segunda-feira, dezembro 15, 2008

de criança para criança...

Fiquei boa parte da noite em claro. Sonhos esquisitos e a agitação do Juliano com outra viagem.

Fiquei sabendo ontem de mais uma notícia de um amigo com o filho. A Marcinha, minha grande amiga passou uma coisa terrível outro dia com a criança dela. Dois meses e um risco de uma grave cirurgia.

Ainda não tenho filhos. E sei que os terei um dia. Só tenho o Fred e a Filó que são os meus nenês, por assim dizer. Fiquei me lembrando da Marcia falando sobre o que os filhos nos trazem. Um amor tão sobrenatural para os mais cabeçudos, como eu e ela. Rezei, pensei. Mal dormi.

Fiquei pensando no meu afilhado. No jeito que a vida da gente se transforma com a presença dos outros. Me lembrei do Charles há quase onze anos atrás. O Gabriel, filho dele teve mil complicações ao nascer e aquilo mobilizou pessoas de todos os cantos. Fiquei ontem pensando sobre a fé. E como a gente desconhece isso. Parece que a fé só existe depois que as coisas se resolveram. Um modo estranho de confirmar que tudo ia - e deu certo. Ela - na nossa ignorância - não serve ao seu propósito primordial: nos dar certeza.

Há um tempo atrás fiquei com questões sobre isso: afinal, a gente é ensinado a crer num Deus que se ocupa de tudo para nós. E que às vezes esse sujeito fica de mal humor e está ocupado demais para dar conta das nossas questões. Fiquei com coceiras dessa mentalidade católica. Me dei conta que essa meu desconhecer sobre a fé e sobre a minha própria capacidade de enfrentar problemas com a auto-confiança, inclusive de que sou merecedora da felicidade, me travam para prosseguir.

Acordei hoje com a rotina de semi-férias. Uma preguiça de resolver e fazer as coisas. E uma inquietação sobre isso que me roubaram o sono. Fiquei pensando nos pais, nas crianças. Em como a gente é frágil. Fiquei pensando no que dizer, em como rezar e pedir. Pensei na Marcia. No Charles. E no meu companheiro de blog, o Emanuel. Por fim, essa sensação de impotência me fez lembrar de uma história bem forte na minha família.

Gustavo, meu irmão, quando nasceu com complicações no parto, manifestou isso anos depois. Tinha uns 3 ou 4 anos, mais ou menos. Eu não sei bem o que ele teve - mas era uma coisa neurológica, com um daqueles nomes difíceis. Meu irmão sempre foi o cara frágil, sensível. Arteiro, mas silencioso. A arritmia que ele teve comprometia a sua coordenação motora (fina?) se não me engano e ele teria dificuldade com uma letra caprichada, mas nada ligado à aprendizagem cognitiva. Me lembro muito das conversas dos meus pais que falavam as coisas em códigos achando que eu não entendia. Gu tomou remédio por algum tempo. Fez um longo tratamento. Mas de verdade, o pânico da minha mãe se resolveu - ou pelo menos se acalmou - quando fizemos em casa uns quadradinhos de madeira com as letras gravadas em lixas. Ele tinha que ficar passando o dedinho ali para alinhar a coordenação. Me4 lembro bem que eu não entendia porque ele tinha que ficar "brincando com as lixas", mas ficava com ele e a minha mãe. Horas e horas todos os dias.

O tempo passou e as preocupações - constantes - se transformaram em uma sensação de conquista. A gente tinha acabado de sair de Porto Alegre e vindo para São Paulo. Não tínhamos ninguém aqui da família. Os amigos, contávamos nos dedos de uma mão. Não havia nada nem ninguém além de nós 5. A Clara, a minha irmã mais nova, não tinha nem um ano.

Lembro do Gu indo para a escola com medo de ter uma crise de novo. Minha mãe se preocupava e eu tinha um senso de proteção com ele, apesar das brigas que a gente tinha. Eu era bastante chata com os meus irmãos, mas os defendia. Me lembro de socar vários coleguinhas dele que o ameaçaram na escola. Era o meu jeito de dizer que me importava.

Ficamos anos convivendo com isso. Com o receio, as idas ao hospital para dar pontos na cabeça dele toda a vez que ele batia com ela em alguma quina. As consultas na neurologista (me lembro que era uma mulher inteligentíssima, que lia revistas em francês e eu ficava folheando isso tentanto entender alguma coisa enquanto esperava a consulta terminar) e os exames que ele tinha que fazer periodicamente (isso eu gostava de olhar porque os eletrodos me lembravam os filmes de ficção científica que eu via com o meu pai).

Hoje, anos depois, meu irmão está terminando o mestrado em astronomia. É um físico incrível e um dos geninhos da família. Mas muito mais que isso, ele é um testemunho pra mim da paciência, que eu nunca tive, de esperar e ver as coisas acontecerem. De perseverança. E mais, de resignação. E de uma resignação que, como li outro dia, é uma aceitação com o coração, não com a cabeça. O Gustavo certamente tem isso. Ele me inspirou sempre, sobretudo porque nunca perdeu a ternura. Ou os risos. Ele tem o maior sorriso do mundo. (se ele ler isso vai achar que é piada! ele tem uma boca enorme!) E toda a vez que eu o vejo, aqui em casa falando bobagem, dançando, discutindo filosofia comigo, ou arrumando o meu computador, me lembro da gente no quintal de casa com os dedinhos nas lixas. Me lembro dos tombos de bicicleta. Das brigas. Das vezes que eu não queria que ele saisse comigo porque o achava um pirralho! Das conversas e dos abraços que foram se sofisticando, nas sutilezas. De coisas que ele me falava, me perguntava. Me lembrei das minhas apresentações de ballet em que ele era o que mais me aplaudia... e essa inspiração toda de sorrir. Exatamente como o poema do Chaplin que postei outro dia.

Tem coisas lindas que o outro ensina pra nós sem se dar conta. Mal sabe ele que até hoje eu recordo dessas coisas. E do quanto eu sou grata a ele por esse aprendizado. Que veio de criança. Para criança. E que ainda hoje me revela que o nosso descontrole sobre o mundo, sobre nós e a vida, é o que nos revela, verdadeiramente a natureza dos milagres. O sublime.

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domingo, dezembro 14, 2008

Essa semana, parece, finalmente terminam as reformas aqui de casa. Achei engraçado - já devo ter mencionado isso - que esse fim de reforma - e o clássico ritual de arrumar a casa - encerram um ciclo de grandes arrumações internas.

Hoje, ao passar numa livraria visitei a sessão de astrologia. Sempre gostei de ler essas coisas no fim do ano. Não que eu acredite nelas. Mas a sensação de que alguém pode saber do que vai acontecer com o mundo me deixa um pouco mais tranquila nessas cachoeiras imprevisíveis do viver.

Obviamente não falarei das previsões. Isso se faz nas livrarias. Mas achei divertido sair dali e ficar perambulando nas minhas lembranças. Tenho feito muitas retrospectivas da minha vida. E tentado direcionar coisas para um futuro bem próximo, vamos assim dizer.

Hoje cedo, colocando o espelho no banheiro, fiquei pensando sobre os espelhos que atravessam o meu dia. Lembrei de sonhos que hoje pouco importam. Pessoas que perderam-se nos seus (in)significados. Dos desejos. Das coisas de aqui e ali. Olhei a casa hoje. Diversas vezes parei para olhar os nossos livros e as nossas fotos. Engraçado que parece pra mim o mais palpável do Nosso. Aquilo que fica de materializado de mim e dele pela casa. Claro, há outros sinais. As almofadas. Velas. Coisinhas por todas as partes. Mas projetamos tanto de nós naquelas fotografias. E os livros espelham conversas, desejos, desentendimentos. Sonhos. Desencantos. Aprendizados. Fiquei olhando ele suspenso na escada pendurando para colocar o espelho na parede. Ri de mim mesma tendo essas elocubrações enquanto alcançava chave de fenda e martelo.

Quando saíamos de casa depois... fiquei olhando a porta se fechando. Quanto há de nós nessas paredes. Tão isolados do mundo ali. E o quanto do mundo atravessa essas construções que às vezes parecem só nossas...

Foi bom olhar tudo isso e sentir que uma nova relação se faz - todo o momento - quando me permito escavar os fantasmas de mim e deixar a luz do sol bater nas minhas janelas. Renovo o ar me deixando levar pela vida sem querer congelar nada dentro de mim. Sem deixar que nada apodreça. É bom ve-lo apaixonado. Sentir o desejo, a ternura e o cuidado dele comigo. Ver que um esforço genuino de transformação parte dele sem que eu o peça... E que isso tudo vem de nós. de um mistério de querer. E deixar.

Há uma reforma dentro de casa que nunca termina.

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terça-feira, dezembro 09, 2008

Ainda sobre o tempo. Esse ano me dei conta da passagem do tempo por alguns motivos curiosos. Um par de motivos curiosos foi o casamento do Vinícius e o nascimento da Laura, filha da Marcia.

Há quatro anos atrás me lembro de nós 3 muito preocupados com outras coisas. Muitas outras, menos filhos e casamentos. Eu estava com um namoro afundado, a Marcia um casamento destruido e o Vinicius em pleno encantamento pela amada.

Fomos juntos no aniversario da Tereza, onde conheci o Juliano. Chovia muito e o meu mau-humor naquela ocasião só me traziam perspectivas ruins. Esse ano vi a Marcia ser mãe. Gravidíssima com uma barriga linda de morrer. Reclamenta, como sempre. Mas em clara transformação pela maternidade. Se transfigurando. Foi lindo. Nunca achei que veria a Marcinha assim. Ela sempre dizia que não queria filhos, que isso e aquilo. Mas pude ser testemunha do que a Laura fez a ela, desde o início. Hoje a pequenina está fofa, sorridente. E a mãe mais ainda.

O Vinícius... puxa! Casado! Feliz e mestre! Bom ver o melhor amigo numa situação dessas. Estou orgulhosa dele. E ao mesmo tempo, sem me surpreender. Já esperava que ele teria um futuro (próximo) bom. Merecido.

Olho os meus dois amigos como testemunha do tempo. Mais que de amizade. Isso está em tudo o que falo e sinto deles. Mas o tempo... Eles presenciaram, certamente, coisas da Thais que nem ela esperava. Das mais intensas rupturas. Corte de entranhas para um desenlace de si mesma. Foram as testemunhas mais fiéis. Silenciosas. E briguentas também. Dos conselhos mais sábios. Dos poucos que eu escuto. Irmãos mais velhos.

Hoje passei o dia fazendo coisinhas aqui e ali. Sempre me deparo com as fotos deles pela casa. E pela lembrança do quanto fazem parte da minha vida. Eu me surpreendo. Como o tempo pode ser generoso e permitir que a gente veja pessoas especiais permanecerem na nossa vida. E uma permanência que aflora, não gangrena. Olho pra eles hoje e pra mim, com a minha trajetória... cheia de momentos de sim e não, talvez, quem sabe, desisto e deixa pra lá... com umas conquistas... que só o tempo dá.

Senti saudades dos dois hoje. Daquela noite de chuva forte em 2004. Fazia frio. Das broncas da Marcia e do Vinícius. E do jeito desajeitado que sempre cuidaram de mim. Senti saudades das noitadas com a Marcia, das rizadas e de todas as conversas profundas sobre a vida e o futuro da humanidade que eu tinha com o Vinícius. Fico olhando a árvore da USP, palco desses monólogos. E hoje, a humanidade continua a mesma (provavelmente há uns 100 milhões de anos assim...), mas sem a árvore na USP. E sem o Vinícius tão perto.

Fiquei refletindo sobre os meus apegos. E me sentindo bem - e apegada - ao que pode se transformar no tempo. Às ondas do viver que me golpeiam por dentro. E ainda me deixam perplexa, surpresa pensando - e sentindo - o poder de estar vivo. Por dentro.

Quis dizer tudo isso a eles hoje. Fiquei sem jeito de ligar e despejar essa coisa enlouquecida dentro de mim. Ficou uma saudade de mudar mais. E poder testemunhar esse devir. Sem previsões. Sem pressa. Que vem debaixo de chuva... deixando o sol vir do jeito certo.

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quarta-feira, dezembro 03, 2008

negociando com o tempo

Depois de reler o Sandman fiquei fantasiando que o Tempo deve ser uma entidade daquele tipo. Sinistra e descolada. Fiquei imaginando como o Neil Gaiman desenharia esse sujeitinho tão presente (e ausente) na nossa existência.

Tirei o atraso de algumas coisas nessa primeira semana de quase sossego: assisti E o vento levou mais uma vez.

