segunda-feira, setembro 03, 2007

Ontem fui visitar a Teresa. E é muito misterioso como os laços se dão, os nós desatam... Nós nos conhecemos no ponto de ônibus...
Acho que eu estava no terceiro ano da faculdade e costumava sair cedo para chegar cedo e ver os amigos. Sempre gostei de puxar papo no ônibus e nas filas. Acho que é um bom lugar para a gente descobrir pessoas, vida. E saimos do habitual mimimi de reclamações. Aliás, assunto em qualquer lugar de espera é sempre o mesmo: clima, se vai chover, é ruim, se está calor, também, se demora, é péssimo, se vai rápido (ok, isso nunca acontece!) não é mais que obrigação.

Aquele dia foi especial. Um desses reencontros de alma que a vida não avisa, mas programa. Ficamos amigas ali e a vida nos presenteou depois com uma série de amizades comuns, outros reencontros. O primeiro, e acho, mais importante de todos fio o Vinícius. Eu nem saberia falar dele num texto. Não sei me expressar nessa convulsão de sentimentos por ele. E o mais bonito de tudo é que ele nos aproximou muito. Nos deixou mais irmãs e cúmplices, num certo sentido, de muitos porvir...

Apresentei o Thomas pra ela. Thomas é um par de águas-marinha na minha vida. Tem os olhos mais especiais já vistos, não pela imensidão do azul, mas por tudo o que esse azul traz consigo. Hoje o Thomas é marido dela. E a história, pra ser contada, vai levar ainda alguns anos... Trata-se daquelas histórias de amor que a gente presencia de perto, bem de perto, e quase duvida que seja real. O cinema está perdendo grandes histórias por aqui.

Meses depois a Teresa me apresenta o Juliano. E desse eu não vou me estender muito por razões mais que óbvias. Ele já uma extensão minha. Como ele mesmo disse nesse fim de semana "carne do meu coração". E não há nada mais intenso que isso. O amor ainda misterioriza seus mistérios no corpo da gente.

Há algum tempo atrás nós 4 nos estranhamos um pouco. Nada que fosse suficientemente forte para abalar um reencontro. Mas a vida também prega peças. Estremecimentos à parte é mais bonito ver a reconstrução das casas e das coisas importantes do que se fixar naquilo que elas destroem. Foi mais ou menos assim... amadurecer diante da vida. Diante dos amigos. Do coração.

E a cada encontro com Teresa e Thomas isso parece ficar mais claro. É tão bonita a experiência de formar a família. Essa sim a gente escolhe. Não é o sangue. É a vida que brota dessas descobertas em esquinas de ponto de ônibus. Somos padrinhos deles. E eles da gente. Foi a mãe da Teresa que cantou a bola sobre o Nosso. Tantas coisas nessa sacolinha de viver.

Ontem, como eu dizia, fomos visitá-la. Ela está meio dodói e num momento quase inesperado começamos uma "conversa de meninas". Eu adoro conversa de meninas. Embora, tenho que confessar, que tenho pouquíssimas amigas mulheres. Portanto, quando essas conversas acontecem, tem repercussões no peito por meses. A de ontem não foi diferente.

Não vou falar do assunto, de outro modo não seria "conversa de meninas". Essas conversas tem como pressuposto um véu de segredos que devem certamente deixar os meninos muitíssimo curiosos. Perfeito. Começamos falando do casamento... e isso se desdobrou em lembranças muito lindas da época de faculdade. De repente, me vi olhando para a Srta T há algum tempo atrás, mais ingênua e boboca com a vida do que qualquer outra, deslumbrada com um monte de sonhos que deram lugar a tatuagens bonitas na alma e, mais que isso, me trouxeram presentes tão exclusivos... Lmbrei de muitos cafés nos intervalos. De conversas sobre o mundo, a vida, e qualquer coisa quase-ou-nada-interessante. Horas nas mesas do Dpto de História tentando entender o que algumas pessoas levaram anos para apresentar e me dando conta de um mistério que nenhuma ciência é ainda capaz de explicar. A Teresa, ontem, me devolveu tudo isso. Nem sei se ela percebeu. Me deu de volta um "se" que a gente, historiador, nunca pensa. E que não é um crime trazer essa particulazinha pra dentro da vida. Mas não cultivei nenhum arrependimento... não mesmo.

Ao contrário, me olhei ali, naquele sofá da casa dela. O Nietszche (é o gato deles) com as suas traquinagens... e eu chorando. Descobrindo... e como a Penélope na Odisséia, tecendo e desfiando coisas de ontem de hoje, de amanhã. Ouvi tanto de mim ali. Na boca dela. Me vi pelos olhos dela. E, pela primeira vez, talvez, tenha sido tão desnudada por alguém. Ainda emociono com a generosidade daquela conversa. Chorei bastante essa noite. Não de tristeza. Mas não sei porque também. Será que o choro tem um motivo pra acontecer? Ou é o mistério em si quando ele acontece na gente? Dormi muito pouco. Tive que disfarçar a insônia e não deixar o Juliano preocupado. Fiquei olhando de novo as cortinas do quarto. Ouvindo o barulhinho do coração, do vento. Lembrando do prédio da História, das idas à biblioteca, das discussões pretenciosas e sem propósito. Dos caminhos pelo gramado. Do pôr-do-sol. Da espera do ônibus e da chegada de tantos ônibus, que levaram a gente por ruas diferentes, com destinos separados. Que se distanciam no tempo, no percorrer. E a espera de um reencontro na esquina seguinte, pra tomar um café... e ver outros ônibus passarem...

Quis ficar na estação esperando. E ao mesmo tempo, a pressa de seguir meu caminho me deixam sempre com os olhos na janela. Olhando quem passou ali perto, e que eu levo pra dentro de mim. Em viagens desse silêncio. E da despedida.

Nenhum comentário: