terça-feira, agosto 26, 2008

Me sinto andarilha em mim mesma. Perdida nos sonhos e nas fantasias que criei na infância. Crescer... é possível mesmo? Ontem assisti Intelgência artificial e me comovi com a cena do menino pedindo à Fada Azul que o transformasse num menino de verdade.

Parece que essa necessidade de amor que a gente tem vai além dos "limites da carne"... Depois de uma conversa longa com a minha mãe nesse fim de semana me dei conta que há muito de mim lá de longe, de antigamente... um antigo infantil, cheio de uma ingenuidade do mundo. Me senti tão boba. Como se eu quisesse provar ao mundo que os contos de fada existem...

Chorei muito. Me senti muito só. Tentando, acreditando, pedindo. Esperando. Me senti egoísta por querer que as pessoas realizem os meus sonhos... Nem Disney fez isso. Ninguém realiza nada por ninguém. Fiquei com vontade de sair correndo de mim e voltar pra escola. Brincar com os meninos de nave espacial - as minhas galázias eram bem mais interessantes que essa - e ficar ensaiando peças de teatro que nunca foram terminadas.

Senti saudades de andar de bicicleta na área de serviço - suspensa em um apoio - me dando a impressão que eu andava nas motinhos do Retorno de Jedi. Fiquei imaginando como seria a minha vida se eu tivesse ficado por ali mesmo. Frustrar-se é um desapego de si. Mas que se arranca partes da alma que são muito valorizadas.

Disse pra minha mãe que eu tinha vontade de sumir. Sumir mesmo. Acho que foi a primeira vez que disse isso a ela. FOi bom. Foi importante ela dizer que entendia. Quis voltar pra algum lugar... apagar uma série de coisas que me deixaram assim... de voltar atrás, bem atrás. De me rever e me acomodar. Me senti fraca, sem coragem. Vontade de me entregar nesse choro miúdo que não passa há dias... e dormir.

Queria patinar no gelo e cair - como quando eu era pequena. Me lembro que toda a vez que eu ficava muito triste com os meus pais ou alguém na escola eu me lembrava que a dor de cair no gelo e queimar as mãos era muito maior. Deixei o coração cair ali? Não tenho conseguido pegar dessa coisa escorregadia.

E chorei. Mais... não paro de chorar tentando recompor os pedaços de sonho. Um livro em fascículos. Rasgado. Fico parada diante de mim olhando e me perguntando se vale mesmo o preço ser tão sensível. E acreditar nessa sorte de bobagens de "ser feliz pra sempre" e um romantismo meloso de cinema. Me lembro que eu tinha um fã na praia - eu devia ter uns 13 ou 14 anos - ele cantava. Nossa turma passou o verão cantando nos luais e nos bares de Capão da Canoa. Ele era muito mais velho e tinha os olhos verdes mais lindos que eu conheci. Acho que desenvolvi uma paixão platônica por ele. Nunca aconteceu nada. Nem um beijinho. Mas eu babava... e me lembro que no dia de eu voltar pra São Paulo ele me chamou num canto e fez uma seleção de músicas pra mim. "Para você se lembrar que é especial, mas eu não posso ir além disso"... achei lindo. Uma delas era "se todos fossem iguais a você"... perfeita para uma leonina. Sublinhou em mim essa vontade de ser sensível.

Mas tenho tido poucas forças pra continuar nisso. Ao mesmo tempo é profundamente doloroso porque eu não consigo ser nada diferente de mim mesma. Egoísmo, egocentrismo... ou pura ignorância de viver. Não sei. Mas tenho caminhado em busca desses sinais da vida pedindo ou retirando... e não sei. Me canso. Me sinto só. Pedinte. Ausente de mim. Desapegando de coisas que são caras a mim. Querendo (des)acreditar nesse universo do belo e do mágico. Será que eu me tranquei no castelo da Cinderela? Perdi os dois sapatos... e o resto ... já tem passado da meia-noite? ou eu fico aqui ouvindo o som do relógio pra sempre?

Silencio de novo aqui dentro. E paro. E espero. Cicatrizo. E me largo.

Um comentário:

# 7 disse...

Na minha opinião, pessoas como nós passam a vida a tentar voltar para um local onde nunca estivémos. Aquele sítio em que as pessoas são boas, em que as fantasias se tornam realidade e nada é impossível. É esse sentimento e consequente percepção de que esse sítio não existe que nos faz sentir esta imensa solidão e vontade de fugir. Mas ainda assim, ainda bem que existimos.