domingo, outubro 04, 2009

um sono

Tenho sentido muito sono. Um daqueles profundos que te dragam a alma pro fundo de qualquer coisa. Não tenho conseguido resistir. Também não tenho me esforçado.

Parece que um lado meu silencia. Sonolento. Com um cansaço que dói. E me tira as vontades. Não tenho visto ninguém. Passo os momentos que posso dentro de casa. Com os gatos e os travesseiros. Tenho perdido a vontade de ler emails. De ler qualquer coisa, caindo num desatino do mundo.

Uma vontade de me espreguiçar pra sempre e deixar acordar - lentamente - os cantos adormecidos de mim. Parece que eu durmo há 100 anos. Numa floresta escura de árvores grandes e velhas. Com sombras e frio. Tenho me sentido cada minuto mais escondida debaixo das cobertas, sem querer levantar.

Na semana passada vi um dos filmes sobre Napoleão e fiquei pensando sobre essa dificuldade de enfrentar o adiamento das coisas. Da vitória, por exemplo. Adiar a vitória é perder... Ou do pavor crescente de ter que, em algum momento, falhar... afinal, não há como fugir desse roteiro aqui no planeta. Se humanizar tem parecido para mim ultimamente essa constante de aceitação.... do limite, da falta, do fim, do não, do esperar e do perder.

E tudo o que eu tenho conseguido fazer é dormir, cada vez com mais sono. Sem vontade de ir mais. Sem a fúria napoleônica... nem mesmo a que se revolta diante do combate vencido. Nada. E me vejo aqui, rodeada de mim mesma, monótona, entendiante. Sem nada. Desajeitada nessa tentativa de ser viva. Partida em pedaços que eu não entendo e nem sei como juntar. E tudo isso me dá um cansaço... que desisto no sono, de abandono, de não-desejo, de silêncios dentro de mim. De querer parar. E dormir para os próximos 100 anos. Sem acordar mais... nunca mais.

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terça-feira, setembro 15, 2009

um ópio

Há uma fraqueza em se reconhecer humano. E é isso que dói. Não a dor em si, mas o que ela representa na nossa (in)finita limitação. Tenho pensado sobre o que é o limite do viver, do sentir. E mesmo do pensar.

Essa semana dando uma aula sobre Iluminismo me deparei com um lado meu tão séc XVIII, no seu sentido mais arrogante. Acreditei que era possível entender - pela razão - as coisas que a razão desconhece. E não por acaso ouvi o grande Renato dizendo isso repetidamente na minha orelha esses dias.

Curiosamente o assunto da aula seguinte seria o período napoleônico e todo o movimento romântico num cenário europeu fragilizado pela guerra e pela certeza da limitação do pensar. Mas ainda crendo numa amplitude do sentir sem fim.

Achei graça de mim mesma tentando explicar isso aos alunos - adolescentes - com as crises todas e as percepções do mundo "gente grande" se abrindo diante deles. Explicar o que é pensar e sentir, tão óbvio que cega. E foi assim que me senti. Meio Ensaio sobre a Cegueira (de mim mesma). Digo meio porque foi assim que me senti. Ao meio. Estou em milhares de cacos como diz Adriana Calcanhoto. Tão pequenos que não os enxergo para buscá-los no chão. Não sei por onde começo e talvez a fraqueza esteja justamente em assumir que não se pode começar a não ser pelo reconhecimento que somos fragmentos fragmentados.

Em pedacinhos.

E durante a aula fiquei me perguntando como se ensina a viver. Tem tantas coisas aqui dentro que não aprendi na escola e tãopouco na poesia dos outros. A ciência: classificatória, mas pouco elucidativa. Não sei mesmo... e por isso tudo me senti tão fraca. Voltando para casa fui surpreendida outra vez com uma música do Men at Work. Sobre as coisas que me ensinaram: ser responsável, prática, e uma lista enorme de adjetivos criados para preencher nossa falta de vocabulário de nós mesmos.

Fiquei com o peito apertado. Uma angústia que não cabia mais em mim, nem no choro. Me senti sem casa. Não posso morar em mim se não conheço esse espaço. E não consigo sair de casa. Passei o resto da noite divagando pelos cantos da sala com os gatos como eu poderia me dar conta. Ou solucionar. Caso pra levar pra terapia? Um remedinho aqui pra acalmar a ansiedade? Me perdi?

E voltei a procurar músicas que cantavam por mim. Tinha perdido a voz nesse emaranhado de pensamentos descabelados.

Fiquei com saudades do meu cantinho escondido não sei onde. Da minha solidão tão cheia de respostas. De uma certeza que não existe. Sem garantias. De nada. Ninguém. Acordei com a Filó abraçando os meus cabelos. E uma ansiedade cheirando a ópio. Sem saber falar, ouvir, ver. Sem sentido algum em mim. Sem Razão, sem Sentir. Um vazio povoado pelo horror de mim. E só. E era tudo.

Procurei o Juliano, não tinha chegado. Não sabia bem as horas mas deveria ser pouco antes da meia noite. Fugia desse fim de nada.


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segunda-feira, agosto 31, 2009

Descascar a própria cebola ainda é ok... mas o desafio é acompanhar - sem deixar de chorar - o outro despelando...

Fico ansiosa. E distante. E mais próxima tentando ajudar. Mas quanto mais perto, mais os olhos se afogam. E aí eu não consigo ver mais nada. E não saio do lugar. e me afogo nesse olhar sem rumo e sem visão. Sem fronteira do que é o meu e dele.

Fico esperando. E sem resposta eu me afogo. E nado. E sofro e esbravejo. Podia secar os olhos e olhar melhor. O descascar doloroso com as lágrimas alheias. Mas isso não se pode fazer quando vamos juntos à cozinha e nos metemos a descascas tantas das cebolas espalhadas pelo chão. Deixamos de ver. Inclusive o viço do que está vindo. Depois do corte. Depois da primeira pele retirada. Do cheiro entranhado nas unhas. E ficamos dopados nessa tortura de (se) despelar. Não esperamos pelo outro. Por que não vemos. Mal sabemos segurar a faquinha semi-enferrujada sem correr o risco de fazer outros cortes.

E ali... naquele silêncio de angústia do assassino nós testemunhamos - de luto ainda - o despelar vagoroso do outro. Como cúmplices de um crime de amar e aprender. Criminosos pela ignorância do viver e do enxergar. De tão perto.

E tão perto, com os olhos marejados e entorpecidos pelo cheiro inconfundível e desagradável de cebolas (sim, fedemos!) podemos sussurrar um ensaio de texto de amor. De querer, sem saber como, viver. Mais. Perto. Dentro. Do outro.

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descascando a cebola

Nunca gostei de cebola. Tiro isso da pizza, da salada, até dos sanduiches dos trashfoods por ai.

Voltei há um mês exatamente. E essa volta me empurra mais pra lá do que pra cá. Fico tentando recompor as coisas dentro de mim e perceber o quanto mudou e o que ficou aqui dentro. Me sinto devastada por uma porção de coisas que não tem nome, que não sei explicar. E tudo vem assim, rápido e avassalador, quase num vômito.

Morreu muita coisa lá. Num "desastre de avião" mesmo. Joguei algumas da Thais sem paraquedas no meio dos oceanos. Sim, queria matá-las. As outras talvez tenham morrido por acidente e eu não tive a chance de resgatar nenhuma. Sorte a minha. Embora ainda tenham ficado alguns quase-luto.

A parte mais difícil de voltar é estar mesmo imersa no que eu chamo de realidade. Essa palavra tem ganhado cores e sons diferentes desde então. Mas talvez seja essa a mágica. Conversando esses dias me dei conta - finalmente - que o vivido foi mais que uma simples viagem de estudo, pesquisa e o escambau. Rito de passagem combinado com o fim do retorno de saturno? ai ai, me amedronta um pouco essa coisa ritualística toda... uma tentativa de encher de significado a minha crise de realidades? Poderia ser se eu não levasse em conta a sensação de morte aqui dentro. Olho pra trás e não me reconheço. É assustador.

Me sinto mais um monte de coisas e menos um outro tanto. Como se eu tivesse feito um regime para engordar e emagrecer ao mesmo tempo... e me vejo naqueles espelhos de parque de diversões. Tem sido divertido provar roupas e ver que elas não servem mais. Ontem tentei explicar ao Juliano que a mulher dele estava diferente. Mas o desafio disso é que por enquanto só eu vejo essas coisas. Acho que ele - e os demais - ainda veem as falecidas na minha frente. Ficaram no mar. Mas eu entendo. São tantas as mortes que ainda não deu tempo de contabilizar as vítimas aqui. Pior que acidente comum e assassinato premeditado.

Fiquei tentando mostrar quem tinha morrido. Expliquei. Mas acho que ele ainda não vê a diferença. Há uma porção de coisas que eu não quero mais. E isso me liberta de sentir medo, porque - de verdade - eu posso controlar quem eu quero que entre aqui. Alívio... e uma sensação de um carinho no coração. De não exposição... de fim. sem luto...

E aí me vejo sentada a essa hora da manhã com uma pilha de coisas pra fazer... tentando descascar cebola. Chorando e descobrindo nisso a beleza do que há por dentro. Que eu sempre tinha me recusado a ver. Arrancando a pele feia, murcha e escurecida. Jogando fora coisas que eu não queria mais ver, nem sentir. Mas como toda pele arrancada, dói. E vejo maravilhada essa coisa toda brilhando, lustrosa. Me enchendo de orgulho de ser o que eu sou. E ter o que tenho. Que na verdade é só meu mesmo. E que ninguém tem acesso. Semi-escondida pro mundo, descascada devagar. E aí o sentir-se solitária foi mais prazeiroso que antes. Foi um desapego de tanta coisa e tanta gente. Amassados nas cascas destroçadas pelo meu desprendimento. Mutilados com uma faquinha pequena, de pouco corte. Extirpando as manchas de antes. As imagens dos outros estampadas nessa pele quase sem lustro. Secando as dores que esfarelavam com o movimento das mãos.

E volto, e arranco. Tiro todos os pedaços cuidadosamente. Chorando. Me vendo. Sentindo esse cheiro entranhado nas mãos. Nascendo.

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domingo, agosto 16, 2009

Tell me... you love me

Estranhamente as coisas aparecem à nossa frente. Eu adoraria acreditar no acaso. Mas acho que ia ser entendiante crer nisso. Ou pior, eu ficaria achando que o mundo é mais simples do que eu acho que é, ou que eu sou mais limitada do que os meus limites alcançam.

Fiquei me perguntando esses tempos porque Narciso gosta de espelho. A mitologia insiste numa vaidade. O perigo do espelho, ao contrário do que dizem, é que ele sempre revela. E as suas fantasias ali depositadas são engolidas pelos olhares atentos - cruéis - do espelho.

Acho que admiro Narciso. E mesmo a madrasta da Branca de Neve. Mas temo o espelho cada vez mais. Ontem dizia ao Juliano que eu gostada da solidão. Apesar de ser sociável e gostar demais de gente eu amo ficar sozinha. Sozinha mesmo. Sem espelhos. A solidão me acalma, me tira do mundo onde os espelhos me rondam e me mostram demais - o tempo todo - como eu sou e vejo o mundo. Quando se está só não se faz isso. Ou melhor, ninguém te faz isso.

Depois de uns drs sobre a volta ao Brasil eu fico pensando porque Chicago me faz tanta falta. A solidão... eu não precisava me incomodar de estar sendo observada num grande big brother de relacionamento, ou mesmo me importar em agir para nada. A solidão preserva você de um monte de desafios. Ela me cala.

Ontem assisti o primeiro episódio de um seriado que dá o nome a esse post. Sim. Não é, ao contrário do que parece, nada romântico, num sentindo raso. Mas talvez evoque o romantismo no seu sentido mais original de tempestade. E ímpeto. Tão humanos. E mais que isso é grandioso perceber que todos nós - humanamente humanos - temos problemas - de seres humanos. Humanizar-se deveria ser uma expressão usada com mais cautela pelos especialistas (em humanos?). Não é simples e sempre que a gente pode buscamos lugares vagos nos assentos superiores do estádio da vida. E sempre alguém com uma lanterninha, no meio do show nos enxota dali nos mostrando - mais uma vez - nosso lugar na platéia. Sim. É cruel que nosso comportamento seja ainda de farofeiro nesse assunto. Do jeitinho "brasileiro" que é fiscalizados por leis americanas sérias.

Vi 4 ou 5 casais tendo todo o tipo de problemas na relação. Em idades diferentes. Se você ainda tem dúvida sobre relacionamentos, perca a virgindade e assista. As dúvidas ficam na verdade em qual dos casais você vai ficar mais parecido. Achei graça. Na verdade não há alternativa. Você pode ficar pulando todos os galhos frágeis do comer junkfood descartável das relações... sim, e se descobrir uma pessoa incapaz de fazer vínculos ou de segurar de verdade um espelho nas mãos. Ou se atirar num relacionamento - sem ilusões de que não há drs e problemas - e ter que lidar com as próprias tripas o resto da vida.

Ou... fique lendo literatura e livros de auto-ajuda. De repente você aprende pelos outros e descobre que está perdendo tempo em não tentar nada do que foi dito acima. Sim. Estou amarga. E muito. E doída. Pelos relacionamentos? Não. isso seria mais simples.

