segunda-feira, maio 14, 2007

dia das mães

Esse dia certamente faz parte dos nossos dias. Ontem foi engraçado... um sentimento de vontade de voltar pra casa, sem querer voltar. Fui cedo ver minha mãe. Embora já tivesse perdido o tempo da bagunça dos irmãos na cama dela. Café da manhã igual ao que a gente fazia naqueles tempos de presentinhos, cartinhas de amor e coisas que as crianças fazem... - ainda me lembro bem dos desenhos desajeitados que fazia dela. Acreditando que ela era a mulher mais bonita do mundo, embora o desenho não demonstrasse isso exatamente...

Ficamos lá, tomando café da manhã em família. Rimos juntos e repetimos o enredo de anos... eu com meus discursos contra a Igreja - vendo a missa do papa... - meu irmão fazendo piadas de como é o filho (único) mais lindo e gostoso do mundo e minha irmã falando do excesso de trabalho. Meu pai sempre derrubando coisas na mesa e dando o habitual exemplo de glutão. Em algum momento ali eu deixei de lado e passei a assistir minha família. Foi uma delícia repetir o roteiro.

Fui para o quarto da minha mãe com ela. Ia se arrumar e sair com o Gustavo para comprar - o atrasado - presente. Ia dar uma carona aos 3. Olhei pra ela. De óculos, perto da janelinha do quarto onde entrava luz e aquele cabelo dourado já se prateava todo. Vi as rugas no rosto, as manchas nas mãos. E ainda era a mulher mais bonita do mundo. E só os meus olhos ali viam isso. Invejei ela. Com essa maturidade, bom-humor. E me achei tão mais complicada, encanada com a minha mesmice de sempre - intelectualidades frouxas e o coração apertado. Segurava o espelho para ela arrumar as sombrancelhas. Branquinhas como as de nenê. Tenho as mesmas sombrancelhas dela. Mais finas. Ficamos rindo ali da idade dela e da minha. De como as coisas caem, e outras se consolidam. Ouvi ela reclamar da falta de dinheiro, de que se achava feia e em meio a tudo isso ríamos das bobagens que nos dizíamos, das caretas, dos segregos ainda não ditos. Expressos.

Olhava pra ela e ria - os óculos, o espelho e apinça para tirar as sombrancelhas. Foi divertido. Ficamos ali nos equilibrando nas emoções das passagens rápidas da vida. Ouvi mais uma vez histórias de quando eu era pequena. Do meu pai e dos meus irmãos. Lembrei de outros dias das mães em que acordava mais cedo que os outros e preparava bilhetinhos e corações. Senti falta de não ter mais essa cama pra pular cedo de manhã...

Fiquei escutando ela falar do meu pai, do casamento de 30 anos dela... dos dias de praia na Bahia... do sol e do mar. Dos sonhos de amor, de viajar, de conhecer o mundo. Ouvi o falar de tudo isso como se fosse uma música circular gostosa de dançar - que não tinha fim nunca. E deixei ali... o meu ouvido pra me encantar... "Nós construimos coisas tão bonitas... eu e seu pai. Eu amo tanto ele" E olhei fundo naquele azul de céu dos olhos dela. Havia tanto amor ali. Queira um pouquinho pra mim... E só retribuí dizendo um sorriso condecendente. Antes que eu pudesse terminar ela disse "nossa! me emocionei com isso!" E rimos. De novo. Eu repetia o roteiro. Assistia e me emocionava. Uma coisa de criança mesmo. Gostosa de sentir. Na hora, nem pensei nesse papo todo de maternidade, de dar à luz, de ver crescer. Só deu um calor no coração, de pensar que naquela mulher ali tão e mais bonita eu podia ainda contemplar coisas que só as crianças podem ver... todos os dias...

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