quinta-feira, outubro 11, 2007

Há algum tempo eu venho refletindo sobre a imagem do post anterior. Ela me tocou tanto que nem pude escrever... Tenho pensado onde estão meus portos. Dentro, fora... em lugar algum...

Certa vez, conversando com o Nelsinho ficamos falando sobre essa sensação de ser - em alguns momentos - espectador de si mesmo... Ele se via à beira de um penhasco, vendo o pôr do sol. As montanhas eram altas, mas a vista alcançava longe... Puro verdo misturado ao lilás e laranja do disco se despedindo. Lembro bem dessa imagem descrita por ele. O meu penhasco tem o mar à frente. E um horizonte mais longíncuo, interminável e inalcançável... O mar se mistura com o céu, que se mistura com aquele monte de cores sutis, delineadas pelas nuvens. E nessa imagem eu não via nenhum porto. Nada. Só sentia o vento, forte, e o cheiro do mar me cortando por dentro.

Numa outra conversa com o Vinícius falávamos da imagem poética do Pearl Harbor. Esse mesmo do filme. O nome é lindo. O restante, construção. Destruição. Não importa. Falávamos sobre como algumas amizades são esses portos da gente. Semana passada, depois de muito tempo, me senti só. E não é essa solidão de estar com alguém. Fico imaginando que, se por acaso o Juliano lesse isso talvez ficasse chateado. Não se trata dele. De estar num relacionamento seja ele qual for. Me senti só. Tendo que realizar, permanecer, fortalecer tantas coisas e pessoas aqui fora. Há um tempo que venho sentindo no corpo esse desmoronar de forças. Engraçado que o Vinícius sempre diz que eu sou muito forte. Onde eu coloquei a minha sensibilidade - travestida em fragilidade?

Olhei a imagem de novo agora há pouco. E uma vontade de mergulhar nessa água. Nadar tem me feito muito bem. É instrospecção dentro e pra dentro... Pra fora de mim, o ar. E as coisas todas que as braçadas deixam pra trás. Penso muito na piscina. É diferente do ballet quando eu prestava atenção no corpo todo e me enfiava pra dentro da música. E o silêncio acontecia dentro de mim... Na água é exatamente o oposto... Mergulho cada vez mais para o meu barulho tumultuante. Fico com a sensação que eu procuro alguma coisa ali debaixo d´água... e quando saio dali, os portos ainda não apareceram.

Há tanta coisa acontecendo aqui dentro... tenho sentido falta dos amigos, desses mais testemunhas de mim. Saudade de carinho de pai e de uma despreocupação com o dia seguinte... Chorei muito nesses dias e nem consigo dizer bem porque. Dor? Não sei... acho que é essa solidão que caminha sozinha aqui dentro.

Durante a semana tenho ficado em casa. Estou sem aulas na escola e curtir esse meu "solo sagrado" tem sido reconfortante. Saí de casa alguns dias para andar pela cidade. De ônibus e a pé. Fui na Santa Efigênia. Na 25 de março e esses lugares barulhentos e cheios de coisas incríveis. Me senti como o Geertz em seu trabalho com a briga de galos. Tanta desolação e potencial criativo. Olhava as pessoas trabalando naquele mercado persa e me perguntava o que elas faziam dentro delas. Eu sempre me pergunto o que faço com as coisas que eu sinto. E nunca chego a uma resposta convicente. Juliano me diz que eu não preciso comunicar os sentimentos. Só sentir. Eu só sinto comunicando. Não sei sentir só. Ou esse sentir-se só é porque não se comunica?


E ontem, pela primeira vez depois de muito tempo acho que consegui sentir no corpo todo a epifania do gerar. Vou ser madrinha do filho do Pico. Pedro. É o meu primeiro afilhado e esse convite me despertou uma luz aqui dentro... Uma vontade de aportar. Esperar os navios chegarem, outros irem... e qual porto que eu procuro mesmo? Esse que me permita ver o pôr do sol... em silêncio...

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