Revivi meus momentos de Scarlet e as coisas que o Tempo provoca na gente. Esse papo todo de amadurecer. Há alguns dias atrás ouvi que era preciso negociar com o tempo. Tenho pressa em fazer esse mestrado, terminar a pesquisa, finalizar. Encerrar e poder outra vez começar outra coisa. Há muitos planos. Um medo desse desconhecido, tão próximo de mim. Uma vontade de atravessar as fronteiras e invadir esses territórios meus e dos outros.

E a ansiedade volta. Fica. Permanece... Li. joguei papéis fora, arrumei armários. E ainda sinto essa desorganização aqui em mim. Uma confusão de priorizar todas as vontades. Tirar o atrazo. Mas quem me disse que estou atrasada? De repente me senti tomando café da manhã com o coelho branco de Alice no país das Maravilhas. Tenho pressa pra tudo. Olhei minha vida nos dois últimos anos. Só corri. Nem sei bem para que... para quem... mas para mim não foi...

Ou corri de mim...

Estou bem agora. Tenho o Tempo comigo. Preciso usa-lo ao meu favor... mas ainda nao sei de que jeito. Ou como diz o velho ditado, nao sei quanto tempo o tempo tem... Fantasiei outras coisas... Olhei os calendários. Tentei organizar agendas, metas, prioridades. E tudo o que me restou foi uma perplexidade completa diante do Tempo. Me lembrei da época que frequentava a faculdade de física e ouvia as loucuras e teorias - físicas - sobre o tempo. Até a blasfêmia para um historiador: o Tempo não existe. Não ousaria discutir isso. Acho que há capacitados... mas até essa constatação me assusta. O que se tem? Não temos nada, só que somos. E até isso parece intangível demais para nós...

Quis parar o tempo. Como se param filmes, livros. Congelar. Me lembrei do meu apego às pessoas e aos lugares. É. Sou muitíssimo apegada. Fico tentando segurar os momentos por entre os dedos. E me incomoda como escorregam da gente. Ontem recebi meus irmãos em casa. Foi uma delícia e ficamos rindo até de madrugada escutando música... quis congelar aquilo... diante dos meus olhos. E me dei conta nesse momento que eu viveria uma vida congelada. Cheia de momentos assim. Com amigos, com família. E que desse imenso iceberg eu jamais poderia caminhar ou sair. Que morreria de frio em mim mesma. E que tudo o que eu pudesse, reteria. Como um grande buraco negro, faminto de felicidade... que tragaria pessoas. Não seria livre. E nem deixaria ninguém livre - de mim. Achei graça dessa imagem. E naquele instante disse ao Coelho Branco para tomar um chá de cidreira. Ou um suquinho de maracujá... e que esperasse mais um pouco. Desenhei o tempo como um grande polvo. Cheio de braços, que me lançavam longe e me traziam de volta. E eu seria minimamente um io-io simpático... que saberia ir. E voltar. E me divertiria de estar nos braços do Tempo, saracoteando pelo Universo.

Me lembrei do Pequeno Príncipe. E aquelas viagens nos cometas... poder ir, voltar, esperar, ficar. Isso o Tempo deve permitir. Marquei uma entrevista com ele. Para ser feita durante a vida. É o tempo que ele tinha na agenda. Ficamos de "ir conversando"... E que ele seria o primeiro a me receber... depois o Sandman, o Destino, o Delírio. E depois a Morte. E depois... só depois.

Pus a água na chaleira... e vou esperar a hora do chá.

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sábado, novembro 29, 2008

Smile though your heart is aching
Smile even though its breaking
When there are clouds in the sky, you'll get by
If you smile through your fear and sorrow
Smile and maybe tomorrow
You'll see the sun come shining through for you

Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear may be ever so near
That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying
You'll find that life is still worthwhile
If you just smile

Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear may be ever so near
That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying
You'll find that life is still worthwhile
If you just smile

That's the time you must keep on trying
Smile, whats the use of crying
Youll find that life is still worthwhile
If you just smile

(Chaplin)

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Ontem foi meu último dia no trabalho. E misturado a uma sensação de alívio e apego eu me vi ali, enfiada em mim mesma nesse monte de pensar e sentir e entender.

O mais mágico foi me lembrar - e sentir de novo - todas as coisas lindas sobre o último dia de aula. Como se fosse o fim de uma coisa muito importante da minha vida.Pixar camisetas, escrever bilhetes e dizer aquele monte de coisas (in)esquecíveis. Muitas daquelas assinaturas se apagaram e eu quase não me lembro de tudo... Mas a gente tem uma tendência a eternizar as coisas todas dentro da gente. Como se pudesse se agarrar o tempo com as mãos e colocar isso dentro do peito. Retocar as assinaturas, as pinturas dos retratos e corrigir os sons das conversas e despedidas, escutanto pra sempre.

Mas a memória é mais implacável... não se permanece como se quer. E que bom. Fiquei hoje cedo escutando Queen - who wants to live forever - e pensando no que seria a gente ficar assim, pra sempre, assistindo e vivendo a humanidade. O quanto a gente deixaria de ver o novo. De ser o novo. Essa palavra provavelmente desapareceria do nosso vocabulário. E eu queria entender porque ela sempre é tão necessária pra nós.

Ontem saí pelos corredores ritualizando em mim esse fim. Esse novo novo que se abre - e que ainda não sei onde está. Me lembrei do primeiro dia que entrei ali, naquela imensidão de prédios e ansiedade. Lembrei das entrevistas. Das frustrações da primeira fase. Do primeiro dia de aula. Lembrei do dia da saudação aos novos professores... dos que conheci. Dos aplausos que todos nós recebemos com a nossa chegada. Um auditório com quase 500 pessoas. E fiquei olhando naquela multidão quantos tinham saído para que entrássemos... quanta dor, desapego.

Olhei o sol se pondo no meio das árvores. As pessoas passando - sempre correndo - e sempre ocupadas. Olhei aquele encerrar de ano. Passei pelos corredores das salas de aula. Vi os que gosto, os que não. Olhei as salas vazias. Era um encerrar mais profundo pra mim do que o simples ano letivo. Vi as pessoas se aproximarem, falarem, inconformarem-se... Ouvi. Recebi abraços, bilhetes e até que chegasse naquele quiosque de festinhas e comilanças fui deixando o melhor de mim e levando uma coisa que jamais algum deles vai ter...

Recebi a gritaria dos alunos e aquele monte de pedidos de fotos, assinaturas de camisetas, ritos de passagem, de negação da ordem... Assinei me lembrando das assinaturas antigas. Daqui há alguns anos eles mal vão se lembrar dessas coisas, dessas pessoas, tãopouco das aulas. Tudo vira uma penumbra sem retoques no tempo. Olhei aqueles meninos e pensei o que eles vão ser daqui há 20 anos, onde estarão. Ah! se a gente soubesse. Eu não sabia há 20 anos atrás. Não via nada...

Ri bastante com os colegas e fotografei os bilhetes para mim. Olhei aquele clima de festa e notei que o ciclo estava de verdade encerrado. E isso me dava uma paz. Encerrei para eles, os alunos, não para a instituição. A máquina da instituição é insaciável. Nunca está bom. Mas para as pessoas, os alunos, há um saciar dado pela vida. Que não é saturação. Lembrei de muitos dos meus professores. Alguns mais, outros menos. Lembrei dos significados silenciosos de muitas das aulas. Das brigas e de tudo o que acontecia que parecia aos meus olhos a coisa mais importante do mundo. E de fato era. A diferença é que meu mundo foi se ampliando... ficou grande demais para aquilo.

Encerrei a minha participação. O mais difícil não é sair da vida das pessoas. Mas escolher o modo como se faz isso. A gente entra e sai da vida um do outro com a maior facilidade. Os relacionamentos são todos agora descartáveis. Um supermercado onde sempre o cliente tem razão. Deixei aquele lugar escolhendo quem levar comigo. Quem, de mim, deveria ficar comigo. Me despedi com alegria de todos eles. Levei as fotos, os bilhetes e todos os presentinhos.

Parti de um porto que não teria mais sentido. Que me enjaulava nessa vontade de sair e descobrir. Zarpei dali levando, nas bagagens especiais, um monte de lembranças e uma conquista minha, muito silenciosa. Não há paraísos mesmo. Mas constru-os aqui dentro, onde eu os possa levar.

E foi assim em cada classe.

E busco outros portos, menos barulhentos, onde eu possa ver mais o por do sol, escutando esse ir e vir das ondas, das gentes, de tudo o que a vida leva, traz, afunda no mar... e dissolve na água do tempo.

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sexta-feira, novembro 28, 2008

encerrando...

canto... nos cantos de mim...

It's coming on Christmas
They're cutting down trees
They're putting up reindeer
And singing songs of joy and peace
I wish I had a river
I could skate away on
But it don't snow here
It stays pretty green
I'm going to make a lot of money
Then I'm going to quit this crazy scene
I wish I had a river
I could skate away on
I wish I had a river so long
I would teach my feet to fly

I wish I had a river
I could skate away on
I made my baby cry
He tried hard to help me
You know, he put me at ease
And he loved me so naughty
Made me weak in the knees
I wish I had a river
I could skate away on
I'm so hard to handle
I'm selfish and I'm sad
Now I've gone and lost the best baby
That I ever had
Oh I wish I had a river
I could skate away on
I wish I had a river so long
I would teach my feet to fly

Oh I wish I had a river
I could skate away on
I made my baby say goodbye

It's coming on Christmas
They're cutting down trees
They're putting up reindeer
And singing songs of joy and peace
I wish I had a river
I could skate away on


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segunda-feira, novembro 10, 2008

Acordei pouco mais de 4 da manhã com a habitual insônia. Levantei, tomei um suquinho de uva. Andei pela casa acompanhando os progressos da reforma. Li emails. Brinquei com os gatos.

E ainda me pego descoberta pelas sombras do passado. Essas que não querem ir. Ficam. Rodeiam o meu espírito por dentro. E escrevem. E insistem. Achei graça disso. Tenho uma pilha de caderninhos e fitas para queimar. Olho-os todos os dias consagrande esse luto. Me despeço. E vou. Sigo, sem eles e as suas delícias que machucam tanto.

E voltam. No meio do dia. Cedo no café. Me visitam. As minhocas sempre ficam aqui e ali passeando. Lagartixas verdes que saem do piso. Meu ultimato funcionou, e o desespero delas nessa agonia de quase-morrer ainda me tiram essa energia. Elas se vão, queimadas em suas estacas de madeira na semana que vem. E jogo ali todas elas, suas lembranças, batons, perfumes e risadas. Deixo-as no lugar que jamais deveriam ter saído. Diluídas no universo.

E volto para o meu cantinho, submersa nessa vida... e esse meu renascer volta feliz. Aliviado, cheio de transformações que me devolvem ao Juliano. E ele a mim. Do jeito que a gente é. O Nosso. Sem mais nós.

E espero, contando os dias do sonhar, para desancorar esses barcos fétidos do meu (a)mar.

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domingo, novembro 09, 2008

Há duas semanas eu vivo um renascer. O fato de eu não controlar - nada - a minha vida tem as suas vantagens. Vivi uma reviravolta profissional que tem misturado alívio, mágoa, decepção (fuuuunda) e uma (re)descoberta de possibilidades. Intuições à parte, estou feliz, apesar dos medos.

A solidariedade dos colegas nesses momentos de ruptura é sempre um conforto. Mas, mais que isso, tem sido pra mim uma resposta do destino que, de fato, há outros portos para ancorar. Outros, zarpar depressa. Tânia me disse para não queimar navios. Quase tive vontade de incendiar a biblioteca de Alexandria. Mas me contive, pensando e sentindo que essas transformações só servem se virarmos do avesso.

Na verdade o que tenho sentido é que estou sendo revirada do avesso. Voltando para o meu eixo de sempre. Trabalhei tanto nos últimos dois anos que abri mão de conviver, sentir, (re)ver pessoas. E acho que a avalanche que me devolve isso é um sinal de gratidão. Apesar da dor. Apesar...

Achei que - em teoria - minha auto-estima ia ficar abalada. Ao contrário disso, me senti tão mais forte e convicta do que eu realmente (não) quero fazer na minha vida... nada me segura agora.

Mas os mistérios do ir e vir, do sentir, da dor e da decepção ainda vão precisar de uns dias. Em mim. Decantando para que eu transmute isso - esse visco - em estradas de tijolos amarelos. O resto. Só caminhar.

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domingo, outubro 26, 2008

Fiquei a semana me perguntando desse sentir solitário dentro de mim. Achei que tivesse entendido. Utopias.
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Mas a sensação ficou forte quando me deparei com o real. O possível. Fiquei tentanto crer que o possível é sempre o que a gente pode querer realizar. Dentro de um campo - possível de negociações. Me enganei. Estou só. E muito.

Achei - iludida? - que pertencia a projetos. A sonhos. E me dou conta que os meus não cabem naquele mundinho - acostumado - de solidão. Fez tudo só. Sempre. Achei meio mágico que isso pudesse de alguma forma ter se transformado. Engano.

