quarta-feira, abril 21, 2010

Outras vitórias

Essa semana passei os dias pensando porque as coisas nunca vem facilmente pra mim. Muito mais que do que uma reflexão pseudo-vitimista... não se trata de lamentar. Mas de redescobrir valores em coisas que ficam aqui, bem no cantinho do fundo da gente.

Perdi o campeonato do domingo. Doeu - e doeu fisicamente também. Tenho hoje uma coleção de hematomas nas pernas e nos pés, dignas de ser apelidada de dálmata, um olho machucado e um cortezinho na boca. Ok, esperado. Uma vez que eu sou branca ao extremo os hematomas não são novidade. Achei graça da minha reação no espelho.

Lutei uma vez. Comecei ganhando com 2 pontos de vantagem e terminei arrasada no primeiro round depois de um soco - muito bem dado - no olho direito. Perdi a visão no restante da luta. E perdi o resto todo. Saí de lá me achando péssima apesar de me fortalecer - naquelas - com o fato de ter me inscrito e participado. Os famososo "prêmios de consolação" que a gente se dá ao longo da vida. Dormi mal pensando no que poderia ter feito, como deveria ter esquivado... enfim.

O ponto é perceber o lance mais sutil disso. Tinha discursado na sala de aula naqueles dias que a gente não ganha todas. E achei graça quando pedi pra escutar o discurso de novo. Faltou. É interessante como a gente fica escravo da vitória. Há um peso - diria sobretudo nas mulheres - de que vencer é o mínimo, obrigação e dever social. A gente tem que ser linda, forte, sensível, emotiva, delicada e guerreira, inteligente, resolvida, gostosa, sarada, bem-humorada, descolada, modernosa e carinhosa, etc. etc. Affffff... cansa. Isso sem contar as outras obrigações de mãe, esposa, chefe, .... afffff de novo. A gente vive num mundo que não nos permite perder, ficar doente, descansar, ficar de saco cheio, de mau-humor, dar piti...

Foi estranho perceber que comprei o pacote desse século e não tinha me dado conta que estava pagando as prestações. Notei que o meu nível de auto-exigência estava acima do esperado - inclusive por mim. Havia naquela semana corrigido provas, preparado curso, aulas na pós, trabalho voluntário, treino pré-competição, nadado, ido ao salão de beleza, cuidado dos gatos, ... e o resto todo.

Estou aqui com as medalhas na parede e pensando o que elas significam pra mim. Todo aquele papo de "mostrar pra mim mesma que eu posso" fica presente nesse silêncio. Mas por que eu preciso provar pra mim que eu posso ainda fica sem resposta. Tem um gosto de saber que eu preciso ser desafiada, preciso sentir que estou progredindo, tentando. Mas ontem - não por acaso - o Juliano me dizia que eu não comemorava as minhas vitórias na mesma proporção que lamentava as derrotas. Calou fundo. Eu tinha acabado de saber do último resultado da prova de línguas. Passei em 3. E isso estava "ok".

Agora há pouco, passando as pomadas nas pernas e gelo no olho fiquei sentindo uma vontade enorme de rir desse meu jeito de criança querendo provar pra si e pro mundo que já pode passar de ano. Mas a gente precisa fazer as provas antes. Não dá pra avançar sem os ritos de passagem. E eles revelam justamente esses silêncios do canto da alma. Mostram os limites e aquilo que a gente ainda teme da gente mesmo. Acho que olhar pra esse cantinho de mim já me permite celebrar. Uma outra competição: disputo comigo mesma o direito de não vencer. De aposentar as toalhinhas. De simplesmente me inscrever no jogo. E saborear a emoção de estar ali. Aqui. Na vida. No meio de algo que eu tanto desconheço... sem linha de chegada. Quem disse que a gente chega em algum lugar?

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quinta-feira, abril 01, 2010

Formatura da Gisele na semana passada. A segunda. Estive la novamente e com uma sensação curiosa. As coisas mudam mesmo em poucos anos. E de um jeito que surpreende.

Talvez a minha amizade com a Gisele nunca tivesse começado. TInha tudo e nada para acontecer. E sei lá porque, a vida se encarregou de deixa-la mais perto.

Ano passado ela ficou na França. Eu em Chicago. Ficamos em conversas virtuais tão mais próximas do que as que tivemos aqui. Meu último episódio antes dela viajar foi uma visita frustrada que não aconteceu. Fui comprar um livro de presente de Natal. Ela viria aqui as 18hs. Chegou e eu não. Mas ela estava com uma torta. Levou a torta e um cano pra casa. Cheguei em casa achando que ela ia me jurar de morte com a torta (sim, elas podem ser armas perigosas).

Nos encontramos depois para a sua despedida, desta vez sem tortas ou objetos perigosos. Só um milkshake de nutela...

Acho que todos os episódios com a Gisele são, além de intensos, divertidos. Sempre há coisas para rir de tudo o que passamos. E ir à sua formatura me fez rever todas essas coisas como num filme: as reuniões do GECA (grupo de estudos de coisa antiga - para felicitar a nossa ânsia em estudar a antiguidade sem um método pra isso), as aulas na faculdade e os planos para um dia futuro (que já chegou, sem avisar) de decisões profissionais e tal. Hoje, mais maduras, a gente começou a perceber que as afinidades, muitas vezes não estão latentes, mas ficam ali no plano sensível. Charmosas e camufladas.

Fiquei admirando. Olhando a versão 2010 da Gisele. Alta, mais dona de si (sim, isso é possível), autocritica, cheia de planos concretizados e mais um monte por fazer, cheia de insatisfações e com uma coisa que eu me impressiono mais, e que é o mais bonito dela: de ritualizar a si própria. eu acho que é aí que a gente se aproxima - no silêncio - já que somos bem pouco silenciosas. Eu determino - e faço. Depois celebro as minhas pequenas e grandes decisões, o que foi e que será. Ela também. É isso que deixa a vida mais bonita ainda? Que dá vontade de continuar andando aqui e ali sem ter a sensação que a gente só andou em círculos?

Nessa segunda formatura estava diferente da primeira... a vida, a companhia,mais curtida... um tanto menos e demais deslumbrada com algumas coisas, menos arrogante e bem menos dona de mim do que eu havia projetado. Esse encontro - menos doloroso e mais divertido - comigo mesma deixou um eco. Das risadas da Gisele sobre gênero, sobre os nossos dilemas entre a mulher moderna e aquilo que reservamos para muito íntimos: uma fragilidade do sentir.

Obrigada, Gi pelas formaturas da nossa vida.

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