domingo, agosto 16, 2009

Tell me... you love me

Estranhamente as coisas aparecem à nossa frente. Eu adoraria acreditar no acaso. Mas acho que ia ser entendiante crer nisso. Ou pior, eu ficaria achando que o mundo é mais simples do que eu acho que é, ou que eu sou mais limitada do que os meus limites alcançam.

Fiquei me perguntando esses tempos porque Narciso gosta de espelho. A mitologia insiste numa vaidade. O perigo do espelho, ao contrário do que dizem, é que ele sempre revela. E as suas fantasias ali depositadas são engolidas pelos olhares atentos - cruéis - do espelho.

Acho que admiro Narciso. E mesmo a madrasta da Branca de Neve. Mas temo o espelho cada vez mais. Ontem dizia ao Juliano que eu gostada da solidão. Apesar de ser sociável e gostar demais de gente eu amo ficar sozinha. Sozinha mesmo. Sem espelhos. A solidão me acalma, me tira do mundo onde os espelhos me rondam e me mostram demais - o tempo todo - como eu sou e vejo o mundo. Quando se está só não se faz isso. Ou melhor, ninguém te faz isso.

Depois de uns drs sobre a volta ao Brasil eu fico pensando porque Chicago me faz tanta falta. A solidão... eu não precisava me incomodar de estar sendo observada num grande big brother de relacionamento, ou mesmo me importar em agir para nada. A solidão preserva você de um monte de desafios. Ela me cala.

Ontem assisti o primeiro episódio de um seriado que dá o nome a esse post. Sim. Não é, ao contrário do que parece, nada romântico, num sentindo raso. Mas talvez evoque o romantismo no seu sentido mais original de tempestade. E ímpeto. Tão humanos. E mais que isso é grandioso perceber que todos nós - humanamente humanos - temos problemas - de seres humanos. Humanizar-se deveria ser uma expressão usada com mais cautela pelos especialistas (em humanos?). Não é simples e sempre que a gente pode buscamos lugares vagos nos assentos superiores do estádio da vida. E sempre alguém com uma lanterninha, no meio do show nos enxota dali nos mostrando - mais uma vez - nosso lugar na platéia. Sim. É cruel que nosso comportamento seja ainda de farofeiro nesse assunto. Do jeitinho "brasileiro" que é fiscalizados por leis americanas sérias.

Vi 4 ou 5 casais tendo todo o tipo de problemas na relação. Em idades diferentes. Se você ainda tem dúvida sobre relacionamentos, perca a virgindade e assista. As dúvidas ficam na verdade em qual dos casais você vai ficar mais parecido. Achei graça. Na verdade não há alternativa. Você pode ficar pulando todos os galhos frágeis do comer junkfood descartável das relações... sim, e se descobrir uma pessoa incapaz de fazer vínculos ou de segurar de verdade um espelho nas mãos. Ou se atirar num relacionamento - sem ilusões de que não há drs e problemas - e ter que lidar com as próprias tripas o resto da vida.

Ou... fique lendo literatura e livros de auto-ajuda. De repente você aprende pelos outros e descobre que está perdendo tempo em não tentar nada do que foi dito acima. Sim. Estou amarga. E muito. E doída. Pelos relacionamentos? Não. isso seria mais simples.

Por humanizar-me. Hoje cedo li uma revista que falava sobre a morte. E que a gente morre lentamente. E que a vida agradece. Tive um curto circuito interior. Morrer aos poucos... achei completamente deprimente. Sim, a idéia de morte me deprime. Prefiro pensar que a gente pode renascer. E que pra isso as mortes precisam acontecer na vida. No plural: as mortes. Não penso isso como um absoluto. Eu ouvi hoje que haviam várias de mim. Fiquei pensando numa coisa meio serial killer: qual delas eu mataria primeiro em mim? ou se matá-las todas morrem numa relação - louquésima - de simbiose. Mas gostei de poder escolher quem de mim morreria. E de certo por uma causa nobre.

Mas talvez o mais desconcertante em se relacionar é se permitir morrer e nascer ao mesmo tempo muitas vezes. Muitíssimas vezes ao mesmo tempo. Amar é tão anti-linear. Os espelhos do outro refletem a gente com formas que deixariam os alucinógenos sem emprego. Fiquei olhando uma foto do Juliano comigo. Fiquei fantasiando uma coisa meio robocop: (bem cafona, mas é o que veio...) uma pessoa feita por espelhos. Acho que a gente é assim no mundo. A gente nunca consegue se ver de verdade porque também somos de espelho. E o máximo que a gente consegue é quebrar o espelho do outro. Pra depois ver que a nossa imagem ficou ainda pior do que antes. A gente se arranha, se trinca. E segue vivendo cheia de marcas no olhar, sem nunca conseguir ver direito ninguém. Só as coisas, que também se mutam em cores estranhas pelos nossos reflexos de luz.

Eu senti raiva hoje. De ser espelhada e do outro não se ver por mim. E de eu me iludir nesses reflexos confusos achando que me via em algum lugar. Quis fechar os olhos e voltar. Silenciar o esconde-esconde das relações. Assistir outros episódios na esperança que eu possa me ver. Mas ainda assim será outro espelho. E espelhos que refletem espelhos traduzem um infinito de buscas. Não posso acreditar que isso seja morrer aos poucos. Mas que pode ser a busca do viver. Solitariamente...

Um comentário:

Juliano disse...

nao existe amor sem conflito. feliz por ser o seu amor, orgulhoso paga-pau mor dos seus textos. tu tem que escrever mais. com carinho do juca