Por humanizar-me. Hoje cedo li uma revista que falava sobre a morte. E que a gente morre lentamente. E que a vida agradece. Tive um curto circuito interior. Morrer aos poucos... achei completamente deprimente. Sim, a idéia de morte me deprime. Prefiro pensar que a gente pode renascer. E que pra isso as mortes precisam acontecer na vida. No plural: as mortes. Não penso isso como um absoluto. Eu ouvi hoje que haviam várias de mim. Fiquei pensando numa coisa meio serial killer: qual delas eu mataria primeiro em mim? ou se matá-las todas morrem numa relação - louquésima - de simbiose. Mas gostei de poder escolher quem de mim morreria. E de certo por uma causa nobre.

Mas talvez o mais desconcertante em se relacionar é se permitir morrer e nascer ao mesmo tempo muitas vezes. Muitíssimas vezes ao mesmo tempo. Amar é tão anti-linear. Os espelhos do outro refletem a gente com formas que deixariam os alucinógenos sem emprego. Fiquei olhando uma foto do Juliano comigo. Fiquei fantasiando uma coisa meio robocop: (bem cafona, mas é o que veio...) uma pessoa feita por espelhos. Acho que a gente é assim no mundo. A gente nunca consegue se ver de verdade porque também somos de espelho. E o máximo que a gente consegue é quebrar o espelho do outro. Pra depois ver que a nossa imagem ficou ainda pior do que antes. A gente se arranha, se trinca. E segue vivendo cheia de marcas no olhar, sem nunca conseguir ver direito ninguém. Só as coisas, que também se mutam em cores estranhas pelos nossos reflexos de luz.

Eu senti raiva hoje. De ser espelhada e do outro não se ver por mim. E de eu me iludir nesses reflexos confusos achando que me via em algum lugar. Quis fechar os olhos e voltar. Silenciar o esconde-esconde das relações. Assistir outros episódios na esperança que eu possa me ver. Mas ainda assim será outro espelho. E espelhos que refletem espelhos traduzem um infinito de buscas. Não posso acreditar que isso seja morrer aos poucos. Mas que pode ser a busca do viver. Solitariamente...

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segunda-feira, agosto 10, 2009

O mais complicado de se ficar mais velha não é ver o que está mudado de fato. Mas perceber que muitas das coisas que mudaram não tiveram a ver com as suas próprias escolhas. Você perde coisas e pessoas, e quando se dá conta que o fato está consumado. É tarde demais. Dói.

E não tive a chance de me despedir. Isso dói mais. Sobretudo para quem é cheia de rituais como eu. Nesse fim de semana eu me dei conta que havia perdido uma fase que me deixa muita saudade. E que não vai voltar. Nunca mais. E perdi de um jeito tão infantil. Mesquinho.

Vi os mesmos - poucos amigos - no sábado e tive a sensação profunda de que eu não pertencia mais àquele lugar. Que as mudanças vieram silenciosas nos anos. Mas foram devastadoras. Chorei bastante porque experimentei aquela sensação adolescente de estar deslocada - e humilhada. Um booling (é assim que se escreve?) de adultos ciumentos e inivejosos. Um materialismo qeu cansa e deprime. Afoga a pequena humanidade que pode exisitir na nossa tentativa de existir melhor.

Não quis ficar. Quis falar e não conseguir. Pedir socorro. Me esconder. Voltei pra casa pensando porque as pessoas pisam assim umas nas outras. Qual é o tamanho do medo ou da dor delas que justifique... E achei graça percebendo que incomodo tanto.

Me lembrei de algumas das vezes que fui forçada a "missões diplomáticas" com pessoas que - certamente - me deixavam desconfortáveis ou inseguras, ou qualquer coisa semelhante. Nunca bati em nenhuma delas. Ao contrário. Eu era sempre a super simpática. E acreditem, sem falsidade. Talvez seja exatamente o ponto, eu não consigo disfarçar quando estou desconfortável. Eu me esforço mesmo pra que as coisas fiquem bem. para que as amizades brotem. Uma coisa meio polyana da minha família. "evite conflitos" e se transforme. Me lembro quando o Juliano me colocou algumas vezes em saias bem apertadas...

Eu sabia que depois que ele casasse as coisas iam ficar diferentes. Mas nunca pensei que seriam tanto. Me senti num romance da Jane Austen, disse ao Juliano. Exposta na corte. E foi ridículo. Mulheres bêbadas fazem coisas ridículas. E nem se dão conta.

Fico torcendo para que não tenha perdido o amigo. Tenho perdido lentamente nos últimos anos. Mas não tinha percebido. E por isso mesmo não deu pra me despedir. E sinto o coração doer, apertado aqui dentro sem ter o que dizer disso tudo. Nem sei se é o caso de lamentar. As pessoas escolhem. E nem sempre percebem que escolhem todos os dias. E que a gente participa muito pouco da esolha dos outros. Quase nunca. E deixa pra lá. devagar... até que se passou demais, deixando um vazio, uma sensação de caminhar sobre o cimento amolecido. Por que quando secar... vai ser tarde demais para mover alguma coisa sem machucar.

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quarta-feira, agosto 05, 2009

contos do vento

Sinto falta do vento... E do jeito que ele soprava coisas tão secretas que não tenho autorização pra dividir.

Fico esperando ele soprar de novo aqui. E só trazer as coisas que ficaram lá, que não posso carregar comigo ou trazer pra dentro de casa.

Escuto as músicas do jardim e observo os prédios altos desenhados no lago. Fico esperando o ônibus passar pelos mesmos caminhos que eu tentava memorizar e repetia o trajeto nos sonhos. Lembro do cheiro dos livros e da casa me esperando pra jantar.

As meninas falando quando eu contava as minhas histórias incríveis. Comíamos enquanto eu balançava os pés do alto do banco pra aliviar o dia de caminhadas e ouvíamos juntas as risadas uma da outra. Brincava com Sheeba no jardim e ficávamos vendo as lanternas balançarem com o vento.

Olho a minha janela. Lanternas e fadinhas que não podem me trazer aquilo que ficou. Exceto pelo ralo exercício de lembrar. Que nunca é viver de novo.


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sexta-feira, junho 26, 2009

Faz tempo. E tenho escrito dentro de mim. Ninguém, de fato, sabe do que se passa aqui dentro.

Nunca achei que demoraria mais tanto tempo pra escrever, mas o interessante quando se silencia é a chance de escolher o que se quer expressar. Ou deixar pra que se perceba por si.

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segunda-feira, maio 04, 2009

a santa tempestade

Passou. Mais um mês de loucuras... trabalho, trabalho. E eu volto sempre pra ele. O Nosso. E fico. E sou. E desmancho...

