quarta-feira, abril 04, 2007

Stand by me

O Claudio. Vulgo Pico. A gente se conhece desde os 6 anos de idade. Pãtz! São tantas histórias com ele... ele é uma testemunha e tanto dessa minha vida cheia de crises, minhocas e empolgações. Viu o lado negro da Srta T antes que qualquer um...

Eu, quando éramos crianças admirava muito ele, e ainda sustento essa admiração com todas as minhas fibras. O Pico sempre foi um cara inteligente, sensível demais... e, com eu, com esse sentimento de estar deslocado do mundo. Acho que ele foi o meu primeiro amor. A gente brigou muito depois na adolescência, mas sem se desgrudar. Quando tinha 12 anos, assisti o filme Stand by me e chorei horrores pensando nele! A gente nunca mais tem amigos como se tem aos 12... Outro dia passou o filme de novo na televisão. Chorei outro monte. Mas não consegui ligar pra ele pra dizer isso. Demorou quase uma semana para que a gente se falasse ao telefone.

Na infância o Pico tinha todos os brinquedos, as viagens, o pai dele era o dono da escola que a gente estudava. Eu tinha uma certa inveja de tudo isso, a família da gente, recém-chegada em São Paulo tinha muitas privações materiais. Enfim... passaram -se os anos e o Pico está trabalhando na FNAC. Nunca achei que fosse ver isso. Achávamos, quando crianças, que ambos iam ser da indústria de cinema, ele diretor. Eu atriz. A gente até brincava com os nomes dos nossos ídolos. Thais Lucas e Pico Spielberg. Adorávamos todo o tipo de ficção, fantasia. Ele foi quem me apresentou o Monty Pyton. E depois, anos mais tarde, o RPG. E com isso tudo um grupo de amigos que eu amo de todo o coração hoje, o qual eu não posso imaginar a minha vida sem aquela risada compulsiva e boba, o tempo todo.

Devo muito a ele, talvez a maior amizade, mais extensa, plena, verdadeiramente cúmplice que a gente tem na vida. Não importa se a gente fica anos sem se ver - agora isso não acontece mais...!

Ontem fui ve-lo no emprego. Estava com uma saudade aguda dele. Acho que o Pico é uma das poucas pessoas, de fato de um círculo muitíssimo reduzido, que me deixa espontânea. Eu estava com saudade dessa sensação. Apesar de ter sido o máximo a sala de aula ontem... eu queria mais. Cheguei no Shopping Morumbi e corri para a Fnac. Queria que ele não visse a minha cara de "estou morta hoje com esse calor" e dei um jeito rápido no cabelo, passei um batom. Cheguei na loja e - com a claridade toda da luz - não enxergava direito. Encontrei! Me aproximei do moço e vi que não era ele. Ok. Perguntei: "O Claudio Villa?". Resposta: "CD ou DVD?" Fiquei uns 20 segundos olhando para o moço... como assim? "Não. Ele é meu amigo... trabalha aqui". "Ah! É que a senhora está na sessão de música!". Pãtz...

Fui ao balcão de informações e perguntei onde ele ficava. Obviamente. Nos livros. Subi correndo. E lá estava o Pico. Com o uniforme da loja, mexendo no balcão. E sempre me recebe com o sorriso mais doce...com um olhar de "seja bem vinda ao nosso pequeno, mas verdadeiro universo". Era exatamente isso que eu estava precisando. Abracei ele demoradamente. Foi uma delícia. Fiquei ali, quietinha. Quase chorando. Ele perguntou se eu estava bem. "Carente de amigo". E foi só o que eu consegui dizer...

Ora. A gente nunca mais tem esses amigos, mas se puder mantê-los... melhor para você. Conversamos um pouco. Deveria ser umas 20:30. Vi que ele queria me dar atenção, mas a loja o chamava. Clientes com perguntinhas bobas. Francamente. Dicas de leitura. E sabe o que mais me tocou ali? Eu vi o quanto o Pico é generoso. Ele transforma tudo o que está ao redor dele. Um cara como ele, cheio de coisas brilhantes, ali, dando o melhor. Melhor mesmo. Carinho, atenção. E aquela leitura toda acumulada desde que a gente começou a ler.

