terça-feira, abril 29, 2008

Sinais

Domingo cedo... Depois de uma noite de pesadelos e sono mal dormido aquele sufocar do peito me tirando de mim e me lançando sei lá pra onde. Fiquei horas na cama depois entre o odiar e o chorar. Sonhos ainda são poderosos demais nisso... Depois daquela convulsão de sentir e pensar e desistir aparece a gatinha no colo...

Custei para acreditar porque passei quase um mês num persuadir diário para termos mais um felino em casa. Mais um porque a leonina aqui é bastante territorial e espaçosa na casa dela.

O bichinho chegou assustado, com sede e uma fominha generosa. Fiz um rápido tour com ele pela casa pra dispersar esse estranhamento territorial. Afinal, felinos se ajudam também. Ficamos nos olhando por uns momentos e achei que eu poderia desabafar ali as minhas dores. Era engraçado. Fiquei imaginando o que aquela gata fazia na porta do prédio abandonada - ou fugida. Me identifiquei nesse abandono... nesse deixar-se pra lá. Coloquei um pote com água e fiquei esperando a sua reação. Minutos depois eu percebi que o problema era outro. Aquela fominha por certo estava ficando maior que ela. Abri a geladeira - depois de consultar bases confiáveis - e descolei um bifezinho cru. Ela comeu depressa e esperou com os olhos pedintes para que a porta da geladeira se abrisse de novo.

Enquanto comia eu pensava num nome. Nome de bicho de estimação tem que ser curto, mas bacana. Até então eu achava que era um gato. Fred. Em homenagem ao meu padrinho e à grande voz do Queen. Achei graça dessa comparação, afinal, nenhum deles estava mais aqui comigo. Só as suas lembranças.

Passei uma tarde gostosa com ela fechando os trabalhos e as notas dos alunos. Mais de 300 e eu pensando na Virada Cultural, no meu choro. Na última sessão de terapia e nas coisas que eu queria apagar da minha vida.

Depois me ocorreu uma coisa boboca de tudo... Lembrei do seriado Early Edition (que certamente me inspirou outra paixão platônica pelo Gary e seu gato e seu jeito de salvar o mundo)... Era a série que o gato trazia o jornal do dia seguinte. Fiquei fantasiando que alguma coisa ali vinha pra mim - ok, não um jornal com as notícias adiantadas, mas quem sabe algumas pistas para como ser feliz, resolver as crises existenciais, como terminar sua tese de mestrado, aguentar o tranco no trabalho, etc. Parei. Me dei conta que essa fantasia de um gato-oráculo me traria mais frustração. A gente se olhou muitas vezes nessa tarde. Meio perguntando quem-é-você-e-o-que-faço-no -seu-espaço... Bacana.

Fui me apegando. Sentindo esse carinho crescer. Uma realização de criança de ter um bicho de estimação... me lembrei de quando eu trouxe a malu - a gata perdida da escola - para casa, dentro da mochila. Depois de ter me arranhado horrores tentando dar um banho na pobrezinha (no tanque gelado de casa! SIM!) e trancafiado ela na mochila ouvindo as aulas de matemática e tentando bancar a defensora dos animais pra minha mãe... fiquei sem gato. Bom pra ela, ruim pra mim.

Ouvi o Juliano me avisando pra não me apegar... e eu - nada secretamente - torcendo para o dono (cruel!!!) dela não voltar. Ontem descobri que a Lina - exFred é menina mesmo. Foi legal reconhecer esse felino-feminino dentro-fora de mim. Me apeguei. Fiquei, deixei ela se instalar na casa como cúmplice dessa catarse de transformações. Eu precisava de uma testemunha. Ficamos brincando de noite com essas bobagens amarradas nas cordinhas. Foi ótimo. Deixei o lado infantil voltar pra deixar a tristonha-desapontada na janela. Olhando pra algum lugar fora dela mesma.

Voltei pra casa ontem esperando ouvir esses miados. Outra noite de pesadelo e sono nada dormido. Vigília e gratidão... Tinha mais gente ali do lado da cama dizendo que tudo ia ficar bem...

Um comentário:

Anônimo disse...

Quanto sentimentos embolados.Os felinos são seres interessantes, ao mesmo tempo que ficam se esfregando pedindo carinho as vezes fogem assustados com algum movimento mais brusco que é feito do outro lado.
Mas logo aprendem a lidar com estes movimentos bruscos e com o tempo não se assustam mais. Observam, aprendem, até debocham.