Passou. E resolvi me largar naqueles braços cheios de nós. Da gente. E fiquei ali o feriado inteiro curtindo o meu amor. Silêncios de um eu que não sabe expressar essa coisa estranha chamada incongruência. Parei nas marquises das minhas (sujas) questões, com minhocas e dores. De um ontem que de fato não me pertence. Não assisti a minha festa de inauguração naquele coração. A festa era pra mim. Mas eu não vi. Parecia tão óbvio. Mas eu não vejo ainda. Pergunto se havia convidados. Não. Se havia gente sabendo, olhando e bisbilhotando. Mas não. Era pra mim. Só pra mim. E eu não consegui ver. Ainda. E não era pra ver nada... não era um rito de passagem pra mim. Mas pra ele. Pra mim, gerúndios. E pra nós eternidades desencaixadas da razão.

Fico dias tentando achar convites, testemunhos concretos de uma coisa tão etérea quanto a alma que sente. Não vejo. Me sinto criança esperando presentes na chaminé. Acordo com eles ao meu lado, mas não sei - e nunca vi - quem os trouxe.

Fui ao show do Marcelo Camelo. Virada Cultural depois de dias assombrada numa loucura de trabalhos. Tão longe de mim. E foi especial... no meio daquela multidão. Me perdi dos amigos. De todos. Nada de mensagens, pessoas conhecidas. E amassada no meio daquela gente desconhecida, me espichando pra ver o show de longe...olhei a cidade tomada de gente. De barulhos, bêbados, amantes loucos e nós. Só nós ali no meio. Parecia que a turba toda silenciava conforme a música ia passando, por dentro de mim. O corpo todo musicava... e eu ficava ali. Enroscada naqueles braços que me apertavam, me puxavam pra perto e ouvia aqueles sussurros de "eu te amo". Bastava.

E achei graça desse meu estado de menina. Tanta gente e só a gente. Só. E a minha solidão se deixou. E ficou só. Apertei ele forte. Pra ter certeza que era aquilo mesmo. E descobrindo devagar esse sentir etéreo, silencioso. E acho graça de mim querendo explicar e traduzir. Pena. O amor tem um mistério em não comunicar. Tem que se sentir, se ter. E deixar ali... num cultivo cheio de silêncios e sacralidades. Intransponíveis. Mudas.

Suturei a minha cicatriz. Ela insiste em abrir e essas doçuras só nossas voltam a fechar. Nunca entendi. E não vou. É tão distante de mim aquele caminho. Aquele outro que não (re)conheço. Nem sei de onde ele vem, quem passou ali, quem ficou, o que ele deixou, ou esqueceu. Não sei que rezas ele fez... Não o vejo todos os dias. Nem sei a sua voz. A sua maneira de olhar, tocar. Não sei. Nunca o conheci eu creio. E sei. As outras. Ah, elas tiveram eu creio, o todas o mesmo... Cheio dos medos, daquilo que há de incerto, inseguro, insuportável e insolúvel. Mas isso não é pra mim. Nunca foi meu. Nada disso. E é estranho como pessoas tão opostas em si, distantes de si, podem ter convivido no mesmo corpo. E eu nunca vi esse outro corpo. Talvez nem ali, naquela festa da Tereza quando eu o vi pela primeira vez. Já era outro. Pra mim. Como eu era outra. Pra ele. Dele. E num encontro nada casual dessa coisa enredada da vida... a gente já foi outro pro outro. E como ele me disse um dia, acho que tudo que a gente deveria ter visto sobre nós, naquele dia, não vimos. Soubemos.

E meu privilégio fica aqui em mim. Tão meu. Egoisticamente. Nos silêncios e risadas do Nosso. Nessa chuva. Num amor que não morre. Transmuta. Cresce. E explode quietinho aqui dentro de mim. E eu o vejo, todos os dias, reconheço e amo, e cresço. E sofro me deixando molhar nessa tempestade sem fim, que me faz abandonar o mais sujo e feio de mim. Eu o vejo ali, enxarcado numa entrega que me admira e assombra. E eu vou, fecho os olhos naquela multidão e me entrego nesses abraços e sussurros apertados, cheios de música que a gente entende, e canta. Sem ninguém entender. Meu coração vai se entregar a tempestade... e a minha resistência é tola. Infantil. Vejo-o tendo deixado tanto do que foi pra ser agora. E eu ainda amarro os fantasmas por mim. A chuva passou por mim. E ele cuidou de secar... com um carinho desapegado.

E eu ainda não aprendo. Não sei. Me sinto ignorante nesse molhar de amar. Não me enxarquei por medo de me afogar. E só sinto. Essas super novas me apresentando ao mundo. Me mostrando a festa que vive em nós. Que se inaugura todos os dias. Nos momentos mais quietos do mundo. Não há câmeras, nem janelas no salão. Ninguém viu. Nem eu. Mas entrei ali com os olhos fechados. Segurando a mão dele. Pra sentir. Viver. Dançar. E ficar. Sem entender. Sem razão que possa desencantar a festa. Nunca dá meia noite. Nunca se quebram os feitiços. Só não vejo. E daí - talvez - essa sensação... de um torpor. De uma coisa de se tornar moça. E deixar meninices de canto. De deixar uma imensidão do invisível tomar conta de ti. Enxarcada, aprendendo a rezar.

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terça-feira, abril 21, 2009

De novo a questão do tempo... tenho me sentido tão apressada, com mil atividades ao mesmo tempo, agora, pra ontem. Respiro sufocada. E ainda rio de mim querendo controlar essas coisas.

Passei a maior parte do feriado trabalhando. Em casa. E ficar em casa tem algumas compensações únicas. Meu cantinho, seguro, amoroso. Com o nosso cheiro, gosto. O Nosso aqui. E fiquei olhando as coisas de novo pensando em como a correria me atira mais ainda pra dentro de mim. De casa. Da gente.

Senti saudade de ficar lagarteando. E não tenho feito mais isso. Descobri esses dias a magia de ficar - em casa - jogando video game. Isso mesmo. Me arrumaram um jogo do Star Wars pelo computador e deixei meu lado de agente secreto/membro da rebelião frustrado se expandir. "Não tenho coragem de jogar com o Império", eu dizia ao Thomas. E me diverti com a possibilidade de curtir esses universos paralelos - ainda dentro do meu...

Foi engraçado não ter vontade de sair. Fiquei pensando se é o cansaço, o excesso, o barulho todo do lado de fora do mundo (não que eu tenha silêncio por dentro...), mas ainda que eu chegue a alguma conclusão, não importa.