Me lembro de ouvir na terapia há alguns anos atrás - as pessoas não mudam. E do Vinícius insistindo em me repetir: as pessoas dão o que elas querem dar. E me percebi sempre disposta a oferecer. Mais de mim. E o mais irônico nesse papo é que quando eu peço, me transformo na devoradora insaciável. Dos sonhos alheios. E me esqueço que ali, bem ali, de fato eu não caibo. Não pertenço. Não sei se dói mais ter acreditado que isso era sim, possível. Ou por ainda esperar.

Sinto um cansar tão profundo... doído. De silêncios. Não sei mais comunicar. Acho que desisti de pedir. Já vi isso acontecer anos atrás... por que será que pedir está errado? Fiquei sem chão... sem mais referências do que acreditar, nem esperar. Nem sei mais dizer que dói, que machuca, que sinto. Que queria que fosse diferente. E espero, e preciso - mais e mais - ser compreensiva. Entender. Esperar. Aceitar. Onde eu me pus nisso mesmo? Não posso mais.

Vontade de ficar. De sumir, de nadar. Sem voltar. E deixar - mesmo - de sonhar.

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quarta-feira, outubro 22, 2008


Hoje deu saudade dessa turma...

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Só é irônico quando a gente - ainda - cria expectativas de coisas que jamais vão se modificar. E a nossa estupidez - ainda - insiste em crer. Fiquei rindo de mim hoje depois dos choros. Um riso sarcástico da minha própria dor - e ingenuidade...

e ainda sentia aqui dentro que poderia ser surpreendida. Pelas ações, gestos, palavras. Pela significância de coisas - que a muitos são - tão insignificantes. E me senti tal qual. Engraçado como a gente se engana. E se sente, e se dói. E se espera.

Voltei para a tela, livros do grego e a minha cervejinha vermelha. Para voltar ao que a gente chama - ironicamente - de realidade. Fiquei me lembrando da aula do Charles na semana passada sobre o Romantismo. Ri. De mim. Do meu olhar romântico para o mundo. Exatamente. Igualzinho ao que ele fez no exemplo aos alunos. Olhos fechados.

E ainda teimo em querer olhar. Esqueci. Cultivei essa esperança - como gostam de dizer - infantil. Aliás... eu tenho sido mesmo criança. Sonhando demais... há semanas atrás comprei danoninho. E depois aquelas papinhas de crianças. Pedro e eu compartilhamos esse universo - infantil - nostálgico da infância.

Hoje quis (me) sair daqui. E definitivamente acordar. Deixar de esperar e querer e crer e desejar. Só parar. E seguir depois. Só. Sem mim. Sem nada.

Ligo o computador e fico acompanhando as notícias - aparentemente - tão mais interessantes - e provocadoras - do que os meus anseios, sim. Infantis. Birrentos. E mais uma vez me senti só. Nesse querer, esperar. Abandonar. Compartilhar. deixar... Compreender... tanta solidariedade...! me cansa. me larga, me esquece...

Filó e eu. Nessa carência felina. Indo, voltando, saindo, deixando(-me)... em lençóis... umedecidos e apertados, sós.

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terça-feira, outubro 21, 2008

envenenamento

Onde guardei os venenos que insistem colocar em mim? Fico procurando junto às lagartixas verdes, coloridas. Não encontro.

Fico pensando porque, por onde. E tudo o que me sobra são essas lembranças azedas, depositadas em mim. Mistura ocre de inveja e rancor. Continuo me lavando. E não sei tirar de mim. Ontem subindo as escadas afundava os pés naquele lodo viscoso. Nada além de mim sobrevivia... Vontade de me esquecer de tudo. De nem saber mais quem sou.

Voltei ao lugar de sempre. Cheio de minhocas e bichos. O escuro. Vontade de chorar. Sumir. Fugir. E me peguei de novo indo embora de mim. Não voltei ainda. Fico aqui procurando novas portas de saída. Sem barras, sem pânico. Me afundei de novo em poesias distantes. Como se quisesse acender a luz debaixo da terra. Ninguém me veria mais. E me escondo. Me procuro. Me sigo para esse caminho torto de mim. Angustiado de novo. Sem resposta. E a cicatriz rasga nesse passado interminável de dor.

Paro. Não respiro. Por onde mesmo? E leio Pessoa. E desisto. Cansaço profundo de novo. Vontade de apagar. Dormir. Esquecer e resfriar essa ardência toda.

Não guardei os antídotos.

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sábado, outubro 18, 2008

Arrumando armários

Uma das coisas que me distrai nessa solidão de dentro é organizar o guarda-roupa. Parece engraçado. Eu sempre fui organizada, sistemática com as coisas que me dão prazer. Sempre gostei de arrumar a casa. Sobretudo a minha.

Sinal de desatenção é curado arrumando papéis e tralhas e roupas. Percebi que essa patologia de organização acontece de tempos em tempos. Fico horas separando as coisas que quero e não quero. Ritualizo essas arrumações com as músicas que me devolvem a Thais. Sexta-feira saí cedo e quando voltei comecei a organizar os papéis da pesquisa. Isso se transformou num caminho sem volta. Abri caixas que estavam fechadas há tempos. De dentro de mim também. Achei cartas antigas, bilhetes, fotos, cartões de aniversário. De gente que se foi há muito tempo. Recolhi umas joinhas que meu avô deixou pra mim com umas mensagens à "bailarina". Outros do tio Fredy. Desenhos. Cartas de mim pra mim. Recados da minha mãe. Poesias do meu pai em dias de aniversário. Meu discurso de formatura da 8a. série. Tantas coisas... achei até uns bilhetinhos do Pico, de quando a gente tinha uns 11 anos. Achei graça de ter preservado essas coisinhas mimosas. Muitas delas ainda são vivas em mim.

Depois fiz uma arqueologia subaquática nas minhas lágrimas. Tirei as dores que ficaram incrustradas na alma. E que me ancoravam nesse mar morto... salgado demais. Me lembrei do Caio Abreu... que seja doce... e comecei a tirar papéis e lembranças. Dessas dores, muitas deixaram uma névoa sutil. Quase escondida. Outras eram mais espessas e doía demais mexer. Encostei. Mas tirei das caixas.

Abri compartimentos novos nos armários. Depositei ali as lembranças boas. De adolescente, de quando brincava na rua e dos meus caminhos no ônibus do Paralelo até em casa. Eu adorava ficar olhando o jeito das pessoas andarem e falarem. Até imitava quietinha na minha cabeça. Comprei uma caixa rosa pink. Isso mesmo. Fiquei com vontade de ser menina e gostar de rosa. Menos vermelho talvez suavize o coração. Achei um recado de um antigo fã que ria da minha configuração astrológica: leonina, ascendente capricórnio. Lua em escorpião. Depois me lembrei do Pico dizendo que eu era a melhor nerd que ele tinha conhecido... É curioso como as pessoas pintam a gente com cores tão próprias. Me lembrei do Fernando Pessoa no livro do Desassossego mais uma vez... que cor é sentir?

Revivi um arco-iris bonito. Intercalado pelas tempestades discretas desses anos. Umas mais turbulentas. Coloquei as coisas bonitas nessa caixa rosa. Foi importante ritualizar essa transição. É importante sentir que se cresce. Como dizia o Sidnei... é bom saber que a gente dilata. Fiz uma prece quietinha. Olhei ao redor. A Filó ficou o tempo todo comigo, com esses olhinhos grandes, amarelos. Solares.

Agradeci. Me arrependi. Me desfiz e desfilei pra mim mesma. Tomei um banho comprido... gelado. Senti a alma baixar a febre. Demorei mais ainda. Deitei e olhei pra cima. Como se lá no alto alguma confirmação dessas mudanças fosse sinalizada... o lustre balançava com o vento. e as cortinas... vi os gatos brincarem com isso. Fechei os olhos e escolhi as melhores coisas que me aconteceram... as mais singelas. Muitas mais discretas do que eu poderia perceber na época. Fiz uma listinha na cabeça. Organizei. Coloquei no coração. Respirei fundo nisso. São raros esses momentos de completude e felicidade dentro da gente.

Me lembrei mais uma vez do meu tio. Dessa alegria dispersa-angústia. E abri uns livrinhos soltos de alemão. Histórias de criança para adquirir vocabulário. Fiquei olhando as figuras. Desenhos bonitinhos e cheios de cores. Li quase nada.

Meio adormecida em cima dos livros fiquei com esse perfume aqui dentro. Me lembrei dos outros armários... de uma casa que se refaz diariamente dentro - e fora - de mim. Apertei o travesseiro e gostei de ficar ali. Só. Cheia de lembranças. Dançando comigo nesse salão recém arrumado.

Tocou o telefone. A Clara, minha irmã, ligada nas turbinas. Rapidamente voltei à realidade ouvindo as suas palavras me atropelando. Ia encontra-la pra por a conversa em dia. E quem sabe, falar da faxina. Fechei a caixa rosa. A porta. E transitei por São Paulo sem mais correntes.

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quinta-feira, outubro 16, 2008

Disse Nietzche que tudo seria permitido se Deus não existisse, e eu respondo que precisamente por causa e em nome de Deus é que se tem permitido tudo, principalmente o mais horrendo e cruel.
(Saramago)

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quarta-feira, outubro 15, 2008

Dia de professores

A minha terça feira foi insana mesmo. Se eu ouvisse essa história de outra pessoa, possivelmente desconfiaria das capacidades mentais. Mas a graça não está mesmo só no que a mente pode dizer - ou fazer. Está no sentir.

Charles foi meu professor de portugu6es na 7a série. 1992. Faz tempo. Mas é muito atemporal aqui dentro de mim. Já falei dele aqui. A última vez que nos vimos foi em 1998. Eu já o havia visitado no cursinho que ele lecionava no ano anterior. Conheci o Rodrigo ali. Meu outro querido.

Passaram-se dez anos. Foi tanto, e nada. Há tempos que eu queria reencontrá-lo e dizer que a menina que ele tinha conhecido crescera. Essas coisas que a gente quer mostrar e dizer. Uma tentativa até de resgatar as coisas que a gente tem de especial, de importante, de valor. Sentia falta de conversar com ele. De explicar, perguntar, ouvir. Gostava de ouvir ele cantar na sala e dizer todas aquelas poesias incríveis que ele conhecia. Nos falamos brevemente em 2006 depois de uma empreitada minha quase FBI ou CIA. Digo sempre ao Juliano que eu poderia trabalhar num desses serviços de inteligência. E rimos.

Depois de uns quatro emails a gente se perdeu. De novo. Mas é estranha a sensação de não se perder alguém de fato. Havia uma sintonia ali. Esse ano, mais uma vez eu voltei a procura-lo. E nesse meio tempo um monte de fantasias infantis do porque-que-ele-sumiu-de-novo voltavam e voltavam. Era quase um disco riscado. Sonhei, procurei. Nada.

Fui para Jundiaí ontem atrás dele. Depois de descobrir a escola, telefone, endereços. Peguei o carro e me preparei para voltar em seguida com um até-logo, ou o-que-você-faz-aqui. Essas coisas. Fiquei esperando o intervalo num texto longo de papirologia... e eis que ali surgiu essa figura. Do jeitinho que eu o conheci - de cabelos curtos e uma barba esquisita. Mais branca. Os mesmos olhos e aquele jeito tímido de chegar.

Rimos porque era tão absurda a minha presença ali - a começar pela cara da secretária quando me viu. Imaginei que ele deveria ter um monte de fãs entre as alunas e que era comum essa tietagem toda. Mas seria difícil mesmo explicar esse significado. Talvez para muitos isso tenha cara de paixão platônica enrustida, ou coisa assim. Mas me marcou muito a Fátima Freire - a filha do Homem - dizendo que a gente tem que devolver para o outro as coisas que recebemos. Acho que, pela primeira vez, me sentia em condições de devolver qualquer coisa ao Charles.

Foi bonito. Conversamos e eu assisti a uma dele. O tema não poderia ser mais apropriado para a minha busca de realidade. Romantismo. Me lembrei das aulas do Nicolau na USP que me tiraram o sono com esse tema. Das leituras do Fausto. Da dança e da música. E de tudo isso que a gente foge e volta na vida. Como é triste idealizar o entorno. E ouvindo o que ele dizia eu me lembrei do Juliano. Das coisas que eu queria dele, de nós. E de tudo o que essa perspectiva romântica de viver nega: crescer.

Saímos da aula e fomos assistir uma apresentação dos alunos. Uma espécie de show de talentos. Recordei a minha - amarga às vezes - adolescência cheia de crises e complexos. Foi engraçado. Estava ali, com 29 anos, liberta da maioria das neuras juvenis, ao lado do meu professor. Uma testemunha ocular de uma parte minha que morreu, morria. E de um (re)nascimento custoso. Fiquei imaginando se isso era parecido com o texto de Saramago sobre a cegueira. Deve ser estranho ver quando ninguém enxerga.

