sexta-feira, dezembro 08, 2006

piscando

Eu tenho vivido umas experiências tão tipicamente mundanas...
Depois de fazer uma consulta astrológica achei que meu bastismo gradual no experienciar humano estava (quase) encerrado (embora eu ache ainda alguns itens ausentes, mesmo sem saber lista-los).

Eu estive numa típica discussão de relacionamentos esses últimos dias. Fiz que fiz. Falei, chorei. Discursei. Descobri que eu adoro discutir a relação (espero que ele não leia essa frase!) porque isso, de algum modo, me faz sentir ouvida. Pois bem.

Já viveu um daqueles momentos em que tudo parece desabar na sua cabeça? Em que você se sentiu um tremendo goiaba? Ou o bicho da goiaba? Pois é... segunda-feira.

Segunda-feira. Depois de um dia razoavelmente pensativo (e intenso nos trabalhos) eu enfrentei um típico temporal de SP (digo típico porque nos últimos dias eles foram tão frequentes a ponto de transformar o meu imaginário - a cidade da garoa dava lugar à cidade dos temporais). Mas voltemos ao temporal. Saí. Tinha terapia. Um outro momento de desaguar os meus temporais. Mas um detalhe importante. Haiva civis no meio.

Eu passei a desaguar as tempestades enlouquecidamente. Despejei o dilúvio (Noé teria inveja!), sem nenhuma arca. Nenhuma. Acabara de matar os pobres surfistas que tentavam nadar desesperados pra longe dos ventos de Iansã. Na volta continuei o meu discurso rancoroso, amedrontado de mim mesma. Doía. Mas persistia nos cortes com o bisturi (que, por serem cegos, não olham por onde passam, mas sangram).

Quando estava no meio do caminho de volta ouvi a voz amorosa do Juliano falar de novo "ponte", nosso código secreto pra sair do furacão. Chovia demais na minha cabeça pra enxergar a ponte. E mesmo me tirava a coragem para espichar a minha.

Carregava no meio dos temporais uns pacotes (junto com a bolsa, com o guarda-chuva, com as coisas pesadas) e mal podia me aconchegar ao braço do Juliano. Chegamos em casa comigo e o bico. Larguei a bolsa, o guarda-chuva. Deixei os sapatos e as meias molhadas no meio da sala. Carregava ainda as coisas pesadas. Ah! o pacote dele. Das lojas americanas. Nem me lembro onde larguei. Quando ia dar início ao meu discurso final (por isso mesmo mais dramático e retumbante) recebi um daqueles abraços sussurrantes ao pé do ouvido. "Tenho um presente pra vc. Abre."

Era um dos pacotes enfeitados com papel de Natal, papai noel feliz, sininhos, etc. Super colorido. Quebrei as pernas. Era como se acabasse a água da chuva justamente quando a câmera ia fazer a melhor tomada. Putz! Fui abrindo. Temerosa do que eu ia encontrar por ali. Olhei meio de cima do embrulho, apalpando disfarçadamente - a minha curiosidade ainda consegue ser menor que o meu orgulho, ainda - para que o Juliano não percebesse. Fui. Mais um pouco e vislumbrei uns pelinhos verdes. Nem acreditei que era isso mesmo.

Uma árvore de Natal. Com bolinhas douradas. E um lacinho rendado na ponta dela. Papai Noel pra pendurar na porta de casa, com nevinha... Em alguns segundos consegui recordar os tempos da infância quando chegava perto do Natal. Eu adoro natais. Lembro do meu avô que tinha a maior árvore de Natal do mundo (considerando meu tamanho na época), do meu tio, que desmascarei o salão de beleza da Barbie na lareira de casa antes da abertura dos presentes - e pela primeira vez vi Papai Noel furioso, entregando presentes de bico com as criancinhas meio comportadas. Foram muitas lembranças ali naquele rastrinho de infância.

Lembrava da ansiedade de ficar imaginando todas as coisas que a gente queria ganhar. Lembrei de Natais em que não ganhamos nada, por conta da situação financeira da família, mas que trocamos os presentes mais lindos (que até hoje carrego comigo). Lembrei do ritual de todos os anos a minha mãe me apurrinhar pra montar a árvore de Natal de casa. (eu adorava! me sentia a única especial capaz de fazer isso e resgatar o presépio do meu avô). Mas passaram as lembranças ali, exatamente do mesmo jeito que passaram todos esses momentos natalinos, levados pelas renas do Papai Noel antes mesmo que pudesse me despedir deles.

E ali, naquela noite chuvosa, o meu marido (adoro chama-lo assim!) compondo esses novos e futuros natais na nossa casa. Nossa casa. Nossa árvore. Ok, já estou chorando (de novo!) pra contar isso. Eu me acabei chorando aquela noite... e quando ia me desculpar pelas minhas birrices chatentas ainda escuto no sussurro "eu vi que você ficou olhando para a árvore na casa da sua mãe, toda encantada. Não queria te deixar sem esses momentos aqui"

Quando abri os olhos o olhei bem no fundo da alma, me senti o Tio Patinhas na versão Disney do Contos de Natal. E o fantasma do natal futuro ali, diante de mim, personificado no amor, na transformação que esse sentimento opera nas criaturas orgulhosinhas (estou trabalhando a minha humildade nisso também...) e egoistinhas... Que bom que o Natal tem esse poder de recuperar na gente essa coisa que a modernidade (e boa parte dos intelectuais, ditos "pós-modernos") gostam de afastar. De explicar e contextualizar. Cansei de problematizar esses momentos. Por que a gente não pode simplesmente (simples assim!) curtir esse gostoso no coração... e deixar os problemas para o resto do ano, são tantos...

Talvez esse texto esteja mesmo, de fato, bem piegas. Mas não me interessa. É tão bom olhar aquela arvorezinha de Natal em casa, com os 20 piscas que ele comprou, a nevinha, o Papai Noel pendurado na janela de casa... e perceber que em algum lugar eu ainda sou aquela menina cheia de faceirices.

Um comentário:

Ana Luiza disse...

Lindo! Linda essa história... Chorei junto quando vc disse que chorou... Quero conhecer essa arvorezinha!

Vc e o Juca são lindos...

Amo vc, amo vcs

Bjs