quarta-feira, julho 26, 2006

niversariando

Não sei se é por causa do inferno astral (terminal) ou é pura minhocação mesmo, mas porque a gente comemora aniversários? aniversários de todos os tipos, de nascimento, de morte, de namoro, de casamento... enfim.

É medo de seguir adiante? de caminhar? nostalgia? ou é apenas uma tentativa de agarrar e segurar os momentos bem forte entre os dedos? de aprisioná-los na vida com receio que passeiem na eternidade e não voltem mais? ou agarrá-los na tentativa (inútil) de apreender toda a sua intensidade, de compreender. (andei pensando esses dias porque eu fico tentando entender as coisas... cansa...)

Depois andei escarafunchando a minha memória e pensando nas coisas que eu gostei de celebrar. O aniversário é uma delas. Vivi pouco ainda as demais. Nem sei se é bom, mas é. Sempre gostei de festas de aniversários (ao menos das minhas) - era sempre a rara oportunidade de ver todos os meus amigos e pessoas queridas reunidas. Um momento bem raro mesmo em dias que as pessoas só se encontram nas "celebrações" tradicionais: velórios, casamentos, formaturas.

Meu aniversário costuma ser sempre cheio, em todos os sentidos. Muito barulho, gente chegando, saindo, rindo, se conhecendo, se beijando, se deixando... Costumo ficar perdida no meio das conversas, querendo estar com todos ao mesmo tempo. Nunca dá certo. É um problema de limitação... humana. Não se pode ter tudo. Me lembro ainda que no meio dessas conversas perdidas, truncadas como linha de telefone congestionada, eu tentava voltar para o chão - sair da pairação e segurar as minhas próprias mãos. Era quase como se eu pudesse congelar os momentos de conversa com todos, em pequenos (mas eternos) fotogramas. A minha ansiedade deixa sempre a desejar essa conquista. Ao mesmo tempo que a euforia, a frustração - quero tirar o atraso de todas as conversas não conversadas, as risadas deixadas, os abraços só pelo telefone...

É um desejo leonino de receber todos os carinhos, atenções, homenagens. Contudo, isso não é só leonino (embora nesse caso, explícito o desejo) mas humano. Ninguém que uma vez recebeu amor, carinho deixa de querer um bis. Várias vezes.

Curiosamente nessas datas de envelhecimento acontece um tremor no peito em relação à família, aos irmãos sobretudo. Não sei se é por ser mais velha, ou por pura nostalgia que cultivo aqui com aguazinhas pessoais. Mas me recordo de sempre ficar olhando pra eles, cada um, e nesse olhar toda uma eternidade se condensa num sorriso de cumplicidade, numa piadinha, num gesto com as mãos ou com a cabeça... como se para cada um deles houvesse um código silencioso (mesmo e sobretudo no caso da Clara, a mais barulhenta) de intimidade e cumplicidade. De perceber a construção da relação, das brigas, do fazer as pazes, do amadurecer. Sinto que o amadurecer nesse momento é justamente o deixar-se ver. Sem máscaras. E só os mais íntimos da casa do teu coração tem esses olhos de ver.

Recordo desses momentos de redenção em que eu e a Clara costumávamos fazer as pazes, dizer "eu te amo", em que eu e meu pai saíamos das armaduras das brincadeiras, apelidos e cócegas. Eram as mesmas pessoas, que num ambiente de celebração, deixavam-se ver. E eu queria olhar. Era mágico. Depois sempre rolava aquela história engraçada do primeiro pedaço de bolo. A Clara e meu pai se alternavam nos anos para receber - curiosamente eram os que eu mais tinha momentos de estremecimentos. Mas o tremores são para resolver as novas acomodações.

Fiz 27 aniversários até hoje, não me recordo de todos eles, mesmo olhando as fotografias. Nem me lembro de todos os convidados. Mas me lembro de alguns rostos. Alguns passaram, nem os vejo mais. Outros ficam, envelhecem comigo. Outros ainda se achegam, testemunhando o nascimento de uma nova Thais. Outros já olham de outras dimensões, as quais não posso ver, mas sinto aqui no fundo do peito a dorzinha da saudade. Sei que meus aniversários consagraram sempre transições transforadoras iniciadas aqui dentro. Poucos rostos viram. Poucos testemunharam essas conclusões. O meu ainda observa a transitoriedade de mim mesma. Mas pelo jeito ainda aniversariarei um pouco mais para transitar.

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