segunda-feira, outubro 13, 2008

o sapatinho vermelho


Sempre gostei de vermelho. Principalmente de sapatinhos vermelhos. Dão personalidade ao nosso andar tão desatento nesse mundo. Quando me dei conta que a meninice se tornava outra coisa, comprei muitos deles. Sempre daquele mesmo jeito que eu usava quando criança. De bonequinha.

Dia 22 tinha quase se tornado sinônimo de angústia. Terapias a parte, essa minha visão romântica de mundo não é fácil não. Dá muito trabalho. Pra mim. E para os outros. 22 de setembro. Início de primavera aqui dentro. Sinais de um desabrochar cheio de mistérios e desabotoares silenciosos nas noites. Apesar dos dias cinzentos e friozinhos eu sentia que as tempestades de agosto poderiam se dispersar.

Saí do trabalho com as minhocas dirigindo comigo. De fato, as safadinhas sempre sabem como costurar caminhos nos seus precários neurônios. E o caminho desse ir-buscar-depois-do-trabalho-da-natação-e-da-luta... ficavam mais e mais longos. Quase intermináveis aqui dentro.

O carro com as luzes fracas e apagadas. A neblinazinha sinistra que mais parecia sair de dentro de mim me motivou a dar um telefonema qualquer. Chegando via o Juliano com uma flor vermelha nas mãos. Me perguntava ali onde eu tinha deixado a Thais. Ou para onde ela tinha ido sem avisar.

Me enlaçou o pescoço numa correntinha pequenina, que pendurava aqui e ali um sapatinho vermelho. Igual aos que eu sempre usei. E ainda uso. "É para você saber onde está o teu caminho no coração, pra ele te levar sempre pra mim"... E de volta.

Me senti como a mocinha do Mágico de Oz andando numa estrada de tijolos amarelos. Via aquele sapatinho reluzindo pra mim e me mostrando - de fato - coisas que eu sequer poderia escrever. Tão sutis. Um transformar-se genuíno que me escapa e me move. Me deixa inteira. Olhando de frente para todos os lados ao mesmo tempo. Prismática.

Caminhei alguns dias nessa estrada que me deixaram sonhar de novo. E sonhos de ontem, de amanhã. De nunca. De gente que foi, que fica, que vai um dia. E que nunca chegou. Olhei todas as estradas em volta. Algumas mais coloridas, outras mais barulhentas. Peguei a mais vazia. E sigo nela. Só pra mim. Com esse andar perdido de menina-moça, querendo saber e ver, sentir, experimentar. E percebo o quanto esse viver-com atinge em cheio o meu sentir romântico. Quando penso em andar descalços, o sapatinho fica mais confortável. Protege. Ensina. Mostra que os caminhos aqui de dentro não são trilhados com a mente. E mesmo que lagartichas verdes atravessem a estrada - sem minhocas - eu consigo saltar. Pra esse outro sonho de mim. De nós. E só, continuo. E ainda que não encontre o mágico que me leve de volta... vale a companhia na estrada e quem sabe, eu já tenha chegado.

2 comentários:

Lou disse...

Muito bom tê-la de volta, principalmente, com sapatinhos vermelhos!
Um grande abraço Srta.T!
Beijos
Aninha!

Ps: Não sabia que meus desejos seriam realizados rapidamente.rsrs
Desejei posts novos!!!!

Anônimo disse...

Fiquei tão feliz quando vi vários posts novos!=D são lindos!!!