domingo, fevereiro 25, 2007

coincidindo

A Márcia vai casar... dia 17 de março deste ano. Talvez seja o primeiro casamento em que eu vá cujo envolvimento emocional com a figura é verdadeiramente profundo... o do Geraldo também...
Sempre gostei de casamentos. Sempre chorei em todos eles. Acho bonito aquele papo de "até que a morte os separe", "sejam felizes para sempre", os juramentos (com exceção daqueles em que a mulher tem que servir o marido, francamente...). Mas adoro a idéia. A original. De que você escolhe (e é escolhido, claro) uma pessoa no meio de 6 bihões de outras estranhas e familiares pessoas no nosso pequeno planetinha para testemunhar a sua vida.

Mas voltando à Márcia... ela é uma espécie de irmã mais velha. Já devo ter dito isso aqui, mas ela testemunhou de perto um dos momentos mais transformadores - e redentores - da minha vida. Fomos juntas um dia, depois de uma daquelas infernais reuniões que tínhamos às 2as feiras, assistir um filme no cinema. Dança comigo. A versão nova, do charmosíssimo Richard Gere... o roteiro falava de uma coisa que posteriormente iríamos viver com tamanha intensidade que deveríamos ter levado caderninhos para anotar. O que ocorre depois que você encontra a pessoa amada, a conquista, constrói sonhos e vida com ela? Manutenção. A palavra soa pesada - parece que você vai consertar eletrodomésticos e carros, mas é quase isso, com a diferença clara - a ausência de manuais de instrução.

O filme fala de uma história de amor 20 anos depois... o sujeito está triste, com a sua própria vida... e ainda ama a mulher. É difícil explicar - e entender - ao outro que você está infeliz e não é por causa dele. Há um diálogo em que a mulher pergunta ao detetive particular (olha a que ponto chega a manutenção...) por que as pessoas se casam. E a resposta é direta, sem floreios, dada por ela mesma. As pessoas se casam porque a vida é muito solitária, difícil. E tanta coisa acontece com a gente que precisamos de uma testemunha para presenciar a nossa existência na Terra. Isso me atravessou e pela primeira vez em muitos anos, percebi que era esse o sentido mesmo disso que chamamos de casamento. E amor, pré-requisito disso, é talvez o motor que nos faça querer continuar testemunhando a vida do outro. E ninguém disse que testemunha é um servicinho mole.

Eu me lembro bem de sair do cinema super emocionada com o filme. Márcia ainda não tinha o Marcos. Eu já tinha o Juliano, mas pensei que dizer isso a ele, com todas as dificuldades sentimentais do moço, seria apelar. Passei dias rascunhando sentires no meu caderninho. Nem pensamentos eu formalizava. Mudanças tão rápidas dentro e fora de mim...

Essa semana eu fiz aniversário de noivado. É engraçado como nós, mulheres, temos o hábito de cultivar datas e dizer que elas são importantes. Outro dia pensei: são números e ponto. Por que a gente leva tão a sério o fato de que nem tudo é exato, preciso, inteligível? O meu aniversário não foi tão bom como o dia do noivado propriamente dito. Me lembro dos meus pais e irmãos naquele dia lendo corações e cantando... Lembro do Juliano, tão menino, sem jeito, ansioso. Lembro de mim...

Fiquei muito triste nesse dia. Um desapontamento com o serviço testemunhal que me fez ter preguiça de olhar, sentir, e ver... E a Márcia parece, na sua ausência, testemunhar todo o meu sentir que, de tão intenso, explode umas fronteiras invisíveis... Quando eu tinha chegado em casa, depois desse dia silencioso e barulhento parei na escada e dei de cara com aquela letrinha num envelope bonito e braquinho... a letra dela é inconfundível - professora de português à moda antiga!

Fui subindo a escada como se quisesse atingir os degraus mais altos do meu pensamento. Decifrando o interior à medida que abria o envelope. MM. Era o convite de casamento da menina. Eu sabia que ela ia me mandar, sabia que ia chegar naqueles dias. Tinha ajudado a palpitar o vestido de noiva dela... Uma multidão de imagens se encontraram juntas na minha retina pra ver o convite dela. Lembro das risadas, dos desencantos com a vida, das baladas e das bebedeiras. Isso tudo estava ali, testemunhando a Márcia chegando no altar do coração dela. O tapete colocado era bem longo e às vezes, desbotado, outras com vermelhos reluzantes disputando o seu lugar aos pés dela. Tive vontade de ligar pra ela aquela noite. Mas achei melhor rascunhar isso aqui. Era tanta emoção que o telefone ia arrebentar a minha vontade de comemorar. Silêncio. Quando abri a porta de casa e vi o Juliano chegando atrás de mim, desliguei... comemorei quietinha com as imagens dançando a marcha nupcial na minha cabeça. "Chegou o convite de casamento da Márcia..." "Ah! que legal!!!"

Não dormi aquela noite. Doía o peito, chorei bastante. Por que dói tanto? Ainda não consigo continuar os passos no tapete... até pensei em enrolá-lo de novo, colocá-lo embaixo do braço e sair dançando por aí. Quem sabe dava de cara com o Richard Gere no shopping subindo a escada rolante de smoking e com uma rosa na mão... aquele olhar apertadinho... Mas na hora me dei conta que a rosa era pra mulher dele e que ele ia repetir de novo "a gente tem tanto... que eu tinha vergonha de te dizer que me sentia infeliz e que você não tem culpa disso..." Então resolvi desligar o botãozinho da fantasia toda... ia ficar com ciúmes dela. Virei pro lado e deixei a cortina dançar aquela noite, com o vento. Eles sempre se encontram na minha janela, toda noite, e dançam e, sem se dar conta, me mostramostrando que, ainda oscilante a música, é possível dançar, mesmo em silêncio...

Márcia, quero te ver dançar na festa do teu coração. Obrigada por me convidar para testemunhar isso...

Um comentário:

Anônimo disse...

Thaís, doce e fiel amiga,
Que lindo o que você escreveu! Obrigada. Nesses momentos em que as cortinas de seu quarto dançam com o vento, saiba que a música vem de seu coração. Mais que isso, saiba que junto com você sempre estarei tocando um instrumento.
Márcia