Depois de reler o Sandman fiquei fantasiando que o Tempo deve ser uma entidade daquele tipo. Sinistra e descolada. Fiquei imaginando como o Neil Gaiman desenharia esse sujeitinho tão presente (e ausente) na nossa existência.
Tirei o atraso de algumas coisas nessa primeira semana de quase sossego: assisti E o vento levou mais uma vez.
Revivi meus momentos de Scarlet e as coisas que o Tempo provoca na gente. Esse papo todo de amadurecer. Há alguns dias atrás ouvi que era preciso negociar com o tempo. Tenho pressa em fazer esse mestrado, terminar a pesquisa, finalizar. Encerrar e poder outra vez começar outra coisa. Há muitos planos. Um medo desse desconhecido, tão próximo de mim. Uma vontade de atravessar as fronteiras e invadir esses territórios meus e dos outros.
E a ansiedade volta. Fica. Permanece... Li. joguei papéis fora, arrumei armários. E ainda sinto essa desorganização aqui em mim. Uma confusão de priorizar todas as vontades. Tirar o atrazo. Mas quem me disse que estou atrasada? De repente me senti tomando café da manhã com o coelho branco de Alice no país das Maravilhas. Tenho pressa pra tudo. Olhei minha vida nos dois últimos anos. Só corri. Nem sei bem para que... para quem... mas para mim não foi...
Ou corri de mim...
Estou bem agora. Tenho o Tempo comigo. Preciso usa-lo ao meu favor... mas ainda nao sei de que jeito. Ou como diz o velho ditado, nao sei quanto tempo o tempo tem... Fantasiei outras coisas... Olhei os calendários. Tentei organizar agendas, metas, prioridades. E tudo o que me restou foi uma perplexidade completa diante do Tempo. Me lembrei da época que frequentava a faculdade de física e ouvia as loucuras e teorias - físicas - sobre o tempo. Até a blasfêmia para um historiador: o Tempo não existe. Não ousaria discutir isso. Acho que há capacitados... mas até essa constatação me assusta. O que se tem? Não temos nada, só que somos. E até isso parece intangível demais para nós...
Quis parar o tempo. Como se param filmes, livros. Congelar. Me lembrei do meu apego às pessoas e aos lugares. É. Sou muitíssimo apegada. Fico tentando segurar os momentos por entre os dedos. E me incomoda como escorregam da gente. Ontem recebi meus irmãos em casa. Foi uma delícia e ficamos rindo até de madrugada escutando música... quis congelar aquilo... diante dos meus olhos. E me dei conta nesse momento que eu viveria uma vida congelada. Cheia de momentos assim. Com amigos, com família. E que desse imenso iceberg eu jamais poderia caminhar ou sair. Que morreria de frio em mim mesma. E que tudo o que eu pudesse, reteria. Como um grande buraco negro, faminto de felicidade... que tragaria pessoas. Não seria livre. E nem deixaria ninguém livre - de mim. Achei graça dessa imagem. E naquele instante disse ao Coelho Branco para tomar um chá de cidreira. Ou um suquinho de maracujá... e que esperasse mais um pouco. Desenhei o tempo como um grande polvo. Cheio de braços, que me lançavam longe e me traziam de volta. E eu seria minimamente um io-io simpático... que saberia ir. E voltar. E me divertiria de estar nos braços do Tempo, saracoteando pelo Universo.
Me lembrei do Pequeno Príncipe. E aquelas viagens nos cometas... poder ir, voltar, esperar, ficar. Isso o Tempo deve permitir. Marquei uma entrevista com ele. Para ser feita durante a vida. É o tempo que ele tinha na agenda. Ficamos de "ir conversando"... E que ele seria o primeiro a me receber... depois o Sandman, o Destino, o Delírio. E depois a Morte. E depois... só depois.
Pus a água na chaleira... e vou esperar a hora do chá.
quarta-feira, dezembro 03, 2008
negociando com o tempo
Postado por Srta T às 12:08 PM
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Um comentário:
Fico aqui como uma cúmplice, ouvindo você falar sobre coisas que me assustam muito ainda: o tempo e o apego as pessoas queridas.
Lembra quando iamos ao Centro e estudavámos sobre o desapego? Nunca imaginei que brigaria (sofreria) tanto para não deixar minhs lembranças serem roubadas de mim, assim como, autorizar dentro de mim mesma que as pessoas que amo fossem embora.
Ah, quanto aprendizado! Saudade de ti...sempre!
Beijos
Aninha.
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