Tenho aproveitado umas coisas sublimes, quietinhas. Curtindo objetos, publicado fotos, pensado no pouco que eu quero agora... e no muito que eu quero lá na frente. Quase um momento de incubar. Não idéias, mas forças. Outro dia me perguntaram se eu estava depressiva. Moderninha essa conversa: angústias, terapia, sugestão do analista, crises profissionais, conjugais. Sempre me perguntam se eu passo por isso... acho graça. Acho que a minha vida é uma constante crise. No sentido etimológico da palavra. Há muitas separações, aprendizados. Divisores de água que partem a vida aqui dentro de mim. E é bom. Não me sinto mal. Deprê, como a gente diz nas conversas de bares.

Sorte minha o Juliano... a gente se cresce tanto. Isso mesmo, "se cresce". Eu fico pensando na intensidade e na profundidade do Nosso. Mesmo nas "crises" conjugais. É tão mais forte do que eu entendo. Um laço que me puxa pra fora de mim, mergulhado em mim. Uma sutileza de companheirismo, cumplicidade que eu perderia tempo explicando, entendendo. E acho graça das nossas briguinhas por bobagem. Eu sempre arrumo um jeito de dar um "pityzinho básico". E vejo a história de vida dele... o que ele foi antes... e é agora comigo... queria mesmo que a vida tivesses provocado essa crise, essa mudança profunda pelo amor, pelo dar-se a outra pessoa. Invejo ele. Por ter tão claro quem ele foi e quem ele é. Eu ainda não consigo. Sou sendo... cheia de gerúndios aqui dentro. As coisas acontecem lentamente. Demais. tão devagar que eu mal sinto... e só percebo as coisas correndo por fora, a rotina, os sonhos, a voracidade de viver.

Acho que esse jogar no computador tem um pouco disso. Administrar... criar estratégias... um treino adolescente para dar conta do que está ali na frente, na próxima esquina. Tão pertinho... e perceber a priori, quem está por vir...


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domingo, abril 19, 2009

Esses dias me dei conta que eu não escrevia há muito tempo. O que explicava um certo faniquito na cabeça e uma desorganização do jeito de ver e sentir o mundo. Engraçado como eu sempre acho que ninguém lê essas coisas e me surpreende o fato de alguém ver sentido, ou mesmo ter paciência de se debruçar sobre essas coisas tão íntimas.

Há algum tempo eu voltei para as aulas de grego e reencontrei um grande amigo da faculdade. Estamos na mesma turma. Ele, terminando o mestrado agora. E achei graça dele dizer que tinha um blog. "Descompromissado" ele dizia. No meio da carona, choramingando pelas desgraças da academia e do seu mundo feudal que talvez, jamais, veja a era das revoluções... esbarramos nesse universo blogueiro descompromissado.

Esse sentir-se só faz a gente escrever eu creio. E é uma solidão pra lá de profunda no mundo. Não é estar com alguém, amando, sendo amado, saindo, tendo amigos e família. Conversando com o Ogawa eu fiquei dias imaginando por que a gente se individualiza tanto... a ponto de ficar tão só, lá no fundo. Por mais que a gente compartilhe, fale, entenda, discuta, ainda falta. E ele riu dizendo que podia ser a insaciedade capitalista - papo de historiador depois de aula pesada, às 11:15 pm.

Mudei de emprego, estou estudando que nem maluca de novo, mais coisas pra revisar, corrigir, entregar... Não parei um instante no último mês. Tenho muitos textos começados, como sonhos que ainda ficaram no sonhar. Vi pessoas novas. Fiquei de molho em casa uma semana. E nada, em nada, essa sensação se modificaria... Não é meu, mas já está em mim.

Fui no aniversário de 90 anos da minha vó no sul, revi a família, matei saudades, criei outras no lugar, enlouqueci tirando fotos de todo mundo e de todo tempo que eu queria levar comigo.

Festa da família do Juliano na Páscoa, mais gente, mais falação, lembranças e cascas de ferida deslocadas pelo corpo. Cachoeira pra lavar a alma. E deixar a cabeça repousar na terra vermelha. Tirando os ruídos desse mundo que eu não quero pertencer.

E chego aqui com a mesma rotina. A mesma vontade de sentar, não pensar e deixar o sentir escrever por mim. Quase como se ele não me pertencesse, mas está em mim. O tempo todo. Mais projetos, planos, metas e as velhas obrigações que me anestesiam de mim mesma. Eu até gosto. Preciso de uma rotina pra lembrar que eu preciso comer, dormir, falar com as pessoas e interagir nesse universo estranho - eu mesma.

Lembro das conversas com Ogawa sobre esse semi-anonimato da internet. De como a gente acha, e às vezes torce, pra nunca ser lido, encontrado. Desvelado. Mas aí, retomando a velha prosa com o Pedro Markun, por que é mesmo que eu escrevo? Se é pra mim... por quê? Acordei com a sensação de que procuro outros de mim pelo mundo. Afinal, quem é a gente mesmo se não se tem a experiência de partilhar? de receber... e de deixar...

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domingo, março 15, 2009

Tenho fotografado coisas da minha vida que não passam pelas lentes dessa câmera. Tenho buscado cores e tons, recortes, luzes, sombras pra além do que a envidraçadas e muitas vezes embaçadas vêem.

Passei as últimas semanas selecionando fotos de mim, das pessoas, das coisas todas que aconteceram. É curioso olhar para o próprio passado e para a própria vida - nisso que a gente chama de presente... e me peguei gerundizando (isso existe?) tantas coisas. Permanecendo com coisas ali e aqui. Pra dentro e cada vez mais dentro. Trabalho de geólogos profissionais desencrustrar. Vi emails. Mais fotos. Liguei e falei com velhos amigos. Muito velhos.

Estamos todos ficando velhos. Ontem fui ao aniversário do Marcel. Meu amigo de colégio. Ele fez 30. Todos nós da turma temos 30 esse ano. Temos, tendo. Achei graça disso. Lembrei das noites jogando RPG, falando bobagens. Vendo e revendo filmes e comendo pizzas. Lembrei do ano do vestibular. Doido, não. Esse ano faz 8 que me formei. e tudo parece ontem. tão recente no meu album de fotografias revivido e cheio de legendas.

Essa semana fui tomada por uma sensação do "e se...?" Tantas coisas se... E outras mais ainda não... Fiquei pensando nas minhas escolhas. Lembrei de outras fotografias. De outros albuns arquivados. Se... mas não. E achei graça porque na faculdade de História, recordo bem dos professores que diziam que não havia "se" em História. E me achei a mais fajuta das historiadoras, pensando e minhocando nisso. O tempo todo. Achei graça de ficar lidando com o tempo nesse esquema do eterno. Do permancer. E me dei conta que havia um apego maior do que eu podia suportar. Quero uma memória tão intensa e grande e viva, que apodreço aqui dentro no meio das lembranças. Não consigo respirar nessa caixa mofada de fotos, filmes, e papéis. E
encaixotei a maioria. Mas não sei ainda como mandar isso pra fora. Fiquei pensando se há reciclagem de memórias. Que nem a gente faz com lixo. Papel. Será que eu teria condições de dar nova materialidade pra elas? Será que elas teriam mesmo a chance de serem reaproveitadas. Ri. Isso é um apego disfarçado pra não mandar mais coisa embora.

