segunda-feira, agosto 31, 2009

Descascar a própria cebola ainda é ok... mas o desafio é acompanhar - sem deixar de chorar - o outro despelando...

Fico ansiosa. E distante. E mais próxima tentando ajudar. Mas quanto mais perto, mais os olhos se afogam. E aí eu não consigo ver mais nada. E não saio do lugar. e me afogo nesse olhar sem rumo e sem visão. Sem fronteira do que é o meu e dele.

Fico esperando. E sem resposta eu me afogo. E nado. E sofro e esbravejo. Podia secar os olhos e olhar melhor. O descascar doloroso com as lágrimas alheias. Mas isso não se pode fazer quando vamos juntos à cozinha e nos metemos a descascas tantas das cebolas espalhadas pelo chão. Deixamos de ver. Inclusive o viço do que está vindo. Depois do corte. Depois da primeira pele retirada. Do cheiro entranhado nas unhas. E ficamos dopados nessa tortura de (se) despelar. Não esperamos pelo outro. Por que não vemos. Mal sabemos segurar a faquinha semi-enferrujada sem correr o risco de fazer outros cortes.

E ali... naquele silêncio de angústia do assassino nós testemunhamos - de luto ainda - o despelar vagoroso do outro. Como cúmplices de um crime de amar e aprender. Criminosos pela ignorância do viver e do enxergar. De tão perto.

E tão perto, com os olhos marejados e entorpecidos pelo cheiro inconfundível e desagradável de cebolas (sim, fedemos!) podemos sussurrar um ensaio de texto de amor. De querer, sem saber como, viver. Mais. Perto. Dentro. Do outro.

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descascando a cebola

Nunca gostei de cebola. Tiro isso da pizza, da salada, até dos sanduiches dos trashfoods por ai.

Voltei há um mês exatamente. E essa volta me empurra mais pra lá do que pra cá. Fico tentando recompor as coisas dentro de mim e perceber o quanto mudou e o que ficou aqui dentro. Me sinto devastada por uma porção de coisas que não tem nome, que não sei explicar. E tudo vem assim, rápido e avassalador, quase num vômito.

Morreu muita coisa lá. Num "desastre de avião" mesmo. Joguei algumas da Thais sem paraquedas no meio dos oceanos. Sim, queria matá-las. As outras talvez tenham morrido por acidente e eu não tive a chance de resgatar nenhuma. Sorte a minha. Embora ainda tenham ficado alguns quase-luto.

A parte mais difícil de voltar é estar mesmo imersa no que eu chamo de realidade. Essa palavra tem ganhado cores e sons diferentes desde então. Mas talvez seja essa a mágica. Conversando esses dias me dei conta - finalmente - que o vivido foi mais que uma simples viagem de estudo, pesquisa e o escambau. Rito de passagem combinado com o fim do retorno de saturno? ai ai, me amedronta um pouco essa coisa ritualística toda... uma tentativa de encher de significado a minha crise de realidades? Poderia ser se eu não levasse em conta a sensação de morte aqui dentro. Olho pra trás e não me reconheço. É assustador.

Me sinto mais um monte de coisas e menos um outro tanto. Como se eu tivesse feito um regime para engordar e emagrecer ao mesmo tempo... e me vejo naqueles espelhos de parque de diversões. Tem sido divertido provar roupas e ver que elas não servem mais. Ontem tentei explicar ao Juliano que a mulher dele estava diferente. Mas o desafio disso é que por enquanto só eu vejo essas coisas. Acho que ele - e os demais - ainda veem as falecidas na minha frente. Ficaram no mar. Mas eu entendo. São tantas as mortes que ainda não deu tempo de contabilizar as vítimas aqui. Pior que acidente comum e assassinato premeditado.

Fiquei tentando mostrar quem tinha morrido. Expliquei. Mas acho que ele ainda não vê a diferença. Há uma porção de coisas que eu não quero mais. E isso me liberta de sentir medo, porque - de verdade - eu posso controlar quem eu quero que entre aqui. Alívio... e uma sensação de um carinho no coração. De não exposição... de fim. sem luto...

E aí me vejo sentada a essa hora da manhã com uma pilha de coisas pra fazer... tentando descascar cebola. Chorando e descobrindo nisso a beleza do que há por dentro. Que eu sempre tinha me recusado a ver. Arrancando a pele feia, murcha e escurecida. Jogando fora coisas que eu não queria mais ver, nem sentir. Mas como toda pele arrancada, dói. E vejo maravilhada essa coisa toda brilhando, lustrosa. Me enchendo de orgulho de ser o que eu sou. E ter o que tenho. Que na verdade é só meu mesmo. E que ninguém tem acesso. Semi-escondida pro mundo, descascada devagar. E aí o sentir-se solitária foi mais prazeiroso que antes. Foi um desapego de tanta coisa e tanta gente. Amassados nas cascas destroçadas pelo meu desprendimento. Mutilados com uma faquinha pequena, de pouco corte. Extirpando as manchas de antes. As imagens dos outros estampadas nessa pele quase sem lustro. Secando as dores que esfarelavam com o movimento das mãos.

E volto, e arranco. Tiro todos os pedaços cuidadosamente. Chorando. Me vendo. Sentindo esse cheiro entranhado nas mãos. Nascendo.

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domingo, agosto 16, 2009

Tell me... you love me

Estranhamente as coisas aparecem à nossa frente. Eu adoraria acreditar no acaso. Mas acho que ia ser entendiante crer nisso. Ou pior, eu ficaria achando que o mundo é mais simples do que eu acho que é, ou que eu sou mais limitada do que os meus limites alcançam.

Fiquei me perguntando esses tempos porque Narciso gosta de espelho. A mitologia insiste numa vaidade. O perigo do espelho, ao contrário do que dizem, é que ele sempre revela. E as suas fantasias ali depositadas são engolidas pelos olhares atentos - cruéis - do espelho.

Acho que admiro Narciso. E mesmo a madrasta da Branca de Neve. Mas temo o espelho cada vez mais. Ontem dizia ao Juliano que eu gostada da solidão. Apesar de ser sociável e gostar demais de gente eu amo ficar sozinha. Sozinha mesmo. Sem espelhos. A solidão me acalma, me tira do mundo onde os espelhos me rondam e me mostram demais - o tempo todo - como eu sou e vejo o mundo. Quando se está só não se faz isso. Ou melhor, ninguém te faz isso.

Depois de uns drs sobre a volta ao Brasil eu fico pensando porque Chicago me faz tanta falta. A solidão... eu não precisava me incomodar de estar sendo observada num grande big brother de relacionamento, ou mesmo me importar em agir para nada. A solidão preserva você de um monte de desafios. Ela me cala.

Ontem assisti o primeiro episódio de um seriado que dá o nome a esse post. Sim. Não é, ao contrário do que parece, nada romântico, num sentindo raso. Mas talvez evoque o romantismo no seu sentido mais original de tempestade. E ímpeto. Tão humanos. E mais que isso é grandioso perceber que todos nós - humanamente humanos - temos problemas - de seres humanos. Humanizar-se deveria ser uma expressão usada com mais cautela pelos especialistas (em humanos?). Não é simples e sempre que a gente pode buscamos lugares vagos nos assentos superiores do estádio da vida. E sempre alguém com uma lanterninha, no meio do show nos enxota dali nos mostrando - mais uma vez - nosso lugar na platéia. Sim. É cruel que nosso comportamento seja ainda de farofeiro nesse assunto. Do jeitinho "brasileiro" que é fiscalizados por leis americanas sérias.

Vi 4 ou 5 casais tendo todo o tipo de problemas na relação. Em idades diferentes. Se você ainda tem dúvida sobre relacionamentos, perca a virgindade e assista. As dúvidas ficam na verdade em qual dos casais você vai ficar mais parecido. Achei graça. Na verdade não há alternativa. Você pode ficar pulando todos os galhos frágeis do comer junkfood descartável das relações... sim, e se descobrir uma pessoa incapaz de fazer vínculos ou de segurar de verdade um espelho nas mãos. Ou se atirar num relacionamento - sem ilusões de que não há drs e problemas - e ter que lidar com as próprias tripas o resto da vida.

Ou... fique lendo literatura e livros de auto-ajuda. De repente você aprende pelos outros e descobre que está perdendo tempo em não tentar nada do que foi dito acima. Sim. Estou amarga. E muito. E doída. Pelos relacionamentos? Não. isso seria mais simples.

Por humanizar-me. Hoje cedo li uma revista que falava sobre a morte. E que a gente morre lentamente. E que a vida agradece. Tive um curto circuito interior. Morrer aos poucos... achei completamente deprimente. Sim, a idéia de morte me deprime. Prefiro pensar que a gente pode renascer. E que pra isso as mortes precisam acontecer na vida. No plural: as mortes. Não penso isso como um absoluto. Eu ouvi hoje que haviam várias de mim. Fiquei pensando numa coisa meio serial killer: qual delas eu mataria primeiro em mim? ou se matá-las todas morrem numa relação - louquésima - de simbiose. Mas gostei de poder escolher quem de mim morreria. E de certo por uma causa nobre.

Mas talvez o mais desconcertante em se relacionar é se permitir morrer e nascer ao mesmo tempo muitas vezes. Muitíssimas vezes ao mesmo tempo. Amar é tão anti-linear. Os espelhos do outro refletem a gente com formas que deixariam os alucinógenos sem emprego. Fiquei olhando uma foto do Juliano comigo. Fiquei fantasiando uma coisa meio robocop: (bem cafona, mas é o que veio...) uma pessoa feita por espelhos. Acho que a gente é assim no mundo. A gente nunca consegue se ver de verdade porque também somos de espelho. E o máximo que a gente consegue é quebrar o espelho do outro. Pra depois ver que a nossa imagem ficou ainda pior do que antes. A gente se arranha, se trinca. E segue vivendo cheia de marcas no olhar, sem nunca conseguir ver direito ninguém. Só as coisas, que também se mutam em cores estranhas pelos nossos reflexos de luz.

