segunda-feira, maio 04, 2009

a santa tempestade

Passou. Mais um mês de loucuras... trabalho, trabalho. E eu volto sempre pra ele. O Nosso. E fico. E sou. E desmancho...

Passou. E resolvi me largar naqueles braços cheios de nós. Da gente. E fiquei ali o feriado inteiro curtindo o meu amor. Silêncios de um eu que não sabe expressar essa coisa estranha chamada incongruência. Parei nas marquises das minhas (sujas) questões, com minhocas e dores. De um ontem que de fato não me pertence. Não assisti a minha festa de inauguração naquele coração. A festa era pra mim. Mas eu não vi. Parecia tão óbvio. Mas eu não vejo ainda. Pergunto se havia convidados. Não. Se havia gente sabendo, olhando e bisbilhotando. Mas não. Era pra mim. Só pra mim. E eu não consegui ver. Ainda. E não era pra ver nada... não era um rito de passagem pra mim. Mas pra ele. Pra mim, gerúndios. E pra nós eternidades desencaixadas da razão.

Fico dias tentando achar convites, testemunhos concretos de uma coisa tão etérea quanto a alma que sente. Não vejo. Me sinto criança esperando presentes na chaminé. Acordo com eles ao meu lado, mas não sei - e nunca vi - quem os trouxe.

Fui ao show do Marcelo Camelo. Virada Cultural depois de dias assombrada numa loucura de trabalhos. Tão longe de mim. E foi especial... no meio daquela multidão. Me perdi dos amigos. De todos. Nada de mensagens, pessoas conhecidas. E amassada no meio daquela gente desconhecida, me espichando pra ver o show de longe...olhei a cidade tomada de gente. De barulhos, bêbados, amantes loucos e nós. Só nós ali no meio. Parecia que a turba toda silenciava conforme a música ia passando, por dentro de mim. O corpo todo musicava... e eu ficava ali. Enroscada naqueles braços que me apertavam, me puxavam pra perto e ouvia aqueles sussurros de "eu te amo". Bastava.

E achei graça desse meu estado de menina. Tanta gente e só a gente. Só. E a minha solidão se deixou. E ficou só. Apertei ele forte. Pra ter certeza que era aquilo mesmo. E descobrindo devagar esse sentir etéreo, silencioso. E acho graça de mim querendo explicar e traduzir. Pena. O amor tem um mistério em não comunicar. Tem que se sentir, se ter. E deixar ali... num cultivo cheio de silêncios e sacralidades. Intransponíveis. Mudas.

Suturei a minha cicatriz. Ela insiste em abrir e essas doçuras só nossas voltam a fechar. Nunca entendi. E não vou. É tão distante de mim aquele caminho. Aquele outro que não (re)conheço. Nem sei de onde ele vem, quem passou ali, quem ficou, o que ele deixou, ou esqueceu. Não sei que rezas ele fez... Não o vejo todos os dias. Nem sei a sua voz. A sua maneira de olhar, tocar. Não sei. Nunca o conheci eu creio. E sei. As outras. Ah, elas tiveram eu creio, o todas o mesmo... Cheio dos medos, daquilo que há de incerto, inseguro, insuportável e insolúvel. Mas isso não é pra mim. Nunca foi meu. Nada disso. E é estranho como pessoas tão opostas em si, distantes de si, podem ter convivido no mesmo corpo. E eu nunca vi esse outro corpo. Talvez nem ali, naquela festa da Tereza quando eu o vi pela primeira vez. Já era outro. Pra mim. Como eu era outra. Pra ele. Dele. E num encontro nada casual dessa coisa enredada da vida... a gente já foi outro pro outro. E como ele me disse um dia, acho que tudo que a gente deveria ter visto sobre nós, naquele dia, não vimos. Soubemos.

E meu privilégio fica aqui em mim. Tão meu. Egoisticamente. Nos silêncios e risadas do Nosso. Nessa chuva. Num amor que não morre. Transmuta. Cresce. E explode quietinho aqui dentro de mim. E eu o vejo, todos os dias, reconheço e amo, e cresço. E sofro me deixando molhar nessa tempestade sem fim, que me faz abandonar o mais sujo e feio de mim. Eu o vejo ali, enxarcado numa entrega que me admira e assombra. E eu vou, fecho os olhos naquela multidão e me entrego nesses abraços e sussurros apertados, cheios de música que a gente entende, e canta. Sem ninguém entender. Meu coração vai se entregar a tempestade... e a minha resistência é tola. Infantil. Vejo-o tendo deixado tanto do que foi pra ser agora. E eu ainda amarro os fantasmas por mim. A chuva passou por mim. E ele cuidou de secar... com um carinho desapegado.

E eu ainda não aprendo. Não sei. Me sinto ignorante nesse molhar de amar. Não me enxarquei por medo de me afogar. E só sinto. Essas super novas me apresentando ao mundo. Me mostrando a festa que vive em nós. Que se inaugura todos os dias. Nos momentos mais quietos do mundo. Não há câmeras, nem janelas no salão. Ninguém viu. Nem eu. Mas entrei ali com os olhos fechados. Segurando a mão dele. Pra sentir. Viver. Dançar. E ficar. Sem entender. Sem razão que possa desencantar a festa. Nunca dá meia noite. Nunca se quebram os feitiços. Só não vejo. E daí - talvez - essa sensação... de um torpor. De uma coisa de se tornar moça. E deixar meninices de canto. De deixar uma imensidão do invisível tomar conta de ti. Enxarcada, aprendendo a rezar.

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