Almoçamos depois de um percurso de estrada. Quase a minha estrada ali revisitada depois de 17 anos. Mais velha. Mais eu. Mesmo que eu ainda não saiba que eu é esse. Ou esteja romanticamente analisando essa perspectiva egocentrada de Eu. Tem tantas coisas que eu queia contar e mostrar. Me senti numa galeria de mim mesma escolhendo qual era a melhor obra. Era engraçado agora sermos colegas de trabalho. Humanos...

Saí desse almoço meio enebriada com lembranças e as experiências que - ainda - eram tão recentes em mim. Fui para a USP buscar a Marly e depois ir para a casa do meu orientador. Horas de conversa entre o mais acadêmico e o mais humano. Músicas, café, coca-cola, e essa coisa toda da cultura trash... Vimos os livros, artigos, falamos do futuro, de mim, dele. Falamos dessas mulheres estudadas pela História. E dos historiadores que pouco se olham, mas muito se estudam. Fiquei agradecendo aos imortais por essa generosidade da vida. Que bom ter um mestre assim. Saí de lá quase 2...

Voltei pra casa. Chorei pelo Sidnei. Outro mestre. Agradeci pelos meus. Que são presentes. E por esse reencontro comigo. Ontem, hoje e amanhã. Vi o Charles e o Tatá numa imensidão de linha do tempo aqui dentro do peito. Tudo atemporal nessa minha transformação. E esse sentir de plenitude. Só meu. Que por mais que eu escreva, fale, sorria, mostre, vai ficar sempre aqui dentro comigo. Aos mestres, todo meu carinho, e a minha gratidão. Sempre.

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segunda-feira, outubro 13, 2008

o sapatinho vermelho


Sempre gostei de vermelho. Principalmente de sapatinhos vermelhos. Dão personalidade ao nosso andar tão desatento nesse mundo. Quando me dei conta que a meninice se tornava outra coisa, comprei muitos deles. Sempre daquele mesmo jeito que eu usava quando criança. De bonequinha.

Dia 22 tinha quase se tornado sinônimo de angústia. Terapias a parte, essa minha visão romântica de mundo não é fácil não. Dá muito trabalho. Pra mim. E para os outros. 22 de setembro. Início de primavera aqui dentro. Sinais de um desabrochar cheio de mistérios e desabotoares silenciosos nas noites. Apesar dos dias cinzentos e friozinhos eu sentia que as tempestades de agosto poderiam se dispersar.

Saí do trabalho com as minhocas dirigindo comigo. De fato, as safadinhas sempre sabem como costurar caminhos nos seus precários neurônios. E o caminho desse ir-buscar-depois-do-trabalho-da-natação-e-da-luta... ficavam mais e mais longos. Quase intermináveis aqui dentro.

O carro com as luzes fracas e apagadas. A neblinazinha sinistra que mais parecia sair de dentro de mim me motivou a dar um telefonema qualquer. Chegando via o Juliano com uma flor vermelha nas mãos. Me perguntava ali onde eu tinha deixado a Thais. Ou para onde ela tinha ido sem avisar.

Me enlaçou o pescoço numa correntinha pequenina, que pendurava aqui e ali um sapatinho vermelho. Igual aos que eu sempre usei. E ainda uso. "É para você saber onde está o teu caminho no coração, pra ele te levar sempre pra mim"... E de volta.

Me senti como a mocinha do Mágico de Oz andando numa estrada de tijolos amarelos. Via aquele sapatinho reluzindo pra mim e me mostrando - de fato - coisas que eu sequer poderia escrever. Tão sutis. Um transformar-se genuíno que me escapa e me move. Me deixa inteira. Olhando de frente para todos os lados ao mesmo tempo. Prismática.

Caminhei alguns dias nessa estrada que me deixaram sonhar de novo. E sonhos de ontem, de amanhã. De nunca. De gente que foi, que fica, que vai um dia. E que nunca chegou. Olhei todas as estradas em volta. Algumas mais coloridas, outras mais barulhentas. Peguei a mais vazia. E sigo nela. Só pra mim. Com esse andar perdido de menina-moça, querendo saber e ver, sentir, experimentar. E percebo o quanto esse viver-com atinge em cheio o meu sentir romântico. Quando penso em andar descalços, o sapatinho fica mais confortável. Protege. Ensina. Mostra que os caminhos aqui de dentro não são trilhados com a mente. E mesmo que lagartichas verdes atravessem a estrada - sem minhocas - eu consigo saltar. Pra esse outro sonho de mim. De nós. E só, continuo. E ainda que não encontre o mágico que me leve de volta... vale a companhia na estrada e quem sabe, eu já tenha chegado.

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quinta-feira, setembro 18, 2008

ancorando

Preciso ancorar num local que conheça meus próprios símbolos. Ainda não sei onde fica. Por que estaria tão perto, e tão longe de mim. Não vi espelhos, nem outros objetos que me dessem essa impressão de ser mais eu mesma. Não vi. Não sei. Nem lembro se soube.

Depois de ter esvaziado todo meu arsenal de coisas e falas e tudo. Estava traduzindo ontem para a aula de grego um texto sobre as amazonas. Disfarças, lutaram contra os helenos, mas foram derrotadas. As que foram derrotadas, capturadas e levadas às naus. COmo os helenos - por saberem que eram mulheres - não ligaram muito para sua captura, não as vigiaram adequadamente; e o navio sucumbiu numa emboscada. O complicado porém, é que as amazonas desconheciam absolutamente a arte de navegar. E se perderam, indo parar nas terras dos citas. Lá, lutaram mais uma vez, disfarçadas de homens. E ao carregar os cadáveres, os citas perceberam que eram mulheres. Ao invés de combatê-las, foram para seu acampamento tentar uma aproximação: queriam filhos delas.

Achei curioso esse texto parar nas minhas mãos depois de tanto tempo pensando sobre esse meu universo simbólico, perdido pelos mares de aqui. Me vi uma das amazonas tentando fugir de uma outra emboscada. Meu disfarce, porém, facilmente descoberto. Mais lutas. Não sei onde acampar ainda e essa fúria de sair, de descobrir. Heródoto fala que elas não reconheceram os citas: não entendiam suas palavras e eles as delas. Esse estranhamento todo de ouvir e ver é a minha perplexidade diante de mim. Olho os olhos.

Acordei hoje com essa meio-gripe depois de viver 4 semanas de UTI (unidade de trabalho intensiva). Quase saindo... e me jogando na cama exausta. Sem possibilidade ainda de acampar. Os citas, aqui tão perto, são ainda estranhos que eu tento reconhecer. Sua língua, costumes... e não os entendo. Nem suas ações. Mas que importa o que foi feito antes? (fico me repetindo isso)... Basta o encontro. O mar, o novo. E aquilo que esse acampar me reserva: ficar, lutar ou amar? Chega de enfrentamentos. Uma trégua. E o tempo servindo os ventos que levam. Trazem... e apaziguam esse esperar.

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quarta-feira, setembro 17, 2008

Há frio demais antes da primavera. Não sei se esse oscilar do tempo é alguma coisa além da própria previsão do tempo. Tenho me olhado, deixado de ver. Ontem, depois de mal dormir - aliás não durmo há semanas... - caí numa crise de choro que me deixaram parada dentro do carro. Por que é tão difícil a gente se olhar melhor?

Fiquei sentindo o choro cair, os olhos turvarem. E uma sensação de nova primavera se abrir em mim. De dentro. Sem depender de ninguém mais.

Esse sentir atropelado que eu tenho de tudo ao mesmo tempo e agora me exauriram. Por inteira. Ea única coisa que eu consigo é me repetir eternamente nesse ciclo de vontades desmedidas de sair. E um pavor me sufoca nesse vão estreito que me joguei. Não há espaço pra ninguém, mal eu caibo nisso.

E ontem, depois de dirigir pela garoa da manhã meio sem prestar atenção em nada, descuidada, abriu uma frestinha de sol na escola, eu chegava ali meio sem nada, sem jeito, ouvindo (pela milésima vez) a música do U2... é but I still haven't found what I'm looking for.

Pra dizer a verdade, desisti de procurar. Vou deixar isso de molho, pra diminuir o enchaço dos pés... e seguir. Sem buscas. Gostaria, comodamente, que me buscassem de volta. Não me lembro onde fiquei.

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domingo, setembro 14, 2008

Afoguei-me no trabalho. Tenho vivido no último mês o período mais anti-social da minha vida. E bom...

nunca achei mesmo que fugir seria uma atitude boa pra mim. Mas fugi com honras de mim mesma nesses tempos. Tem sido cicatrizador, apesar da dor. Evito de pensar, sentir. A cabeça pode de fato tomar conta desse mundo interior e anestesiar você por inteiro. Esse torpor me levou ao abismo de estudar, corrigir coisas que nunca foram as minhas afinidades. E que delícia tem sido...

Fico em casa socada nos submundos da minha inquieta apatia, brinco com os gatos e finjo que estou bem. Funciona. As pessoas sempre perguntam a mesma coisa e você sempre dá a mesma resposta...

A novidade é a luta. Isso mesmo. Há um mês tenho feito aulas de tae kwon do. Um bom jeito de lidar com a frustrante trajetória pseudo-jedi... tenho enfrentado o meu lado negro que nem gente grande. Skywalker sentaria com um saco de pipocas pra assistir. Saí machucadinha umas duas vezes, muito bom porque se anestesima outras dorezinhas incômodas daqui de dentro.

Ontem uma amiga escreveu dizendo que eu era muito complicada. Achei graça - nem respondi - pensando se tem alguém aqui embaixo do céu simplificado pelas divindades. Eles tem senso de humor. No entanto essa pausa pra escrever aqui - antes de enfrentar uma tradução de grego... - é pra pontuar (pra mim mesma) uma necessidade de desangustiar o peito. Tenho me sentido miúda e meu plano de fuga nos livros e nas coisas tem fracassado. Tenho prazos. E quando eles acabarem não sei como vai ser esse dia seguinte. Olho para os gatos com inveja - comer, dormir, brincar, buscar carinho. Não sei até que ponto eu me diferencio tanto assim nas minhas buscas deles dois...mas queria mais tempo pra experimentar esse brincar.

A única coisa que consigo descrever - e pegar - em mim é o cansaço. O restante lateja. Mesmo as lutas nas aulas terminam com um desejo de sair daqui de dentro. Me enjaulo e me angustio. Nem sei onde deixei de sentir e por que exatamente... nem sei mais tantas coisas... só essa vontade incontrolável de dormir, sem mim.

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domingo, agosto 31, 2008

presentes

A gente ganha... de quem menos se espera... no anonimato mesmo.
Meu Mundo e Nada Mais
Guilherme Arantes

Composição: Guilherme Arantes

Quando eu fui ferido
Vi tudo mudar
Das verdades
Que eu sabia...

Só sobraram restos
Que eu não esqueci
Toda aquela paz
Que eu tinha...

Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado
À meia-noite, à meia luz
Pensando!
Daria tudo, por um modo
De esquecer...

Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais...

Não estou bem certo
Que ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura...

Como ser mais livre
Como ser capaz
De enxergar um novo dia...

Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado
À meia-noite, à meia luz
Pensando!
Daria tudo, por um modo
De esquecer...

Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais...(3x)


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Há um desafio em se permanecer aberto... diferentemente dos livros, as pessoas não tem um fim. Os pontos finais nunca encerram nada.

Tenho oscilado. Me abro demais ou me fecho, me escondo completamente. Inclusive de mim. Há um pavor, maior que o medo. E o mais engraçado nisso tudo é a sensação de solidão. As pessoas dizem que compreendem. Mas não.

Tive uma discussão com a minha mãe. Ela sempre é desajeitada quando diz que compreende. Não compreende nada. Há um que de mãe mesmo. Uma tentativa de se colocar solidária... Fiquei espantada hoje com a sensação de solidão que se abateu em mim. Foi forte. Me apunhalou e me derrubou. Não tive vontade sequer de falar. Com ninguém. É sempre estranho quando as pessoas te acham desequilibrada e, por mais que você tente fazê-las ententer, tudo o que você consegue é um "eu sei como você deve estar, mas.." Essas coisas não tem "mas"...


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sábado, agosto 30, 2008

UTI

Talvez o mais desafiador naquilo que dói é reconhecer que se está - de fato - doente.

Não é de hoje. E poderia citar muitas causas pra essa dor dilacerante que gangrena em mim. Coisas de mim. De outros. De fora e de dentro que ficam aqui, latejando. Deveria ter imaginado que a contaminação das minhocas seria mais profunda do que abalar simplesmente a minha - aparente - tranquilidade emocional.

