domingo, fevereiro 01, 2009

E passa o tempo. E me lembro de uma coisinha que meu pai contava quando eu era pequena, não me lembro se era uma música ou um versinho. Ninguém sabe quanto tempo o tempo tem.

E acho que pela primeira vez eu me sinto amarrada nessas teias do tempo. De uma espera que cansa. E desgasta a alma. Me deixa sem vontade de continuar a sonhar. Por que? Ora, porque cansa. E acho que pela primeira vez mesmo eu senti o peso do poema de F. Pessoa. O cansaço. Esse profundo cansaço. Da alma. De tentar. De caminhar. De querer. De esperar. De torcer. De seguir. De fazer.

E não me senti uma criança por dentro. Mas uma velha. Com os dedos tortos de contar. E os lábios gastos de morder. E ansiar.

Outro dia ouvi uma pessoa me falando sobre envelhecer. E mais do que a crise dos 30, me senti sendo arrastada por isso que a gente chama - cheio de ignorância - de vida. Deixei de rir sobre as "crises da idade" pra me pegar pensando que os caminhos traçados, muitos deles, não tem volta. E por não se voltar a gente pode, muitas vezes se encher de auto-piedade e lamentos. Mas por mais que se lamente, se tenha pena, se queira. Está feito. A herança que a gente pinga gota a gota nesses dias quentes de viver ficam. E as pessoas por quem passamos, mais ali ou aqui, dentro ou fora da gente, tem essa marca. A gente não pode esquecer do que se fez. Isso fica. No tempo. E mesmo que ele envelheça essas lembranças. Oxide esse sentir. Fica. Mais perto ou mais longe. Mas sempre em algum lugar. De mim, de você, de quem for.

Fiquei a noite em claro mais uma vez. Sentindo que esse tempo não cabe em mim. Não quero ele aqui dentro me costurando teias de prisões, de mentes, de sentimentos, meus e dos outros. Me senti de novo com vontade de fugir de mim. Seja lá o que isso for.

Correr sem tempo. Não contra ele. É uma batalha perdida. Pra não dizer desleal. A gente não tem direito de escolha nesse duelo. E fiquei rodando de um lado pro outro acompanhando o ventilador. Ele tem um "timer". Achei graça que até isso tenha tempo. Controlado. Olhei em volta pela casa - devo ter levantado umas 4 vezes... tantos relógios. Olhei os gatos. Que sentem o tempo de outra forma. O Fred, com dois anos, já tem a minha idade humana. Que coisa! E vi que o mundo passa pela sua porta, quase sempre fechada, com trancas. Com medo de alguém entrar. Desavisadamente.

Chorei mais. Fiquei com o peito asfixiado. Tanto tempo nesse pensar. E não me vi passar por nada. Nem a noite passou aqui dentro. Ficou.

Trabalhei mais um pouco hoje. Fui ver os meus pais. Engraçado como isso também passa. Os pais. Vi que eles estão indo de mim. Para um desses lugares que eu também não sei o nome. Mas que vou chegar lá, no meu tempo. E o tempo é meu, nosso, do outro, de ninguém. Do mundo, do nada. Dos povos. Do esquecer. Do perdoar. Deixar. Ir e voltar. Tudo construido nessa lata craniana que me confundem o entender. E paralizo. Sem tempo. Mas com pressa de mim.

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