quarta-feira, julho 21, 2010

Passa-se o tempo e as dificuldades se cristalizam em sal dentro de mim.

Fiquei o dia sentindo esse salgado na alma. Ao mesmo tempo que o sal ressalta determinados sabores e outros saberes... sinto falta do doce. O sal conserva. E mantém a dor... em pequenos cristaisinhos dentro de você.

Li umas coisas que a Luciana Julio mandou pelo twitter. (sim , aderi a esse palco de monólogos solitários que fazem bem, mas sublinham a minha solidão). Ontem sai com amigos, tomei cerveja. Senti uma coisa boa na alma por poder revisitar lugares que do encanto foram ao limbo mais salgado das mágoas. O desencanto faz parte do viver. E que merda é isso.

Voltando à Lu... conversávamos sobre isso de conviver com pessoas. Eu convivo com muitas, sou alegre, etc. Mas aqui, no quietinho de mim tem um buraco... que dá vertigem de olhar. Eu tenho andado nas beiradas dele. Sempre me coloquei à disposição pra ajudar todo mundo. Eu sou disponível pra quem eu gosto, quero fazer, acontecer. Quero realizar no gerúndio do viver... E viver gerundicamente (existe?) o tempo todo... Que cansaço isso! Por que cansa. É uma maratona lenta, com sol a pino, sem água...

Já tinha pendurado minha capa de mulher maravilha. Há tempos. Desde a volta de Chicago. Mas estranhamente não deu certo. Ainda sinto que tem uniforme demais em mim. Hoje saí de camisetão. Cabelo desalinhado de casa pra comprar tinta. Sim, estamos arrumando o ap. Os gatos empoeirados, marido viajando, tudo fora do lugar e os trabalhos e provas me esperando aqui do lado. Mais cansaço ainda.

Fiquei com um aperto tão grande na alma. Uma solidão em ruínas de mim, espalhadas pela casa. Tomei um zilhão de chimarrão hoje pelo dia para manter a moral das tropas. Não tive férias, trabalhei, consolei, dei força, resolvi o problema da minha família, da família dos outros, alguns amigos cobram o sumiço, que eu não ligo, não apareço, sou ausente, ... tanto cansaço.

Voltei pra casa agora e chorei que nem criança. Fiquei me perguntando (fazendo listas mentais) quais são os amigos que me ligam para saber se estou bem. Eles me ligam pra me contar coisas, pedir conselhos, desabafar, corrigir trabalhos, etc, etc. Antes que eu pareça estar pintando o quadro da vítima... isso é um pedido aos amigos. Vocês podem, por favor me ligar para dizer que sentem saudades? (afffff, que coisa boa ser cafona!) Dênis amado, não vou ser injusta com você viu?

Minhas famílias... por favor, alguém quer mesmo saber como estou?

Outro dia um amigo escreveu dizendo que não sabia mais de mim porque eu não escrevia no blog. Sim, estou há MESES sem escrever outra coisa a não ser dissertação, textos científicos e relatórios de alunos. Sim, estou FARTA de modernidade. De trânsito, de notas, de emails, de celulares. Queria sumir pra um cafundó qualquer do reino do Nada. (sim, ele existe na nossa imaginação)

Me vejo sendo solicitada por tanta gente. Pra fazer, compreender, ouvir, esperar, ser companheira, parceira, emprestar roupa, maquiagem, livros...

Nesse fim de semana fui ao casamento do Juliano. Foi tão especial. A gente é amigo há mais de 14 anos. E soubemos o que é ficar brigados e fazer as pazes. Esse é um privilégio que talvez só o Pico tenha tido até então. O perdão é salgadíssimo. A gente passa o resto da vida tomando água por causa dele. Fazer as pazes com amigo é uma delícia...

Fiquei olhando o Ju na cerimônia. Me emocionei tanto. É uma amizade TÃO antiga... (poucos aqui vão entender o que isso significa) Olhei o Denis, outros amigos queridos. Outros que deixaram de ser amigos. Vi fotos minhas de 13 anos atrás. Cabelo comprido (eu carregava coisas demais na cabeça naquela época...) outras pessoas que hoje são apenas fotografias desbotadas sem pixel na minha memória...

Eu chorei horrores no casamento. Fiquei pensando tanta coisa, tanta gente. Tanto tempo... Tanto tanto...

