Fomos assistir ontem à exposição do Corpo Humano. Foram com a gente, Clara e o namorado, Groselha. Ambos da Escola Paulista de Medicina. Aula intensiva. Fiquei abestalhada com esse movimento pra dentro. Como disse o Juliano, do "macaco se olhar no espelho".
Tanta gente. Tanta fila, tanta curiosidade. Traduzida de forma vulgar do "de onde vim, pra onde vou?" Coisas assim. Fiquei passada com a nossa maravilhosa monstruosidade interior. Com a nossa perfeição funcional, mágica, misteriosa e inquietante. Me assustou que a gente soubesse tanto - e nada - sobre nós mesmos. Como o deslumbre pela descoberta do mecanismo, a fascinação pela engenhosidade do que habitamos, ou ainda, do que somos. Fiquei assim... quase como se tivessem me visto de roupa pela primeira vez. Olhei em volta. A casa cheia. Todos éramos iguais ali. Brancos, negros, índios, gays, virgens, divorciados, profissionais, vagabundos, ateus, crentes. Todos feitos do mesmo engenho. Funcionando igual. Me senti mergulhada num sentimento de identificação. Tudo tão óbvio, traduzido: o porquê da dor, da gripe, do sangue, do cheiro, do medo, do suor, calor, frio, insitinto, fome. Tudo igualmente terminado na morte... Definido ali. Concluído. Início, meio, fim. Transformação é para ser ao longo da existência.
Ouvi os dois falando apaixonadamente pelo mistério desvelado do corpo. Exibido ali. Quase como caça ganha. "Conquistamos". Mas ficava me perguntando onde estava o resto? Estaria tudo ali? Eu sou mesmo assim tão ingênua com essas coisas? Será que fico buscando poesia em tudo? Me assombrava a proximidade dessa arrogância sobre nós mesmos. Essa sensação de poder. Afasta. Amedronta. Mas fascina. Entorpece. Fiquei com inveja dos médicos...
Saímos de lá e ficamos falando dessa experiência da morte. Perder pessoas deve ser mais inexplicável quando você acredita que, de fato, tem o poder sobre a vida e a morte. Senti essa angústia de habitar a fronteira entre saber-acharquesabemos.Voltei pra casa achando tudo efêmero demais. Mesmo essa sabedoria toda da gente. E que talvez até mesmo a fronteira seja um artifício pra nos manter crentes. Em nós mesmos.
sábado, junho 09, 2007
corpo humano
Postado por Srta T às 1:45 PM
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