Faz semanas que choro. Muitas. Por coisas que são quase impossíveis de perdoar. De imaginar. De acreditar. Me lembro de um dia que um professor me explicou o que era confiar. Uma imagenzinha boba de um vaso de vidro. Depois de quebrado, mesmo colado, nunca mais seria a mesma coisa. Me perdi tentando colar partes de mim que foram estilhaçadas. O mais doloroso é que ao estilhaçar te colocam pra fora da vida. Te embutem num armário de "está a minha disposição". E fui obrigada a dividir o armário com mais um monte de fantasmas mofados.

Eu não sei se eu posso mesmo perdoar. Essa é a doença. Também acho qeu a dor que eu tenho aqui não será jamais compreendida por quem causou. Uma vez ouvi um conselho estúpido de "mostre como dói". O mais difícil foi reconhecer a minha incapacidade de devolver na mesma moeda. Não me rebaixaria tanto a esse nível quase degradado de carência e entendimento descartável das pessoas.

Estou na UTI. E me vejo sem conseguir pedir para desligarem os aparelhos. Uma exaustão que há tempos venho sinalizando. Será que eu sempre amei errado? Será que eu acreditei demais? Não vejo perspectivas em mim. A dor tomou conta e virou um cancer na alma.

Eu bem que poderia ficar me fazendo de vítima pra sempre. Seria até fácil. O difícil é ver a cura disso aqui dentro. Há uma sucessão de machucados transformados... uma tentativa minha pseudo-heróica de fazer alguém sentir e viver custa caro assim? Teria valido a pena de qualquer modo...

Tenho vontade de apagar a luz. Dormir. Esquecer de tudo. Fazer de conta que nunca foi. Voltar pra minha cômoda postura sonhadora. Me sinto doente. Fraca. Deprimida mesmo. E sem forças pra pedir ajuda. Sem coragem de me expor mais e pedir. Acho que já expus tanto... pedi tanto. E me sinto mendiga, andarilha da minha própria vida. Um desejo de sucumbir porque as forças acabaram. Tenho rezado para não desistir de acreditar. Há sinais de cura, os aparelhos apitam. Aqui dentro.

Onde eu ponho tudo isso inflamado? Será que cicatriza um dia? E será que eu tenho força pra esperar. Vejo. Sinto. Ouço as coisas se transformando aqui pertinho de mim... tenho pedido colo. Tem doído mais do que a dor pode expressar. E tenho me sentido só. Profundamente só. Sem nada a minha volta pra me agarrar.

Um perder-se de si. Do resto. Pra onde mesmo? Fiquei treinando hoje as defesas que aprendi no tae kwon do... como se pudesse me proteger do que já bateu. Sangra. Dói. E vou deixando de respirar. A dor penetra no peito e me tira isso que a gente chama de vontade de ficar. Nem de ir eu tenho vontade mais. Só. O trabalho, a sala de aula fica o meu esconderijo mais seguro. E os livros me jogam pra dentro desse universo das palavras, mais concreto e mais meu. Ando por aqui. E não vejo mais nada.

Escuto de longe os bips de aparelhos pedindo pra eu voltar, ficar. Preciso de ajuda. E não sei quem pode me (des)ligar...

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terça-feira, agosto 26, 2008

Me sinto andarilha em mim mesma. Perdida nos sonhos e nas fantasias que criei na infância. Crescer... é possível mesmo? Ontem assisti Intelgência artificial e me comovi com a cena do menino pedindo à Fada Azul que o transformasse num menino de verdade.

Parece que essa necessidade de amor que a gente tem vai além dos "limites da carne"... Depois de uma conversa longa com a minha mãe nesse fim de semana me dei conta que há muito de mim lá de longe, de antigamente... um antigo infantil, cheio de uma ingenuidade do mundo. Me senti tão boba. Como se eu quisesse provar ao mundo que os contos de fada existem...

Chorei muito. Me senti muito só. Tentando, acreditando, pedindo. Esperando. Me senti egoísta por querer que as pessoas realizem os meus sonhos... Nem Disney fez isso. Ninguém realiza nada por ninguém. Fiquei com vontade de sair correndo de mim e voltar pra escola. Brincar com os meninos de nave espacial - as minhas galázias eram bem mais interessantes que essa - e ficar ensaiando peças de teatro que nunca foram terminadas.

Senti saudades de andar de bicicleta na área de serviço - suspensa em um apoio - me dando a impressão que eu andava nas motinhos do Retorno de Jedi. Fiquei imaginando como seria a minha vida se eu tivesse ficado por ali mesmo. Frustrar-se é um desapego de si. Mas que se arranca partes da alma que são muito valorizadas.

Disse pra minha mãe que eu tinha vontade de sumir. Sumir mesmo. Acho que foi a primeira vez que disse isso a ela. FOi bom. Foi importante ela dizer que entendia. Quis voltar pra algum lugar... apagar uma série de coisas que me deixaram assim... de voltar atrás, bem atrás. De me rever e me acomodar. Me senti fraca, sem coragem. Vontade de me entregar nesse choro miúdo que não passa há dias... e dormir.

Queria patinar no gelo e cair - como quando eu era pequena. Me lembro que toda a vez que eu ficava muito triste com os meus pais ou alguém na escola eu me lembrava que a dor de cair no gelo e queimar as mãos era muito maior. Deixei o coração cair ali? Não tenho conseguido pegar dessa coisa escorregadia.

E chorei. Mais... não paro de chorar tentando recompor os pedaços de sonho. Um livro em fascículos. Rasgado. Fico parada diante de mim olhando e me perguntando se vale mesmo o preço ser tão sensível. E acreditar nessa sorte de bobagens de "ser feliz pra sempre" e um romantismo meloso de cinema. Me lembro que eu tinha um fã na praia - eu devia ter uns 13 ou 14 anos - ele cantava. Nossa turma passou o verão cantando nos luais e nos bares de Capão da Canoa. Ele era muito mais velho e tinha os olhos verdes mais lindos que eu conheci. Acho que desenvolvi uma paixão platônica por ele. Nunca aconteceu nada. Nem um beijinho. Mas eu babava... e me lembro que no dia de eu voltar pra São Paulo ele me chamou num canto e fez uma seleção de músicas pra mim. "Para você se lembrar que é especial, mas eu não posso ir além disso"... achei lindo. Uma delas era "se todos fossem iguais a você"... perfeita para uma leonina. Sublinhou em mim essa vontade de ser sensível.

Mas tenho tido poucas forças pra continuar nisso. Ao mesmo tempo é profundamente doloroso porque eu não consigo ser nada diferente de mim mesma. Egoísmo, egocentrismo... ou pura ignorância de viver. Não sei. Mas tenho caminhado em busca desses sinais da vida pedindo ou retirando... e não sei. Me canso. Me sinto só. Pedinte. Ausente de mim. Desapegando de coisas que são caras a mim. Querendo (des)acreditar nesse universo do belo e do mágico. Será que eu me tranquei no castelo da Cinderela? Perdi os dois sapatos... e o resto ... já tem passado da meia-noite? ou eu fico aqui ouvindo o som do relógio pra sempre?

Silencio de novo aqui dentro. E paro. E espero. Cicatrizo. E me largo.

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sábado, agosto 23, 2008

Tem dores que permanecem... e doem à medida que a distância aproxima ainda mais essa solidão de você. Em você.

Queria contar uma história cheia de celebrações marcantes. Dessas inesquecíveis. Queria poder viver esses momentos que o cinema separa - e escolhendo a dedo - mostra sempre com trilhas sonoras deslumbrantes. Eu sempre gostei de trilhas sonoras. Dos beijos de cinema e do jeito que os casais apaixonados se comportam.

Gostava das frases de efeito, das ações corajosas e de toda essa sorte de coisas que encantam o peito. Mas parece que deixei de ver A rosa púrpura do Cairo. Ou o vi muito pouco. Não existem histórias assim. Me deixei ficar adolescente e o que a gente chama de realidade é mais cru do que somos capaz de engolir.

Queria poder falar de feitos. De entregas e de um conjunto infinito de momentos preciosos como diz a minha mãe. Mas nada consigo contar agora. Nem mesmo quantas vezes choro e porque... não conto nada. Dos sucessos. Dos fracassos. Fico em silêncio tentando me achar no espelho. Olhei o que deixei pra trás... o que vi pela frente. Temi. Suspirando. Passei a tarde em revisões e brincadeiras de gatos. Até o Fred me arranha...

Paro. Emudeço. Quase desistindo de sonhar. E lembrando de Nelson Rodrigues... de Ulisses. De mim. De estar só...

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Ainda estou com as minhocas de Nelson Rodrigues. O que será que é amar errado? É pedir, esperar, dar, sonhar, querer, (não)dizer?
Há pouco tempo eu me senti a própria utopia. Isso não é um auto-elogio. Tãopouco esse pedestal... muito menos a insaciedade...

O interessante de se escrever aqui é que nem sempre as pessoas que te lêem entendem de fato o que você escreve. Isso é bom. Uma espécie de código do sentir transcrito nesse monte de palavrinhas articuladas. Isso é um bom andar-sonhando...

Ainda me pergunto se o meu idealizar vai me manter viva nos próximos x anos. Há tanto por entender e desaprender. Fiquei com a Clarice esse dias: entender é limitado. O texto falando de Ulisses e Lorelay... ele soube esperar ela ficar pronta. E disse isso a ela. Invejei. Acho que encerrei meus tempos de espera nessa encarnação. Esperar cansa. Mesmo que você esteja sentado. deitado... Hoje me dei conta que essa espera minha parece estar bastante mutilada. Cheia de pus e com um hematoma bem no meio... me dá uma fraqueza, lá de dentro, antiga, mofada.

Fiquei pensando se a vida fosse mesmo do jeito que a gente quer, se as pessoas fossem massinhas de modelar. Mas fiquei com o peito doendo porque às vezes o desafio que a gente se impõe é maior do que se pode ceder. Analisei as bases hoje cedo. Há muito o que ceder ainda? Parar de pedir é possível? É bom?

Por que?

Fiquei com a sensação da utopia... todos nós somos utópicos. Acreditamos tanto nas próprias referências que as tomamos como lei. E desejamos que outros legislem como nós. Fiquei triste. Doeu. Me senti tão e extremamente só que curvei. Dobrei os joelhos e abaixei a cabeça aqui dentro. Parecia que o dia terminara sem o por do sol. E o que se havia de belo a ritualizar... ficou... não sei onde. Se perdi? Não sei. Não encontro mais. E ainda aperto os machucados pra ver se sai mais...

Será que a gente ama certo algum dia? Existe isso? Ou se ama com o que se tem? Me lembro sempre do Vinícius que me repondia à frase "as pessoas dão o que podem de si" com "as pessoas dão o que querem"... até hoje não resolvi essa equação.

Olhei em volta em casa hoje cedo. Eram menos de 7 horas e eu já estava enebriada de trabalho e a cabeça funcionando. Senti o coração doer. Voltei pra cama. Voltei pro computador. Nada. Doía e eu sentia esse solitário dentro de mim crescer. Era como se eu tentasse convencer Salamanca que a Terra era redonda de fato. Mas só eu sabia. E ainda sabia, mais acreditava do que sabia. Nunca vi a Terra de cima pra provar isso, oras. Será que a gente precisa ver o amor de cima? Napoleão um dia disse que no amor, como na guerra, pra se vencer era preciso ver de perto. Não sei se eu consigo chegar assim tão perto...

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domingo, agosto 17, 2008

Reconstruir dá mais trabalho do que começar do zero. E deve ser por isso mesmo que viver um grande amor dá trabalho.

Ouvi essa semana o Vinicius de Morais cantando "para viver um grande amor" e senti que essa poesia só dá pra viver - na música - dentro de si. Doideiras à parte é preciso mergulhar dentro desse poço sem fundo de si e se permitir viver esse descascar sem fim.

Fui no Museu da Língua Portuguesa e fiquei estupefata com a quantidade de poemas dedicados a isso. No tempo. Como se ama e se deixa de amar. Se desiste, se persiste, se machuca, se inflama. Se rompe. Se some. Se apaga e se incendeia.

Dei de cara com o Nelson Rodrigues. Parecia uma conversa minha com o Juliano depois das habituais DRs... mas cheias de uma ternura piedosa dos nossos próprios limites. Serão 4 anos... que se parecem eternidades, um piscar. Fiquei com esse poema essa semana e achei curioso eu me lembrar tanto dele hoje, dia 17, 4 anos depois... Dancei com os poemas dentro da minha cabeça e me via - mais ainda - um tanto mais adolescente que aquele punhado de alunos de 8a série. E deixei. Calei.

"Se o homem soubesse amar não elevaria a voz nunca, jamais discutiria, jamais faria sofrer. Mas ele ainda não aprendeu nada. Dir-se-ia que cada amor é o primeiro e que os amorosos dos nossos dias são tão ingênuos, inexperientes, ineptos, como Adão e Eva. Ninguém, absolutamente, sabe amar. D. Juan havia de ser tão cândido como um namoradinho de subúrbio. Amigos, o amor é um eterno recomeçar. Cada novo amor é como se fosse o primeiro e o último. E é por isso que o homem há de sofrer sempre até o fim do mundo - porque sempre há de amar errado."

Nelson Rodrigues - Morrer com o ser amado - 1968


não sei o que o Nelson viveu... aliás, sei quase nada da vida dele. Mas sei, aqui, que essa solidariedade da ignorância do amar me dilata o peito. E, mais humilde, resignada, vejo que como disse o outro poeta: amar, se aprende amando... errado... certo... impreciso e único...

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sexta-feira, agosto 15, 2008

Ainda não consegui terminar o que comecei no meu aniversário...
Há uma solidão. Um calar... uma espera de sei lá o que, que às vezes parece que nunca vai vir... e espero. sinto, deixo.

Nadei mais de uma hora ontem. E nas braçadas me perguntava porque a gente se esforça tanto pra ir contra... Por que se treina isso?

Deixei a resposta no fundo do mar?

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sexta-feira, agosto 01, 2008

Passou... mais um ano. Não. Mais de 20. Quase mais de 30...

Há um mistério eu creio na comemoração de aniversários... Fiz o meu ontem. Dia 31. Estranhamente ele foi sereno. Uma felicidade suavizada. Pela idade?

Acordei cedinho. Fiz as coisas de sempre. Brinquei com os gatos, olhei os emails. Beijinhos e chamegos no Juliano. O trivial. O dia estava particularmente azul. Tomei café e esperei o telefonema da minha mãe. Nada. Ligou uma amiga minha. Foi gostoso. A gente falou de tudo e de nada. Mas foi bom sentir esse carinho pelos fios do telefone.

Fui resolver pendências de banco. Comprei docinhos pra levar pra escola. Espreguicei. Falei com mais um amigo. Olhei as vitrines da rua. Essas coisas... e percebia nesse dia que, apesar de eu ser a mesma há 29 anos, ainda era bem diferente de algum tempo atrás. Muda-se, mas permanece-se.

Dirigi até o trabalho ouvindo as músicas que eu queria. Escolhi várias do Queen porque sempre me lembram do Tio Fredy. E toda a bagunça que a gente fazia nos 31 de julho. Senti falta do meu pai. Do Gu que está na Itália. E, apesar de tantos amigos e pessoas queridas, a única coisa que eu queria era a minha família. Vontade de ficar quietinha. Aconchegada.

Fui pra escola e, chegando depois da agitação da primeira aula eu fui recebida com bastante afeto. Por gente que não me conhecia direito, mal me via. Fiquei ganhando surpresinhas aqui e ali. Beijinhos, abraços, um aperto daqui, dali. Fiquei feliz. Meio tímida-enebriada-desengonçada.

O carinho de alguns - inacreditável! - alunos e mais de um monte de gente que vê o teu nome no mural de aniversariantes. Comemorei. Do meu jeito. Meio quieta comigo e com as coisas que tinham acontecido.

Me lembrei de aniversários antigos, recentes. De 4 anos atrás... de promessas que eu fiz, que fizeram. Um passatempo meio de criança tentando localizar os sucessos e os fracassos. Nada pretencioso, mas fiquei com vontade de não fazer nenhuma lista. Só de me calar. Observer esse amadurecer-verde dentro de mim. Fiquei com vontade de me sentir igual aos navegadores espanhóis e portugueses que chegaram ao Novo Mundo. Ainda procuro isso aqui dentro. Mas parece que essa viagem vai além das 750 léguas depois das ilhas... será preciso ultrapassar mais cabos, mais tormentas. Uns sem esperança. Outros cheios de monstros e cantos... quis ser mais, ser menos. Quis parar, desistir e fazer tudo bem depressa. Voltar atrás. Apagar um monte de coisas. Deixar tudo como sempre foi. E... esperar mais 29 anos...?

Ficar no mar. E deixar. Ser. Sem esforço naquilo que eu acho que posso. Sem querer descobrir mais nada do que não posso. E ir...

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terça-feira, julho 22, 2008

os 2...

Ao ficar com vontade de escrever sobre o Nosso, me dei conta do número da postagem... 222. Acho graça ainda e consigo me surpreender com as coincidências.

Esses dias depois de umas discussões, questões e avaliações, fiquei remoendo umas lembranças. Pensando no que seria, no que é. Em como será. Sempre que as coisas pareciam confusas essa tranquilidade de-nã0-sei-onde aparecia. Sublinhada com o 2, 22. Eram 22 hs quando ele ligou, quando eu mando um msn malcriado, 11:22. É bom notar essa permanência depois de se dizer cética. Em relação a uma série de coisas.

Eu sempre me surpreendo com o Juliano. Fico pensando uma vez que ele me disse que pra ele, eu era a sua primeira namorada. E ri - afinal namoradas é o que não faltou no currículo dele - achando essa fala uma mistura de quero-te-agradar com eu-não-sei-o-que-dizer. Mas depois, observando e comprovando o que ele insistentemente me dizia "ninguém nunca teve tanto de mim", me deixando perceber as sutilezas do que é ser a primeira namorada...

Engraçado como isso ainda me pega. Ontem mesmo, depois de fazer um melodrama por telefone, bancando a sabidona e a que sempre tem razão eu fui desmontada por essas demonstrações súbitas, inteiras dele. E mais que isso: ainda me admiro com a intensidade desse despojar-se dele. Para um sujeito fechado, com as suas crises e as necessidades de espaço e tal, mergulhar assim, do alto, causa estupefação.

O mais estranho é que essa constância de renovações e inteirezas fractais do Nosso ainda me deixam muda. Sempre fico achando que essas fissuras são profundas, que as coisas vão se abalar. Nesse sentido, a romântica aqui é a mais cética. Cega, pra ser mais precisa.

E sou surpreendida. Todos os dias. Nem sempre falo. Afinal, dizer nunca é mais fácil. São quase 4 anos. E toda vez que eu penso que a peça vai acabar uma platéia inteira dentro de mim aplaude esse artista. Que me encanta. Me faz rir, e me move. A melhor sensação é poder se surpreender num relacionamento. E se perceber diferente de duas horas atrás. De dias, de meses. De sempre. É deixar que a rotina traga uma constância desigual. Inteira.

Há pouco abri os emails. Sempre tem uma notinha ali. Uma mensagem no celular e essa coisa toda de (primeiros) namorados. Que fica. Que cresce. Que surge de dentro pra fora. Sem as prescrições de uma exigência mal compreendida. Gostei de acordar com esse corpo...

E por mais que o dia seja esse, outro, intenso, duro, cheio, mal, ou qualquer outra coisa que comprove meu ceticismo... é bom saber que as surpresas não tem aviso prévio. Que não se programam ou encomendam... mas que são vividas. Sempre, no meu silêncio. Em mim. Em ti. No Nosso.

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segunda-feira, julho 21, 2008

Há alguns dias a Filó está mal...Nunca achei que fosse ficar tão envolvida com uma gatinha dodói.

Foi um corre daqui e dali pra hospital e farmácia e toda essa coisa de semi-maternidade. Na semama passada dei de cara com a Lina na porta. Miando. Chorando e pulando no meu pescoço... mexeu bastante. Tive que devolvê-la para a dona com aquela cara de quem não fazia o que queria. Ela percebeu.

Prenúncios a parte, estou preocupada com essa fraqueza e mistura de febre e mal estar e mal sei lá-o-que-ela-tem... enfim. A gente ama mas não faz mágica. Custou ficar à mercê de um hemograma cheio de números indecifráveis e segurar a pequeninha no colo toda molenga.

Mas o pior do hospital de animais não foi ver a Filó assim. Depois ela ficou melhor, se recuperou um bocadinho... Assistir as pessoas apegadas aos seus animais me deixou mais aliviada em relação a tudo o que eu vivi com a Lina - e venho vivendo agora com os dois gatos. Não sei explicar isso, nem sei se terapia resolveria esse mistério. Mas naquela noite chegou uma cachorrinha com os médicos do resgate. Tempos depois, a dona. Vi os olhos agoniados das duas. E um pouquinho mais de tempo depois a dona subiu. Fiquei ali agarrada com a Filó no colo torcendo para que todas as coisas boas acontecessem com os dois bichinhos.

Nada. Silêncio. Aquele clima de sala de espera de hospital. Nada diferente dos humanos. Ou seria a nossa semelhança animal? Fragilidade física. Do sentir. A Filó ardia em febre e eu ali tentando pensar nas coisas boas e que eu não perderia outra gatinha. Fui acordada do meu transe pelo choro doído da dona da cachorrinha. Me apertou o peito. Eu já sabia o que era. Alguns dos donos se olharam na recepção. Mais silêncio. E aquela solidariedade cheia de medo de que a cena se repetisse naquela noite.

Não consegui dizer nada. Fiquei ali revivendo a Lina, os aparecimentos súbitos dela na minha porta e os carinhos trocados. Revivi o dia que os dois chegaram em casa. E olhava a Filozinha toda frágil no meu colo. Como dá vontade da gente fazer milagre!

Fiquei - loucamente? - pensando nos meus pais comigo e meus irmãos pequenos em cenas parecidas. Sem saber. Esperar. Rezar. Acreditar. Acho que nessas horas faz sentido a palavra fé. Não se explica o acreditar. Mas se acredita. Não há nada teórico - nem prescrito. Há o sentir. Pensei. Olhei aquele corre corre dos médicos. A dor. Papéis de internação. Custos. Fiquei pensando porque a gente se importa mais com esses pequenos do que, muitas vezes, com outros humanos como nós. Será uma necessidade de poder-fazer? E não se pode nada nenhum.

Fiquei humanamente animalizada. Sensação de impotência, cumplicidade. Saí de de lá chorando e me dando conta que - de fato - mais uma vez, a gente não controla nada. Nunca. Fiquei com vontade de resolver o problema de todo mundo e fazer a Filó sair pulando de novo. Passei a noite em claro vendo como ela reagia. Se comia, tomava água, ficava bem. Se miava. No dia seguinte tratei de dar outro geral na casa antes de voltar ao hospital. Mas não deu. Passei o domingo trabalhando aqui pra tirar a poeria e deixar tudo bonitinho pra ela.

Estou desde aquele dia velando essa gatinha. Achando mágico essa vontade de cuidar. De fazer. De melhorar. E me estranhando com esse universo paralelo dos humanos: expostos à vida como qualquer outro animalzinho frágil. Que não sabe o que o espera. E dizendo que entende. Que sabe, que quer e faz...


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quarta-feira, julho 16, 2008

Acordei hoje com a Filó me puxando os cabelos. Achei tão bonitinho esse acordar. Acho que entendo porque os solitários sempre tem animais de estimação. E entendo o estágio mais avançado de se ser só. Não é preciso nem isso. Fiquei um tempo com ela na cama e depois vi os dois rolarem pra cá e pra lá se fazendo carinho e brincando.

Sempre esse cotidiano me deixou meio encantada. Não gosto de rotinas, mas gosto de uma permanência na vida. De coisas que se repetem, com serenidade. E que se constroem aos poucos. Levantei e vi a casa de pernas pro ar. Cheia de pó branco de tinta e massa. Uma poeira bonita que dançava com as luzes do sol e o prisma da janela que, apesar de esbranquiçado, ainda refletia... Achei tudo isso meio mágico, uma coisa de achar bonita a destruição.

Nunca me incomodei tanto com sujeira como nos últimos dois dias. Mas apesar da reclamação, estou achando bom ficar na minha toquinha. Sem precisar me expor ao mundo da sala de aula. Essa madrugada fiquei fuçando na internet... resolvi procurar o Charles. Meu antigo professor de literatura. Vi um blog dele, mas sem nenhum contato. Tinha apenas uma foto. Fiquei me lembrando das aulas e das músicas que ele cantava. De todas as coisas que ele passou. Dos lançamentos de livro. De presenças e ausências. E lembrei que ele nunca mais escreveu, deu notícia. Por muito tempo eu fiquei pensando porque isso tudo tinha acontecido e se tinha um mistério nesse desaparecer.

Mas no meio do café da manhã na poeira da sala eu me lembrei que muitas vezes o sumiço é mais presencial. Sumi de algumas pessoas. E sei porque. Senti saudade dele, de ser aluna de novo. Fiquei me lembrando se depois eu tinha encontrado um professor parecido... e de certa forma a minha adolescente idealização dele se transmutou num silêncio. A gente conversava pouco. Mas era o suficiente. E vi de novo depois as fotos. Os livros e as dedicatórias. Achei graça dessa passagem de tempo que ao mesmo tempo congela as vidas das pessoas em lembranças. Fiquei com vontade de tomar um café com ele e contar tudo o que se tinha passado em tantos anos.

