sexta-feira, abril 25, 2008

Saí pra ver o dia... sentir o sol no rosto e dar vazão a esse respirar de dentro. Há um adormecer meu aqui dentro. Cheio de rabiscos e cicatrizes mas com essa esperança se acendendo...

Lavei o pus... Saí olhando as coisas em volta do meu bairro. é bom ver gente na rua e sentir essa coisa de pertencimento. Sinto esse lugar meu. Sei os cheiros, as cores, esses ruídos e as conversas de portão. Foi bonito nessa semana surtada de trabalho sentir o coração reconfortado com esses quadrinhos de gibi em volta de mim.

Tenho me dado esses presentes. Do silêncio. Da solidão mesmo. Tenho preferido ficar quieta, em mim, cheia de mim, plena de mim. Tenho observado os meus espaços, os meus desejos e lembrado de gente querida. Ontem saí com o meu padrinho no peito. Faz muitos anos que ele morreu. E não deixou saudade. Deixou uma cratera na minha vida que às vees finjo não existir. Passo pelas beiradas dela. E toda vez que essa plenitude e esse frescor me voltam na alma ele vem devagarinho junto. São todas lembranças felizes dele.Coloridas. Cheirosas e lambusadas. Como eu tenho visto no bairro.

Semana passada eu acho fui a Zafari, um supermercado gaúcho da minha infância no sul. Eu sempre ia com ele e com o meu avô. Foi bom me sentir de volta naquele universo de guloseimas e lembranças nas prateleiras. Coisas de um passado vivo, generoso comigo. Era como se eu me procurasse no meio das compras. Voltei pra casa meio dilacerada-inteira-metade-cicatrizando e era bom poder me sentir criança de novo.

Ontem fiquei com vontade de ir pra lá. Nunca achei que ir ao supermercado me desse essa sensação de me preencher de novo. Que os publicitários não leiam isso. Foram muitas coisas de alívio misturadas a um reencontro comigo. Em profundezas gostosas, cristalinas. Cúmplices de quem eu sou.

Fiquei com saudade de amigos de infância. Dos passeios no Parque da Redenção em que o meu padrinho me empurrava forte nos balanços pra eu pegar as nuvens. Nunca consegui, por mais alto que eu fosse.

Senti saudade das caminhadas em Capão da Canoa no fim do dia. Com aquela praia feia de ver mas tão linda de sentir. Havia tanto de mim naquelas areias. Tantas descobertas, decisões. Fiquei com vontade de ir a Porto Alegre me encontrar. Andar pela rua da Praia e tomar banana-split com a minha mãe nas Americanas. Fiquei com saudade do gabinete do meu avô cheio de livros de passarinhos e música clássica. Senti falta de quando a gente escutava Verdi e todos os românticos alemães. Hoje cedo saí de casa cantarolando o coro dos ferreiros de Nabuco. Ele adorava essa canção.

Cheguei no salão pra fazer as unhas com os olhos molhados e esse respiro saudoso e quente de saudades. É bom demais esse se sentir querido, amado, importante. Parte. Inteiro pra alguém.

Tenho montes de trabalho a fazer e essa sensação gostosa de pertencer e ser me foram devolvidas ontem. Tanto afago no coração. Saudade de uma parte minha que não quero qeu se vá. Uma vontade de extirpar esse câncer do coração... e deixar isso cantarolar de dentro de mim. Sem dor. Só amor. Só carinho.

Fiquei com vontade de dar isso ao Pedro, meu afilhado. De fazer ele se sentir parte-inteiro pra alguém. Ele tem 4 meses. E é como se eu o tivesse a vida inteira comigo. Uma mistura de porvir-saudade. Quero empurrá-lo no balanço pra ele pegar as nuvens. Nem que isso seja quando eu estiver lá...

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