E me vi ainda pelos olhos dos amigos. Pensei nas conversas de terapia. Não, eu não me mostro a pessoa forte há muito tempo para todos. CERTO? Mesmo com uniforme demais, esse já está na lavanderia... Será que eu fiz alguma coisa errada? Por que as pessoas querem que eu me importe com elas e não tenho essa recíproca?

SIm, eu preciso de férias. Mas to aqui me questionando porque não tem mãos estendidas aqui do lado. Cadê? Será possível que eu sou tão dissimulada? Duvido um cadinho disso... Ano passado assumi a depressão. Remedinho daqui e dali, muita terapia e bola pra frente. Quase ninguém me perguntou como eu estava... E esse ano, apesar da superação toda... os mesmos silêncios.

Deu saudade de todo mundo. E de ninguém.

Na última 2 feira fui à casa do meu irmão. Ele comprou um toca disco. Fiquei boa parte da noite escutando os discos velhos do meu avô de música clássica. Foram os primeiros discos que eu tive. Muitos europeus. Velhinhos de tudo. Meus tesouros silenciados pela tecnologia do mp3.

Fiquei ali retomando as letras das óperas, as coreografias que eu inventava quando voltava da aula de ballet. Passava horas imaginando como aquelas músicas poderiam ser dançadas por uma incrível bailarina (que no meu sonho, claro, era eu). E adorava fazer a reverènce no final das danças imaginando os aplausos (sim, foi uma infância bem leonina! deliciosa). Me lembrei de todas as apresentações familiares que eu fazia... meu avô e meu padrinho eram os maiores fãs. Eles até davam flores no final, mesmo que só desenhadas nas folhas de sulfite.

Dancei nessas memórias e voltei com o coração miudinho de saudades. De colo, de gente querida. Está chegando próximo do meu aniversário... é a data que eu mais gosto porque eu posso ter ao mesmo tempo (quase) todo mundo que eu gosto e amo. Isso tem ficado raro nos últimos anos. Talvez essa coisa esquisita chamada de modernidade. Sei lá.

Eu sou muito afetuosa. Mas ao mesmo tempo muito discreta. Eu não sou aquele tipo de pessoa que entope os outros com perguntas íntimas e pessoais. Isso sempre me pareceu uma virtude porque afinal, se a pessoa quer, te conta. Mas parece que eu ando provando do meu próprio remedinho, né? Não pergunto, ninguém me pergunta. Fiquei me lembrando que a Clara, minha irmã, recebe (ainda) críticas por causa disso - ela pergunta demais.

Esse ano pra ela foi muito difícil. Mas eu via todo mundo perguntando se ela estava bem, inclusive eu.

Fiquei pensando no meu afilhado. Eu queria estar mais com ele. Sim. ELE É MUITO, MAS MUITO importante! filho do Pico e da Aninha... e meu padrinho sempre foi o máximo... queria estar mais, ser a dinda máximo... sempre quis ser a amiga máximo, a filha, a esposa, a irmã. A dor da Clara esse ano revelou - entre outras coisas, claro - que eu estou bem longe de ser a irmã máximo dela. Fiquei pensando se o mesmo acontecia com o Gu. Se isso acontece com você amigo que está lendo isso.

Fiquei imaginando soluções (sim, todas bem bizarras)... se eu parasse de estudar (já que não tenho estudado o tanto que eu gostaria), ou de trabalhar, ou qualquer coisa parecida. Afff... que desengonçar!

Fiquei pensando se não foi por isso que eu tenho me dedicado ao taekwondo... Lutar é sempre silencioso e solitário. Mas se atinge alguém (como você mesmo...)

Se você é meu amigo, familiar e tiver tido a paciência de ler isso até aqui... to com saudade de você, querendo atenção, colo, muito carinho. Preciso me sentir importante. Sim, preciso sim. Preciso saber que eu sou mais do que uma egiptóloga em formação, que eu sou super cdf e ocupada, que eu trabalho pra caralho pra poder fazer tudo direitinho, que sou excessivamente responsável... que eu sou mais do que a ruiva (sim, estou ruiva!) bonitinha de olhos grandes e azuis, de roupas e acessórios diferentes. Que eu sou mais que a filha e irmã séria e que quer cuidar de tudo, a mulher que tem que ser maravilhosa, companheira, forte, compreensiva; a amiga super disponível, que lembra de aniversário, de ligar, de mandar sms e email pra dizer que você - sim, você que recebeu esse email, é importante demais pra mim. E me desculpe o jeito desajeitado de pedir isso, eu acabo sempre discursando sobre a própria indignação. : )

essa sou eu, como você conhece.

Tem alguém aí?

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