domingo, fevereiro 25, 2007

reconhecendo

Essa semana foi muito particular em termos de reconhecimento. Passei o carnaval reconhecendo o Juliano que, se transformando e se descobrindo todo dia, me deixa mais apaixonada. Até pelas idiossincrasias do moço. (que ele não leia...)

Fiquei muito meditativa no feriado. Longe do que costumava fazer há 13 anos... ok. sem culpas. Senti saudade de um tempo bom da minha vida. De pessoas que fizeram parte dele de em jeito tão intenso... e que eu achava que ia ser pra sempre. Pois bem. passou. Daí eu transitei pelo mundo fantástico do Neil Gaiman e dos filhos do Anansi, de gente esquisita, de Fat Charlie e sua insegurança em reconhecer que podia fazer algo. Depois fiz unma consulta rápida com a Srta Emily Dickinson... a conversa foi mais séria do que a que eu tive com Fernando Pessoa.

Quarta-feira de cinzas básica. Recolhendo os meus cinzeiros interiores por aí, sem conseguir organizar nada para escrever. Ajeitei a casa. Recebo então um telefonema maroto do Zé Paulo, aquele meu aluno que me encanta até hoje. "A gente pode mesmo te visitar?" E vieram. Ele, o Guilherme Germano, o Fredy e o Vinícius. Dos dois primeiros eu tinha certeza do carinho, mas os dois últimos, não. Eu não tinha idéia que cultivavam de verdade esse sentimento por mim. Imaginava, mas ainda não podia sentir...

Foi uma tarde maravilhosa e esse encontro com alunos sempre me dá vontade de escrever. Eu morro de saudades dessa classe. Adorei testemunhar uns momentos tão intensos de desabrochar. Eles vieram me trazer um vídeo. Sobre um projeto que tinham feito na escola no ano em que eu saí. Ainda relutava em acreditar que a imaginação e o humor deles tinham se somado a uma perspicácia crítica impressionante. E como eu me surpreendi que todas as coisas que eu julguei bobas, exemplos fáceis, triviais, de serem absorvidos numa aula de história foram reapropriados com tamanha agulhada! Imaginem uma mistura de big brother (em sua acepção original do Sr. Orwell se revolvendo na tumba com as falas do Bial!) Sr dos Anéis (Sr Jackson, se cuide, as gerações novas estão passando dos 15 anos!) Star Wars (sem comentários!) Branca de Neve, The Wall. Trilhas originais. Humor crítico (pensei de mostrar isso aos pseudo-humoristas que temos hoje, esses que só fazem rir com cócegas...).

Não contaria aqui a narrativa. Mas fiquei impressionada, novamente, como os adolescentes sacam coisas numa rotina escolar em que os profissionais da educação se esforçam - e se convencem disso! - para esconder dos alunos.

Fiquei orgulhosa deles. De todos. De perceber homens e mulheres que estão se tornando. Íntegros, apesar das crises. Sinceros com o que se sentem. E inseguros pelo que pode vir das mãos dos outros, as quais não controlamos.

Eu ficava olhando para aqueles 4 meninos sentados na minha sala discutindo os poréns da educação, da vida no país, sobre preconceito, autoridade, honestidade, namoro e convivência. Estava tão deslumbrada que a fala faltava. Os egípcios tinham razão em admirar a flor de lótus, que nascia nos locais mais impossíveis e desacreditados. Reconheci neles sementes minhas que tinham sido lançadas, até sem querer, por desatino mesmo... e vi o trabalho de 4 jardineiros... com jardins encantadores. Todos com perfumes e flores coloridas, particulares, diferentes entre si. E todos belos. Me senti feliz por ter acompanhado esse plantio das primeiras safras. Oxalá eu veja a extensão disso nos próximos anos. Percebi que a vida é bem generosa com a gente, apesar de todos os desafios. No meio de um lugar que machucou demais a mim, aos meus amigos, vi uma possibilidade de transformação da e na dor. A gente se supera, se surpreende.

E o Julio, mais uma vez... tinha razão. É só a gente acreditar no possível. Aos meus ex-alunos, a minha gratidão (esse texto deve estar quase piegas para alguns... paciência...) e admiração por me devolverem algo que eu achei que tinha perdido. Acabei de reconhecer a Thais na outra esquina.

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