cores. Li quase nada.

Meio adormecida em cima dos livros fiquei com esse perfume aqui dentro. Me lembrei dos outros armários... de uma casa que se refaz diariamente dentro - e fora - de mim. Apertei o travesseiro e gostei de ficar ali. Só. Cheia de lembranças. Dançando comigo nesse salão recém arrumado.

Tocou o telefone. A Clara, minha irmã, ligada nas turbinas. Rapidamente voltei à realidade ouvindo as suas palavras me atropelando. Ia encontra-la pra por a conversa em dia. E quem sabe, falar da faxina. Fechei a caixa rosa. A porta. E transitei por São Paulo sem mais correntes.

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quinta-feira, outubro 16, 2008

Disse Nietzche que tudo seria permitido se Deus não existisse, e eu respondo que precisamente por causa e em nome de Deus é que se tem permitido tudo, principalmente o mais horrendo e cruel.
(Saramago)

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quarta-feira, outubro 15, 2008

Dia de professores

A minha terça feira foi insana mesmo. Se eu ouvisse essa história de outra pessoa, possivelmente desconfiaria das capacidades mentais. Mas a graça não está mesmo só no que a mente pode dizer - ou fazer. Está no sentir.

Charles foi meu professor de portugu6es na 7a série. 1992. Faz tempo. Mas é muito atemporal aqui dentro de mim. Já falei dele aqui. A última vez que nos vimos foi em 1998. Eu já o havia visitado no cursinho que ele lecionava no ano anterior. Conheci o Rodrigo ali. Meu outro querido.

Passaram-se dez anos. Foi tanto, e nada. Há tempos que eu queria reencontrá-lo e dizer que a menina que ele tinha conhecido crescera. Essas coisas que a gente quer mostrar e dizer. Uma tentativa até de resgatar as coisas que a gente tem de especial, de importante, de valor. Sentia falta de conversar com ele. De explicar, perguntar, ouvir. Gostava de ouvir ele cantar na sala e dizer todas aquelas poesias incríveis que ele conhecia. Nos falamos brevemente em 2006 depois de uma empreitada minha quase FBI ou CIA. Digo sempre ao Juliano que eu poderia trabalhar num desses serviços de inteligência. E rimos.

Depois de uns quatro emails a gente se perdeu. De novo. Mas é estranha a sensação de não se perder alguém de fato. Havia uma sintonia ali. Esse ano, mais uma vez eu voltei a procura-lo. E nesse meio tempo um monte de fantasias infantis do porque-que-ele-sumiu-de-novo voltavam e voltavam. Era quase um disco riscado. Sonhei, procurei. Nada.

Fui para Jundiaí ontem atrás dele. Depois de descobrir a escola, telefone, endereços. Peguei o carro e me preparei para voltar em seguida com um até-logo, ou o-que-você-faz-aqui. Essas coisas. Fiquei esperando o intervalo num texto longo de papirologia... e eis que ali surgiu essa figura. Do jeitinho que eu o conheci - de cabelos curtos e uma barba esquisita. Mais branca. Os mesmos olhos e aquele jeito tímido de chegar.

Rimos porque era tão absurda a minha presença ali - a começar pela cara da secretária quando me viu. Imaginei que ele deveria ter um monte de fãs entre as alunas e que era comum essa tietagem toda. Mas seria difícil mesmo explicar esse significado. Talvez para muitos isso tenha cara de paixão platônica enrustida, ou coisa assim. Mas me marcou muito a Fátima Freire - a filha do Homem - dizendo que a gente tem que devolver para o outro as coisas que recebemos. Acho que, pela primeira vez, me sentia em condições de devolver qualquer coisa ao Charles.

Foi bonito. Conversamos e eu assisti a uma dele. O tema não poderia ser mais apropriado para a minha busca de realidade. Romantismo. Me lembrei das aulas do Nicolau na USP que me tiraram o sono com esse tema. Das leituras do Fausto. Da dança e da música. E de tudo isso que a gente foge e volta na vida. Como é triste idealizar o entorno. E ouvindo o que ele dizia eu me lembrei do Juliano. Das coisas que eu queria dele, de nós. E de tudo o que essa perspectiva romântica de viver nega: crescer.

Saímos da aula e fomos assistir uma apresentação dos alunos. Uma espécie de show de talentos. Recordei a minha - amarga às vezes - adolescência cheia de crises e complexos. Foi engraçado. Estava ali, com 29 anos, liberta da maioria das neuras juvenis, ao lado do meu professor. Uma testemunha ocular de uma parte minha que morreu, morria. E de um (re)nascimento custoso. Fiquei imaginando se isso era parecido com o texto de Saramago sobre a cegueira. Deve ser estranho ver quando ninguém enxerga.

