sexta-feira, janeiro 23, 2009

Estava eu na minha maré desiludida, me afogando em textos acadêmicos... e aí a tecnologia serve para alguma coisa - de fato - humana.

Como por sintonia (isso sempre acontece) o Vinícius entrou no msn. E há algum tempo a gente não conversava. Chamando isso de conversa, evidentemente. Há uma coisa interessante nessas amizades profundas. É um vínculo que se faz de silêncios.

Foi legal poder ve-lo na camera da ferramenta. Acho que não o via desde o casamento. E foi bonito. Eu, de cabelo mais curto e bagunçado, ele na casa nova, barbudo e rodeado de livros. Foi engraçado como, depois de tanto tempo, e apesar de tudo, algumas coisas permanecem. Me lembrei de um trabalho que fizemos juntos e que quase surtamos. Horas e horas de icq pelas noites adentro. Ele riu de mim porque tinha que entregar coisas amanhã. Da minha pressa e da mania de perfeição. Riu também das aulas de tae-kwon-do. Disse a ele que estava treinando direitinho.

No fundo, os assuntos são sempre os mesmos. Mas há graus diferentes de sutilezas com o passar do tempo. Fala-se sempre pouco nas nossas conversa. Mas o suficiente. Senti uma saudade. Ele era sempre o amigo que cuidava de mim na faculdade. Aquele irmão mais velho e grandão que defende a gente das pessoas do mal. Apelidei ele de Sullivan - o monstro azul de Monstros SA, da Pixar. Ele em contrapartida me deu o bonequinho. Guardo até hoje.

É engraçado como é confortável a sensação de que a gente precisa - e pode - ser cuidado, sem diminuir a nossa capacidade de ser o que se é. Me lembrei de várias coisas no caminho do treino e senti o coração mais leve sabendo dessas existências silenciosas. Sinto falta dele mais perto, mas entendo as escolhas, os caminhos.

Pedi para ele ler meu texto depois. E me ajudar com umas coisas e observações mais metodológicas. O Vinícius sempre foi a minha confiança acadêmica. O único cabeção que não perdia o humor, o jeito carinhoso de tratar as pessoas (apesar dele ser super azedo). De repente me deu vontade de voltar para a USP e sentar por horas debaixo daquela árvore... e assistir a vida dali, como num filme dos anos 50. Acho que foi mais que nostalgia. Fiquei me lembrando da frase do Juliano essa semana: tirar férias emocionais. Acho que ele não tem a menor idéia do que estava dizendo. Mas fica a sugestão. Quis conseguir isso e me desligar. Viver a minha solidão silenciosa. A companhia do Vinícius me deixava confortável nessa solidão.

Fiquei rindo das minhas reflexões pensando que hoje eu sou casada, apaixonada. E de fato não vivo - nada - sozinha. Ao contrário. Vivo um arrombamento da minha solidão. Da minha - arrogante, talvez - sensação que posso viver só, apesar de estar sempre tão rodeada de gente. É quase uma fuga isso. Estar com as pessoas para não me entregar a isso. E o quanto isso me esvazia e preenche. Me desafia para um encontro ao avesso de mim.

Vivi um treino intenso. No meio dessas coisas que iam e vinham por mim. Libertei uma raiva doída. Magoada. Mas não a deixei ir de todo. Ficaram ainda essas sombras. Que se diluem em treinos futuros, em conversas debaixo de árvores e por do sol. Fiquei com raiva de mim. E foi ótimo.

Que bom que tem a camerazinha... e gente ali do outro lado.

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