quinta-feira, março 27, 2008

Fiquei sem tempo pra escrever pra mim... Meus emails tem sido curtos. Vagos. Vazios daquilo que eu mais gosto em mim... deixei na bagagem?

É curioso como o silêncio traz outras coisas aqui pra dentro. Recoloca. Desde que roubaram meu rádio do carro há quase um mês eu perdi aquelas pequenas epifanias do caminho. Da música tocando na hora 11 ou 22 alguma coisa. As árvores ficaram ali, no mesmo lugar. As folhas do outono apareceram ainda timidamente. Tudo é igual ali. Menos o som. E fico me perguntando se eu perdi mais alguma coisa nesse fim de musicalidade.

Tenho conversado mais comigo. Uma dessas conversas que se tem com irmão mais velho. Escuto - o peito também... - e deixo a razão semi-iluminada-enciclopedista-pré-napoleônica ditar as regras das decisões finais. No dia em que saí da escola chateada um sujeito que vende flores no farol que sempre me cumprimenta me ofereceu uma de graça. Era uma rosa amarela. Fiquei pensando como eu ia aceitar ou não essa epifania. Ganhei chocolates aos montes dos meus alunos e, apesar de todo incômodo da Páscoa com as suas formalidades religiosas e blablabla (que minha vó não me leia!) quase hipócritas (Jesus, Moisés e tal estão, certamente, em outra!) fui sensibilizada por um sentimento de renovação de mim.

Dito de outro modo. Vivo minha quaresma sentenciosa e na quietude desses barulhos de mim. Nem sei bem quando ela começou. E nem sei de que modo - e se mesmo ela pode - terminar. Há dias estou chocolatando coisas em mim. Estranhamente já sei qual parte minha foi cumprir rituais de auto-punição e redenção. Nada públicos, acreditem. O mais surpreendente foi o estranhamento da parte que ficou. Ah! sim! Por favor nada de tapinha nas costas com um gesto de quase-coitadinha-da-sensível-imatura... nem me dizer das estranhas-coincidências-dessa-vida-estranha... como por exemplo tocar toda essas músicas na hora em que escrevo sobre isso...

O mais estranho dessas feridas de mim é que quanto mais eu quero me esconder mais eu me exponho. Honestamente, não creio que há qualquer bravura nisso. Ao contrário. Sendo fraca, me enfraqueço. Daí todas as minhas promessas de whisky-blog-chocolate de não ser mais assim. De enterrar naquele sepulcro de pedra essa vergonha de si. De mim. Esse meu cansaço...

E Fernando Pessoa já dizia tudo isso... Nem sei porque insisti em provar que a sua desilusão é apenas literária. Não há nada de literário em sentir desse jeito. Muito menos de temer o tanto que se sente. Mais ainda... não dá para (d)escrever essa tentativa de se pascoalizar... O céu ainda não escureceu. As feridas ainda estão abertas e nenhum sinal de clemência de ninguém ao redor. Sequer os ladrões. devem ter sido roubados de si mesmos... ou de mim...




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