Eu senti raiva hoje. De ser espelhada e do outro não se ver por mim. E de eu me iludir nesses reflexos confusos achando que me via em algum lugar. Quis fechar os olhos e voltar. Silenciar o esconde-esconde das relações. Assistir outros episódios na esperança que eu possa me ver. Mas ainda assim será outro espelho. E espelhos que refletem espelhos traduzem um infinito de buscas. Não posso acreditar que isso seja morrer aos poucos. Mas que pode ser a busca do viver. Solitariamente...

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segunda-feira, agosto 10, 2009

O mais complicado de se ficar mais velha não é ver o que está mudado de fato. Mas perceber que muitas das coisas que mudaram não tiveram a ver com as suas próprias escolhas. Você perde coisas e pessoas, e quando se dá conta que o fato está consumado. É tarde demais. Dói.

E não tive a chance de me despedir. Isso dói mais. Sobretudo para quem é cheia de rituais como eu. Nesse fim de semana eu me dei conta que havia perdido uma fase que me deixa muita saudade. E que não vai voltar. Nunca mais. E perdi de um jeito tão infantil. Mesquinho.

Vi os mesmos - poucos amigos - no sábado e tive a sensação profunda de que eu não pertencia mais àquele lugar. Que as mudanças vieram silenciosas nos anos. Mas foram devastadoras. Chorei bastante porque experimentei aquela sensação adolescente de estar deslocada - e humilhada. Um booling (é assim que se escreve?) de adultos ciumentos e inivejosos. Um materialismo qeu cansa e deprime. Afoga a pequena humanidade que pode exisitir na nossa tentativa de existir melhor.

Não quis ficar. Quis falar e não conseguir. Pedir socorro. Me esconder. Voltei pra casa pensando porque as pessoas pisam assim umas nas outras. Qual é o tamanho do medo ou da dor delas que justifique... E achei graça percebendo que incomodo tanto.

Me lembrei de algumas das vezes que fui forçada a "missões diplomáticas" com pessoas que - certamente - me deixavam desconfortáveis ou inseguras, ou qualquer coisa semelhante. Nunca bati em nenhuma delas. Ao contrário. Eu era sempre a super simpática. E acreditem, sem falsidade. Talvez seja exatamente o ponto, eu não consigo disfarçar quando estou desconfortável. Eu me esforço mesmo pra que as coisas fiquem bem. para que as amizades brotem. Uma coisa meio polyana da minha família. "evite conflitos" e se transforme. Me lembro quando o Juliano me colocou algumas vezes em saias bem apertadas...

Eu sabia que depois que ele casasse as coisas iam ficar diferentes. Mas nunca pensei que seriam tanto. Me senti num romance da Jane Austen, disse ao Juliano. Exposta na corte. E foi ridículo. Mulheres bêbadas fazem coisas ridículas. E nem se dão conta.

Fico torcendo para que não tenha perdido o amigo. Tenho perdido lentamente nos últimos anos. Mas não tinha percebido. E por isso mesmo não deu pra me despedir. E sinto o coração doer, apertado aqui dentro sem ter o que dizer disso tudo. Nem sei se é o caso de lamentar. As pessoas escolhem. E nem sempre percebem que escolhem todos os dias. E que a gente participa muito pouco da esolha dos outros. Quase nunca. E deixa pra lá. devagar... até que se passou demais, deixando um vazio, uma sensação de caminhar sobre o cimento amolecido. Por que quando secar... vai ser tarde demais para mover alguma coisa sem machucar.

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quarta-feira, agosto 05, 2009

contos do vento

Sinto falta do vento... E do jeito que ele soprava coisas tão secretas que não tenho autorização pra dividir.

Fico esperando ele soprar de novo aqui. E só trazer as coisas que ficaram lá, que não posso carregar comigo ou trazer pra dentro de casa.

Escuto as músicas do jardim e observo os prédios altos desenhados no lago. Fico esperando o ônibus passar pelos mesmos caminhos que eu tentava memorizar e repetia o trajeto nos sonhos. Lembro do cheiro dos livros e da casa me esperando pra jantar.

As meninas falando quando eu contava as minhas histórias incríveis. Comíamos enquanto eu balançava os pés do alto do banco pra aliviar o dia de caminhadas e ouvíamos juntas as risadas uma da outra. Brincava com Sheeba no jardim e ficávamos vendo as lanternas balançarem com o vento.

Olho a minha janela. Lanternas e fadinhas que não podem me trazer aquilo que ficou. Exceto pelo ralo exercício de lembrar. Que nunca é viver de novo.


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