Liguei a trilha do filme English Patient... há mais de 10 anos eu escuto essa trilha. E me lembro de quando vi o filme e do quanto chorei numa tarde julho pensando que as coisas que a gente quer, deseja, quase nunca são de fato apreensíveis. E que, muitas vezes, lembrar demais, dói demais. Quis ter uma memória mais seletiva. Algo do tipo "só lembrar de coisas boas", como se diz por aí. Ou ainda guardar o que foi bom. E me peguei de novo nessa sala mofada tentando recategorizar as minhas fotografias desse viver desengonçado. Não deu. Tentei colocar etiquetas, dar um basta nessa bobajada de passados e gerúndios. Mudei as gramáticas. Joguei fora meus antigos dicionários. Eu preciso de outro vocabulário pra categorizar isso tudo. E dei por mim que esse vocabulário é modificado que nem pele de cobra.

Não consegui. Parei de novo pra me olhar no espelho e vi meu primeiro pé-de-galinha, essas preguinhas que a gente tem no canto dos olhos. A minha é ainda muito discreta. Só os paranóicos percebem mesmo. Mas eu sempre tive mania de me examinar na frente do espelho e procurar marquinhas novas, sardinhas, espinhas e essas coisas que os dermatologistas juram que vão tirar da sua cara.

Achei coisas novas. Mas achei minhas lentes mais velhas. Usadas. Bem usadas. No sentido que eu podia ver coisas agora mais sutis. Fotografo melhor, não pela técnica. Mas pelo exercício (esforço!!!) de ver melhor. Mais fundo. De deixar passar uma luz e uma sombra que só são atingidas nesse viver mais tempo. Desengonçadamente. Olhei de novo as marquinhas no rosto. Eu tirei a maior parte das minhas sardinhas. (viva os dermatologistas!) mas achei marcas que os médicos não saberiam - jamais - tirar de mim. Essas cicatrizes que a gente carreega - sem apego mesmo! - aqui dentro, mas que de tão fundas saltam aos olhos.

Me senti mais leve. Estranhamente mais leve apesar de todas essas marcas. Olhei de novo os meus albuns. Há tantos que passaram nessas páginas. Foram, voltaram. Se foram de vez. Para sempre. E por mais que eu os traga de volta, os chame, os queira por perto pra relembrar aquele papo-todo-de-antigamente: filmes, seriados, músicas, piadas e lugares... não me pertencem mais. Há muito tempo. Fiquei com vontade de reencontrar um monte de gente. Não hoje. Mas lá.

Lá é um lugar bonito que a gente nunca foi, mas morre de vontade de ir. Compra passagem, mas sempre perde o vôo. É, é um lugar que só se pode ir voando. Nisso que você entende como imaginação-idealização. E outras coisas que não cabem aqui nesse real esquisito. O nosso lá é sempre aqui dentro, o melhor lugar. E me dei conta que não tenho fotos de lá. Nem sequer um mapa incompleto. Que bom... seria triste não poder (re)construir esse lugar, aqui mesmo.

Trei a máquina da bolsa e fiquei de novo brincando de fotografar os gatos. Eles são posudos e charmosos. Eu gosto de passar esse tempo com eles e a máquina. Repassar outros albuns que estão aqui. Fora mesmo de mim. Pra desentupir essas antigasevelhasemofadas fotografias de viver.

Abro as lentes. Limpo com aquele paninho especial... e deixo a luz entrar mais. colocando as sombras dentro das gavetas. Para dormirem um pouco mais. Até a próxima sessão.

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domingo, fevereiro 15, 2009

Retrato

Há algumas semanas eu voltei a perguntar quem eu sou mesmo. Desilusões de toda a sorte compõem em você retratos diferentes.

Dias e dias pensei em como as coisas tem aparecido nos últimos tempos. Conversas daqui e dali me dão dimensões desconhecidas para isso que eu tenho - ignorante - chamado de "eu". Isso não é filosófico, mas comecei a me dar conta que os meus espelhos andam embaçados demais. Referências confusas de uma pesquisa de mim mesma sem bibliografia ou fontes confiáveis.

Montei trilhas sonoras em pedaços e fotografias que mais parecem retratos dadaístas ou coisas de Dali. Mas apesar de alguns sucessos aparentes, do lado de fora, do que se quer ver, o que se passa aqui é um retalho incompleto de um eu em trânsito, no meio de um engarrafamento num dia de calor. Caos aéreo. Voltei a dirigir nos últimos dias e a sassaricar pelas rádios e cds no meio do trânsito. Escrevi notinhas bagunçadas. Passeei por lugares aqui e ali cheios de esquinas misteriosas. De becos que saem para locais que ainda não vi.

E tudo o que falo, e digo e quero parecem sempre ali. Do outro lado. E o sinal não fecha para eu atravessar a rua. Me atirei no meio de alguns carros. Voltei. Tentei de novo. Mas as coisas passam. Depressa e confusas na minha frente. Olho as nuvens cheias de água. Vai chover e ainda não saí do lugar. Vi amigos passando do outro lado da rua. Gritei. Chamei. Mas o som das buzinas era maior do que a minha voz. Ninguém ouviu. Ninguém parou. Afinal, todos tem sempre muito o que fazer. Voltei a olhar o asfalto na esperança de ter algum lugar para sair e cruzar a rua. Nada. Mais gente, mais barulho e o dia quente me confundem as imagens de mim naqueles vidros embaçados e engordurados dos prédios chics e importantes.

Não vejo. Não sinto. Tenho buscado alternativas. O celular não funciona. Não há mensagens pra mim. Tudo e todos muito ocupados. E a minha solidão angustiada só fica relatada nessas salas confortáveis de terapia. Tem ar condicionado nelas. E eu saio de lá tão só quanto entrei. Sem conseguir atravessar as ruas e me deixar chegar em casa. Não sei mais o caminho de casa. Ando sempre no mesmo quarteirão. Os floristas me conhecem. A moça da padaria onde eu tomo café e o guarda de trânsito. Até os motoristas que sempre, todos os dias, fazem o mesmo caminho já me cumprimentam no trajeto de ir e vir. E eu fico.

Parada. No meio dessa confusão urbana dentro de mim. Sem caminhos alternativos. Não há transporte público. O trânsito dentro do meu condomínio fechado está pior do que as ruas em horário de pico. E eu fico.

