domingo, maio 20, 2007

paciência

Essa nunca foi uma das virtudes mais cultivadas no coração. Ao contrário. Eu sempre fiz de tudo para me esquivar dela. Foi assim no ballet em que, depois de duas aulas eu queria dançar como as russas. Na escola e na faculdade... queria sair doutora no dia seguinte... e na vida... bem, aquele papo de ter 18 anos logo seguiu caminho com os 19, 20, 21 e ainda sinto a permanência dessa ansiedade. enfim...

Esses últimos meses tem me desafiado nesse item pouco estudado. Empurrado com a barriga mesmo. E pior que isso... negligenciado pela famosa máscara do "eu tenho razão". Paciência é o sacramento para se viver com paz. Essa palavra, percebi recentemente tem mais ramificações e raízes do que eu pudera, até então imaginar.

Ontem assistindo Little Miss Sunshine me dei conta que é a paciência que nos aproxima das pessoas, da gente mesmo. Invejei a menina que sabia esperar a hora e o jeito melhor de revelar aos seus o que elas tinham de melhor. Em nenhum momento ela se apressou para isso. Não se angustiou, não chorou. E olhei pra ela, com aqueles óculos enormes... ela tinha mais, era mais, muito mais inteira.

Assisti aquela reunião de dramas, de desejos, frustrações... e a paciência, passageira mais cara na combe amarela da viagem, apontava soluções que não são milagrosas, mirabolantes, mas pacientes, cuidadas. Acarinhadas.

E é com esse sentido mesmo que o amor caminha ao lado dela. Fiquei pensando essa noite como eu poderia ter tido mais paciência em relacionamentos anteriores, mas minha pressa em ver as coisas acontecerem me deixaram com os ingressos na mão. E hoje, ao lado do Juliano, me vejo com esses tickets comprados, esperando a hora de entrar no show. Mas estou deixando de curtir essa espera gostosa, realizadora, tranquilizante, da fila. Olho à frente, não vejo as coisas que tem acontecido aqui, tenho desligado outros sentidos. E a paciência não aparece. Tenho ficado com pressa até para que ela apareça, pode?

Tenho cultivado ainda a ansiedade voraz de ter as coisas aqui, do jeito que devem ser, pra mim. E não sei esperar pelas pequenas epifanias. Estou diante do mar, aberto, ventania nos olhos cheios de areia, no ouvido cheio de água do mar. E molhada, não espero o sol sair para me secar. Fico ali, entrando e saindo da água. E sem conseguir sentir a beleza daquela imagem no Rio de Janeiro. De um mergulho esperado. E de um abrir de braços, amoroso, apaixonado, inteiro... Fico ali, na beira da praia esperando, com os pés na beiradinhas da água, sem conseguir me soltar por causa do frio de fim de tarde. E vejo as pessas correndo na praia. E vejo o corpo mergulhado, salgado, com o sorriso de menino, distante, lá longe, assustado, cheio de vontade de entrar mais fundo no mar...

E eu ali, na beira do mar aberto. As nuvens chegando. O sol indo, devagar, paciente, esperando eu ainda perder o medo e a vontade aumentar... e me deixar levar por aquelas ondas... pra onde elas quiserem, sem carta náutica, sem estrela polar ou cruzeiro do sul... E onde ficou mesmo a paciência? Não me lembro de tê-la trazido para a vida. Acho que ainda, de algum modo, fico esperando o mar me trazê-la, numa ondinha discreta... Mas minha ansiedade só me deixa ver as ondas grandes, aquelas que machucam, que arrastam, que vão embora de uma vez. E que levam o pior (d) e para você...

Ele está ali. E olha para mim. E sorri. E me chama, e me grita palavras de criança, gargalha, e me me jura de amor, de paixão. E eu aqui... ainda sem paciência de olhar atenta as pequeninas ondinhas amorosas que chegam, remechendo nas profundezas daquele oceano que desconheço. E me lembro ali do pôr-do-sol no arpoador, dos bilhetinhos, das promessas e das noites de abraço em silêncio... e olho para o mar. Onde ele deixou mesmo a minha paciência?

Uma pena que a gente não traz na bolsa pílulas diárias de virtude para oferecer aos outros quando nos pedem. Mais vento ainda... e eu aqui, tentando deixar a razão calar-se. E deixar-se ir, para o meu coração trazer de volta... calma, paciência, menina... o sol já se pôs e você vai ficar aqui... à beira do mar... ele está ali, Vênus apareceu do outro lado no céu. Lembrou pra você que o amor não vem com manual de instruções e que a sua ansiedade, nada generosa, poderia ficar ali, à beira do mar, apaixonada por ela mesma... e aí, aí sim, você pode entrar na água, de corpo inteiro, mergulhando a alma no sal... purificando... cicatrizando... mas até pra isso é preciso ter paciência... a conquista... nunca é dada de presente...

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