domingo, abril 19, 2009

Esses dias me dei conta que eu não escrevia há muito tempo. O que explicava um certo faniquito na cabeça e uma desorganização do jeito de ver e sentir o mundo. Engraçado como eu sempre acho que ninguém lê essas coisas e me surpreende o fato de alguém ver sentido, ou mesmo ter paciência de se debruçar sobre essas coisas tão íntimas.

Há algum tempo eu voltei para as aulas de grego e reencontrei um grande amigo da faculdade. Estamos na mesma turma. Ele, terminando o mestrado agora. E achei graça dele dizer que tinha um blog. "Descompromissado" ele dizia. No meio da carona, choramingando pelas desgraças da academia e do seu mundo feudal que talvez, jamais, veja a era das revoluções... esbarramos nesse universo blogueiro descompromissado.

Esse sentir-se só faz a gente escrever eu creio. E é uma solidão pra lá de profunda no mundo. Não é estar com alguém, amando, sendo amado, saindo, tendo amigos e família. Conversando com o Ogawa eu fiquei dias imaginando por que a gente se individualiza tanto... a ponto de ficar tão só, lá no fundo. Por mais que a gente compartilhe, fale, entenda, discuta, ainda falta. E ele riu dizendo que podia ser a insaciedade capitalista - papo de historiador depois de aula pesada, às 11:15 pm.

Mudei de emprego, estou estudando que nem maluca de novo, mais coisas pra revisar, corrigir, entregar... Não parei um instante no último mês. Tenho muitos textos começados, como sonhos que ainda ficaram no sonhar. Vi pessoas novas. Fiquei de molho em casa uma semana. E nada, em nada, essa sensação se modificaria... Não é meu, mas já está em mim.

Fui no aniversário de 90 anos da minha vó no sul, revi a família, matei saudades, criei outras no lugar, enlouqueci tirando fotos de todo mundo e de todo tempo que eu queria levar comigo.

Festa da família do Juliano na Páscoa, mais gente, mais falação, lembranças e cascas de ferida deslocadas pelo corpo. Cachoeira pra lavar a alma. E deixar a cabeça repousar na terra vermelha. Tirando os ruídos desse mundo que eu não quero pertencer.

E chego aqui com a mesma rotina. A mesma vontade de sentar, não pensar e deixar o sentir escrever por mim. Quase como se ele não me pertencesse, mas está em mim. O tempo todo. Mais projetos, planos, metas e as velhas obrigações que me anestesiam de mim mesma. Eu até gosto. Preciso de uma rotina pra lembrar que eu preciso comer, dormir, falar com as pessoas e interagir nesse universo estranho - eu mesma.

Lembro das conversas com Ogawa sobre esse semi-anonimato da internet. De como a gente acha, e às vezes torce, pra nunca ser lido, encontrado. Desvelado. Mas aí, retomando a velha prosa com o Pedro Markun, por que é mesmo que eu escrevo? Se é pra mim... por quê? Acordei com a sensação de que procuro outros de mim pelo mundo. Afinal, quem é a gente mesmo se não se tem a experiência de partilhar? de receber... e de deixar...

Um comentário:

Lou disse...

Que bom que você voltou!!!
Saudades aos montes de você=)
Beijos montes,
Lou