terça-feira, maio 06, 2008

Caminhando com a discrição habitual de sempre eu costumo - com os queridos - a fazer piadas nas situações mais tensas. Tem sido tenso no trabalho ultimamente. Não pelo trabalho em si, mas pelas emoções que ele envolve. Lidar com pessoas é um desafio maior do que a minha capacidade de aprender. Não é homeopático.

Nesse ir e vir de piadas e numa tentativa quase consciente de transformar os vulcões internos por vezes eu esbarro num limite. Há coisas que por mais que a gente queira mostrar e demonstrar e modificar... se esbarra num limite de compreensão do outro. E no limite da nossa própria prepotência em se querer que as coisas sejam assim. Do nosso jeito.

Esse problema da "alteridade" não reside somente nos planos acadêmicos. Fico com a impressão que, num certo sentido, a gente é outro até pra gente mesmo. E como é difícil administrar essa falta de entendimento. Ou ainda, esse desejo de que não exista limites.

Ainda me frustro. Comigo. Com os outros. Há um querer aqui que extrapola a coisa toda poética do livre arbítrio. Como é arrogante essa vontade de controlar. E mais, como é ansiosa essa vontade de se fazer entender.

Outro dia eu perguntava a um amigo se ele tinha achado esses últimos textos tristes. Ele riu. "Triste não, quase desesperado. Ansioso." Há uma coisa adolescente? Ou será que essa ansiedade ancestral, essa pressa de querer ver as coisas acontecerem são reflexos de um medo de perder... tudo.

Tenho buscado respirar aqui dentro. Olhar em volta. Ser mais discreta nessas trajetórias de trabalho-casa-pesquisa. Menos intensa... ou menos apressada? Me lembro do mar... e das frases soltas do Fernando Pessoa no Livro do Desassossego. Sempre fico me lembrando do motivo de ter dado isso ao Vinícius.

Que cor é mesmo o sentir?

Vontade de caminhar na praia de novo e silenciar. Fiquei hoje cedo brincando com a Lina de esconde-esconde... Não sei quem esconde o que de quem. Mas é divertido pensar que nesse quase-desespero eu tenho tanta gente querida em volta. E que todo esse carinho me deixa menos medrosa. Mais inteira. Mais minha.

Liguei há pouco para minha vó em Porto Alegre. Deu saudade desse jeito ansioso e feliz dela. Tem 90 anos. Fico imaginando que se eu chegar aos 60 com essa disposição já me dou por satisfeita. Ela lida bem com essa ansiedade e essa tentativa de ser discreta na vida. Ri-se mas com maestria de quem convive em trégua com a dor e a alegria. Sempre que me vejo assim eu me lembro dela. O sentir dela é colorido, furta-cor. Prisma no peito.

E peço trégua pra algumas cores...

Um comentário:

Silas Mendes disse...

Estava pesquisando sobre mapas celestes, tentando saber algo sobre a próxima chuva de meteoros e caí aqui. Não me pergunte como.
Fiquei ouvindo Chico e lendo seus diálogos com as minhocas.

Antes de ir embora aproveitei pra deixar um "olá" :)