Mas percebi que esse café não era necessário. Quando a gente conhece o outro sabe diagnosticar nas feições do rosto as coisas que mudaram. As que foram escondidas. E outras apagadas. Me deu vontade de falar disso depois de reclamar do meu excesso de sensibilidade. Ele era uma das pessoas que valorizava isso. Mesmo reconhecendo o quanto ele estava endurecendo com a vida. E não era conselho de professor mais velho. Ele via algo nisso que me dava a sensação de ser compreendida. Ora, para uma adolescente sem auto-estima: grandona, de cabelos enrolados e que gostava de ler coisas estranhas na época... nada mais adequado. Esse acolher dele sempre me deu vontade de retribuir. E de alguma forma, é o que venho fazendo na sala de aula com os meus alunos. Na medida que posso. Que aprendo. Que vejo e sinto. Engraçado como uma inspiração pode transformar tanto assim... e atravessar as eras da idade da alma.

Fiquei a manhã nostálgica. Com saudades das peças de teatro. Das brincadeiras com p Pico, dos meninos do MIR. Me deu vontade de voltar no tempo e saber lidar com esse sentir todo, sem me machucar tanto. Era mais simples. Desafios mais generosos. Sem dor. Eu sabia o que queria. Mesmo que não soubesse quem era. E hoje, sabendo mais quem sou, sei menos o que quero. Ou sei todo fragmentado dentro de mim. Será que o Charles teria algo mais a ensinar? Sobre o baú de ossos? Sobre ir, vir, sumir. Sobre não entender...? Acho que procurar o nome dele na internet foi um pouco essa tentativa de descobrir uma receitinha. Mas esqueci da grande dica de ontem: terapia. E vamos nessa...

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terça-feira, julho 15, 2008


Me armando. De mim.

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Chego em casa de noite e não tem ninguém. Achei tão bom e tão ruim essa solidão. Invejei os que são sós. De verdade. Daqueles que não precisam de outro. Daqueles que nem sequer sabem como se apaixona-se.

Depois de um dia todo de reflexões e de uma certa tentativa - honesta - de trazer as coisas para um nível de generosidade e compartilhamento, esbarro com a receita de "vá a terapia". Ora, essa é uma excelente muleta para aqueles que nunca se desafiaram a conviver com o outro de verdade e de tão perto. Conviver com terapeuta é bom. Mas paga-se. Um preço que ao meu ver vale bem menos do que uma vivência inteira com alguém. Mas fazer o que... Fiquei aqui pensando com a minha cervejinha - e os gatos - que muita gente nunca teve com quem conversar de fato e só foi ensinado naquela salinha, com aquela pessoa.

Gostei muito da minha terapia - e tenho vontade de voltar (acho melhor eu escrever com maiúsculas: EU VOU VOLTAR PARA A TERAPIA - isso adianta?) No entanto a falta de sensibilidade será mesmo recuperada na terapia? Ou se consegue isso com o conviver, o espelhar, o deixar-se aproximar. O curtir-se. Sim. "Se curtir" é algo que só se faz sentindo. Nem que seja prazer. Puro. Físico. Mas isso só se pode com alguém, certo? Ou será que entramos num esquema tão profundamente solitário de andar por entre as gentes que se utilizam outros recursos? Dá pra sentir sem outro por perto?

Hmmmm...

Eu sempre rio pra ironia de um esforço meu em me mostrar mais humanizada. Sempre é frustrado. Dói. E fico pensando se isso é para que eu me humanize mais. Dizia na terapia que eu gostaria de não ser sensível assim. Minha chefe antes das férias me disse algo parecido "me preocupa você ser tão sensível, você precisa criar uma capa". Procurei as minhas capas em casa. Não achei nenhuma. Ao contrário. Em casa não há capas. Joguei todas fora. Mas começo a sentir falta delas. Me vejo num sentir agudo pedindo ajuda. E tudo o que ouço nesse processo de limpeza de espelhos no labirinto é para que eu procure um profissional. Ok. Eu não sou a santinha sensível mesmo. Nunca fui. Nem quis ser, apesar de ser, muitas vezes, acusada de olhar a humanidade do meu pedestal.

Fico pensando porque eu me importo. Porque eu me importei tanto há 4 anos... há 10, há mais de 13... E vejo - sem crise de vítima, PLEASE!!!! - que muito pouco foi importado pra mim... Que ironia isso. Se pedir para uma pessoa com a sensibilidade sangrando na pele - doendo mesmo - se acalmar. É quase como dizer que não há dor. Mas antes que eu esqueça. A dor é minha. Ninguém provoca dor no outro, não é mesmo? Deve ser por isso que as pessoas sofrem tanto, brigam tanto e discutem tanto. Porque elas são loucas em si. Sem precisar de ninguém. Vivem perambulando nesse solitário ser delas mesmas. E fazem de conta que precisam dos outros só pra ser bem visto? Ah! Esqueci da palavra carência.

Tem gente que esconde tudo aí. Tudo é carência. Os erros, as precipitações e irresponsabilidades diante da dor do outro. Mas tem gente que apesar de admitir a carência, e a sensibilidade, sem se esconder nela - ou por ela - é confundido com insaciável.

Estava lendo na academia o Amor em minúscula. Achei graça desse começo de paixão. Me lembrei do Nosso. Do Juliano. Achei bonito um sujeito durão se abrir inteiro pra viver um grande amor. Nos termos de Vinícius de Morais. E ainda assim, fiquei com vontade de me refugiar. De endurecer. Por que? Por causa do Juliano. Não... claro que não... mas por excesso de sensibilidade que me parece, a vida sinaliza para eu perder. Alguns chamariam isso de amadurecer. Mas uma fruta bem madura não tem a pele toda sensível? Será que essa minha sensibilidade vai me fazer apodrecer? Será que eu sei mesmo o que estou fazendo com ela? Hoje tive vontade de me esconder de mim mesma. Peguei o carro e saí pra dar uma voltinha de madrugada. Sempre isso me ajudou na conversa com as minhocas, não é?

Fiquei aflita em pensar que eu sinto demais. Um transe mediúnico que me fez ter vontade de correr. Pra dentro. Pro mais meu. Sem sentir. Como é isso? Esbarro num email antigo do Vinícius falando pra eu nunca deixar de ser assim... e de todas as coisas bonitas que esse sentir me permitiram... epifanias. Diárias.

Mas pra se sentir tanto se paga tanto assim? Sem reembolso? Por que as feridas quase cicatrizadas são rasgadas quando eu as mostro? Por que essa tentativa de me "humanizar" vem sempre acompanhada de flagelos?

Ok, muito shakespereano, talvez. Ouvi música depois. Trilhas. Buscando em mim mesmo o que eu deveria sublinhar com elas... Rabisquei o texto todo de mim mesma. e vi uma bizarrice de cores sentidas. Intensas e multiplicadas. Fractais. Prismas inteiros e quebrados nesse meu devaneio de querer não querer. De só parar. Onde eu desligo? Pra onde fica o silêncio e o vazio? Não quero mais sentir tudo ao mesmo tempo. Nem agora, nem mais.

Senti o amargo tomando conta. Esse vinagre escorrendo pelas veias. Dilatando e contraindo por mim. Não tinha pra quem ligar. As linhas desse canal não atendem mesmo. Pensei em voltar a sair de carro. Mas me lembrei que eu tinha tomado uma cervejinha... e a lei seca... sim. Ia ser muito mico ser pega embriagada por querer parar de sentir tudo.

Senti as agulhadas da vida. Li umas cartinhas que achei na pasta. Bilhetes. Fui olhar a casa reformando. "Vamos nos curtir", disse o Juliano. Olhei as coisas ali e agradeci. Há um curtir nisso tudo... E antes que eu seja vista - novamente - como alguém que nunca está satisfeito com nada... é melhor eu parar... de querer não sentir mais. E esperar essa dor respirar. Parar de tomar conta. Eu queria ser anestesiada da vida. E deixar. Quis viver a estátua. Quis ficar muda. E não ter mais nada a dizer. Porque não sinto mais nada.

E Clarice dizia que só se escreve com dor. Por que? Por que sentir tem que doer? Onde isso pega na gente? Como eu faço? Como eu faço de conta que eu não me importo? Como eu paro de me importar? Como eu finjo ignorar? Tenho medo que esse pedido de distância me afastem pra sempre. Já vi isso acontecer. Fiquei com saudade do mar.

Liguei. Nada. Nada falava comigo... e eu tentava falar com tudo. Será que se eu falar com o terapeuta resolve? Ora... Será que lá se aprende a parar de sentir? De lembrar? De esperar? Será que se ensina isso? Se treina? Hoje quis zumbizar pela terra. De noite e de dia. Tanto faz. Sozinho. Acompanhado. Faz diferença quando não se sente?

E fiquei aqui olhando esses livros todos em volta de mim. Tem tantos deles que sentiram demais, e não aguentaram. Uns escreveram. Outros fizeram isso e também piraram... outros ficaram. Outros entenderam. Uns deixaram disso, afinal, entender é sempre limitado, dizia a Clarice. Eu quis limites hoje. Dentro de mim. Por que esse escancarar meu pro mundo? O que isso tem me trazido? Há poros dilatados demais. E entupidos de tanta secreção. Pus, suor. E as outras "inas" que fazem bem também... deixam a gente com essa sensação de estar extasiado pelo existir aqui.

Passei uma lista das pessoas que passaram - e passam ainda - pela minha vida. Identifiquei um número assustadoramente pequeno daquelas que tinham esse compreender - não entender - esse ser cúmplice de um motor em explosão aqui dentro. Por mim. E achei ao mesmo tempo bom, e triste, essa solidão. Talvez a terapia cure não isso, mas corrija as lentes da observação. Sempre se é míope ao sentir. Sentir o outro: dá outro ensaio sobre a cegueira, Saramago? Sem pontuação. Nem correção.

Chamei o Sandman pra próxima rodada de cerveja. Eu, os irmãos. E os gatos. Ainda bem que o Destino é cego. E a Morte exuberante.


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Sempre gostei de trilhas sonoras de filme. Há tempos que eu venho descobrindo John Williams. Sempre que uma trilha me toca fundo, a música é dele. Assisti Memórias de uma Gueixa há um pouco mais de 2 anos. No cinema. Na época que vi o filme, por recomendação do Tomas e do vinícius, eu tinha que enfrentar uma coisa que me corroía a alma. De antes? De sempre? Dessas descobertas que a gente faz da gente e do outro que, ou põe tudo a perder, ou se ganha para sempre.

Acho que o resultado tem sido o segundo. Esses dias consegui a trilha do filme e passei o dia corrigindo as provas, correndo aqui e ali com material de construção, vendo gatos, com essa música na casa. Fui lançada àquele fim de tarde de 2006. Antes da Páscoa. E me descobri ali, quieta por fora, agonizando por dentro. E me lembrei que a personagem era como a água. Atravessava e se moldava às coisas. Tinha essa virtude de seguir, sem se amedrontar com os buracos e curvas. Invejei. Desde aquele dia não consegui reproduzir esse deslizar. Escorrer.

Na verdade, tenho cavado mais fundo, mas sem deixar a água entrar. Lembro bem que um amigo me disse que as minhocas vivem em lugares úmidos. Mas não submersos. Fiquei com vontade de ser essa água. Ontem, lendo o livro Amor em minúscula com a trilha do filme, me dei conta que eu ainda não consegui lavar esses buracos aqui dentro. Há pouca luz. E ainda por cima os escondo com panos cintilantes para disfarçar.

Voltei a ter insônia e não dormi essa noite. Invejei os gatinhos que pulavam pra cá e pra lá. E eu rolava inquieta. Sem poder dormir. Sem poder acordar. Havia um silêncio pré-tempestade dentro de mim. Fiquei com as memórias. Não as minhas. Dele. E me confundi. Me perdi aqui dentro nesse novelo de lembranças picpotadas em cadernos e frases perdidas. Fora do contexto. Sem texto que me dissesse respeito. E a dor... esperando no pé da cama. Ouvindo o meu respirar apertado. Nervoso. E de repente, sobressaltada pelo pulo do Fred na cama que me olhava fixamente, achei irônico me encantar com as memórias dos outros. Sempre tristes, dizia o Juliano. E me apertei mais em mim. Vi um desfile sombrio de rostos e curvas de pessoas. Cores e tamanhos que se confundiam com esses fantasmas aprentados pra mim. Não dormi mais.

Apertei a boca nas mãos pra conter esse respiro. Senti uma pontada no peito e uma vontade louca de me esquecer. De tudo. De nunca saber. O desconhecido pode ser mesmo um grande abençoar. E chorei mais. Me desesperei nessa vontade de me apegar mais, mais. De querer. e de ouvir e saber... sem mais ter que ler...

