quarta-feira, agosto 29, 2007

destroços

Hoje cedo saí com os alunos para o Museu Paulista - o do Ipiranga...Passeava com o pensamento solto. É sempre bom sair com a escola. Gosto de poder olhar a rua e a reação das pessoas ao verem um ônibus cheio de adolescentes. É surpreendente em muitos sentidos. Acho que eles esqueceram-se da sua...

Num determinado momento da viagem eu me dei conta que chegávamos perto do aeroporto. Congonhas. Não vou filosofar sobre as causas do acidente. Não sou boa nisso e acho que perderia o que foi ver de perto...

Apertou o peito. A dor sempre é maior quando bate na porta do coração da gente. Não tive nenhuma perda real naquele acidente. Não conhecia ninguém, mas confesso que me deu um nó na garganta. Não havia nada ali. Nada de fato. Destruição de um monte de desconhecidos... e que senti fundo como a gente é pequeno diante daquilo que cria. Os fantasmas, as dores, as máquinas, o dinheiro, a vida, o amor... A gente sempre é menor que tudo isso.

Lembro que o Juliano e eu estávamos perto de viajar quando isso aconteceu. Não quisemos ver a televisão. Nem as imagens. Nem a dor das pessoas. Uma escolha que poderia passar pela "opção de alienamento". Prefiro chamar de "solidariedada silenciosa". Dói o excesso de barulho. No corpo todo. E foi aí que me doeu a visão de hoje. Um silêncio detonado em dinamites... nada sobrou ali. Nem a imprensa. De fato aquelas pessoas morreram. Mesmo. De uma vez. E se a gente pudesse parar ali e sentir. ...

Há tantas histórias enterradas naqueles escombros. Não são nomes. Nem números. São caras que iam ver a namorada, mães carinhosas, que exigiam notas altas dos filhos, filhso que pararam de falar com os pais. Chefe mandão, empregado cansado. Gente com problemas de saúde, com medo de escuro, depressivos, serelepes, que tinham brigado em casa, despedido o jardineiro, deixado de pagar as contas, que faziam poupança, deviam no banco, gostavam de andar na beira da praia, amavam filmes de ação, comiam pipoca e batata frita, eram desajeitados para dançar, tímidos, sofridos, eperançosos. Outros ali perderam a chance de pedir desculpas, de tomar uma cerveja com os amigos, ver o pôr-do-sol. Alguns certamente iam pegar um filme na locadora... esperar a noite chegar sozinhos, acompanhados, trabalhando... Iam viajar nas férias, tomar um mate no Guaíba e ver as pessoas passeando no Redenção. Fiquei ali observando as ruínas... tentando ver as histórias que nem a arqueologia ou outra ciência humana serão capazes de recuperar. E talvez a memória ainda as perca.

Fiquei me lembrando dos meus que eu perdi... Perder nunca é bom. Ainda mais se a gente não consegue explicar o porquê. Digo aos alunos que com o Criador não se discute. Ele está ocupado... E os humanos ocupados porque discutem demais. E a gente passa e soterra...

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