sexta-feira, julho 28, 2006

florindo no Nosso


Amanheci hoje cedo, umas 4 da manhã sem mais conseguir dormir - as minhocas costumam acordar mais cedo que a gente. Tentei colocá-las pra dormir de novo, disse que o sol ainda não tinha aparecido (mas descobri que elas não gostam do sol - se escondem quando ele aparece e voltam à noite pra fazer visitinhas inesperadas!) dei até um suquinho de maracujá bem docinho... coloquei umas cobertas macias. Estava quente e elas não adormeceram.

Cochilei algumas vezes apesar da falação toda. Quando estava quase dormindo elas falavam mai alto e aquela dorzinha no peito parece que me tirava do lugar. Eu ficava nessa luta sem graça e sem vencedor e olhava para o Juliano ali, dormindo, falando enquanto dormia. Via os contornos dele na penumbra do quarto. Respirava fundo e sentia o cheiro dele. Me virava. Ouvia a respiração de uma soneca profunda e gostosa - que inveja. Perguntei às minhocas então o que elas achavam de me dar isso de aniversário. Sapecas e traquinas me responderam que era justamente nessas datas que elas gostavam de marcar presença, em resposta à fidelidade da convivência. Compreendi, mas não aceitei. ok.

Depois de uns dois ou três cohilos o Juliano finalmente se levantou - eu ia receber um presente de aniversário hoje cedo. Mas não era mais cedo (umas 8, calculei) e ele ia atualizar o vivasp. Me apertou forte nos braços, me deu uma fungada matinal de bom dia, uns vários "eu te amo" que eu manhosamente respondo "hmmmm" ou um "hein?", só pra ouvir de novo. Na porta do quarto se vestiu, me olhou, abriu aquele sorriso apaixonado, suave, e disse "dorme mais um pouquinho, eu já venho te chamar".

Sorri de volta, dizendo pras minhocas "tá vendo?!". Elas ignoraram, pra variar. Fiquei virando pra lá e pra cá. Pensei, especulei, perguntei pra elas qual era a surpresa que havia motivado a frase semana passada "sexta-feira de manhã você é minha". Ri por dentro, eu sou dele todos os dias. Sem agendar.

Não aguentei - a Curiosidade, prima das minhocas, é minha grande amiga, meio traiçoeira, mas tem seus momentos. Levantei. Nem me vesti. Saí correndo para o escritório e me enroscando nele perguntei "o que é que vai acontecer hoje? daqui há pouco?". Ele riu - ele sempre ri das minhas manhas. Disse pra eu me arrumar e tomar café. Eu já estava agoniada com ele. Me aprontei rapidinho e fiquei a postos. Esperei. E ele ria. Acho que ele deve me achar "bonitinha" , meio menina com esse comportamento infantil simpático, manhoso.

Quando ele voltou do quarto me perguntou onde estavam os meus óculos escuros grandes (eu tenho alguns...) e escondia entre os dedos das mãos um par de meias pretas. Já comecei a rir ali, achando demais a minha previsão, mas cuidando de deixar o charme à frente "você vai me vendar?". Hã hã. (isso era um sim)

Descemos para o carro, me sentei e ele disse que tinha esquecido uma coisa importante - nao sabia o que era. Quando voltou já tratou de colocar as vendas (ou melhor, as meias) em mim. Eu ri muito.

Depois de sairmos de casa começou a fazer perguntas de onde eu estava. Ora, ele sabe que eu não tenho o menor senso de direção e portanto, vendada isso era elevado à enésima potência. Fim de papo - estava perdida. Meu mau-humor deu o ar da graça junto com o calor excesivo, vidros fechados, e as mil voltas do carro. Comecei a enjoar. E reclamar.

Mas parece que tudo isso era parte do presente do Juca. Começou a cantar - "fala comigo txu" - e eu p. Mil declarações de amor, beijinhos, eu alternava os risos com a crises de manha e chatice. Mas ele sabia. Conhecia muitíssimo bem o caminho desses mistérios que achava eram só meus.
Perguntei diversas vezes se eu iria sair na rua com aqueles óculos entuxados de meias. "não" ele garantiu. Mas é claro que não.

Saí do carro agarrada nele. Um calor mole, chato. Muitos barulhos, caminhões, gente gritando - as minhas especulações de onde eu poderia estar indo se foram de vez ali - eu não poderia receber de presente uma visita à 25 de março, ao Mercadão... Nem poderia estar na feira. Não era a rua Augusta e a da Consolação - nada do que ele tinha me dito fazia sentido. Nada. Não entendia mais nada e sentia que ele se divertia demais com a minha (angustiada) curiosidade.

Abri os olhos. Mal podia enxergar por conta da claridade. Vi uns borrões amarelos e uma porta de caminhão - era a feira das flores no Ceagesp. O meu coração implodiu em amor, poesia. Que presente mais terno, mais mimoso e romântico- desses que eu gosto - que chamem a poesia daquilo que pode ser na aparência despoético. Nos olhamos, sorrrimos. O Nosso sempre fala mais no silêncio. Naquilo que os outros não escutam ou vêem. E eu me emocionava em fases conforme eu podia enxergar o lugar, o vai e vém de carrrinhos, de vendedores. O barulho todo e as flores ali, paradas como nós dois, só observando o movimento e esperando ser levadas pelos sentimentos que nos fazem querê-las por perto.

Ele me disse quase como seu eu fosse criança (me lembrando agora eu acho que deveria estar sorrindo como uma) "pode escolher a que tu quiseres. é o teu presente de aniversário número 1". Eu brilhava. Compramos as plantinhas pra enfeitar a nossa casa. Coloridas tais quais os vasinhos. Eu quis uma árvore da felicidade. Para coroar o meu florescer desde que ele entrou na minha vida, de mansinho, mineiro. E me trouxe de volta. Me fez o coração desabrochar em vasos mais coloridos. Mais fortes. Visíveis.

E naquele burburim todo eu pensava na gente, nos dois anos juntos. No casamento, no namoro, nas viagens, nos sonhos e nas realizações diárias, floridas, só nossas, secretinhas dos corações, que ninguém sabe, escuta ou vê. Mas que só o silêncio do Nosso é capaz de testemunhar. E toda a vez que eu fecho os olhos, que recebo um beijo, floresço, pra gente. E para o mundo. Aniversario com ele no meu coração. Todos os dias de conquistas mais nossas. Florescentes.

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