Voltei a procurar pessoas. Olhei as vitrines das minhas lojas favoritas. Todas em liquidação. Ninguém vinha me perguntar se eu precisava de alguma coisa, como fazem as vendedoras habitualmente. Eu tenho crédito, dinheiro, cheque e cartão. Qualquer coisa. Ninguém aceitou. Voltei para a faixa de pedestres sem sacolas. Não há taxi.

Telefono mais vezes mas ninguém atende. Não tem ninguém em casa. Ninguém pode vir me buscar e estou sem caronas. E fico. O tempo todo olhando e esperando poder atravessar. Cansa esperar. Ouço as trovoadas e sinto os primeiros pingos dessa tempestade sem fim. Vejo o meu retrato embaçado e molhado nos vidros. As janelas e portas envidraçadas limpas. E eu ali, suja, sem poder sair. As marquises estão lotadas. Não vejo lugar pra mim. E não posso voltar pra casa. Estou sem chaves e as portas trancadas. Não há mesmo como entrar? O celular não funciona. Não há telefone público. E fico mais uma vez. Acompanhada dessa solidão que me enche de perguntas. E a chuva não lava nem leva nada. Queima. Arde. Esqueci o guarda-chuva. Não há mesmo como se proteger disso. Já saí de lá mesmo. E por mais que eu chame, peça, diga, mostre...

Há barulho demais. E todos estão ocupados. Sem tempo. Sem nada. Sem sinal, sem carro, sem dinheiro, sem. E fico. Observando esse retrato cheio de costuras e marcas de mim. Vejo os cabelos desgrenhados, a maquiagem borrada, a roupa grudada no corpo e os meus livros enxarcados na bolsa. E ando mais uma vez no quarteirão pra ouvir o mesmo bom dia do florista, com os elogios habituais. O guarda, os motoristas, a moça da padaria. E entro. Toda desajeitada. Me olho no espelho de fronte ao balcão. Ajeito a cara e não vejo nada. Espero a chuva passar. Pergunto à solidão se ela me acompanha em mais um café. Pra gente colocar o papo em dia... e fico.

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domingo, fevereiro 01, 2009

E passa o tempo. E me lembro de uma coisinha que meu pai contava quando eu era pequena, não me lembro se era uma música ou um versinho. Ninguém sabe quanto tempo o tempo tem.

E acho que pela primeira vez eu me sinto amarrada nessas teias do tempo. De uma espera que cansa. E desgasta a alma. Me deixa sem vontade de continuar a sonhar. Por que? Ora, porque cansa. E acho que pela primeira vez mesmo eu senti o peso do poema de F. Pessoa. O cansaço. Esse profundo cansaço. Da alma. De tentar. De caminhar. De querer. De esperar. De torcer. De seguir. De fazer.

E não me senti uma criança por dentro. Mas uma velha. Com os dedos tortos de contar. E os lábios gastos de morder. E ansiar.

Outro dia ouvi uma pessoa me falando sobre envelhecer. E mais do que a crise dos 30, me senti sendo arrastada por isso que a gente chama - cheio de ignorância - de vida. Deixei de rir sobre as "crises da idade" pra me pegar pensando que os caminhos traçados, muitos deles, não tem volta. E por não se voltar a gente pode, muitas vezes se encher de auto-piedade e lamentos. Mas por mais que se lamente, se tenha pena, se queira. Está feito. A herança que a gente pinga gota a gota nesses dias quentes de viver ficam. E as pessoas por quem passamos, mais ali ou aqui, dentro ou fora da gente, tem essa marca. A gente não pode esquecer do que se fez. Isso fica. No tempo. E mesmo que ele envelheça essas lembranças. Oxide esse sentir. Fica. Mais perto ou mais longe. Mas sempre em algum lugar. De mim, de você, de quem for.

Fiquei a noite em claro mais uma vez. Sentindo que esse tempo não cabe em mim. Não quero ele aqui dentro me costurando teias de prisões, de mentes, de sentimentos, meus e dos outros. Me senti de novo com vontade de fugir de mim. Seja lá o que isso for.

Correr sem tempo. Não contra ele. É uma batalha perdida. Pra não dizer desleal. A gente não tem direito de escolha nesse duelo. E fiquei rodando de um lado pro outro acompanhando o ventilador. Ele tem um "timer". Achei graça que até isso tenha tempo. Controlado. Olhei em volta pela casa - devo ter levantado umas 4 vezes... tantos relógios. Olhei os gatos. Que sentem o tempo de outra forma. O Fred, com dois anos, já tem a minha idade humana. Que coisa! E vi que o mundo passa pela sua porta, quase sempre fechada, com trancas. Com medo de alguém entrar. Desavisadamente.

Chorei mais. Fiquei com o peito asfixiado. Tanto tempo nesse pensar. E não me vi passar por nada. Nem a noite passou aqui dentro. Ficou.

Trabalhei mais um pouco hoje. Fui ver os meus pais. Engraçado como isso também passa. Os pais. Vi que eles estão indo de mim. Para um desses lugares que eu também não sei o nome. Mas que vou chegar lá, no meu tempo. E o tempo é meu, nosso, do outro, de ninguém. Do mundo, do nada. Dos povos. Do esquecer. Do perdoar. Deixar. Ir e voltar. Tudo construido nessa lata craniana que me confundem o entender. E paralizo. Sem tempo. Mas com pressa de mim.

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sexta-feira, janeiro 30, 2009

meus caminhos

 


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quinta-feira, janeiro 29, 2009

Tango

Danço. E caio, e me envolvo. E deixo. E me revolto. E controlo. Para em seguida me descontrolar. De uma vez. E cair. No ardente choro de um desespero sem fim.

E danço. E quero. E vou. E me arrasto, com as mãos crispadas de um ódio pisoteado pelos sapatos. E sigo. E busco. E largo.

E dançando... me revolto. Me deixa. Me afasta. Me quer e me busca novamente. Naquele abraço suado e odiado. De dor. E choro. E quero. E peço. E viro. Rápido. Num colapso de não entender o ritmo da música. Que não acompanho. E choro. E desejo. E grito. E aperto contra o peito. E esfrego aquelas mãos sobre mim. E pergunto. E imploro. E me deixa.

E danço. E giro. E corro. E pulo sobre esses pés que me confundem o ser. E não sei mais. E espero. E explico. E suplico.

E danço. E volto. E não quero. E vou. E saio. E afasto. E me desespero. E perco. E deixo. E esqueço. E olho nos olhos. E afastamento. E duvido. E canso. E espreito. E sigo. E volta. E me pede. E fala. E grita. E afasta. E chama. E me perco. E me largo nesse girar e perder-se de mim mesma. E caio nessa escuridão. E quase pra sempre desisto. E quase até o fim apago de mim. E afago. E te peço.

Dança.

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sexta-feira, janeiro 23, 2009

Estava eu na minha maré desiludida, me afogando em textos acadêmicos... e aí a tecnologia serve para alguma coisa - de fato - humana.

