quinta-feira, setembro 18, 2008

ancorando

Preciso ancorar num local que conheça meus próprios símbolos. Ainda não sei onde fica. Por que estaria tão perto, e tão longe de mim. Não vi espelhos, nem outros objetos que me dessem essa impressão de ser mais eu mesma. Não vi. Não sei. Nem lembro se soube.

Depois de ter esvaziado todo meu arsenal de coisas e falas e tudo. Estava traduzindo ontem para a aula de grego um texto sobre as amazonas. Disfarças, lutaram contra os helenos, mas foram derrotadas. As que foram derrotadas, capturadas e levadas às naus. COmo os helenos - por saberem que eram mulheres - não ligaram muito para sua captura, não as vigiaram adequadamente; e o navio sucumbiu numa emboscada. O complicado porém, é que as amazonas desconheciam absolutamente a arte de navegar. E se perderam, indo parar nas terras dos citas. Lá, lutaram mais uma vez, disfarçadas de homens. E ao carregar os cadáveres, os citas perceberam que eram mulheres. Ao invés de combatê-las, foram para seu acampamento tentar uma aproximação: queriam filhos delas.

Achei curioso esse texto parar nas minhas mãos depois de tanto tempo pensando sobre esse meu universo simbólico, perdido pelos mares de aqui. Me vi uma das amazonas tentando fugir de uma outra emboscada. Meu disfarce, porém, facilmente descoberto. Mais lutas. Não sei onde acampar ainda e essa fúria de sair, de descobrir. Heródoto fala que elas não reconheceram os citas: não entendiam suas palavras e eles as delas. Esse estranhamento todo de ouvir e ver é a minha perplexidade diante de mim. Olho os olhos.

Acordei hoje com essa meio-gripe depois de viver 4 semanas de UTI (unidade de trabalho intensiva). Quase saindo... e me jogando na cama exausta. Sem possibilidade ainda de acampar. Os citas, aqui tão perto, são ainda estranhos que eu tento reconhecer. Sua língua, costumes... e não os entendo. Nem suas ações. Mas que importa o que foi feito antes? (fico me repetindo isso)... Basta o encontro. O mar, o novo. E aquilo que esse acampar me reserva: ficar, lutar ou amar? Chega de enfrentamentos. Uma trégua. E o tempo servindo os ventos que levam. Trazem... e apaziguam esse esperar.

Um comentário:

Lou disse...

Que saudade de ler seus textos, espero que esteja bem e que volte logo!
Beijo
Aninha