domingo, setembro 09, 2007

menino-sol

Nasceu o Caio...

Hoje cedo presenciei, virtualmente nas telas de casa, o nascimento do Caio. Meu novo primo, recém-chegado a esse planetinha azul. Ele é filho do meu primo Lucas... grande, todo transformação, coração.
Nós somos primos de alma... e a cada vez que eu o vejo há um dilatar da gente em direção ao outro. Os milagres e mistérios da vida confirmam isso a cada experiência nossa juntos.

Eu teria muito pra escrever sobre o Lucas. A maior parte das minhas lembranças adolescentes são recheadas por ele... dos jogos de vôlei em Capão da Canoa, das baladas à noite, dos luais, das conversas intermináveis, das paqueras no calçadão... A primeira vez que fui ao Rio de Janeiro, e me apaixonei à primeira vista por esse cantinho de mundo, ele me apresentou a cidade. Eu tinha 13 anos. Nós saíamos muito juntos nessa época e me lembro de ficarmos uma noite escutando Rush e o Bolero de Ravel, olhando a praia da janela. Falamos de sexo, drogas e rock and roll. Falamos da vida, do que desejávamos para o futuro. Das saudades do Tio Fredy, do vô, dos planos de amor, dos caminhos da vida, dos desvios do presente, do amanhã que talvez nunca chegasse mesmo.

A gente ia caminhar pela beira da praia... olhar o pôr do sol, olhar os cara e as garotas bonitas. Tomar sorvete e cerveja. Falar mal dos chatos. Num dia de caminhada pela beira mar (eram sempre longuíssimas!) resolvemos voltar pelo calçadão e fiz algumas bolhas no pé... ele testemunhou a minha primeira grande insolação, os micos todos no Rio pela cara de "gringa", me viu tomar foras, ser paquerada, quase me afogar, tomar o primeiro porre... mentir pra minha mãe (e ele me ajudava nisso!). Há tanto de companheirismo... tanto de ariadne nas mãos dele que me troxeram até aqui. Foi quem me falou pela primeira vez que fazer terapia era legal... Ele sempre me protegeu - apesar das crises adolescentís dos 16, 17... - de mim, dos outros, de dentro e de fora.

O Lucas sempre foi lindo, por dentro, por fora. Me lembro do orgulho de sair abraçada nele e deixar todos pensando que ele meu namorado. Era um sujeito grandão, nadador... cheio de charme, menino-sol, bronzeado nas areis da cidade maravilhosa e banhado pela Aurora, de dedos rosados e carinhosos... uma figura cheia de beleza...

Mas o motivo desse texto é para agradecer uma coisa que talvez ele não se lembre... já fazem 15 anos... Ele me levou para ver o primeiro nascer do sol no mar... A gente ia voltar para São Paulo naquele dia cedo e eu adorava os verões no sul, sobretudo quando ele estava por aparecer. Era companheiro, cúmplice e fazia tudo o que os bons moços e os maus moços (a parte boa que as meninas românticas gostam!) faziam numa pessoa só. Tenho saudades. Mas me lembro mais ainda das conversas naquela manhã. Dos medos de crescer, da minha pretensão em ser resolvida, inteira, viva. Dos meus sonhos... e quando as estrelas começaram a se despedir de mim, a gente ficou em silêncio por muito tempo... vi o céu ficar lilás como as hortências da estrada para casa... e a gente encostou um no outro. Silêncio. Havia um mundo nascendo ali na frente da gente. E tão poucos sabiam daquela imensidão. De dentro e de fora. Desses mistérios que a gente acha que entende (e escreve e desentende e deita, dorme... deixa)...

Ficamos ali vendo as cores se desdobrarem em nós, dançando de um lado para o outro apontando sei lá pra onde que a gente nunca consegui ver, desenhando um horizonte torto, colorido, manchado, cheio de alis, aquis... e a gente se emocionou ao perceber que a nossa vida seria quase tão diferente daquilo que a gente rabiscava nas conversas de beira-mar... e, ainda assim, estaríamos juntos. Nessa distância. Nesse vir, deixar, porvir. Querer e amar.

Consagração de um amanhecer que dura até hoje dentro de mim quando a gente se reencontra. E fala-fala-fala e riririririri o tempo todo. Quando a gente filosofa, esquece de si, toma cerveja, sai pra caminhar por dentro da gente, sem destino, sem ir, nem voltar. E num desses tropeços pra dentro de nós... olha como a vida é traquina... linda, inteira... presenteia... milagrecer...

Essa manhã e esse menino-do-sol, Lucas, você trouxe de volta, agora fora de ti... mais tangível pra nós. Ser. Presentificado no Caio. Trazido pelos ventos do outro lado, pelas ondas do mar, e pela dança de cores dentro da gente... e que esses horizontes sempre caminhem pra longe, puxando gente pra fora da gente... deixando lá, aqui, em mim, em você, na Terra... através dos ares todos...

Menino-sol... bem-vindo de volta... e que o amanhecer para ti aconteça todo instante. Teu pai sabe guiar a gente nesse caminhar de beira-(a)mar...

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