Como por sintonia (isso sempre acontece) o Vinícius entrou no msn. E há algum tempo a gente não conversava. Chamando isso de conversa, evidentemente. Há uma coisa interessante nessas amizades profundas. É um vínculo que se faz de silêncios.

Foi legal poder ve-lo na camera da ferramenta. Acho que não o via desde o casamento. E foi bonito. Eu, de cabelo mais curto e bagunçado, ele na casa nova, barbudo e rodeado de livros. Foi engraçado como, depois de tanto tempo, e apesar de tudo, algumas coisas permanecem. Me lembrei de um trabalho que fizemos juntos e que quase surtamos. Horas e horas de icq pelas noites adentro. Ele riu de mim porque tinha que entregar coisas amanhã. Da minha pressa e da mania de perfeição. Riu também das aulas de tae-kwon-do. Disse a ele que estava treinando direitinho.

No fundo, os assuntos são sempre os mesmos. Mas há graus diferentes de sutilezas com o passar do tempo. Fala-se sempre pouco nas nossas conversa. Mas o suficiente. Senti uma saudade. Ele era sempre o amigo que cuidava de mim na faculdade. Aquele irmão mais velho e grandão que defende a gente das pessoas do mal. Apelidei ele de Sullivan - o monstro azul de Monstros SA, da Pixar. Ele em contrapartida me deu o bonequinho. Guardo até hoje.

É engraçado como é confortável a sensação de que a gente precisa - e pode - ser cuidado, sem diminuir a nossa capacidade de ser o que se é. Me lembrei de várias coisas no caminho do treino e senti o coração mais leve sabendo dessas existências silenciosas. Sinto falta dele mais perto, mas entendo as escolhas, os caminhos.

Pedi para ele ler meu texto depois. E me ajudar com umas coisas e observações mais metodológicas. O Vinícius sempre foi a minha confiança acadêmica. O único cabeção que não perdia o humor, o jeito carinhoso de tratar as pessoas (apesar dele ser super azedo). De repente me deu vontade de voltar para a USP e sentar por horas debaixo daquela árvore... e assistir a vida dali, como num filme dos anos 50. Acho que foi mais que nostalgia. Fiquei me lembrando da frase do Juliano essa semana: tirar férias emocionais. Acho que ele não tem a menor idéia do que estava dizendo. Mas fica a sugestão. Quis conseguir isso e me desligar. Viver a minha solidão silenciosa. A companhia do Vinícius me deixava confortável nessa solidão.

Fiquei rindo das minhas reflexões pensando que hoje eu sou casada, apaixonada. E de fato não vivo - nada - sozinha. Ao contrário. Vivo um arrombamento da minha solidão. Da minha - arrogante, talvez - sensação que posso viver só, apesar de estar sempre tão rodeada de gente. É quase uma fuga isso. Estar com as pessoas para não me entregar a isso. E o quanto isso me esvazia e preenche. Me desafia para um encontro ao avesso de mim.

Vivi um treino intenso. No meio dessas coisas que iam e vinham por mim. Libertei uma raiva doída. Magoada. Mas não a deixei ir de todo. Ficaram ainda essas sombras. Que se diluem em treinos futuros, em conversas debaixo de árvores e por do sol. Fiquei com raiva de mim. E foi ótimo.

Que bom que tem a camerazinha... e gente ali do outro lado.

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Há uma série de sutilezas no início de ano. Tantas promessas de coisas inovadoras, sensacionais, incríveis. Transformações de toda a ordem e uma lista interminável de realizações.

o ponto aqui é ficar sempre nessa promessa. Voltei pra casa pensando se a esperança não é um ópio (des)necessário pra gente. Uma coisa do "amanhã eu faço" na pior versão de Scarlet Ohara de "vou pensar nisso amanhã".

Essa minha pressa se mistura agora com um azedo na boca. Uma vontade de desistir. Abandonar. E parar de ficar esperando. Acreditando que as coisas ficam bem em algum momento. Tá aí uma coisa que a gente vive correndo atrás: plenitude. E o máximo que a gente tem são uns lampejos disso na vida. E o resto se vive atrás.

Passei a noite rodeando a sala e as cortinas da casa. Olhando o vento ir e vir. A companhia dos gatos quase detecta esse ser horrendo que há em mim. E um respeito mútuo das feras silencia nessa noite.

Nada. Nem os desabafos servem. Nem os choros, a verdade dita do que se sente, de como se sente. Nada afeta. E esse espelho ainda me chama de arrogante. De sensível passo a arrogante. De quem sofre e se preocupa e tenta resolver a uma "complicada" que precisa voltar para a terapia. Não dou o direito de ninguém ser como é. E sou soberba.

Vim caminhando na rua a passos bem lentos. Quase fui atropelada na frente de casa... achei graça da minha cara no meio da rua, como se buscasse a mim mesma em alguma esquina aqui perto. E acho que essa sensação de não saber mais, exatamente, quando, como e para onde estou andando me alucina. Voltei pra casa com chocolates e uma coca cola. Os gatinhos me esperavam. Os textos do mestrado. As coisas todas por fazer... e eu aqui, contemplando a grandiosidade da minha limitação, arrogante, cansada, paralizada esperando alguma coisa de não sei quem. Quem?

Lembrei das minhas promessas de início de ano. De coisas que se definham... da minha vontade de sumir numa dessas bibliotecas do mundo. Sim... eu adoro a solidão. Talvez eu seja tão arrogante que me baste nisso. Na companhia - nada silenciosa - de livros e gatos. Fiquei com saudade da praia. De coisas que ficam pra trás no tempo... e de algumas que eu ainda gostaria de viver... mas sem mais esperanças.

Talvez eu precise de mais pragmatismo e desligar o botão (alguém sabe onde fica?) da chamada sensibilidade. Hoje conhecida como birra, infantilidade, e coisas afins.

E espero. Eu mesma. Acordar.

Ou quem sabe eu mergulho de uma vez na pesquisa? talvez ela responda mais... sinta mais, dê mais, queira mais. E eu não passe mais a ser um io-io que não deve esgotar. Mas esperar. Aceitar. Compreender. Sem sentir.

Fiquei me lembrando de uma conversa com Winston na praia esse ano. "a gente precisa aceitar todas as pessoas nessa vida" ele dizia... achei um absurdo esse conformismo. Talvez isso deva se chamar maturidade. Ao menos ela não é arrogante. Talvez seja isso mesmo. Deixar passar. Inerte. Sem sentir. Só deixar. Como se não fosse comigo. E aí? não há nada melhor que a solidão se for se viver assim? sem (im)pactos...

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quarta-feira, janeiro 07, 2009

 


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segunda-feira, janeiro 05, 2009

Filó

 



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