segunda-feira, junho 14, 2010

os silêncios

Tantos meses de silêncios virtuais. E muito se passou. Um processar que força o calar. O sentir amorfo. A morte nunca é suave. Vivi uma experiência de morte recente. E que medonho é esse descontrole sobre a vida, sobre si. Sobre isso que a gente chama de "tudo".

Há um calar sobre si mesmo. Sobre a própria revelação da insignificância. De um medo de não ser. De perder(-se).

Recebi a notícia e quase bati o carro. Ninguém que eu precisava dar a notícia por perto. Tereza em Portugal? Como se diz por email que alguém morreu? que o irmão se foi?

Tantos espelhamentos: irmão, marido, filhos, primos. Quando alguém morre, morrem histórias, sentimentos, esperanças. E medos. Morre um pouco - ou muito - de você. E fica lá, para sempre. Na expectativa do que poderia ter sido, de como seria. Do enfim...

Você se depara com uma cerquinha que te acompanha ali, no cantinho do olho, mas que de verdade, a gente nunca quer olhar. E por mais que se tente, se veja, se creia... fica ali. Num eterno que nunca começou ou aconteceu. Naquela coisa tosca de : poderia ter sido eu, comigo,... E a sua única certeza na verdade é o seu maior mistério.

Tenho ficado tão quieta depois disso. Cicatrizado as feridas abertas de outro jeito. Revi os meus machucados apertados pela rotina. Pisoteados pelas falas duras, inconsequentes, silenciados pela expectativa da melhora. E aí... se perde, se vai. Se deixa de uma vez. De repente. Sem controle. Sem vontade. Sem despedida.

Se passou um mês. Encontrei Tereza. Só sabia abraçar de novo. Só tenho feito escutar. Os lamentos e desesperos de quem não crê em nada a não ser na própria limitação disso que é a vida, o corpo, o sentir. Não Tereza. Mas os demais... Dói. Não tenho tido a coragem de dizer nada. Só deixar passar. Respirar e esperar. Deixar.

Não imaginar o fim. Nem nada. Só ver o que fica, se fica, dentro da gente. No silêncio de um escuro, cheio de mistérios que apertam, expremem você do avesso. Restou?

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