quarta-feira, fevereiro 14, 2007

semeando


Eu não tenho escrito muito esse ano. Nem é pelo volume de trabalho, que está intenso, mais talvez pela superstição do ritual pra mim...

Minha viagem ao Rio de Janeiro neste trânsito de 06-07 foi recheada de surpresas, boas, intensas, e outras não muito surpreendentes. Na verdade o fato é que a gente vai se acostumando com as nossas próprias surpresas.

Voltei para a terapia na semana passada. Não foram férias da terapeuta, mas de mim... O mais complicado nessa parada toda é que a gente não tira férias da gente, por mais que a gente se esforce (ops, se esforçar pra tirar férias não me parece muito convincente). Queria meus direitos trabalhistas, mas o Criador às vezes tem um tom meio patronal. Não é pra menos. O sujeito cria o mundo em 6 dias... e tira um de descanso... nada mal.

Ontem eu fiquei pensando nos caminhos engraçados da vida. Saí da escola tarde, depois de um semi-castigo pelo rodízio, lendo Filhos de Anansi. Pensando nas aranhas da minha cabeça, tão irônicas como as minhocas, escondidas. Liguei o som no carro, me aproveitando dos vidros escuros para poder ouvir um mp3 sem culpa... e multas. Star Wars. Realizando pequenos delírios de infância: trilha sonora para dirigir em alta velocidade. Foi divertido. até consegui simular uma fuga do campo de asteróides cortando o trânsito na Av Brasil. Ao menos a minha Millenium Falcon está mais inteira do que a original e não precisou de uns tapinhas...

Cheguei na terapia com o sangue quente, estimulado pela trilha sonora do Mestre John Williams e pelos vômitos do peito na cabeça. Não sei qual deles é mais forte em mim, a cabeça ou o coração. Mas vi fortemente a disputa de queda de braço no meu corpo. Péssimo lugar pra lutarem. Despejei as latas, os sacos, os entulhos do peito... doeu. Nem sabia olhar pra mim e reconhecer essa parte mais monstruosa, feia, disforme, da raiva, da incompreensão. Saí de lá nada pacificada, ao contrário. Mas querendo muito crescer a minha paciência e não acabar com tudo de uma vez... A Georgina me dizia sobre o lado lúdico da vida...

Hoje cedo Juliano me dizia que sou protagonista de tudo o que vivo. Na verdade foi mais romântico que isso. Algo do tipo "viver com você é deixar você protagonizar a vida, mesmo que seja como cenário." mais ou menos isso... Estava aqui ensaiando arrumar as minhas coisas para trabalhar e me deu uma coceira nos dedos. É tão difícil a gente se protagonizar. Acho que é a tarefa mais difícil da vida. Saber a hora de entrar no palco, se maquiar, trocar de roupa. Respeitar a iluminação, a trilha sonora. São muitos timings diferentes... e eu nem consigo decorar tudo. Puro curso de improviso essa vida.

E isso me dá saudades da Dani. A Dani Palhaça que trabalhou comigo ano passado inteiro. Foi minha irmã. Presenciou momentos dilacerantes sem saber de nada. Nem precisava falar pra ela, só estar ali. Nos conhecemos numa segunda feira, em meio a uma reunião de trabalho, gente pouco conhecida, exceto pela Jerusa, que me levou ao pessoal. 5 mulheres! Que medo, mal sabia eu... E a loucura toda disso foi a descoberta diária que a Dani trazia a Thais mais alegre de volta. A alegre palhaça mesmo, que assume os erros, ri das próprias fragilidades. Bem piegas, pode parecer...

Estar com ela era o momento mais esperado da semana. Depois de dias de loucura, trabalhos pra ontem, crises existenciais de todos tipos, tamanhos e cores, o espetáculo começava quando ela aparecia. Eu assistia ela. É uma das poucas (bem poucas mesmo) pessoas que eu gosto de escutar. Assistia ela comendo doces, no meu circo privado. Tão cheio de srtas T ao redor, tristes, alegres, passivas, escondidas. A Dani tinha uma capacidade incrível de me desconstruir, de me tirar de mim. De me proteger de mim mesma. Eu passava um tempão pedindo para ela imitar as pessoas. As minhas verdadeiras aulas eram com ela, no planejamento.

Há momentos inesquecíveis com ela. Recordo do dia no Frans Café que, ao "continuar o planejamento das aulas" abrimos as comportas uma pra outra. Falamos tanto das vidas... e depois, minutos depois, nos encontramos no supermercado... A história do mantegueiro... Outro dia o carro dela quebrou na estrada. Ficamos fazendo caretas e simulando modos de pedir socorro. Ao surgir um cara na estrada, assustadas, começamos a planejar como atacá-lo caso ele viesse pra cima da gente. Em meio a isso tudo ainda paramos pra tirar umas fotos com poses de As panteras. Ríamos o tempo todo. Sem parar. Gostava do jeito que ela quebrava a prepotência das pessoas. Riam dela, rindo deles mesmos.

Para o meu casamento ela planejava um número de palhaça, sendo a juiza de paz... Eu me acabava de rir pensando na cara do Juliano, que se diz tão tímido. Ainda quero ver isso.

Esse ano ela vai pra África. Vi o Jardineiro Fiel e me lembrei dela. Como fazer pro riso surgir ali naquela gente tão árida pela dor e pela privação? Não nos falamos mais esse ano, sei que ela está numa correria absurda, cheia de idas, talvez sem as vindas... saudade de você menina...

No fim do ano passado no nosso amigo secreto do absurdo dei a ela o jardim da minha casa. Juliano e eu plantamos muitas coisas no nosso apartamento. Dei a ela. Fiz o presente pra ela. Eu sei que ela sempre se sentiu bem aqui em casa e queria que ela levasse essa sensação pra lá, seja onde lá for. Montei tudo numa caixinha onde guardava cartinhas de alunos meus... ficou mimoso.
Que eu não seja o jardim... mas seja fiel. Continuo arando na terapia... , plantando no Nosso, sem férias, levando a sério os dizeres do Criador... ganharás o pão com o suor do teu rosto... Dani, se você puder, volta...

Nenhum comentário: