quinta-feira, julho 03, 2008

caminhos por aqui por dentro

Vim acompanhar o Juliano nessa semana de trabalho e me refugiar de mim mesma. Tenho tentado isso há algum tempo mas sem muito sucesso. Estou aqui há 2 dias e escrevo e leio e penso e despenso muito de mim...

Trouxe a Clarice Lispector e a Karen Armstrong para esses dias sabáticos de não-pensar. E o mais engraçado é que nesse cultivo de solidão literária eu me largo nem sei onde. Foi uma delícia o dia de hoje pensar se dormia ou lia, ou caminhava na praia. E resolvi deixar de querer escolher. A gente tem que escolher o tempo todo e cansei dessa obrigação.

O livro dos prazeres, da Clarice, tem me deixado absolutamente em transe hipnótico. Fiquei meio chocada com a pungência desse observar-sentir a vida dela. Invejei. Quis escrever assim. Como se escrever assim me aliviasse esse eterno angustiar-se. E ela dizia no livro que não há literatura sem dor. Fiquei pensando no tamanho da dor dela. A gente pode medir a dor?

Estranhamente, não tanto assim, a Karen escreveu um livro chamado A Grande Transformação. Fala de um período da história chamado Era Axial em que surgiram - ao mesmo tempo - os grandes mestres e algumas buscas espirituais. Achei graça dessa minha seleção de viagem pro mar. Devorei os dois hoje, mas ainda não sei pra onde isso vai me levar. Acho melhor não prever mesmo. Gostei dessa experiência de cair nas ondas do mar da vida e me soltar um pouco das amarras elásticas que prendi nela.

Hoje fiz coisas bem do dia-a-dia. Daqui há pouco vou comprar detergente e esponja. Fiquei com vontade de lavar a louça. Arrumar a casa e esperar o Juliano de banho tomado e cheirosa pra gente tomar outro vinho e quem sabe deixar o frio esquentar debaixo das cobertas. Me vi feliz hoje com essa condição de ser humana. A Clarice dizia ontem que o destino de todo ser humano é se tornar ser humano. Fiquei cavocando esse destino na areia do mar hoje. Não achei. Ainda. Mas não fiquei com pressa de achar. Vai saber como vou encontrá-lo não é?

Me deu uma satisfação de estar desaprendendo uma série de coisas. Gostei desse estado de lentidão cerebral e paciência de sentir. Espera. Sem pressa. E largada nesse ir, voltar, deixar. Vontade de ficar aqui nesse café e devorar os outros livros e cafés. Só para deixar o sonho ser no acordar. Por que dormir?

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