Não me lembro mais de ter dormido, mas fui sacudida pelo despertador do Juliano que ia viajar cedo. Mais panos. Menos cintilantes. Como a gente pode mesmo sublinhar essas emoções com música? Fiquei pensando nessa coincidência de ouvir de fora, de dentro, desse mundo cheio de memórias. Dessas que se quer esquecer, dessas que se apertam no coração e entre os dedos para não escapar. Dessas que se pode perdoar. Mas não se pode.

Lembrei de mais um monte de coisas hoje cedo. Quase nostalgia de 28 anos que ainda não se foram? Me senti velha. Jovem. Inteira. Fractal. Pensei e deixei de pensar. Fui fazer essas coisas do cotidiano e meio para fazer de conta que se está bem por dentro, comecei a falar e a falar. Com gatos. Resolvi problemas da obra e não tive vontade mais de sair de casa. Fiquei aqui. Atirada no meio das provas. Ouvindo a mim. E pedindo ao John Williams que sublinhasse essas outras coisas aqui que eu ainda não sinto, nem percebo, mas existem dentro de mim. Pedi música. Perdi memórias. E me deixo com votade de ter mais esquecimentos e lacunas... pra deixar a água passar.

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segunda-feira, julho 14, 2008


Hoje acordei com saudade desse mar. Desse ir e vir pra dentro, cada vez mais.

Desse me banhar de mim, de luz e de sal. De ondas que vão me levar pra sei lá onde. Trazendo tudo, deixando nada. Fiquei com saudade dessa solidão cheia de plenitudes que não se explicam. Nem se dizem. Vontade desse mergulho. E ficar. Nesse escuro do fundo do mar que deixa o sol se por e a vida calar.

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Estrelando... Fred e Filó.

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Eu me espanto ainda com algumas coincidências dessa vida. Depois de viver essa tragi-comédia grega com o universo dos felinos, a história ainda parece continuar... Estava na semana passada dando uma rodeada pela livraria da FEA e - pela segunda vez - esbarro num livro chamado Amor em minúscula. Gostei do título, mas gostei mais porque tinha um gatinho na capa. Igualzinho à Malu.

Malu foi uma gatinha que encontramos na escola. Estava na 7a. série. Sempre gostei de gatos, mas minha mãe na época não queria bichos em casa. Mais ainda: tínhamos herdado um papagaiozinho do meu avô que falecera no ano anterior. Era uma combinação perigosa, para não dizer mortal. Achamos a Malu no páteo do colégio. Gata de rua mesmo. E, acho que já contei essa história aqui, enfiei a Malu na mochila, e trouxe pra casa.

O pior não foi confinar a gatinha numa mochila com livros de escola e aguentar o trajeto de ônibus - aproximadamente 20 minutos - até a minha casa. Inventei de dar um banho - isso mesmo! - no tanque de casa, com a água gelada. Foi quase um campeonato de luta livre, o qual, honradamente eu ganhei depois de ser arranhada até onde não podia. Malu andou em casa, tranquila. Minha mãe chegou e fui obrigada a começar o sermão pró-felinos. Inútil. Tive que levar a gata pra escola. Na mochila. E assistir as primeiras aulas com ela.

Me lembro que a aula antes do intervalo era de matemática e o professor era um querido. Jihad. Nada a ver com as jihads. Era um coroa bonitão e muito engraçado. Tive que disfarçar que a mochila se mexia e miava. Pobre Malu. Os colegas ainda tentaram acobertar - afinal era um plano coletivo dar uma salvação à gata. Mas ninguém ficou com ela no fim das contas. O duro de se ter 13 anos é que as decisões bonitas que você toma nunca param em você. É preciso pedir autorização à cúpula dos pais(es)desenvolvidos.

Mas o que de fato me trouxe nesse livro nem foram tanto as lembranças da Malu ou a relação com os gatos. Mas o título, certamente, me provocou um suspiro gostoso no coração. Dessas brisinhas de felicidade não inteligíveis. Gosto das coisas simples: ir a padaria, andar de bicicleta e ficar passeando pela cidade a pé. Gosto de andar descalços e poder usufruir do que a minha mãe sempre chamou de "momentos preciosos", traduzidos na linguagem cotidiana por vários outros vocábulos.

Comecei a sapecar com o livro e achei lindo a possibilidade de viver um amor, minusculamente falando. Miudinho. Não o amar pequeno. Mas de encontrar essas joinhas nas nossas intermináveis horas. Há um gato que traz a um professor solitário e cabuçudo de filologia um suspiro gostoso desses. De certa forma, tinha muito a ver com o meu café da semana passada. Descobertas dessa forma de viver que não ficam restristas à academia. Mas que se pode viver bons livros nesse nosso peregrinar em nós mesmos pela vida.

É engraçado quando a gente se reconhece nas linhas dos outros. E acho que foi essa vontade de me reconhecer aqui e ali, me achar nas entrelinhas do existir que deixaram de olhinhos vidrados no livro. Há essa coisa que me lembra ainda a Lina, que os animais ensinam. E que nem sempre a gente se predispõe a aprender qualquer coisa. Com eles ou com outros. Esse nosso jeitinho simplificado de organizar a nossa vida para que seja suportável viver assim tão cheio de "não sei" e "não entendo". Saboreio esse romance que se costura com os meus. Em silêncio.

O autor. Claro! ele escreve bem, mas falando mesmo dessas coincidências ele cita muito Kafka, Goethe... e pra me deixar mais extasiada o Livro do Desassossego do Fernando Pessoa, sem contar o Pink Floyd e o "Dark side of the moon"... O livro está cheio de citações bonitas e que deixam a gente suspirar com as páginas abertas da alma... Tem uma delas que eu fiquei..., que me deixou assim com essa vontade de escrever sobre sei lá o que

toda luz tem sua sombra. as pessoas aparentemente mais simples ocultam um mundo no qual acontecem coisas impensáveis. quando entramos nele por acaso, somos invadidos por um sentimento de desconcerto e temor, como quem invade um jardim alheio.
(...)
Por isso às vezes é conveniente não querer saber tudo.


E acho que foi exatamente isso que me pegou. Porque eu sempre quero saber tudo o tempo todo. E me lembro da Clarice dizendo "você é daquela que precisa de garantias". É. Assustadoramente assim. E isso nunca se tem. Já dizia Malu, Lina, ...

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terça-feira, julho 08, 2008

Recebi uma boa notícia em relação ao meu mestrado. Mas a coincidência foi que, exatamente hoje, tomando um café na FEA antes da aula de alemão eu ouvi uma voz bem familiar. Até demais que olhei. Era a uma antiga amiga minha da faculdade.

Há coisa que 6 anos atrás ela tinha tudo o que eu almejava - quase tudo - tinha seu carrinho, sabia ingles, alemão e francês, latim, estava terminando o mestrado e se lançando ao doutorado. Tinha ido algumas vezes para a Inglaterra para estudar. E podia comprar livros e passar o dia estudando. Tinha bolsa. E uma família que podia bancar as coisas. Além de tudo isso, era bastante lida, estudiosa e séria nos seus trabalhos. Minha primeira apresentação - quase - séria em congressos foi com ela. Sempre admirei. E sentia uma inveja positiva. Algo do tipo "quando crescer quero ser assim".

A gente se dava muito bem. Saíamos juntas e eu cultivava essa mistura de admiração-projetada-de-sonhos. Ela tinha personalidade. Eu também. Dizia o que pensava. eu também. Havia muita afinidade e chegamos a participar de momentos bonitos da vida uma da outra.

Num determinado momento do curso ficamos mais próximas e como ela morava bem perto de casa me dava carona. Pouco tempo depois - não me lembro exatamente quanto - a gente se afastou. Crises na família dela. Eu ocupada. Enfim. Essas coisas que a vida vai fazendo pela gente. E a gente deixa de fazer pela vida. Nos estranhamos uma vez e acho que depois disso, por mais carinho que existisse, não foi igual. Eu fui trabalhar. Terminei a faculdade. Corri atrás dos meus sonhos: estudei línguas, rererereescrevi projetos. Briguei com orientador. Caí na sala de aula.

Nesse percurso mudei de namorado. Gandaiei. Conheci a Marcia. Enfrentei Stelas e Manuelas. Muita coisa salgou em mim. Outras adoçaram. Me desencantei com a academia. Com a sala de aula. Com amigos e colegas. Fiquei deprimida. Enfrentei monstros e minhocas. Depois me apaixonei. Casei. Fiquei desempregada. Corri atrás. Pedi emprestado. Suei. Deixei de dormir. Chorei. Discuti a relação. Briguei em casa. Chorei mais. Trabalhei. Escrevi. Estudei. Li. Achei pessoas. Presentes. Alunos. Mestre. Voltei a me encantar com a academia. Com pessoas e com a nossa dificuldade de conviver.

Muita coisa aconteceu desde então. Hoje, tomando aquele café ali eu vi a mesma mesmice de anos atrás. O falar mal. O rancor. A disputa e a insegurança que a intelectualidade insiste em dizer que não tem. Vi um castelo de vidro. Lindo. Frágil. Cheio de ranhuras que podem quebrar. Montado sobre um solo de areias orgulhosas. Senti por ela. Pelo tudo o que eu gostaria que ela tivesse vivido. E pelo que um dia eu quis viver. Senti. Toquei no braço dela algumas vezes dizendo que sentia saudade. Nem sei bem do que. De quem. De mim ou dela? De nada...

Saí pra aula meio cambaleante. Subi as escadas correndo como se fosse encontrar no terceiro andar a menina do terceiro ano deslumbrada com o conhecer. Cheguei ali e não vi nada a não ser meu reflexo no vidro escurecido pela noite. Passavam das 18:30. Passa(r)vam por mim muita cenas translúcidas naquela tela quase etérea do meu vivido. Pensei ali no que eu vinha me transformado. E como Deus depois da criação, vi "e achei que era bom". Gostei do meu metamorfosear dolorido. Das minhocas cavando em mim e saindo sei lá pra onde. Gostei desse amargo de viver e da doçura do se transmutar. Achei bom a dor-prazer. E agradeci a quem de direito por isso tudo em mim. Dentro. Fora. Lembrei do Tatá... meu mestre. Nas coisas da cabeça. Das suas lições de humildade e de seguir. Persistir e achar bonito não vencer de cara. Gostei de ter crises com a falta de tempo. Da minha demora em fazer o mestrado. De adiar. Nunca de desistir. De saber esperar. Saber chorar. Perdoar. Reconhecer. Iluminar e escurecer. Gostei de ter mordido a língua. De ter de pedir desculpas. De ter razão. E de não ter poder.

Voltei da aula de alemão com o coração latejando aquela dor. Ainda lacinante de feridas antigas e doídas. Fantasmagóricas que me assombram pela História e por tantas histórias que me atravessam. E trespassam o Nosso. Tinha ligado pro Juliano. E feliz-triste pedi saudade e um SOS pro meu coração que esses dias foi bem sacudido. Pedi carinho e aquela confirmação que é mistura de manha e medo de quem é-foi ontem-hoje, e nunca mais. Cheguei em casa assim. Meio tropeçada por um de mim. E dele. Da gente. Da USP. Da História. De cada um.

Senti saudades de casa. Daqui mesmo. Entrei. Procurei alguma coisa que eu acabara de reencontrar. Senti saudades da minha amiga. E de quem fomos uma pra outra. Mas soube que eu era mais inteira agora. E o quanto eu precisei perder pra me deixar assim, com menos frações de mim. Me deu uma melancolia. Um me alegrar cheio de pontadinhas no peito. Mordiscadas de vida transmutada arranhando o coração. Tão frágil trocando de pele. Ah, isso sim acontece. Os corações também trocam de pele. Com menos frequência porque estão bobamente blindados pelo nosso jeito metidinho de ser. Mas quando a pele é arrancada... aquele pulsar em carne viva te dilata inteiro por dentro. E a pele nova demora pra nascer. Fazendo esse nascimento doloroso, definitivo até que se troque de pele de novo.

Abri a porta procurando juntar as pelinhas que saíam e nasciam aqui dentro. Me lembrei das caminhadas na semana passada e dos muitos e lindos e silenciosos "até amanhã" do sol... das cores na praia. Da água do mar. E desse sal de Clarice tomando conta de mim de novo. Me lembrei das cores. De que cor é mesmo sentir? E se sente tanto? Abro a porta. E ali estava o Juliano. Flores amarelas nas mãos e aquela camisa amassada do dia. Laranja. E o rostinho corado de sol. Brilhou aqui dentro. E da pele e do sangue e da dor eu senti aquele quentinho no peito. Anestésico. Um olhar e o silêncio de quem se testemunha trocando de pele. Um abraço. Um carinho e um sussurro perfumado dessas flores amarelas. Luminosas. Cheias de vida. Do Nosso. E ali, tudo se fez. Fechei os olhos e vi o sol aqui dentro. Nascendo... até amanhã.

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