quinta-feira, setembro 20, 2007

Passei daqui... e continuo andando sem participar do espaçamento dos passos. Acordo e durmo com F. Pessoa. E releio. E escrevo. Ontem assisti a gravação de uma entrevista do Juliano e tomando café daqui e dali olhava para o desfoco todo interior de dentro de mim...

Havia tanto ali pra dizer. E o mais engraçado, pensei eu, é quando a gente assiste a si mesmo. Que vazio que dá olhando de fora. E dentro, tanto por compartilhar. Pensei que a dor que habita o humano de mim não pode mesmo se comunicar. Ela está deslocada no tempo e no espaço. Assistiu cenas de um passado em outro mundo, em que eu não existia. E parou ali. Não conseguiu tomar o caminho de volta. Havia muitas estradas para escolher e ela vai e volta para não sei onde.

Lembrei do Bojador, da necessidade de navegar. Da imprecisão de Netunos e Posêidons aqui dentro... disputando uma descoberta de uma certa Atlântida mitológica de sentir. Longe, distante, imprecisa e ausente do real...

Olhei pras coisas que estavam ali naquele cenário de gravação. Eu sempre olho pra ele com admiração. É bom admirar quem ama. E amo mesmo, e ao mesmo tempo isso sempre parece ser incompleto. Não o amor, nem o amar. Mas como a gente entende? E isso tem controle de algum lugar? Pra dilatar pra onde? E a gente dá conta desse sair de si? É curioso como amar te tira de você. E se você é apegado assim a si mesmo, lamento. Vai doer.

O cara da câmera passava de um lado para outro. Devagar. E me senti daquele jetio olhando o mundo dentro de mim. Recortada. Com lentes imprecisas que tentam focar o que é nebuloso. Nem mesmo a luz permite ver. Será que o filme dentro de mim ainda é preto e branco? Ou as cores são vivas e gritantes demais? Machucam os olhos com esse excesso de poluição visual. Lembrei do Livro do Desassossego: que cor é sentir? da música da Adriana Calcanhoto... cores de Frida Calo... essas tem sido berrantes aqui dentro.

E me calo. Deixo a luz acender. E a câmera desligar. Quero voltar. Assistir outros filmes. E fora de mim.

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