terça-feira, junho 05, 2007

soprando devagar no frio

Ontem voltei dirigindo mais uma vez pela Raposo. Era tarde e eu escutava músicas aleatórias. Nada particularmente especial, mas vinha sentindo, não pensando... milagres de fato acontecem...

sentia no coração essa brisa do inverno que corta o peito...

Sentia que o tempo tem esse efeito maturativo na gente, não curativo ou cicatrizante. A cicatriz fica. Sempre. Mas a gente olha pra ela de um jeito diferente. Mas sempre sente. Lembrei de muitas coisas no caminho, de conversas, de silêncios, de olhares e pensava que depois de muitos anos as coisas talvez só agora começassem a fazer sentido... A cicatriz dói com o frio do inverno. Lembra onde, quando e como começou tudo isso... Reler as anotações dá um olhar diferente do primeiro dia. O tal "olhar datado do historiador" muda de óculos... Um prenúncio de compreender, sem ter que aceitar.

Já é dolorido compreender, quanto mais aceitar. Tem doído, mas aquela dor de expulsão de pus... Ainda dói o peito, mas sinto, não penso, as coisas transformadas, intensas, honestas e mais próximas disso que a gente chama de coração.

Olho fora do carro. Vejo a luz do quarto apagada. Uma espera abraçada na cama. Quentinha, cheia de carinho, silêncio e todo amor do mundo pra mim. O que mais eu posso querer?

Deixar o frio soprar no peito, devagar, sentindo esse gelinho quente na alma.

Um comentário:

Jeff Paiva disse...

O tempo é o melhor tempero, o mais cruel elemento corrosivo e o mais poderoso cicatrizante.

Reler, relembrar, re-ouvir, para (re)ver uma coisa nova que está à nossa frente ou ao nosso lado...

E de vez em quando reter uma conversa mais do que interessante; uma energia boa.

Beijos!