sábado, abril 19, 2008

Refluxos dentro de mim... quem dera se tivesse remédio de farmácia pra colocar isso pra dentro (ou pra fora) de uma vez.

Recebi esses dias um convite inesperado pra participar de uma conversa que me remexeu os nervos. O pior das sombras não é quando você as vê, mas quando as pessoas te trazem cada uma delas e insistem que você vê coisas.

Passei o dia com nojo. Sem querer falar nada. E mais, uma mistura de revolta de mim contra mim, e desse sentimento de alívio... "ah, até que enfim se percebe"...

Fiquei os últimos dias chapada com os remédios e mergulhei num lodo de lembranças e mágoas. Olhei no fundo. Havia muita dor ali e não havia nada a se fazer. Desespero completo e uma ansiedade que quase me fez sair correndo de mim. Fiquei me perguntando porque tanto choro. Tanta dor. Fiquei pensando o porquê de tanta insensibilidade. Egoísmo. Egocentrado. E antes que esse texto se torne um vômito desse lodo, cheio de refluxos desencontrados que se lambuzam nas dores, feridas, inflamações magoadas e repulsas de toda ordem eu respiro. E volto do mergulho desses remédios. Sem chão. Não sabia mais quem era, o que era aquilo tudo ao meu redor. As certezas e seguranças, os contornos humanos se perdiam nesse universo nebuloso de tantos personagens e mentiras e histórias e esperanças e omissões e controle e fugas e solidão e carência. Não sabia mais nada. Olhei, durante horas aquilo tudo. E aquela conversa da qual fui convidada a participar me provocou uma fúria de bixo ferido, acuado, abusado, desprezado.

E se eu pudesse ter feito o mesmo... Me peguei num trovão interior de pensamentos e vinganças... Nunca achei que meu lado mais feio pudesse falar tão alto aqui dentro. Crispei as mãos.

Olhava em casa e buscava por essas singelezas que esse cantinho pode me dar. Sinais, meus, dele, nossos, que geralmente suavizam essa angústia e acendem luz nesse buraco de sombras escancarados na alma. Fiquei olhando para as gavetas de novo. Quem estava mesmo ali? Esperei ouvir ele chegar. E deixar esse lodo decantar aqui dentro. Me acuei nesse colo. E tenho até medo de fechar os olhos. Para perder de vez. Fico respirando fundo. Ouvindo essas juras de amor, quietas, que são só pra mim. Procuro a cumplicidade desse crime de amar. E desse desajeito tão humano, que fere, se fere.

E a luz apagava aos poucos, o sono vinha desse monte de remédios pra essa dor nas costas. E eu queria ficar. E nunca ter ido. Nunca mais. Sem pensar. Sem mais refluxos que me deixam vomitar esse horror de tudo. Esse pavor de viver. E fiquei, esperei, rezei. E voltei.

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