Almoçamos depois de um percurso de estrada. Quase a minha estrada ali revisitada depois de 17 anos. Mais velha. Mais eu. Mesmo que eu ainda não saiba que eu é esse. Ou esteja romanticamente analisando essa perspectiva egocentrada de Eu. Tem tantas coisas que eu queia contar e mostrar. Me senti numa galeria de mim mesma escolhendo qual era a melhor obra. Era engraçado agora sermos colegas de trabalho. Humanos...

Saí desse almoço meio enebriada com lembranças e as experiências que - ainda - eram tão recentes em mim. Fui para a USP buscar a Marly e depois ir para a casa do meu orientador. Horas de conversa entre o mais acadêmico e o mais humano. Músicas, café, coca-cola, e essa coisa toda da cultura trash... Vimos os livros, artigos, falamos do futuro, de mim, dele. Falamos dessas mulheres estudadas pela História. E dos historiadores que pouco se olham, mas muito se estudam. Fiquei agradecendo aos imortais por essa generosidade da vida. Que bom ter um mestre assim. Saí de lá quase 2...

Voltei pra casa. Chorei pelo Sidnei. Outro mestre. Agradeci pelos meus. Que são presentes. E por esse reencontro comigo. Ontem, hoje e amanhã. Vi o Charles e o Tatá numa imensidão de linha do tempo aqui dentro do peito. Tudo atemporal nessa minha transformação. E esse sentir de plenitude. Só meu. Que por mais que eu escreva, fale, sorria, mostre, vai ficar sempre aqui dentro comigo. Aos mestres, todo meu carinho, e a minha gratidão. Sempre.

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segunda-feira, outubro 13, 2008

o sapatinho vermelho


Sempre gostei de vermelho. Principalmente de sapatinhos vermelhos. Dão personalidade ao nosso andar tão desatento nesse mundo. Quando me dei conta que a meninice se tornava outra coisa, comprei muitos deles. Sempre daquele mesmo jeito que eu usava quando criança. De bonequinha.

Dia 22 tinha quase se tornado sinônimo de angústia. Terapias a parte, essa minha visão romântica de mundo não é fácil não. Dá muito trabalho. Pra mim. E para os outros. 22 de setembro. Início de primavera aqui dentro. Sinais de um desabrochar cheio de mistérios e desabotoares silenciosos nas noites. Apesar dos dias cinzentos e friozinhos eu sentia que as tempestades de agosto poderiam se dispersar.

Saí do trabalho com as minhocas dirigindo comigo. De fato, as safadinhas sempre sabem como costurar caminhos nos seus precários neurônios. E o caminho desse ir-buscar-depois-do-trabalho-da-natação-e-da-luta... ficavam mais e mais longos. Quase intermináveis aqui dentro.

O carro com as luzes fracas e apagadas. A neblinazinha sinistra que mais parecia sair de dentro de mim me motivou a dar um telefonema qualquer. Chegando via o Juliano com uma flor vermelha nas mãos. Me perguntava ali onde eu tinha deixado a Thais. Ou para onde ela tinha ido sem avisar.

Me enlaçou o pescoço numa correntinha pequenina, que pendurava aqui e ali um sapatinho vermelho. Igual aos que eu sempre usei. E ainda uso. "É para você saber onde está o teu caminho no coração, pra ele te levar sempre pra mim"... E de volta.

Me senti como a mocinha do Mágico de Oz andando numa estrada de tijolos amarelos. Via aquele sapatinho reluzindo pra mim e me mostrando - de fato - coisas que eu sequer poderia escrever. Tão sutis. Um transformar-se genuíno que me escapa e me move. Me deixa inteira. Olhando de frente para todos os lados ao mesmo tempo. Prismática.

Caminhei alguns dias nessa estrada que me deixaram sonhar de novo. E sonhos de ontem, de amanhã. De nunca. De gente que foi, que fica, que vai um dia. E que nunca chegou. Olhei todas as estradas em volta. Algumas mais coloridas, outras mais barulhentas. Peguei a mais vazia. E sigo nela. Só pra mim. Com esse andar perdido de menina-moça, querendo saber e ver, sentir, experimentar. E percebo o quanto esse viver-com atinge em cheio o meu sentir romântico. Quando penso em andar descalços, o sapatinho fica mais confortável. Protege. Ensina. Mostra que os caminhos aqui de dentro não são trilhados com a mente. E mesmo que lagartichas verdes atravessem a estrada - sem minhocas - eu consigo saltar. Pra esse outro sonho de mim. De nós. E só, continuo. E ainda que não encontre o mágico que me leve de volta... vale a companhia na estrada e quem sabe, eu já tenha chegado.

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