terça-feira, setembro 15, 2009

um ópio

Há uma fraqueza em se reconhecer humano. E é isso que dói. Não a dor em si, mas o que ela representa na nossa (in)finita limitação. Tenho pensado sobre o que é o limite do viver, do sentir. E mesmo do pensar.

Essa semana dando uma aula sobre Iluminismo me deparei com um lado meu tão séc XVIII, no seu sentido mais arrogante. Acreditei que era possível entender - pela razão - as coisas que a razão desconhece. E não por acaso ouvi o grande Renato dizendo isso repetidamente na minha orelha esses dias.

Curiosamente o assunto da aula seguinte seria o período napoleônico e todo o movimento romântico num cenário europeu fragilizado pela guerra e pela certeza da limitação do pensar. Mas ainda crendo numa amplitude do sentir sem fim.

Achei graça de mim mesma tentando explicar isso aos alunos - adolescentes - com as crises todas e as percepções do mundo "gente grande" se abrindo diante deles. Explicar o que é pensar e sentir, tão óbvio que cega. E foi assim que me senti. Meio Ensaio sobre a Cegueira (de mim mesma). Digo meio porque foi assim que me senti. Ao meio. Estou em milhares de cacos como diz Adriana Calcanhoto. Tão pequenos que não os enxergo para buscá-los no chão. Não sei por onde começo e talvez a fraqueza esteja justamente em assumir que não se pode começar a não ser pelo reconhecimento que somos fragmentos fragmentados.

Em pedacinhos.

E durante a aula fiquei me perguntando como se ensina a viver. Tem tantas coisas aqui dentro que não aprendi na escola e tãopouco na poesia dos outros. A ciência: classificatória, mas pouco elucidativa. Não sei mesmo... e por isso tudo me senti tão fraca. Voltando para casa fui surpreendida outra vez com uma música do Men at Work. Sobre as coisas que me ensinaram: ser responsável, prática, e uma lista enorme de adjetivos criados para preencher nossa falta de vocabulário de nós mesmos.

Fiquei com o peito apertado. Uma angústia que não cabia mais em mim, nem no choro. Me senti sem casa. Não posso morar em mim se não conheço esse espaço. E não consigo sair de casa. Passei o resto da noite divagando pelos cantos da sala com os gatos como eu poderia me dar conta. Ou solucionar. Caso pra levar pra terapia? Um remedinho aqui pra acalmar a ansiedade? Me perdi?

E voltei a procurar músicas que cantavam por mim. Tinha perdido a voz nesse emaranhado de pensamentos descabelados.

Fiquei com saudades do meu cantinho escondido não sei onde. Da minha solidão tão cheia de respostas. De uma certeza que não existe. Sem garantias. De nada. Ninguém. Acordei com a Filó abraçando os meus cabelos. E uma ansiedade cheirando a ópio. Sem saber falar, ouvir, ver. Sem sentido algum em mim. Sem Razão, sem Sentir. Um vazio povoado pelo horror de mim. E só. E era tudo.

Procurei o Juliano, não tinha chegado. Não sabia bem as horas mas deveria ser pouco antes da meia noite. Fugia desse fim de nada.


Um comentário:

Lou disse...

Me identifiquei tanto com esse texto...você nem imagina o quanto...
Beijos montes,
Lou