Na hora eu me lembrei de um trabalho que fizemos para o Sidão, nosso professor de redação da 6a. série. Tínhamnos que contar uma história como se fosse um programa de rádio. Para isso... sonoplastia. É claro que a gente fez o trabalho juntos e que a nossa megalomania de efeitos especiais estava ali.

Saí de fininho da loja, com vontade de ficar. Dei um rolê até o Market Place e fui no Braumeister. Minha cervejaria favorita. E fui reencontrar o gerente. Marquinhos. Abracei a loja inteira e tomei um chopp escuro. Fiquei ali, escrevendo. Arrumando a agenda e pensando na minha trajetória desde muitos anos. Ando reflexiva. Ontem a vontade de sumir passou. Fiquei quase 1 hora na cervejaria batendo papo com os garçons e o gerente. Matando saudade de uma pessoa dentro de mim. Era bom me ver ali, espontaneamente viva.

Dei outro giro na concorrente - a livraria Cultura e voltei para o Shop. Ver o Pico. Fiquei ali enrolando e vendo ele arrumar, orientar. Sei lá. Tantos pensamentos ali. Pensei como é louco a gente conhecer uma pessoa há mais de 20 anos e ainda admirar, se surpreender. E se maravilhar. Fiquei quietinha ali, agradecendo à vida por ele ter sugido. Meu primeiro amigo em São Paulo.

Levei ele pra casa e fiquei escutando os sonhos de escritor dele. Ele escreve bem demais! Desde sempre. Contei algumas peripécias das minhas aulas e ele riu. Claro. A gente sempre riu um do outro. Deixei ele em casa. Foi tão rápido. Me despedi. Errei o caminho de volta e quando atingi a Marginal Pinheiros fui me lembrando da formação de todo o cenário na minha vida. Saudades do ginásio, Pico... mas que maravilha ver você ainda tão perto do meu coração. Chorei de novo no carro. Eu ando sensível com essas coisas. Mas foi tão gostoso... o vento. Uma música de fundo, quase inaudível. E aquele monte de lembranças de aventuras, de mundos fantásticos. De Duna, de Star Wars. De tudo o que a gente ainda carrega um do outro na alma. Obrigada.

4 comentários:

Anônimo disse...

Tati,

É dificil expressar em palavras a emoção que senti lendo esse seu post. Tem sido tempos dificeis para mim, mas saber que existe alguém que possui todo esse carinho por mim sem dúvida me ajuda a seguir em frente.

Só posso dizer que tudo o que você escreveu é reciproco. Você foi meu primeiro amor e ainda mais importante minha primeira amiga em uma época onde era dificil para mim me relacionar.

Fico feliz que mesmo passado tanto tempo, tantas coisas juntas ainda possamos ter um pelo outro o mesmo carinho da nossa infância, quando as prioridades eram os ensaios de teatro e as brincadeiras do recreio.

Tati, obrigado por ser essa pessoa tão especial que tantas alegrias trouxe para minha vida. Você sempre terá lugar cativo no meu coração

Bjs

P.S: Você esqueceu de mencionar as brincadeiras de Changeman (ta querendo esconder seu passado obscuro é? rssssss)

Rogério Furquim Mauad disse...

I'm speechless! Quanta produção recente, hein?

Todos os comentários que eu porventura fizesse sobre o Pico seriam desnecessários. O texto já foi suficientemente esclarecedor. :)

Só uma coisa que acho importante comentar. Será que realmente tínhamos mais amigos aos nossos 12 anos? Ou, talvez, será que, ao longo do tempo, aprendemos a ver quem são nossos verdadeiros amigos, aqueles que partilham idéias, objetivos e ideais comuns?

Ou melhor, aprendemos que amigos não são construídos tão facilmente e que, muitos deles, acabam sendo aquele castelinho frágil que você se referiu em um post anterior?

Castelinho esse não construído por móveis e enfeites, mas por interesses e ideais passageiros?

Bjo enorme e seus cosméticos lhe aguardam! :P

R.

Unknown disse...

Thais,
muito lindo seu post. Foi muito gostoso lê-lo. Ele merece.
Pode ter certeza que o orgulho que tenho dele é tão grande quanto o seu.
Amizade assim são poucas mesmo.
É bom ter você sempre por perto.
Bjs
Aninha :)

Anônimo disse...

Pico --- agora também em CD e DVD...

Pico é um amigão profissional, com um coração do tamanho de um bonde!