terça-feira, abril 21, 2009

De novo a questão do tempo... tenho me sentido tão apressada, com mil atividades ao mesmo tempo, agora, pra ontem. Respiro sufocada. E ainda rio de mim querendo controlar essas coisas.

Passei a maior parte do feriado trabalhando. Em casa. E ficar em casa tem algumas compensações únicas. Meu cantinho, seguro, amoroso. Com o nosso cheiro, gosto. O Nosso aqui. E fiquei olhando as coisas de novo pensando em como a correria me atira mais ainda pra dentro de mim. De casa. Da gente.

Senti saudade de ficar lagarteando. E não tenho feito mais isso. Descobri esses dias a magia de ficar - em casa - jogando video game. Isso mesmo. Me arrumaram um jogo do Star Wars pelo computador e deixei meu lado de agente secreto/membro da rebelião frustrado se expandir. "Não tenho coragem de jogar com o Império", eu dizia ao Thomas. E me diverti com a possibilidade de curtir esses universos paralelos - ainda dentro do meu...

Foi engraçado não ter vontade de sair. Fiquei pensando se é o cansaço, o excesso, o barulho todo do lado de fora do mundo (não que eu tenha silêncio por dentro...), mas ainda que eu chegue a alguma conclusão, não importa.

Tenho aproveitado umas coisas sublimes, quietinhas. Curtindo objetos, publicado fotos, pensado no pouco que eu quero agora... e no muito que eu quero lá na frente. Quase um momento de incubar. Não idéias, mas forças. Outro dia me perguntaram se eu estava depressiva. Moderninha essa conversa: angústias, terapia, sugestão do analista, crises profissionais, conjugais. Sempre me perguntam se eu passo por isso... acho graça. Acho que a minha vida é uma constante crise. No sentido etimológico da palavra. Há muitas separações, aprendizados. Divisores de água que partem a vida aqui dentro de mim. E é bom. Não me sinto mal. Deprê, como a gente diz nas conversas de bares.

Sorte minha o Juliano... a gente se cresce tanto. Isso mesmo, "se cresce". Eu fico pensando na intensidade e na profundidade do Nosso. Mesmo nas "crises" conjugais. É tão mais forte do que eu entendo. Um laço que me puxa pra fora de mim, mergulhado em mim. Uma sutileza de companheirismo, cumplicidade que eu perderia tempo explicando, entendendo. E acho graça das nossas briguinhas por bobagem. Eu sempre arrumo um jeito de dar um "pityzinho básico". E vejo a história de vida dele... o que ele foi antes... e é agora comigo... queria mesmo que a vida tivesses provocado essa crise, essa mudança profunda pelo amor, pelo dar-se a outra pessoa. Invejo ele. Por ter tão claro quem ele foi e quem ele é. Eu ainda não consigo. Sou sendo... cheia de gerúndios aqui dentro. As coisas acontecem lentamente. Demais. tão devagar que eu mal sinto... e só percebo as coisas correndo por fora, a rotina, os sonhos, a voracidade de viver.

Acho que esse jogar no computador tem um pouco disso. Administrar... criar estratégias... um treino adolescente para dar conta do que está ali na frente, na próxima esquina. Tão pertinho... e perceber a priori, quem está por vir...


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domingo, abril 19, 2009

Esses dias me dei conta que eu não escrevia há muito tempo. O que explicava um certo faniquito na cabeça e uma desorganização do jeito de ver e sentir o mundo. Engraçado como eu sempre acho que ninguém lê essas coisas e me surpreende o fato de alguém ver sentido, ou mesmo ter paciência de se debruçar sobre essas coisas tão íntimas.

Há algum tempo eu voltei para as aulas de grego e reencontrei um grande amigo da faculdade. Estamos na mesma turma. Ele, terminando o mestrado agora. E achei graça dele dizer que tinha um blog. "Descompromissado" ele dizia. No meio da carona, choramingando pelas desgraças da academia e do seu mundo feudal que talvez, jamais, veja a era das revoluções... esbarramos nesse universo blogueiro descompromissado.

Esse sentir-se só faz a gente escrever eu creio. E é uma solidão pra lá de profunda no mundo. Não é estar com alguém, amando, sendo amado, saindo, tendo amigos e família. Conversando com o Ogawa eu fiquei dias imaginando por que a gente se individualiza tanto... a ponto de ficar tão só, lá no fundo. Por mais que a gente compartilhe, fale, entenda, discuta, ainda falta. E ele riu dizendo que podia ser a insaciedade capitalista - papo de historiador depois de aula pesada, às 11:15 pm.

Mudei de emprego, estou estudando que nem maluca de novo, mais coisas pra revisar, corrigir, entregar... Não parei um instante no último mês. Tenho muitos textos começados, como sonhos que ainda ficaram no sonhar. Vi pessoas novas. Fiquei de molho em casa uma semana. E nada, em nada, essa sensação se modificaria... Não é meu, mas já está em mim.

Fui no aniversário de 90 anos da minha vó no sul, revi a família, matei saudades, criei outras no lugar, enlouqueci tirando fotos de todo mundo e de todo tempo que eu queria levar comigo.

Festa da família do Juliano na Páscoa, mais gente, mais falação, lembranças e cascas de ferida deslocadas pelo corpo. Cachoeira pra lavar a alma. E deixar a cabeça repousar na terra vermelha. Tirando os ruídos desse mundo que eu não quero pertencer.

E chego aqui com a mesma rotina. A mesma vontade de sentar, não pensar e deixar o sentir escrever por mim. Quase como se ele não me pertencesse, mas está em mim. O tempo todo. Mais projetos, planos, metas e as velhas obrigações que me anestesiam de mim mesma. Eu até gosto. Preciso de uma rotina pra lembrar que eu preciso comer, dormir, falar com as pessoas e interagir nesse universo estranho - eu mesma.

Lembro das conversas com Ogawa sobre esse semi-anonimato da internet. De como a gente acha, e às vezes torce, pra nunca ser lido, encontrado. Desvelado. Mas aí, retomando a velha prosa com o Pedro Markun, por que é mesmo que eu escrevo? Se é pra mim... por quê? Acordei com a sensação de que procuro outros de mim pelo mundo. Afinal, quem é a gente mesmo se não se tem a experiência de partilhar? de receber... e de deixar...

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