segunda-feira, julho 21, 2008

Há alguns dias a Filó está mal...Nunca achei que fosse ficar tão envolvida com uma gatinha dodói.

Foi um corre daqui e dali pra hospital e farmácia e toda essa coisa de semi-maternidade. Na semama passada dei de cara com a Lina na porta. Miando. Chorando e pulando no meu pescoço... mexeu bastante. Tive que devolvê-la para a dona com aquela cara de quem não fazia o que queria. Ela percebeu.

Prenúncios a parte, estou preocupada com essa fraqueza e mistura de febre e mal estar e mal sei lá-o-que-ela-tem... enfim. A gente ama mas não faz mágica. Custou ficar à mercê de um hemograma cheio de números indecifráveis e segurar a pequeninha no colo toda molenga.

Mas o pior do hospital de animais não foi ver a Filó assim. Depois ela ficou melhor, se recuperou um bocadinho... Assistir as pessoas apegadas aos seus animais me deixou mais aliviada em relação a tudo o que eu vivi com a Lina - e venho vivendo agora com os dois gatos. Não sei explicar isso, nem sei se terapia resolveria esse mistério. Mas naquela noite chegou uma cachorrinha com os médicos do resgate. Tempos depois, a dona. Vi os olhos agoniados das duas. E um pouquinho mais de tempo depois a dona subiu. Fiquei ali agarrada com a Filó no colo torcendo para que todas as coisas boas acontecessem com os dois bichinhos.

Nada. Silêncio. Aquele clima de sala de espera de hospital. Nada diferente dos humanos. Ou seria a nossa semelhança animal? Fragilidade física. Do sentir. A Filó ardia em febre e eu ali tentando pensar nas coisas boas e que eu não perderia outra gatinha. Fui acordada do meu transe pelo choro doído da dona da cachorrinha. Me apertou o peito. Eu já sabia o que era. Alguns dos donos se olharam na recepção. Mais silêncio. E aquela solidariedade cheia de medo de que a cena se repetisse naquela noite.

Não consegui dizer nada. Fiquei ali revivendo a Lina, os aparecimentos súbitos dela na minha porta e os carinhos trocados. Revivi o dia que os dois chegaram em casa. E olhava a Filozinha toda frágil no meu colo. Como dá vontade da gente fazer milagre!

Fiquei - loucamente? - pensando nos meus pais comigo e meus irmãos pequenos em cenas parecidas. Sem saber. Esperar. Rezar. Acreditar. Acho que nessas horas faz sentido a palavra fé. Não se explica o acreditar. Mas se acredita. Não há nada teórico - nem prescrito. Há o sentir. Pensei. Olhei aquele corre corre dos médicos. A dor. Papéis de internação. Custos. Fiquei pensando porque a gente se importa mais com esses pequenos do que, muitas vezes, com outros humanos como nós. Será uma necessidade de poder-fazer? E não se pode nada nenhum.

Fiquei humanamente animalizada. Sensação de impotência, cumplicidade. Saí de de lá chorando e me dando conta que - de fato - mais uma vez, a gente não controla nada. Nunca. Fiquei com vontade de resolver o problema de todo mundo e fazer a Filó sair pulando de novo. Passei a noite em claro vendo como ela reagia. Se comia, tomava água, ficava bem. Se miava. No dia seguinte tratei de dar outro geral na casa antes de voltar ao hospital. Mas não deu. Passei o domingo trabalhando aqui pra tirar a poeria e deixar tudo bonitinho pra ela.

Estou desde aquele dia velando essa gatinha. Achando mágico essa vontade de cuidar. De fazer. De melhorar. E me estranhando com esse universo paralelo dos humanos: expostos à vida como qualquer outro animalzinho frágil. Que não sabe o que o espera. E dizendo que entende. Que sabe, que quer e faz...


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