sexta-feira, abril 25, 2008

Cicatriz

Hoje pela primeira vez em muitos meses senti alívio. Um respirar profundo, leve, sem poeira nos olhos.

Senti naqueles olhos de profundezas a cumplicidade e o acolhimento. Depois de um percurso sem rumo, quase carpideira de mim, pude me ver sã. Inteira de novo.

O sentir tem mais mistérios que eu desconhecia... e senti saudade de mim assim. Intensa, inteira, minha de novo. Havia uma esperança ali. Depositada num silêncio e numa espera de alguma coisa em algum lugar. Tão vago mesmo. Mal sabia dirigir o carro e pudera, nem sabia pra onde voltar. Acho que dei umas voltas em mim naqueles quarteirões intransitáveis dos Jardins. Passei em alguns lugares - memórias esbranquiçadas, cizentas, desbotadas... e outras tão vivas. Recordei muita coisa.

Deveria sair sim com os olhos secos. E só então a imagem do espelho apareceu de novo. Engraçado como a gente se deixa turvar... quase acreditei no que diziam. E cheguei a sentir aquilo - forçosamente? - dentro de mim.

Senti uma vontade louca de escrever. Esse perdido de palavras sem sentido para qeum não me vê daqui de dentro. Textos confusos e uma catarse-emoção sem freio. Mas leve. Quis voltar para muitos lugares. Esquecer de muita gente. E nem saber de outras.

Fiquei dentro de mim. Pude rir, observar. Lembrar de um monte de queridos e de risadas soltas pelo caminho do meu coração. E aquele pisca todo de luzes impacientes dos faróis me deixaram um meditar. Olhei em volta no caos das avenidas e dos happy (será?) hours nas esquinas... um deixa pra lá. Me queria de volta só pra mim. Esvaziada.

E de repente me dei conta dessa cicatriz na alma. Que a todo tempo é esfolada aqui e ali... tantos silêncios e crenças. E me lembrei das profundezas de novo naquele convulsionar de chorar e pedir ajuda e desistir e morrer de dor... Fiquei com a cicatriz no peito, sem tapar. Nem rejeitar. Olhei nos olhos dela... e vi aquele repuxar de sentir, de pensar, de imaginar. De repulsar. E chorei de novo. Deixei de apertar. Pedi ajuda. Senti. E quase me despedindo, segui com ela sem querer chegar aqui... Olho em volta e vejo tudo tão cheio de história, de contos de fada e castelos por vir... Outros a gente deixou pra lá... Fiz tudo direitinho pra seguir adiante. E esse repuxo de sentimentos me acompanhando... e aos poucos percebendo que esse repuxo vinha dali, logo do outro lado da rua... que alívio poder cortar essa corda...

E nunca mais ter a sensação de que te estilhaçam por dentro, apesar das marcas. Da cicatriz dessa história minha, de outras, de tantas e tantos sentir e pensar e querer e largar e repuxar... Parei. Voltei a ser minha de novo. Sem cicatrizar... mas conseguindo me sentir ali.

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